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sexta-feira

16

outubro 2020

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TAB Uol (outubro 2020)

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Escrevi esse artigo para o TAB, do Uol, sobre como a estratégia de podcasts exclusivos das plataformas pode prejudicar o cenário a longo prazo. E porque, mesmo assim, essa pode ser a única opção viável para podcasters:

A ascensão das redes sociais acabou com os blogs, contribuindo para a consolidação de “cercados digitais” fechados, onde a informação é mediada por algoritmos.

Seduzidos pelo alcance das plataformas, podcasts e ouvintes podem estar repetindo o mesmo erro. O que acontece agora com o formato é a manifestação mais recente de um problema estrutural da distribuição de conteúdo na era das redes sociais.

Leia o texto completo no TAB.

Opinião: Acordos de exclusividade podem ser tiro no pé dos podcasts?
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Opinião: Acordos de exclusividade podem ser tiro no pé dos podcasts?

A ascensão das redes sociais acabou com os blogs, contribuindo para a consolidação de “cercados digitais” fechados, onde a informação é mediada por algoritmos.Seduzidos pelo alcance das plataformas, podcasts e ouvintes podem estar repetindo o me

Opinião: Acordos de exclusividade podem ser tiro no pé dos podcasts?

A ascensão das redes sociais acabou com os blogs, contribuindo para a consolidação de “cercados digitais” fechados, onde a informação é mediada por algoritmos.

Seduzidos pelo alcance das plataformas, podcasts e ouvintes podem estar repetindo o mesmo erro. O que acontece agora com o formato é a manifestação mais recente de um problema estrutural da distribuição de conteúdo na era das redes sociais.

O mercado de conteúdo exclusivo (quando um programa só pode ser escutado em determinada plataforma) virou notícia fora no nicho quando, além de lançar programas de celebridades como Michelle Obama e Kim Kardashian, o Spotify comprou o podcast Joe Rogan Experience por inacreditáveis US$ 100 milhões.

No Brasil, segundo maior mercado consumidor de podcasts do mundo, atrás apenas dos EUA, produções locais também estão se tornando exclusivas. Sucessos de público como Um Milkshake Chamado Wanda, Quebrada Pod, Hoje Tem, Infiltrados no Cast, É Nóia Minha, Primocast e Poc de Cultura agora só podem ser escutados no Spotify.

Para tornar-se o equivalente ao Google no campo do áudio e dominar esse espaço, o Spotify mistura as estratégias da Netflix, oferecendo conteúdo exclusivo, e do YouTube, facilitando a produção de podcasts por qualquer pessoa.

Como destruir os podcasts

No livro “10 argumentos para você deletar agora suas redes sociais”, o cientista e filósofo da computação Jaron Lanier fala sobre como podcasts escaparam, até aqui, da degradação de conteúdo promovida pelas redes sociais, muito por conta do conteúdo de áudio ainda ser pouco explorado pela interpretação dos algoritmos.

Jaron dá a receita de como destruir esse ecossistema: abandonar o caráter pessoal, episódico e contextualizado dos podcasts, desenvolvendo uma inteligência artificial que seja capaz de transcrever o conteúdo de um episódio, para assim categorizá-lo de acordo com palavras-chave, inclusive combinando pequenos trechos de diferentes programas para criar uma colcha de retalhos de opiniões sobre determinados assuntos.

Essa ferramenta otimizaria o sistema de buscas e supostamente pouparia o tempo do ouvinte, mas o conteúdo ficaria completamente fragmentado e descontextualizado.

Na busca por audiência, os criadores cederiam a essa lógica e passariam a produzir segmentos cada vez mais estridentes, na esperança de serem pescados pelo algoritmo. Isso tudo, claro, salpicado de anúncios e também, possivelmente, de trechos com notícias falsas, sem que o usuário consiga diferenciar uma coisa da outra.

Se essa descrição lembra a cacofonia do feed de redes como Facebook ou Twitter, onde manchetes rolam pela sua tela numa velocidade impossível de acompanhar, é porque você já entendeu o problema.

Uma história que se repete

As plataformas de streaming deram um fôlego inédito aos podcasts. O termo existe desde 2004 e o formato é baseado no RSS, um modelo de distribuição em que os usuários assinam conteúdos e o recebem através de um agregador.

Na época do RSS, além de entender minimamente como utilizar um agregador, você precisava assinar, baixar e transferir o arquivo de áudio para algum aparelho para então escutar o programa. Dava trabalho. Com a chegada das plataformas de streaming, ficou tudo mais prático.

Em troca da facilidade de encontrar uma audiência, criadores de áudio migraram para as plataformas, numa escolha similar a que levou blogueiros a contar com o Facebook para espalhar seu conteúdo a uma audiência maior.

No início, parecia mágica. Um post no Facebook atingia uma multidão, trazia novos leitores e aumentava o tráfego dos blogs. Para os leitores também funcionava, era só curtir as páginas de seus criadores favoritos e visualizar todas atualizações num só lugar, exatamente como um agregador de RSS.

Em pouco tempo, os leitores perderam o hábito de ir até os veículos em busca de informação e criadores, assim como grandes veículos de mídia passaram a depender do Facebook para alcançar sua audiência.

Com a dependência estabelecida, o próximo passo da empresa foi diminuir o alcance dos posts das páginas. Para atingir a própria audiência que construiu, criadores passaram a ter que pagar por um anúncio. Caso seu criador favorito não fizesse anúncios, dificilmente um leitor veria suas atualizações.

Quando os criadores se deram conta, já era tarde demais. Blogs e sites haviam perdido tráfego direto, quase ninguém chegava até eles sem ser através do Facebook.

Nesse processo perderam os criadores, perdeu o Google, ao ter menos páginas para indexar, e perderam muito mais os consumidores, vendo suas decisões serem cada vez mais conduzidas por inteligências artificiais pouco transparentes. Estamos vivenciando o resultado agora, com a disseminação de desinformação e teorias da conspiração impulsionadas por algoritmos.

Viabilidade financeira

Se os artistas de música reclamam, com razão, da baixa remuneração das plataformas de streaming, para os podcasters a situação é ainda pior.

As principais plataformas não remuneram os criadores, nem por execuções, nem por exibição de anúncios. Podcasts não também não recebem direitos autorais. Em troca de um prometido alcance, o criador disponibiliza seu conteúdo de graça, enquanto as plataformas vendem assinaturas e veiculam anúncios, sem dividir esses valores.

YouTube concentra o conteúdo em vídeo e remunera os criadores, mesmo que não seja de maneira satisfatória. A recém-lançada plataforma brasileira de podcasts Orelo também os remunera, mas são necessários centenas de milhares de ouvintes para fechar a conta.

Essa relação de forças explica o atual apetite corporativo por podcasts. Em 2019, o Spotify investiu cerca de US$ 600 milhões adquirindo grandes estúdios de produção como Parcast e Gimlet Media, ferramentas de criação e distribuição como Anchor e redes de podcasts como The Ringer.

A Amazon é a mais nova big tech a entrar nesse mercado. A Apple ainda não gera lucro com seu aplicativo de podcasts. O Google também não dá muita atenção a esse espaço e por enquanto atua apenas como agregador. Para o Spotify, contudo, podcasts podem representar a tão sonhada forma de sair do vermelho.

A estratégia do Spotify

A maior parte da receita do Spotify vem de assinaturas. Menos de 10% vem de anunciantes. Avaliado em mais de US$ 20 bilhões e com mais de 250 milhões de usuários ativos, o Spotify tem 130 milhões de assinantes pagos. Ainda assim, a empresa sueca não dá lucro e acumula um prejuízo avaliado em quase US$ 3 bilhões (números aproximados a partir de diferentes registros na imprensa).
Existem duas razões para o Spotify ainda não ser lucrativo. Primeiro, porque o foco principal é crescimento da base de usuários e gasta-se bastante para atingir esse objetivo. A segunda está relacionada à natureza dos acordos que possibilitaram o Spotify existir.

As grandes gravadoras (Universal, Sony e Warner) são responsáveis por 87% do catálogo disponível no Spotify. Para conseguir a liberação, os suecos cederam participação acionária na empresa. Além disso, boa parte da receita gerada pelo Spotify volta para as grandes gravadoras em forma de royalties. Além disso, por esse acordo a plataforma não pode atuar como uma gravadora e lançar artistas e tem que se manter neutra. É uma ladeira bastante íngreme para subir.

Se o Spotify não pode criar uma gravadora com seus próprios artistas de música, não haveria impedimento de lançar e promover podcasts. Quanto maior a proporção de plays de podcasts no total da plataforma, menos dinheiro de royalties precisaria ser repassado e o Spotify ficaria mais próximo de se tornar lucrativo.

Essa visão comercial foi apresentada pelo próprio fundador Daniel Ek em uma reunião de ganhos e também por um membro do conselho, segundo a revista Rolling Stone.

Outro aspecto atraente é a publicidade programática. O Spotify exibe anúncios mesmo entre os assinantes que pagam, livres de propaganda apenas quando ouvem música. Escutar um podcast é uma experiência que gera intimidade, anúncios ao pé do ouvido têm alto impacto. Quanto mais podcasts tiver em sua plataforma, mais espaços comerciais a plataforma terá para vender e dados de ouvintes para coletar.

Um cenário pouco transparente

Podcast é uma das mídias mais difíceis de ser divulgada. Existem basicamente duas formas efetivas para um podcaster aumentar sua audiência: participar ou ser citado em outros podcasts, ou ser destacado ou recomendado pela própria plataforma.

Num ambiente tão fechado e com tanto dinheiro envolvido, existe conflito de interesses quando a plataforma precisa destacar seus próprios produtos. Se podcasts grandes comprados pela plataforma ganham mais destaque, o mercado fica menor para o restante.
Os pequenos produtores ficam enfraquecidos e as plataformas ganham um poder de decisão sobre o que o ouvinte vai escutar, baseado no que acredita que pode gerar lucro.

Sem remuneração pelos plays e anúncios, sem interesse das grandes plataformas em investir no crescimento de podcasts menores, sem métricas claras, restam poucas opções de monetização para os criadores. Restam os financiamentos coletivos ou desenvolver conteúdos extras pagos.

Se vingar no universo das plataformas de áudio a mesma lógica do Facebook, o criador só chegaria a sua audiência pagando.
Ainda assim, a tendência da maior parte dos podcasters é aceitar uma proposta de exclusividade atraente. Afinal, todos querem ser pagos por seu trabalho. A posição dos podcasters é fragilizada demais para agirem diferente.

Em tempos de notícias falsas e desinformação, é extremamente importante que conteúdos produzidos com responsabilidade tenham alcance. A lógica do paywall, ao menos como está, pode prejudicar as próprias instituições que o utilizam para proteger seus ganhos.
A questão não são os conteúdos exclusivos e nem é relacionada apenas ao Spotify. Acordos comerciais são mais do que bem-vindos. Alguém tem que pagar a conta.

A solução é as plataformas dividirem o bolo, compartilhando a receita de forma justa, distribuída por todo o ecossistema, encontrando modelos que têm dado certo, como do Twitch.

Bruno Natal é jornalista, documentarista e apresenta o podcast RESUMIDO.

* Este texto não reflete necessariamente a opinião do UOL.

sábado

10

outubro 2020

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MIT Tech Review (agosto 2020)

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Artigo sobre cultura do cancelamento que escrevi pra MIT Tech Review Brasil. Também participei do podcast “Digital de Tudo” para repercutir o texto.


Os muitos significados da cultura do cancelamento

por Bruno Natal

A cultura do cancelamento é umas das manifestações coletivas mais controversas da atualidade.  A lista de cancelados é tão extensa quanto diversa: Anitta, Gabriela Pugliesi, R. Kelly, Kanye West, Scarlett Johansson, Kevin Hart, Louis CK, Kevin Spacey, MC Gui, Nego do Borel e vários outros. Cada um por diferentes motivos e períodos de tempo.

Comumente associado ao ambiente das redes sociais, o cancelamento ocorre quando um internauta manifesta opinião que não é tolerada por um determinado grupo de pessoas. Quando isso acontece, o alvo de uma campanha de cancelamento é massacrado por críticas, agressões, tem a vida particular exposta, num movimento que visa esvaziar a relevância daquela pessoa.

Eleito o “termo de 2019” pelo dicionário australiano Macquarie, fato comprovado pelo pico de incidências no Google Trends, o cancelamento foi definido como “uma atitude tão persuasiva que tornou-se, para o bem ou para o mal, uma força poderosa”. Outro dicionário, o americano Merriam-Webster, relacionou o comportamento com a ascensão do #MeToo e outros movimentos que demandam prestação de contas por atitudes de figuras públicas. A relação de disputa entre partes de forças desiguais é determinante.

Atrás de uma definição mais precisa do significado de cultura do cancelamento, uma vez que o termo recebe diferentes interpretações, o jornalista Glenn Greenwald perguntou pelo Twitter e recebeu do psicólogo evolutivo Geoffrey Miller a seguinte resposta:

“É um sistema social de controle ideológico em que uma multidão online se reúne por uma indignação para apelar às autoridades (seja o governo, empregadores ou a grande mídia) para destruir a vida de alguém porque eles disseram algo supostamente ofensivo.”

Não existe unanimidade em torno da prática. Nomes de peso, como o ex-presidente dos EUA Barack Obama, o comediante Dave Chappele ou a ativista Loreta Ross já criticaram publicamente o cancelamento, questionando a validade da estratégia.

Isso porque, na maior parte das vezes, os cancelados sequer permanecem nessa situação por muito tempo, principalmente quando são pessoas com uma grande audiência. É muito mais fácil atacar celebridades, mas é também muito mais difícil cancelar de fato vozes com alcance tão grande na mídia.

Recentemente, a editora de opinião do The New York Times, Bari Weiss, pediu demissão do cargo. Na carta de despedida, ela disse que os usuários do Twitter se tornaram os editores do jornal e que o medo de desagradar limitou o escopo de abordagens dos assuntos.

A demissão de Weiss foi seguida por uma carta assinada coletivamente e publicada na revista Harper’s Bazaar criticando a cultura do cancelamento. Embora não tenha feito referência direta ao termo, o texto descreve um cenário que estaria sufocando as vozes de muitos. O manifesto intitulado “Uma carta sobre justiça e debates abertos”, foi assinado por nomes tão diversos como o filósofo e linguista Noam Chomsky, a feminista Gloria Steinem, o psicólogo Steven Pinker e a autora da saga Harry Potter, JK Rowling.

Os críticos do cancelamento apontam que na cultura tóxica das redes sociais, um erro genuíno, que antes poderia servir de aprendizado, agora se torna fatal. Não importa o tamanho, se foi intencional ou cometido por desconhecimento. Ademais, além de gerar medo, um cancelamento gera poucas mudanças práticas e poderia anular oportunidades de expansão individual e coletiva.

Analisando o cenário atual para avaliar se a cultura do cancelamento é justa ou se está reprimindo as discussões, o The New York Times listou dez pontos a serem considerados sobre o tema. Segundo o jornal, ser atacado por suas opiniões, ou mesmo insultado, não é ser cancelado. O cancelamento se dá quando o alvo é a reputação, emprego ou ambos.

É por isso que Greenwald define como “chilique” o protesto dos signatários da carta da Harper’s Bazaar, incomodados apenas por estarem sendo confrontados. O compositor e ativista Billy Braggs, em artigo no Guardian, discorreu sobre como essa é uma troca de valores calculada. A nova geração prioriza responsabilidade e prestação de contas acima de liberdade de expressão.

Porém, muitas vezes os alvos dessas campanhas não são poderosos. Em diversos casos, pessoas comuns têm suas reputações destruídas por terem transgredido minimamente os novos limites sobre o que é ou não aceitável no discurso atual. Isso quando não são canceladas por engano e não conseguem se defender ou reverter os prejuízos.

A cultura do cancelamento tem impacto muito maior em pessoas que normalmente não têm destaque (ao menos não até serem canceladas). Por isso, acaba moldando e determinando comportamentos baseados exatamente no receio de serem, de fato, canceladas.

Os adeptos da cultura do cancelamento apontam que essa talvez seja a única ferramenta disponível para comunidades minorizadas fazerem suas vozes ouvidas, em um equilíbrio de forças possível apenas por meio da rede.

Pessoas que historicamente tiveram a exclusividade do megafone na mão, agora passaram a experimentar respostas a seus posicionamentos com uma força que antes não existia. O rapper Emicida abordou a questão em recente entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, quando disse que os cancelados muitas vezes apenas estão sendo questionados ou responsabilizados pelo que falaram.

Participar diretamente na decisão sobre quem deve ter alcance é parte dessa negociação. É como se os menos favorecidos falassem para esses poderosos: “você pode ter mais status, mais fama ou mais dinheiro do que eu, mas você não vai mais ter a minha audiência, porque isso eu controlo”. Em um mundo em que audiência cada vez mais é poder, isso é uma arma poderosa.

Essa busca por um nivelamento é justamente o motivo da cultura do cancelamento desagradar tanto os privilegiados, desacostumados a ouvir. Antigamente o alcance da fala era um privilégio e uma via de mão única. As críticas raramente chegavam aos autores ou, quando chegavam, não tinham grande repercussão. Agora as respostas têm alcance e isso pode incomodar quem não está acostumado com essa disputa por equilíbrio.

O debate sobre a cultura do cancelamento desperta outras questões sobre a natureza e as consequências das trocas nas redes sociais. Por um lado, a liberdade de todos falarem o que quiserem gera pluralidade. Prova disso é que se pode encontrar qualquer tipo de opinião na internet. Por outro, esse confronto de forças, às vezes com consequências desproporcionais, pode levar a uma autocensura, limitando o discurso.

Voltando ao ponto sobre a dinâmica tóxica das redes sociais e de como esses comportamentos têm moldado os debates até mesmo fora delas, o que costumamos ver é que nunca a máxima “fale mal, mas fale de mim” foi tão verdade. Quanto mais controverso e polêmico o discurso, mais ele se espalha.

A indignação é o combustível mais eficiente para a viralização, algo que muitas vezes acaba se desdobrando na amplificação de vozes que não merecem ser realçadas. Nesse contexto é importante pesar e analisar o que de fato merece o holofote do cancelamento (discursos de ódio, preconceituosos, machistas), daquilo que é pura tentativa de pegar embalo no alcance de uma revolta. Cuidar para não deixar que pessoas mal-intencionadas pautem o debate utilizando a polêmica como estratégia de repercussão.

Nesses casos, uma das formas de reagir é ignorar. Para algumas atitudes, o silêncio é a melhor resposta.

Por Bruno Natal, apresentador do podcast RESUMIDO

segunda-feira

13

junho 2016

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O Globo (junho, 2016)

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O Globo - Brasil - Primavera Sound 2016

Cobertura do Primavera Sound Barcelona 2016 que escrevi para o Globo.

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Porque é primavera
Em sua 16ª edição, festival reuniu 200 mil pessoas ao longo de cinco dias e teve um show pouco surpreendente do Radiohead,principal de suas 130 atrações
por Bruno Natal

BARCELONA — Ano após ano, o Primavera Sound, em Barcelona, vem conquistando uma reputação que o bota em destaque na temporada de verão do Hemisfério Norte. Em 2016, desde o anúncio da escalação, o festival despontou talvez como o mais aguardado do ano. O crescimento não é repentino. Em seu 16º ano, o Primavera Sound passou de um público de 8 mil pessoas na primeira edição para 200 mil na que se encerrou no domingo, com gente de 124 países, segundo a produção do evento.

Entre as 130 atrações, com destaque para o rock e o pop, apresentaram-se Radiohead, Tame Impala, Brian Wilson, LCD Soundsystem, The Last Shadow Puppets, PJ Harvey, Air, Beirut, Goat, Action Bronson, Alex G, Andy Shauf e Nao. Representando o Brasil, os grupos O Terno, Aldo The Band e Inky tocaram num palco secundário, com público diminuto, porém atento.

Embora o foco principal esteja nos três dias de música no Parc Del Forum, espaço de exposições na orla barceloneta, o Primavera Sound teve duração de cinco dias, com mais shows em outras partes da cidade, como o Beach Club, casas de shows e os museus MACBA e CCCB – alguns deles gratuitos, como contrapartida ao investimento oficial da prefeitura local. Além dos shows, houve também o encontro PrimaveraPro, com 3.500 cadastrados para assistir a palestras e oficinas de profissionais da música.

RADIOHEAD: POUCAS MÚSICAS DO NOVO CD

Principal atração, o Radiohead fez um show correto – o que, no parâmetro da banda, é algo grandioso. O Primavera parou para receber o grupo, reunindo praticamente todos os presentes no espaço dos palcos principais.

Mesmo em turnê do novo disco, quem esperava ouvir o trabalho na íntegra teve que se contentar com apenas quatro músicas de “A moon shaped pool’’. O cenário, sempre um dos destaques dos shows dos ingleses, desta vez não surpreendeu, parecendo uma variação do que se viu nas turnês de “In rainbows’’ (nos telões) e “King of limbs” (nas luzes de palco). O repertório da banda, porém, garantiu o espetáculo e a alegria dos fãs.

O LCD Soundsystem, de volta da aposentadoria cinco anos após anunciar seu fim, tampouco surpreendeu. Sem músicas novas, fez um show idêntico ao da última turnê, como se tivesse parado no tempo – com tudo que há de bom e de ruim nisso. O Tame Impala impressionou pela quantidade de pessoas que arrastou para o segundo palco principal, tornando difícil conferir a apresentação. Além da lotação, os australianos enfrentaram problemas com o equipamento de som, que sofreu um apagão em dado momento.

Apesar da boa qualidade do que se ouvia, houve reclamações quanto ao volume baixo, principalmente nos palcos principais, assim como problemas técnicos que afetaram também os shows de Steve Gunn, Action Bronson e do diretor cult John Carpenter, fazendo a segunda apresentação de sua vida tocando trilhas de seus filmes.

PRÓXIMA PARADA É PORTUGAL

Ao contrário de festivais em localidades mais distantes ou em parques, o Primavera aconteceu no meio de Barcelona e foi totalmente urbano. A área é toda concretada e há muitas ladeiras e escadas, o que torna as caminhadas de um palco a outro pouco agradáveis. Apesar de a noite cair apenas às 22h, o festival começou tarde, no fim do dia. Estranhamente, algumas atrações de som mais lento e contemplativo, como Beach House e os islandeses do Sigur Rós, foram escaladas de madrugada, atrapalhando um pouco o andamento.

Revelação do jazz, o saxofonista Kamasi Washington foi um dos destaques, num show avassalador com sua big band no belo auditório fechado que faz parte do Primavera Sound. Comemorando 50 anos do disco clássico “Pet sounds’’ do seu Beach Boys, Brian Wilson fez um show emocionante no fim de tarde. Os grupos africanos Mbongwana Star e Orchestra Baobab garantiram o suingue, também reunindo bastante gente num dos palcos mais bem localizados, um anfiteatro na beira do mar.

Neste fim de semana tem repeteco, em versão menor, o NOS Primavera Porto, em Portugal, mostrando que as ambições do festival são grandes.

sexta-feira

11

setembro 2015

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Transcultura #172: Carta Psiconáutica // Nao

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cartapsiconauta_transcultura_oglobo

Texto originalmente publicado na “Transcultura”, coluna que publico todas as sextas no jornal O Globo. Esse foi a derradeira edição, encerrando um ciclo de 5 anos da coluna. Foi demais!

De Mente Aberta
Da sálvia ao guaraná, passando pela cannabis e pela coca, elas são catalogadas em obra do antropólogo Pedro Luz
por Bruno Natal

Antropólogo e etnobotânico, Pedro Luz é uma figura respeitada por seus extensos conhecimentos. Foi por isso que um grupo de 50 amigos e fãs dos seus relatos, incluindo diversos nomes do mundo das artes como Marcos Palmeira, Estevão Ciavatta e Nina Becker, realizaram uma campanha de financiamento coletivo para que o autor pudesse ter tranquilidade para escrever “Carta psiconáutica” (Editora Dantes). O recém-lançado livro cataloga e apresenta plantas psicoativas, cobrindo desde os seus aspectos botânicos e micológicos até seus efeitos físicos, mentais, usos medicinais e impacto cultural ao longo da História.

Folheando as páginas se aprende sobre peiote, sálvia, beladona, ayahuasca, cannabis, coca, papoula, assim como guaraná, cola e erva-de-gato, Apesar de conter relatos detalhados de psiconautas (aqueles que usam estados alterados da mente para estudá-la), o livro está longe de ser uma espécie de “manual do doidão” ou “guia prático de viagens psicodélicas”. É, sim, um rico registro dessas plantas, tanto do ponto de vista histórico quanto do cultural, incluindo seus usos psicoativos.

— Pedro Luz é um cientista que de fato experimenta as plantas e conhece o efeito delas. E isso é raro, poucos experienciam dessa forma, a exemplo de Freud — diz o artista plástico Luiz Zerbini. — Ele fala sobre alguns povos que não existem mais e como fizeram uso dessas plantas, que ainda estão aí.

Outro colaborador do financiamento coletivo, o também artista plástico Ernesto Neto concorda.

— Uma vez eu passeei pelo Jardim Botânico com o Pedro e ele começou a falar das plantas de uma maneira tão profunda e tão poética que eu comecei a me sentir em um outro universo, como se estivesse penetrado em uma dimensão das plantas — afirma Neto.

Atualmente morando em Timbó, Santa Catarina, e pai de cinco filhos, Luz diz que mais importante que o próprio livro foi o aspecto coletivo que possibilitou a sua existência.

— O livro vem imbuído da sinergia da soma, da força de todas essas pessoas no produto. Isso por si só já é maravilhoso. O livro não é meu, o livro é de todo mundo que se uniu para permitir sua publicação. Espero ter honrado todos os pesquisadores e empíricos, todos os psiconautas, pajés, xamãs, todos esses povos que fazem uso dessa ferramenta incrível para a descoberta e o trabalho do mundo espiritual que são as plantas psicoativas

Na semana do julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal, da posse de substâncias ilícitas para consumo pessoal, a editora Anna Dantes acredita que é hora de seguir o epíteto de Burle Marx de que cultura é uma coisa só e integrar as plantas ao universo artístico e cultural.

— O fato de as plantas ainda serem proibidas é um tema em ebulição no Brasil. O livro abre a discussão sobre plantas ainda serem vistas como ameaças à sociedade. “Carta psiconáutica” reúne a noção de indivíduo utilizada por biólogos para plantas e a noção do sagrado nos espíritos das plantas pelos povos nativos. Acreditamos que se a cultura não realizar esse salto estaremos sempre abordando esse tema com dicotomia — diz Anna.

Na introdução, Luz explica como os movimentos nômades de populações coletoras-caçadoras, há milhares de anos, sempre em busca de comida para saciar sua dieta composta 70% de vegetais, provocou repetidos encontros com novas plantas psicoativas. Há quem credite a origem do pensamento mágico/religioso a esses encontros e experiências. Por isso, mesmo concordando que o tema seja controverso, Luz toma posição contra o preconceito em relação às plantas psicoativas.

— Quando você penetra nesse universo e conhece as pessoas que nos legaram essa tradição ao longo de milhares de anos, você vê que só coisa boa vem daí, só há energia positiva nisso — declara Luz. — Há pessoas que abusam e têm dependência, mas o vício dificilmente é de planta, e sim de compostos isolados. Essas plantas ajudam a curar pessoas com problema de adicção, então não se deve confundir o elogio às plantas psicoativas com outra coisa. O que faço no livro é uma homenagem às pessoas que têm esse conhecimento.

O livro é repleto de exemplos de usos culturais de plantas e fungos, e não apenas para expansão da mente. Durante a Idade Média na Itália, pupilas dilatadas, provocando um olhar estático e intoxicado, eram tidas como símbolo de beleza valorizado. Para atingir esse visual, as nobres damas pingavam gotas de extrato de beladona nos olhos. A prática terminou por batizar a planta. Cogumelos são desenhados nas paredes de cavernas desde a pré-História, além de terem servido de inspiração para o clássico de Lewis Carroll, “Alice no País das Maravilhas”.

Os dez capítulos, divididos entre diversos tipos de fungos, plantas estimulantes, narcóticas, calmantes, cactáceas e ayahuasca são ilustrados pela artista plástica Julia Debasse.

— Fiquei muito feliz com o resultado. É um livro importante por si só, mas para mim é um caso de família — diz Julia, que é sobrinha de Pedro Luz. — É uma colaboração fundamentada no amor. Não faria sentido essas ilustrações não serem entregues aos colaboradores do livro. Essas ilustrações precisam ficar junto com o livro.

Tchequirau

Produzida por A.K. Paul, irmão do cultuado Jai Paul, “So Good”, colaboração com a cantora inglesa Nao, é um r&b retro-futurista de cair o queixo.

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