Transcultura #070: Bass // Sun Araw
Written by urbe, Posted in Imprensa, Música
Meu texto de sexta passada da coluna “Transcultura”, que publico todas as sextas no jornal O Globo:
A coisa tá grave, viva o grave!
por Bruno Natal
A explosão comercial do dubstep foi um dos fatos mais inesperados da história da música eletrônica. Poucos previram que os graves cavernosos e a atmosfera sombria das batidas quebradas de bpm lento, tocado em festas soturnas no sul e leste de Londres, poderiam chegar ao grande público.
Vampirando o estilo com seu pastiche, ressaltando o que há de pior (como as torrentes de wobble bass, um grave modulado, distorcido e oscilante), Skrillex atingiu o status de super DJ, saiu na capa da Billboard e passou a régua no dubstep. Skrillex, no entanto, apenas cristaliza o fim de um processo longo de pasteurização do gênero, uma metamorfose que se deu aos poucos, com elemento do dubstep sendo emprestados e misturado a outras correntes musicais.
O fato da produção de seus elementos “essenciais” serem ensinados em tutoriais no YouTube era um indicativo de que havia virado uma fórmula, o que é o fim para relevância de qualquer gênero. Era preciso fazer uma curva. O que poderia ser uma má notícia se gerando algo positivo, incentivando mudanças de direção por produtores mais preocupados com os sons que saem das caixas do que o tilintar das caixas registradoras.
http://youtu.be/uDblKjCIRjI
Desde os idos de 2007 produtores fiéis aos conceitos independentes do dubstep, como Burial e Kode 9 (dono do essencial selo Hyperdub), buscaram fugir da mesmice para qual tudo sem encaminhou, inaugurando o que que ficou conhecido como pós-dubstep, re-aproximando o estilo do clima experimental de onde surgiu. Essa fase 2 criou o ambiente para nomes como James Blake ou sua versão mais radifônica, Jamie Woon, despontarem, trazendo outros elementos para equação, notoriamente o R&B, outro gênero que sofreu com a comercialização, esse nos anos 90.
O principal legado do dubstep e, principalmente, sua viabilidade comercial, foi bem além dos novos gêneros que surgiram a partir dessa problemática (UK Funky, o próprio pós-dubstep): sua ascensão deu coragem para produtores colocarem o grave novamente no centro das atenções. No atual estado de DavidGuetização da música eletrônica, com sirenes por toda parte e o agudo tomando conta até onde menos se espera (o show de horrores proporcionado pelo Major Lazer é um exemplo), isso por si só é um alento. Mais grave é sempre um alegria, mesmo em música ruim. O grave é o alho sônico, deixa qualquer coisa melhor.
Conversando com o pesquisador Chico Dub, curador do festival Novas Frequências, ele observou: o grave se tornou o denominador comum da música urbana contemporânea. Seja em artistas tendendo ao r&b (The Weeknd), hip hop (A$AP Rocky), ao house (Lone), techno (Martyn), breakbeat (Mosca), drum n bass (Joy Orbison), 2-Step e Garage (Redinho, Julio Bashmore) ou até mesmo a um pós-pós-dubstep de olho no grande público (SBTRKT).
A impossibilidade de rotular cada um dessas misturas (uma prateleira para cada artista iria ficar complicado…) fez surgir mais um gênero, a bass music, um guarda chuva pra lá de bobo, por ser demasiadamente abrangente. Atendendo essa demanda, dois selos despontam: o escocês Numbers (por onde até Kieran “Four Tet” Hebden e o Modeselektor andam ciscando), nascido a partir de uma festa, e o inglês Night Slugs.
A coisa tá grave. E isso é ótimo.
–
Tchequirau
http://vimeo.com/34926849
Muito influenciado pelo dub, ano passado o Sun Araw (que recentemente esteve no Rio para participar do festival Novas Frequências) foi a Jamaica atrás do The Congos, do clássico “Heart of the Congos”, produzido por Lee Perry e tido em algumas listas como o melhor disco da história do reggae, para produzirem material juntos. Enquanto o disco não vem, tem um vídeo mostrando um pouco da viagem.
http://www.examiner.com/civil-rights-in-wilmington/skrillex-got-trolled-by-deadmau5-at-the-grammys-u-mad-bro
que venha o axé bass
Vou colocar aqui o mesmo que disse no Tranquera algum tempo atrás: lembro de ter lido uma entrevista do Kode9 prevendo a ‘domesticação’ do gênero para as grandes massas, assim como aconteceu com a House e o Jungle – transmutado em Drum N’ Bass, sua versão mais odiosa – como o caminho natural para todo estilo musical que nasce novo e revolucionário… Skrillex e outros embusteiros são o sintoma, não a causa (coisas piores virão, certamente). Mas o tempo, e, principalmente o talento e a relevância da música feita decidem quem fica. Daqui a dez, quinze anos, quando lembrarmos do Dubstep,suas origens e legado, virão à memória os pioneiros e seus seguidores, não os comerciantes…
Abraço!
É isso.
“O grave é o alho sônico…” Yeah Bwooooy!!!
Não dá nada. Diluidores sempre existirão. Quem é ligado não compra fraude. Falando nisso, já ouviu kindred, o novo do burial recem lançado?? Se não se reinventa por completo, mostra o cara tateando, aos poucos, em busca de novos caminhos…
não ouvi ainda! tem link?
/URBe
por Bruno Natal
Cultura digital, música, urbanidades, documentários e jornalismo.
Não foi exatamente assim que começou, lá em 2003, e ainda deve mudar muito. A graça é essa.
falaurbe [@] gmail.com
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