O documentário “Clara Estrela”, de Susanna Lira e Rodrigo Alzuguir, recém estreado no Festival do Rio, conta a história de Clara Nunes de maneira original. Em vez de alinhar uma série de depoimentos de seus pares e contemporâneos, utiliza apenas a voz da própria artista, seja via trechos de entrevista em áudio e vídeo, seja através da narração da atriz Dira Paes de transcrições de depoimentos que concedeu para mídia impressa. É Clara por Clara.
Essa opção torna dificílima a tarefa de retratar uma cantora já morta; pode-se dizer até que é uma escolha limitadora. Mas não no caso de Clara. Politizada e com muita personalidade como artista, faz todo sentido deixar Clara falar de sobre si própria. E Clara Nunes foi uma artista por definição.
Aprofundar-se no universo de uma cantora assim é revelador nos tempos atuais. Saber que Clara demorou 10 anos até encontrar seu caminho no samba e no mundo afro, das dificuldades em conseguir botar sua mensagem no mundo, faz pensar sobre as atuais facilidades de publicação.
Hoje em dia quando qualquer uma consegue divulgar seu trabalho com poucos cliques, tão poucos tem de fato o que dizer. Talvez até por conta de ser tão simples, mesmo com todos os imensos benefícios que uma mudança tão positiva que isso traz, os artistas se exijam menos. Clara não foi assim.
Um grupo de irmãos trancafiados por toda infância em casa e, para passar o tempo, recriam clássicos do cinema. Impossível não pensar em Michel Gondry ou em “The Act Of Killing”.
O inverno chegou, os casacos saíram do armário e a Wobble insiste em botar a galera pra suar. Seguindo a tradição de sempre apresentar convidados de respeito em suas edições especiais, a festa anuncia um julho caprichado, com alguns dos melhores DJs e produtores da cena brasileira e um convidado internacional, o DJ Spinn, de Chicago, marcando presença na Fosfobox, a partir desta quinta.
Distribuídos entre as cinco quintas-feiras do mês, Sants, CESRV (ambos do selo Beatwise), Neguim Beats (da Darker Than Wax) — todos com passagem pela Transcultura — mais DJ Marky, MCs BK e Jonas (do Nectar Gang) e o pioneiro do hip hop nacional KL Jay (integrante do Racionais Mc’s) vão se apresentar no clube de Copacabana.
— Espero que seja irado, bem mais que a última vez, que foi muito ba. A Wobble é bacana, todo mundo passa uma vibe boa — diz Neguim Beats, na expectativa para tocar novamente no Rio.
Única atração estrangeira, Spinn (dos selos Teklife e Hyperdub) inicia a temporada, na próxima quinta.. Ele é um dos representantes da cena de footwork/juke de Chicago e incluiu o Rio em uma turnê que passa também por São Paulo e pelo México, Argentina, Chile e Peru. Um dos fundadores da festa, Rodrigo S acredita que a temporada de férias escolares serve para fazer um panorama do que está rolando até aqui em 2015.
— Tirando o DJ Spinn, temos quatro noites apenas com atrações nacionais: a volta do Marky, do Sants e a primeira visita do KL Jay. Pro publico que frequenta a Fosfobox vai ser a oportunidade de ter edições mais confortáveis, com sets mais longos dos residentes e dos convidados — diz.
No Fosfobar, no primeiro andar, várias festas convidadas darão conta da pequenina pista. Além da Riquelme, Beatwise, Eletrônico Verão e RWND Records, na última noite se apresentarão os vencedores do concurso de mixtapes promovido pela equipe da Wobble . A mistura entre novas promessas como Sants e mestres do calibre da lenda do drum’ n’ bass Marky está alinhada com o público da festa.
— O público da Wobble está em constante mudança e percebemos que está surgindo uma nova geração de DJs e produtores de bass music e isso é ótimo — diz Rodrigo S sobre o concurso de mixtapes, transformando frequentadores em atração da festa.
É dessas interações on-line que surgem colaborações entre novos produtores, como Ruxell, Dorly e Swinga, mostrando que as camadas que separam público e artista vão cada vez fazendo menos sentido. De Jacarepaguá, Ruxell toca na última festa da temporada e vai aproveitar pra lançar o EP “Kaozada”, misturando clássicos do funk com produções de bass music atual e com colaborações com Flying Buff, Marginal Men, Heavy Baile e seu próprio irmão caçula, Atman, que também produz.
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Tchequirau
Com a ascensão de Chico Science, Planet Hemp, Rappa, Raimundos,mais uma pancada de outros nomes, 1994 foi um ano chave no ano brasileiro. Dirigido por Ricardo Alexandre, o documentário “Sem Dentes: Banguela Records e a Turma de 94” conta essa história a partir da perspectiva do selo fundado pelos Titãs, Banguela Records. A estreia é no 04 de julho, no festival In Edit.
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Não foi exatamente assim que começou, lá em 2003, e ainda deve mudar muito. A graça é essa.