Faltou falar da última parada na Ásia, o Laos, grande destaque da viagem. Um lugar tão relaxado e tranquilo que as anotações foram ficando pra depois, pra depois… e acabaram não sendo feitas por lá em hora nenhuma. Então vamos de fotos e algumas legendas.
O principal destino da República Democrática Popular do Laos não é a capital Vientiane e sim a pacata Luang Prabang. Patrimônio cultural da Unesco, a cidade é salpicada de templos budistas rústicos, satisfazendo a imagem que se tem de uma Ásia mística e tranquila.
O país vive sob o regime socialista e tem no arroz seu principal produto. No entanto, quem tem moral mesmo no país não são os militares ou os agrigultores e sim os monges budistas. Tudo parece girar em torno de suas atividades.
Toda manhã, com o dia ainda raiando, os moradores de Luang Prabang vão as ruas oferecer aos monges o arroz especialmente preparado pelas mulheres das famílias para essa ocasião.
É uma cerimônia simples e linda, em que os monges desfilam em fila e cada morador (e também os turistas que não se importam em intereferir diretamente em hábitos locais) deposita um punhado de arroz no recipiente de cada monge, até formar a quantidade que será sua única refeição do dia.
Duas das principais atrações do Sudeste Asiático estão presentes em Luang Prabang: o pôr-do-sol no Mekong e as massagens nos pés. A noite, um mercado de artesanato é a principal atração, oferecendo alguns dos melhores produtos de toda Ásia, principalmente os trabalhos em tecido e bordados.
Os traços da colonização francesa, quando o Laos fazia parte da Indochina, continuam presentes. Um deles é visível na culinária, tanto nos ingredientes quanto no modo de preparo de alguns pratos. Crepes são vendidos em barraquinhas como se fossem milho verde no Rio de Janeiro.
Apesar das infindáveis discussões sobre a qualidade de vida dos animais — é pura exploração ou uma maneira de ajudar a preservá-los? — os passeios de elefante pela selva são um clássico.
As belezas naturais é um grande atrativo do Laos, com suas diversas reservas e uma fauna e flora exuberante. As cachoeiras de Kuang Si, assim como todo parque, são impressionates. Lá também está um centro de preservação de ursos.
Nos restaurantes de comida típica pode-se experimentar comer sem talheres, utilizando bolinhas de um arroz endêmico, apelidado de “arroz grudento”, para fazer os molhos chegarem até a boca. As frutas são abundantes, assim como o café.
Cachorro de madame no Brasil, tem até shitsu vira-lata nas ruas.
Faça chuva, faça sol, os zilhões de imagens de Buda são tratadas com todo respeito e cuidado, protegidas como se estivessem de fato vivas.
A calma.
O bonito terminal da Bangkok Airways, decorado com motivos short-de-turista-de-praia, no moderno aeroporto de Luang Prabang.
fotos e vídeos: URBe
+ alguns outros encontrados no YouTube
Atmosfera hippie, nuvens, instalações, vento, fumacê e marola, poeira, sorvete de limão, engarrafamentos e, obviamente, apresentações antológicas, daquelas que fazem valer cada centavo investido na viagem.
O Coachella 2010 foi marcado pelo crescimento, tanto do festival como das bandas que por lá passaram. Desde o anúncio de suas mais de 100 atrações essa edição do festival californiano estava sendo chamada de “o maior Coachella de todos os tempos”.
Com uma escalação desesperadora de tão caprichada, decidir que apresentações perder foi mais difícil do que eleger o que ver. De qualquer forma, assimilar 30 shows ao longo de apenas três dias não é fácil. Mesmo espalhados ao longo de um ano seria bastante.
Leva algum tempo até as idéias se organizarem, os detalhes vão ressurgindo, o volume de informação se diluindo, até começar a se ter um entendimento completo do que aconteceu e o prazer de redescobrir as memórias dura um bocado.
Com a natureza enlouquecida do jeito que está , a apreensão de um terremoto atingir o sul da Califórnia durante o festival, ainda bem, não se confirmou. Porém nem assim o Coachella escapou de problemas ou mesmo dos desastres naturais.
A erupção do vulcão na Islândia interrompeu os vôos na Europa e provocou o cancelamento de vários artistas. Esse foi o menor dos problemas.
Esse ano foram vendidos 25% mais ingressos do que nas últimas edições, aumentando de 60 para 75 mil o número de frequentadores espalhados num espaço físico exatamente do mesmo tamanho de outros anos, prejudicando a tranquilidade, uma das características mais positivas do festival.
Pra agravar a situação, não houve venda de entradas avulsas, somente o pacote para o três dias, superlotando o lugar (a liberação de entrar e sair do acampamento não resolveu esse giro) e gerando vários problemas de organização, o maior deles o estacionamento, além da sujeirada.
Pode parecer chororô, até saber-se que no primeiro dia muita gente (o/) levou até quatro horas para conseguir entrar no evento e em média três para sair. Nos outros dias a situação melhorou, porém a melhor opção foi mesmo chegar muito cedo e pagar 20 dólares para utilizar um dos estacionamentos privados que pipocaram em quintais de casas das redondezas.
Para sorte dos organizadores, o que realmente será lembrado é a passagem do Jay Z pelo festival. Foi o Coachella do Hova, só dava ele, em toda parte, o tempo todo. O rapper monopolizou as atenções de uma maneira que nem Paul McCartney fez, com quase todos os artistas perguntando ao público sobre o show do rapper.
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Dia 1: Chegando devagar She & Him, Gil Scott-Heron, Them Crooked Vultures, LCD Soundsystem, Vampire Weekend e Jay Z
She & Him
Vencida a lentidão do trânsito e da fila da porta, não sobrou tempo para lamentar a perda dos shows do Wale e do Yeasayer. Já passavam das 17h e foi preciso correr pra chegar a tempo ao palco menor para conferir o She & Him.
She & Him, “Why Don’t You Let Me Stay Here”
Com o sol batendo na sua pele branquinha e refletindo no vestido azul de corte retrô, Zooey Deschanel encantou os marmanjos e as meninas com sua meiguice, bonita voz e mais entusiasmo do que técnica no teclado, pulando sem parar.
A combinação de folk, indie, anos 50, Fleetwood Mac é um acerto, mesmo que não seja realmente empolgante. Não fosse pela estrela de Hollywood, provavelmente a banda teria passado despercebida, o que só mostra como o guitarrista M. Ward, o Him da dupla, é um sujeito de visão.
Gil Scott-Heron, “Three Miles Down”
Na tenda, longe da corrida do hype, Gil Scott-Heron mostrou como se faz. Magrinho, com o rosto escondido por uma boina e parecendo frágil, o herói do funk soul chegou devagar, na classe.
Antes de começar o show, foi a frente do palco bater um papo com o público. Comentou sobre a falta de tempo para passar o som adequadamente, agradeceu a presença de todos, sentou em frente ao Rhodes e, quando abriu a boca, mostrou que sua voz grave continua firme, mesmo que um tantinho mais fraca.
Acompanhado apenas por um percussionista, outro tecladista e um saxofista/gaitista, Scott Heron transformou suas músicas em temas mântricos, como grandes introduções marcadas pelo improviso nas letras, sem nunca estourar.
Gil Scott Heron
Mostrando bom humor, Heron perguntou quem já tinha escutado a música do Common. “Fui sampleado”, disse, arrancando risos. “Não é tão ruim quanto soa e não dói, é ótimo para apresentar minha música para outras pessoas”.
E continuou: “Quando isso acontece, a primeira coisa que você faz é chegar em casa e ouvir o seu disco, pra ter certeza que está soando direito”, disse antes de emendar “Home is Where the Hatred Is” (sampleada por Common e Kanye West) e “Did You Hear What They Said?” (sampleada por Freeway). No seu novo disco, “I’m New Here”, foi Scott-Heron quem sampleou “Flashing Lights”, do Kanye West.
Após o encerramento com “In The Bottle”, algo que Scott-Heron falou logo no início fez ainda mais sentido: “para aqueles que apostaram que eu não estaria aqui, vocês perderam”. Perfeito.
Them Crooked Vultures
Já era noite e o Them Crooked Vultures foi o primeiro a arrastar uma multidão para o palco principal. Mesmo com a presença de Jon Paul Jones (Led Zeppelin) e Dave Grohl (Nirvana, Foo Fighters) tocando bateria, a liderança de Josh Homme é aparente, talvez até porque em seu caso o projeto seja maior que sua banda principal, coisa que não acontece com os outros.
Por mais que a contribuição dos outros integrantes seja perceptível, a sonoridade não esconde que Homme conseguiu montar uma formação dos sonhos para o seu Queens Of The Stone Age. Fosse somente mais uma banda nova, o Them Crooked Vultures já seria relevante. Poder ver Dave Grohl na bateria e Jon Paul Jones no baixo só faz tudo mais especial.
Them Crooked Vultures, “Gunman” e “New Fang”
Em casa no deserto, Hommes estava feliz da vida, dedicando música para James Murphy, líder da sua “banda favorita, LCD Soundsystem”.
LCD Soundsystem
De terno branco, foi justamente Murphy quem ocupou o palco principal em seguida. Iluminada apenas pela luz rebatida pelo globo de espelhos gigantesco pendurado em cima do palco, a entrada do LCD Soundsystem no palco principal sinalizou a grande mudança apresentada pelo Coachella 2010.
Passada a primeira década das “bandas de internet” lutando pra chegar ao seu público através de blogues e redes sociais, observa-se agora a consolidação de muitos desses nomes como grandes destaques.
Tendo estado em duas das três tendas do festival em anos anteriores, o LCD Soundsystem assumiu o palco principal como penúltima atração da noite e confirmou a aposta, echendo o lugar.
LCD Soundsystem, “Yeah”
Falante, Murphy comparou a situação com um restaurante. Se antes ele era o amendoim aperitivo, hoje ele ainda não era o filé de carne (esse era o Jay Z, disse Murphy), mas já podia ser considerado o peixe.
Num restaurante vegetariano essa comparação perderia todo sentido, como também perdeu embaixo dos holofotes. Ou Murphy tem baixa auto estima ou então até hoje não entendeu que no Coachella essa hierarquia não existe. Os diferentes palcos e tendas são somente diferentes ambientes, tanto é que Daft Punk e Madonna já tocaram nas tendas.
Em muitos momentos, a ironia de Murphy se confunde com arrogância e falsa modéstia, como antes da chatóide “Drunk Girls” debochou ao comentar sobre o vazamento online do seu terceiro disco.
Felizmente, o sujeito é bom mesmo comandando sua banda e é com isso que ele se ocupa a maior parte do tempo. As versões violentas de “Loosing My Edge” (dedicada a Gil Scott-Heron) e “Yeah”, ambas numa fúria crescente, “All My Friends” quase arrancando o dedo do pianista mostram que o LCD nunca foi amendoim.
A transmissão pelo telão estava espetacular, simplesmente não tinha um plano feio, nada mal enquadrado ou fotografado, um corte mal feito. Faz tempo que não basta uma câmera de frente para o palco para se ter um telão e o Coachella sobra nesse quesito. Cada show poderia render um DVD.
O Vampire Weekend já tocava no segundo palco quando a apresentação arrebatadora terminou, pra baixo, com “New York I Love You”.
Dava pra entender a presença da música quando a turnê era do disco em questão ou mesmo quando o LCD se apresenta em Nova York. Terminar um show tão animado dessa maneira é muito anti-climático.
O público levantou novamentequando viu pelo telão Murphy e Jay Z conversando nos bastidores, assim que o LCD saiu do palco.
Vampire Weekend, “Cousins”
Antes de Jay Z entrar em ação, a boa foi correr para assistir o que fosse possível do Vampire Weekend. Com o seu disco tendo conquistado o primeiro lugar da Billboard, em vendas físicas, não era surpresa nenhuma o quarteto lotar o lugar.
Vampire Weekend
O Vampire Weekend foi o primeiro artista a transformar o Outdoor Stage, mais intimista, numa filial do palco principal, sendo mais uma banda a mostrar que cresceu bastante. A quantidade de pessoas assistindo o show era, no mínimo, o dobro do que se costumava ver ali.
A música independente chegou as massas. Pode até ter sido que a escalação do Vampire no palco menor tenha sido proposital, forçando uma super lotação para mostrar a força da banda, essas coisas de gravadora. Eles estariam mais confortáveis no palco principal.
Mesmo tendo aumentado consideravelmente seu público, o show da banda continua no mesmo clima de antes, apenas amplificado. É uma pena que as passagens entre as músicas levem tanto tempo.
Jay Z, “99 Problems”
Pegando de onde o LCD Soundsystem deixou, o nova-iorquino Jay Z entrou em cena a la Michael Jackson, emergindo de um buraco no chão para exaltar a cidade que nunca dorme e convocar a platéia para quicar, com seus tradicionais gritos de “bounce!”.
Antes, é claro, tirou uma onda. Com 15 minutos de atraso, o telão passou a exibir uma contagem regressive de 10 minutos, ao som de “Don’t Stop Till Brooklyn” (Beastie Boys), so tema do James Bond e “Live And Let Die” (McCartney), como quem diz, “eu decido a hora que o show começa”.
Jay Z
O cenário era composto por objetos retangulares, multi-facetados, que recebiam diferentes projeções a cada música, podendo se transformar em Nova York (em “New York State Of Mind”) ou em uma torre de amplificadores (em “99 Problems”).
A banda é uma grosseria, gigante, conta com coral, metais, baixo, guitarra, duas baterias e um DJ, encorpando as versões ao vivo. A cada hit – e nos EUA são muitos – a platéia urrava, mostrando a força de um ícone americano cuja importância cultural é tremendamente difícil de transpor fora desse contexto.
Uma maneira ruim de encerrar um excelente show. Pior que isso, só mesmo o tumulto pra sair.
Dia 2: Coachella I love you, but you are bringing me down Girls, Camera Obscura, Temper Trap, Edward Sharpe and The Magnetic Zeros, The xx, Hot Chip, MGMT, Devo, Aterciopelados, Major Lazer, Flying Lotus, Dead Weather, David Gueta e 2ManyDJs
O desespero pra não passar pela mesma provação do primeiro dia fez bastante gente chegar bem cedo, o que foi ótimo, já que muitas vezes bandas interessantes tem pouco público devido ao horário.
O campo de polo onde acontece o festival continuava lotado e, pela primeira vez, sujo. As latas de lixo transbordavam e garrafas de plástico, copos e latas se espalhavam pelo chão.
Logo no Coachella, um festival conhecido pelas preocupações verdes e que em pleno calor do deserto dá uma garrafa de água para quem entregar dez vazias nos postos de troca, algo que sempre fez as garrafas serem disputadas.
O segundo dia era também um dia com poucos conflitos de horários e menos shows imperdíveis, de maneira que durante boa parte do dia a boa era ficar pulando de um para o outro.
O primeiro foi o do Girls, que queimou a largada abrindo com “Lust For Life” e depois não conseguiu segurar a onda. Na tenda ao lado, o Camera Obscura fechava seu show com canções muito lentas para o início de uma maratona musical.
Temper Trap
No palco menor, coube ao Temper Trap cumprir a função de sonorizar um momento tradicional do Coachella: assistir algum show sentado na grama, bem de longe, descansando as pernas.
Com algumas boas músicas, no geral são parecidas demais com o único hit do grupo, “Sweet Disposition”, da trilha do filme “500 Dias Com Ela”.
Assim que os australianos terminaram de tocar, foi a deixa para se enfiar na multidão e pegar um bom lugar pra assistir o The xx. Pra garantir, a melhor saída era entrar já no show anterior, dos desconhecidos Edward Sharpe and The Magnetic Zeros.
Edward Sharpe and The Magnetic Zeros
Desconhecidos o quê. Uma multidão aguardava ansiosamente o insano grupo de bluegrass, uma grata surpresa, com a presença de palco do Gogol Bordello, a grandiosidade do Arcade Fire e o (des)apego a tradição do Kings of Leon. Falando assim soa melhor do que de fato é, mas “Home” é muito boa e foi cantada aos gritos.
The xx, “Shelter”
Bem colocado, estava tudo pronto para o The xx. Quer dizer, por parte da platéia, porque a banda penou um bocado. Em mais um ineditismo do Coachella 2010, até o som apresentou problemas.
Os amplificadores chiaram o show inteiro, tirando a concentração da inexperiente banda, que já tinha bastante com o que se preocupar de frente para aquela multidão.
The roof is on fire
Quando o The xx começou a se soltar, o teto do palco principal teve um princípio de incêndio, desviando a atenção de todos. Tentando manter o espírito elevado, o baixista simplesmente disse “the roof is on fire”, arrancando gargalhadas (mas nada de “burn motherfucker, let the motherfucker burn”).
As músicas continuam lindas ao vivo e são muito bem executadas, tanto a voz da vocalista quanto as guitarras e o baixo tem pegada, só que falta pressão. O que não decepciona é a parte eletrônica e de programação.
O sujeito é um monstro na MPC, tocando dois samplers simultaneamente de uma maneira pouco usual, dedilhando-os como se fosse um piano.
O encerramento foi épico, com o “baterista” tocado o terror na combinação de batidas e um prato microfonado (com efeitos) sendo espancado ritmicamente pelo baixista.
Se falta chão pra banda, o caminho deve ser macio. Só a coragem de enfrentar um palco aberto com um som tão introspectivo (como foi bem dito na resenha do LA Times), mesmo sabendo que se dariam bem melhor em uma das tendas, mostra personalidade.
Hot Chip
A sequência de artistas do segundo palco só fazia o local inchar cada vez mais. Vieram Hot Chip, sempre sem convencer ao vivo, e MGMT, quando a quantidade de gente já estava insuportável.
A essa altura, o único lugar disponível para assistir o show era na praça de alimentação e mesmo assim através dos telões, que de tão distantes pareciam miúdos.
Com um bom som o MGMT melhora bastante no palco, pena que as músicas novas definitivamente não ajudam. E eles ainda inventaram de não tocar “Kids”, ousando demais.
De qualquer maneira, eram mais sinais das transformações do Coachella. Duas bandas que dois anos antes faziam shows nas tendas, sugando multidões nunca antes vistas no palco dois. Mudou o festival ou mudou o público, difícil afirmar, muito embora continue não se escutando esses grupos em toda parte.
Outra vaga cativa do Coachella é reservada para ao menos uma grande banda latina, afinal, estamos na Califórnia. Ozomatli, Café Tacuba, Los Amigos Invisibles, Manu Chao, Kinky, todos passaram por ali em algum momento. Esse ano foi a vez do Aterciopelados.
Aterciopelados
Os colombianos honraram a tradição de show bombásticos na tenda media e não se apertaram. Veteranos, sabem exatamente os atalhos do palco. Fecharam com “Baracunatana” e uma farta distribuição de frisbees de papel machê, entre mensagens de paz e amor.
No caminho para o Major Lazer deu tempo de ouvir o Devo tocando “Whip It”. A curiosidade falou mais alto, silenciando o bom senso e o trajeto até a outra tenda continuou, o que se provou um equívoco.
Vestidos com ternos sem nenhum propósito aparente, já que as vestimentas não tinham nada a ver com cenário e figurino dos outros integrantes no palco, a dupla soltou um festival de bases de gosto duvidoso, um despedício de boas referências (baile funk, tecnobrega, reggaeton, dancehall), cobertas por berros do MC, trechos de Ace of Base e outras maravilhas.
David Gueta tocava na tenda ao lado, se esforçando na farofa, hits de FM e mesmo assim perdeu a disputa. O histórico de más escolhas de atrações eletrônicas do Cochella continua.
Flying Lotus, “Idioteque” (Radiohead)
Graças ao bom Deus uma verdadeira higienização auricular veio em seguida. Pela segunda vez no festival, dessa vez o Flying Lotus teve muito mais destaque. As pessoas se acotevelaram para ouvir o hip hop experimental produzido por Steven Ellison.
As batidas instrumentais tem forte influência dos graves do dub, do clima soturno do trip hop e dos blips do EBM. Utilizando apenas um laptop e sem tirar o sorriso do rosto, ao vivo o Flying Lotus entortou ainda mais suas produções.
A frente de um telão, Steven adiciona camadas de elementos uma sobre as outras de uma maneira que demoram a se encaixar, até soltar o elemento unificador e que dá a liga ao groove. Foi assim com as músicas do seu segundo disco, “Los Angeles”, assim como as reconstruções de “Idioteque” (Radiohead), “Avril 14” (Aphex Twin) ou nos passeios pelo deep house ou drum n bass.
Uma das melhores apresentações do festival, coisa fina.
Dead Weather
Na saída, ainda deu tempo de pegar o finalzinho do Dead Weather, mais um projeto bacana do Jack White, que teve seus momentos minimalistas atrapalhados pelo que vinha do palco principal, a cargo do DJ Tiesto.
2ManyDJs
Botando a tampa, o 2ManyDJs reuniu alguns dos seus principais remixes e mashups num set perfeito em que o grande destaque foi o telão. Cada faixa ganhou animações próprias, com visual de capa de disco, se adaptando conforme as mixagens avançavam.
Betty Ditto cantava na capa de um disco do Gossip, assim como MGMT, Vitalic, Joy Division e todos os outros, sempre acompanhando as mixagens. O efeito prático foi um melhor entendimento, principalmente para quem não consegue identificar cada uma das músicas utilizadas, esquentando a relação com o público.
A tempestade de papel picado indicou o fim da festa. Era hora de partir pra casa e descancar para o último e mais promissor dia.
Dia 3: Enfim, Coachella Soft Pack, Local Natives, Rusko, Mayer Hawthorne, Florence & The Machine, Yo La Tengo, Spoon, Phoenix, Thom Yorke, Sly Stone e Gorillaz
Logo na chegada, notar que o campo de polo não mais parecia mais um formigueiro foi alentador, mesmo que pudesse ser pelo horário. O que parecia uma breve visão de tempos mais agradáveis do festival, se confirmou como o dia com mais cara de Coachella de todos.
Provavelmente muitas das pessoas obrigadas a comprar o passe para os três dias já estavam na estrada de volta pra casa a essa altura. Para contrastar com essa grande notícia, veio a triste informação de que o Hypnotic Brass Essemble havia sido cancelado.
Restou assistir o Soft Pack, legal, e o fraco Local Natives, mais um da barca do nu-folk, fortemente representada esse ano, salvando-se com a boa “Aeroplane”.
Enquanto isso, Rusko lançava dubstep em um dos cenários mais distantes daquele onde o estilo normalmente é tocado. No lugar de uma sala escura, com pessoas encasacadas, lá estava ele em plena luz do dia, as pessoas de chinelo. Uma mudança e tanto.
Mayer Hawthorne
Foi só quando Mayer Hawthorne apareceu que as coisas esquentaram, com sua músicas de baile de formatura inspiradas na Motown dos anos 50 e 60. O que poderia ser mera cópia se revela bastante criativo.
Se a voz não é exatamente avassaladora, dá conta da proposta, emitindo inclusive os falsetos do disco, coisa que o vocalista do Passion Pit não consegue chegar nem perto ao vivo. A banda de apoio, The County, é uma beleza.
Antes de “Maybe So, Maybe No”, Hawthorne contou que uma fã o perguntou no Twitter se ele iria tocar sua música favorita, aproveitando pra divulgar o seu endereço e pedir seguidores.
“Just Ain’t Gonna Work Out”, “Green Eyed Love” e até “Just A Friend”, do Biz Markie, foram mantendo o pique alto até Hawthorne sair com o público na mão e consagrado do salão.
Demorou bastante até a Florence & The Machine resolver dar as caras. O atraso somado a chatice que foi a primeira música foram a deixa para abandonar a menina e ir atrás do que realmente interessava.
Yo La Tengo, “You Can Have It All”
Há muito tempo atrás, houve um show do Yo La Tengo no extinto (e, quem diria, saudoso) Ballroom. Uma noite clássica, produzida por Rodrigo Lariú e que eu faltei. Mesmo sem ser um fã obsessivo do trio, ter perdido a chance de vê-los tão perto de casa foi uma mancada e tanto.
Anos depois, finalmente estava de frente com o Yo La Tengo. Como bem disse o Pedro, 50 minutos é muito pouco para uma banda com um repertório tão amplo, podendo ir do indie ao noise `a fofura em segundos.
Tentar fazer um show que cobrisse tantas nuances acabou prejudicando o YLT. Não tinha muita gente e a magnitude do palco principal piorou isso, uma pena, pois quem viu a coreografia de “You Can’t Have It All” (do George McCrae), feita a pedido do Sly Stone, segundo a banda, sabe o quanto foi sensacional.
Spoon
Do Spoon deu pra ver apenas cinco músicas, todas muito boas, num palco bonito, decorado com fios com lâmpadas incandescentes esperando o por do sol para serem acesas durante o show do Pavement. Assim que Jonsi, vocalista do Sigur Rós, liberou o palco, começou a corrida por um lugar para o Phoenix no Outdoor Stage.
Phoenix, “Fences”
Em nenhum momento durante a crise dos cancelamentos dos vôo na Europa passou pela cabeça a possibilidade do Phoenix não aparecer. Por isso, quando a banda entrou e contou que por pouco isso não aconteceu, mesmo já os vendo no palco, deu alívio.
Por conta das dificuldades de chegar aos EUA, a banda se apresentou sem seus iluminadores e desfalcada da decoração do palco, motivo pelo o qual eles pediram desculpas, falando que “a noite será apenas sobre a música”.
Phoenix
Provavelmente por decisão da banda, todas as luzes de palco estavam apagadas e o Phoenix se apresentou utilizando apenas algumas luzes brancas, em vários momentos coordenando a marcação, determinando de que lado para que lado deveriam ser acesas.
Era por do sol e a luz natural apenas intensificou a beleza de “Love Like A Sunset”, até no telão funcionou. Embora as vezes possa não transparecer nos textos aqui, sei exatamente o tamanho da sorte que é poder vivenciar momentos assim, e esse foi, literalmente, de chorar.
Phoenix
Enfileirando quase todas as músicas do “Wolfgang Amadeus Phoenix”, a banda fez até um bis (na verdade uma extensão do final de “1901”), coisa raramente vista no Coachella.
Em se tratando de shows, poucas coisas são melhores do que ver uma banda na turnê de um disco que você gosta. Num lugar desses, com esse visual e o astral da platéia lá em cima, todo mundo numa boa, não tem comparação. Clássico.
Não sei porque, não estava esperando muito desse show. De qualquer forma, a apresentação multimídia do Plastikman ficou pra um outro dia. Nada como baixas expectativas para gerar grandes surpresas.
Pesou também o fato de, com a rapidez das atuais mudanças tecnológicas, amanhã tudo parecer uma besteira. Acredito que o experimento interativo com iPhones e iPods tenha sido demais. Porém, se há dez anos atrás houvesse tido um show utilizando SMS, hoje imagino que não seria algo do qual me lembrasse com muita empolgação.
Soltinho no palco, Thom Yorke parecia estar curtindo bem mais do que nos shows do Radiohead. Talvez eu também. As referências, principalmente pela influências mais escancaradas do dub e da música eletrônica, deixam Thom menos indie.
Depois de tantas bolas fora do Red Hot Chilli Peppers, estava com preguiça, ou ao menos não muito empolgado, para ouvir o Flea tocar. Por isso, foi uma grande alegria ter tido novamente tanto gosto em ver o baixista tocar.
Contorcendo-se no palco no compasso dos slaps, Flea fazia o instrumento estalar como se estivesse no Primus e pesar como se fosse o Robbie Shakespeare, com linhas de baixo cavalares. Até melódica o cara tocou.
O percussionista brasileiro Mauro Refosco, do Forró In The Dark, tem participação crucial na sonoridade do show. É ele quem faz a quebradeira andar com um instrumentos de percussão totalmente brasileiro, injetando batidas do zabumba e o toque do berimbau.
Nigel Godrich, produtor dos últimos discos do Radiohead, e o baterista estava mais recatados, porém precisos.
Quem esteve no Coachella esse ano vai lembrar do vento que soprou forte todas as noites e vai reconhecer os shows só pelas imagens, lembrando da brisa batendo no rosto. Durante o Atoms For Peace, a ventania se intensificou, como se fosse uma reação a pressão que saía do palco.
A decoração toda baseada em tubos de luz, lembrava a do Radiohead, porem estavam na horizontal em vez da vertical, piscando freneticamente em vez de movimentos lentos, hora pintando o palco de verde, hora de azul ou verde.
Voltando ao Plastikman, tecnologia por tecnologia, tenho a impressão que ter visto o bis de Thom Yorke, sozinho no palco com o violão, construindo um arranjo utilizando um pedal de loop, vá ter mais valor, mesmo que apenas sentimental, do que uma interação via celular.
Ao apresentar a música, Thom falou: “essa vocês não devem conhecer, a não ser que você passe tempo demais no YouTube”, tocando num ponto interessante, sobre como a busca desenfreado por saber tudo o mais rápido possível pode arruinar grande surpresas.
Felizmente, nunca tinha ouvido a canção e fui arrebatado na hora. Não estar por dentro as vezes tem suas recompensas. Foi o show do festival.
Sly Stone
Outra surpresa, justamente no sentido oposto, foi o que aconteceu no show do Sly Stone. Após um quase adiamento e uma mudança de horário, o rei do funk soul foi uma das últimas atrações do festival a tocar. O que se viu foi umas das cenas mais tristes que já presenciei na música.
A passagem de som, sendo feita na hora, prometia. Só timbre bonito, o groove rolando, a banda pronta esperando seu líder. Eis que Sly Stone adentra o palco, fantasiado de policia, com uma peruca e uma boina que impediam ver o seu rosto.
Totalmente acabado, Sly mal se aguentava em pé. Totalmente perdido, com menos 10 minutos de “show”, perguntava no microfone quanto tempo fazia que estava ali. Os músicos, principalmente uma das integrantes do coral e os roadies, faziam de tudo para cena parecer normal. Era impossível.
Sem conseguir tocar nem metade de alguma música, Sly mudava de idéia no meio das canções, dava ordens a banda e ainda apresentou ao público seus constrangedores experimentos com eletrônica. Não dá pra entender que motivo$ permitiram uma lenda da música ter sido exposta dessa maneira, uma coisa realmente deprimente. Ele não merecia isso.
Na saída, ainda deu pra conferir o final do Gorillaz, “Clint Eastwood” e “Feel Good”. Mesmo com uma banda grande no palco e cenário grandioso, Damon Albarn e sua turma pareciam xoxos e sem força, sem justificar a moral de encerrar o festival.
Exausto, restava finalmente dormir, feliz, sem nem pensar em tanta coisa ficou de fora, praticamente um outro festival (A bagunça do Club 75, Miike Snow, da turma da Ed Banger com um dos integrantes do Justice, Deadmau5, Pavement, Specials, PiL, Erol Alkan, La Roux, Faith No More, Raveonettes, Dirty Projectors, Little Boots, Plastikman, Mutemath, Julian Casablancas…).
Saigon lembra muito Sao Paulo. É uma metrópole frenética, com um trânsito absurdo e motos, muitas motos. Atravessar uma rua é uma aventura, pois há poucos sinais e você tem que encontrar um espaço entre as motos e começar a caminhar. Os motoristas estão atentos e desde que você não mude o passo ou de direção, vão desviando.
Ao contrário da Índia, no Vietnã os motoristas são cautelosos. Utilizam as calçadas como uma extensão das pistas e fazer contramão não é raro, no entanto, na Índia a lógica de direção é totalmente invertida.
Na Índia, em vez de partir de 0km a 100km, o raciocínio é estar sempre a 100km, utilizando o freio pra ajustar a velocidade quando necessário, é a principal ferramenta do veiculo. Ao menos no Vietnã, segue-se as regras de todo mundo, de acelerar com cuidado.
Ho Chi Minh, nome oficial de Saigon, não é tão tumultuada como vários guias alertam. Fala-se muito de assaltos, batedores de carteira, crianças de rua abrindo sua mochila ou bolsa sem você perceber e de pedintes. Apenas um dia circulando pela cidade, sempre a pé, pode ter sido pouco, porém o fato é que nada disso aconteceu, nem mesmo os pedintes foram vistos.
As atrações mais interessantes da antiga capital do Vietnã capitalista, base dos EUA durante a invasão, são os museus dedicados ao conflito. Chamada de Guerra dos EUA pelos vietnamitas, a vitória dos comunistas do norte sobre o sul capitalista é motivo de orgulho nacional, conhecida como a grande reunificação do país, após mais de um século de colonialismo francês, japonês e da própria invasão americana.
Como no Camboja, a guerra também se transformou em um bem turístico. Para evitar o clima pesado, é uma boa evitar o museu da guerra e seu registro gráfico dos conflitos. O Palácio da Reunificação é uma visita mais leve e ainda assim instrutiva sobre os mesmos fatos.
Sede do governo do Sul, o prédio foi mantido exatamente como estava no dia 30 de Abril de 1973, quando um tanque do exército do norte arrombou seus portões, pondo fim na guerra e selando a vitória do regime comunista, até hoje a frente do pais. É um túnel do tempo, com objetos e decoração da época, incluindo mapas táticos.
A quantidade de turistas sexuais pelas ruas é nojenta. Senhores de idade acompanhados de jovens e nem tão jovens vietnamitas, sempre com expressões tristes ou no minimo entediadas no rosto. Os sujeitos não se dão ao trabalho nem de tentar disfarçar, freqüentando todos os lugares mais visitados por turistas, como se isso fosse parte natural de uma viagem ao Vietnã.
É lamentável o senso moral de pessoas que não hesitam em explorar a miséria alheia. Não precisa ir muito longe pra se ver isso, uma voltinha pelo calçadão de Copacabana também produz imagens parecidas.
As conhecidas pagodas chinesas de Chinatown também não despertaram muita empolgação. Mal cuidadas, escuras e com pouca informação, não são lá muito atrativas.
De Saigon saem passeios pelas redondezas, como My Tho e Ben Tre, há duas horas da cidade. Escolher a agência mais barata e conhecida da cidade, Sihn Cafe, foi um erro. O passeio é focado em turistas pouco exigentes.
O passeio é cheio de armadilhas (toda “atracão” envolvia comprar alguma besteira, de bala de coco a mel e artesanato de má qualidade) e um guia metido a engracadinho. Ainda assim, conhecer a vila de Ben Tre de charrete, mesmo sem ser rústica como prometido, e principalmente o rápido passei de barco por um canal no rio Mekong valeram a pena. A chuva que caiu o dia todo ajudou a dar um clima.
A chegada a Danang, na região central do país, foi desanimadora. Continuava chovendo e fazendo dias feios, o que não estava ajudando muito o Vietnã a se tornar um dos destaques da viagem. O povo não é muito acolhedor e a verdade é que grandes centros urbanos não são o meu ideal de destino turístico.
Por isso, dar de cara com Danang, uma cidade pequena mas sem charme nenhum, um lugar qualquer perdido no Vietnã, deu uma desanimada. O grande atrativo da cidade é estar perto de Hoi An, uma cidade ainda meno, só que com o apelo de ter conseguido manter ao menos parte da sua herança historica, repleta de pagodas e construções remanescentes dos tempos de Indochina.
A conclusão lógica foi pular Danang e ir direto para Hoi An. Mesmo na alta temporada não havia turistas suficiente pra encher seus muitos hotéis, restaurantes e cafés com caras de empreitada de europeu. Complicado entender como fazem pra se manter lucrativos.
O melhor de Hoi An é alugar uma bicicleta e pedalar a esmo, conhecendo as pontes e templos que pintam pelo caminho sem muita obrigação de ver tudo.
Mesmo com tantos restaurantes, a melhor pedida foi comer numa esquina em que várias barracas de comida típica dividem o espaço sob uma lona. Foi uma das melhores refeições de toda viagem pela Ásia, e também a mais barata.
O segundo almoço por lá foi inteiramente dedicado a conceitualizar um restaurante no Rio que seguisse exatamente as mesmas regras de comida vietnamita tradicional, sem invencionices. Um lugar simples e barato, num ambiente como aquele: balcões de madeira compartilhados, guardanapos que saem como papel higiênico, uniformes iguais aos dos locais, tudo com cardápio assinado pela cozinheira da barraca número um, Ms. Lan.
De brinde, com a conta o cliente receberia uma nota de 1000 Dongs, a moeda local, equivalente a alguns centavos. Um dia, quem sabe…
URBe? Hahaha!
Na ida de Hoi An para o aeroporto estavam as Marble Mountains, conjunto de cavernas que escondem templos e, no passado, tesouros. Sem esperar muito, a bizarrice do lugar surpreende. Um tanto sombrio, as vezes macabro, os templos parecem algo saído do cenário do “Goonies”.
A última parada foi em Hanóis. O motivo principal é que de lá saem os barcos para passear pela Halong Bay, arquipélago com mais de duas mil ilhotas.
O passeio parte bem cedo, saindo de um porto a quatro horas de Hanoi. A bordo do Emeraude, os dia e a noite foram pura regalia. Almoço, jantar e café caprichados, sessão de “Indochina” a noite e uma visita a uma caverna fantástica.
O tempo passou rápido e logo estávamos de volta a Hanoi para aproveitar a única tarde e noite que teríamos na cidade, dando tempo suficiente para visitar o mausoléu e o museu do Ho Chi Minh.
A chegada ao Camboja engana. A recepção fria e seca dos militares assusta e não passa uma imagem fiel do país ou de seu povo.
Preocupados apenas em coletar o dinheiro dos vistos, os responsáveis pela função dão atenção especial para tarefa de sobretaxar o valor de 20 dólares, arredondando para cima o que ja é redondo, roubando 5 dólares por turista. O lucro é alto agora que o pais é bastante visitado.
Pra completar, a taxa de saída são mais outros extorsivos 25 dolares, mais do que se cobra pra entrar!
Tal comportamento não chega a ser surpresa num país conhecido por uma guerra civil recente, quando o sanguinolento Khmer Vermelho dizimou a própria população com o apoio dos militares. A paz é ainda muito nova.
Apesar de descarado (o valor real do visto fica a mostra num luminoso e vem carimbado no passaporte), nem passa pela cabeça reclamar do golpe. Atrás do guichê ficam um dezena de militares: um para pegar o passaporte, outro pra levar, um terceiro pra receber o dinheiro, outro pra dar o troco, mais um pra devolver o documento… Melhor não, deixa pra lá.
Uma vez dentro do Camboja, descobre-se um povo muito amigável, educado, solícito e organizado. As ruas são limpas, diferente do que se espera encontrar em um dos países mais pobres da Ásia. Os hotéis e bares, principalmente em Siam Reap, são arrumados e contemporâneos, provavelmente pertencentes a europeus ou cambojanos repatriados.
As pessoas são alegres, brincalhonas e mesmo os pedintes ou vendedores de rua não são tão insistentes como na Índia ou Tailândia (tirando os de Angkor Wat, batendo recordes mundiais, podendo ser considerados chatos até pelos indianos).
Outra grande surpresa são os preços. O Camboja não é barato. Seria exagero dizer que é caro, mas é bem mais caro do que os seus vizinhos. Nada custa menos de 1 dólar e geralmente as negociações de coisas pequenas começam logo em 2 dólares, valor mágico nas ruas.
Parte da culpa é exatamente o dólar ser a moeda oficial do comércio, encarecendo tudo ao arredondar valores. São preços irreais, que não condizem com os custos do pais, mesmo considerando-se que o Camboja não possui indústria e quase tudo é importado. Eles cobram o que você pagaria em qualquer outra cidade, o que não é a matemática correta em nenhuma economia.
Nas duas principais cidades, a pequena Siem Reap ou a capital Phnon Penh, os motoristas de tuc-tuc ou de motos (transporte muito utilizado, levando até três pessoas) não sabem o nome das ruas ou onde fica nada. E não se trata de golpe, uma vez que o preço é fechado e eles perdem tempo e combustível com a confusão.
Na noite que chegamos em Phnom Pehn, a ida ao melhor restaurante da cidade foi uma saga. Era perto do hotel, havia um mapa com o local marcado, além do endereço. O motorista se perdeu, ninguém sabia informar como chegar e foi tanto desencontro que saímos andando, sem nem pagar pela corrida.
Ao ligar para o restaurante de um outro lugar, o próprio dono foi nos buscar de moto. Era numa esquina das duas principais ruas da cidade, a entrada marcada com um luminoso gigante.
O melhor de andar por Phnom Pehn e caminhar de um templo para o outro, observando a vida local. Os meninos fazendo altinha com peteca, as meninas com raquetes, e gente de toda idade dançando em grupos numa grande praça.
No final de tarde, diversos aparelhos de som são montados pela praça. As velhinhas fazem aulão de aeróbica, os jovens criam e executam coreografias para sucessos do pop internacional, sendo seguidos por quem quiser chegar junto. Difícil é não participar, já que se você fixar olhando muito será convidado a se juntar.
Os campos de extermínio do Khmer Vermelho são para muitos a grande atracão da cidade. Todo motorista vai propor uma corrida pra lá (também pela distancia, é claro) e o local é sempre citado em panfletos e sugestões de passeio. Tô fora desse tipo de visita baixo astral. Fui a Aushwitz uma vez, contrariado, pra nunca mais.
Em todo caso, levanta a mão quem não ouviu falar do Camboja justamente pela guerra civil, Khmer Vermelho, as minas terrestres, a legião de amputados… Talvez por serem recentes, esses fatos são comentados muito mais até do que os templos de Angkor Wat.
Goste ou não disso, são um dos pontos de venda do pais como destino turístico. A quantidade de livros sobre o regimes suas atrocidades disponíveis na loja de livros do aeroporto confirmam que essas histórias são também um amargo souvenir.
Deve ter sido isso que o ministro haitiano queria dizer quando declarou que o terremoto avassalador seria bom para o pais. É uma desgraça sem tamanho, mas colocara o país no mapa e no centro da mídia até mais do que sua própria guerra civil. Isso pode trazer apoios governamentais, ONGs, etc.
Taí o Camboja pra provar. Sem falar na adoção de crianças orfãs por famosos, a moda da vez.
Na estrada de Phnon Penh para Siam Reap dá pra ver um pouco do lado rural do pais. Dentro do ônibus, a usual hospitalidade cambojana: lanchinho, explicações num inglês esforçado que você não encontra, por exemplo, na Tailândia, e sorrisos.
O povo do Camboja é generoso. Todo lugar que você sentar te oferecem água, se você comer lhe dão frutas ou alguma sobremesa local sem cobrar por isso. Além disso, como os brasileiros, fazem piada e se zoam sem parar, estão sempre rindo.
Mesmo quando uma barganha deixa um vendedor enfezado – eles não gostam muito do esporte – uma piadinha qualquer arranca risadas e zera qualquer mal entendido.
A área por onde se espalham os templos de Angkor é enorme, por isso fretar um tuc-tuc é indispensável e ter um guia, aconselhável. O total não é barato: 20 dólares para entrar, 15 pelo tuc-tuc e 25 pelo guia. Os dois juntos agilizam o passeio, possibilitando ver o essencial em um dia. Para se ver tudo, aconselha-se três dias.
O parque é muito bem cuidado e as construções impressionam pelo tamanho e principalmente pelos detalhes. Templo hindu transformado em budista, Angkor foi saqueado durante guerras, depredado por vândalos e fanáticos religiosos hindus, que rasparam o rosto dos budas talhados nas paredes de pedra e destruíram estátuas.
Durante seu regime Maoísta, o Khmer vermelho destruiu os mais de 3 mil templos budistas do país e matou milhares de monges, considerelados parasitas. Felizmente, deram pouca atenção a Angkor, apesar dos buracos de bala na parede. Ainda bem. Podia ter sido bem pior.
Bangkok foi uma grata surpresa, a cidade é mais organizada e tem mais atracões do que se costuma comentar. Sempre descrita como um lugar caótica, talvez pelo baque na Índia, comparando parecia até bem calma.
Os templos são lindos, perfeitamente conservados. São tantos que não falta opção, o problema é que mesmo se for perto do hotel, chegar até lá nunca é muito simples.
Como no Brasil, quase ninguém fala inglês nas ruas e com um alfabeto próprio fica bem complicado se guiar por placas em tailandes. A melhor opção são os tuk tuks e taxis, com os quais é preciso ficar atento pois estão sempre tentando aplicar um golpe, desde preços extorsivos até oferecer pechinchas para te “seqüestrar” para um tour forçado por lojas onde eles recebem comissão apenas por levar turistas até lá.
Visitando tantos templos, aproveitei pra botar a meditação transcendental, o que não fazia há há alguns anos. Surpreendentemente foi bem intenso, é igual andar de bicicleta. A energia gasta na meditação somada a duas noites de pouco sono, má alimentação a dias e mudança de clima (na Índia estava frio e Bangkok é um forno) me derrubaram.
Mesmo me sentindo cansado, o passeio continuou, afinal o tempo era curto. O Wat Pho, onde fica o gigantesco Buda deitado, é também é um importante centro e escola de masagens. A de corpo inteiro parece uma surra, estalando as articulações e pressionando todos os nós. Você urra e os massagistas só riem.
Com tanta distração, indo de um lado pro outro, na Tailândia não dá tempo de se analisar tanto as coisas como na Índia. Além do problema da língua, a cidade apresenta menos problemas. O que, estando de férias, foi ótimo, relax total.
No Grand Palace, onde está o cultuado Buda de esmeralda, é curioso notar a placa na entrada, alertando os turistas para ficarem atentos aos seus “valiosos pertences”. Talvez uma ponta de ironia, já que o budismo prega o desapego dos bens materiais e o entendimento da nossa própria insignificância enquanto seres.
De qualquer maneira, também é interessante que as mais cultuadas imagens de Buda são de metais ou pedras preciosas e se destacam pela opulência. Doações de dinheiro são abundantes nos templos e tem grande destaque, com as notas ocupando boa parte dos altares.
Ainda deu tempo de conferir o buxixo da Khao San Road, conhecida como central dos mochileiros, com suas hospedagens baratas, quinquilharias, agências de viagem e comidas. Mesmo nesse clima tumultuado dá pra se conseguir uma fantástica massagem no pés, confirmando a lenda de que na Tailandia qualquer opção é tão barata quanto boa. Por cerca de R$6 (seis Reais) recebe-se 40 minutos de massagem nos pés, é o paraíso.
De Bangkok para Koh Phi Phi, para umas férias dentro das férias. Pra chegar lá, voa-se para Krabi, no Sul da Tailândia, de onde se pega um barco até Railey, indo para Koh Phi Phi na manhã seguinte. O lugar era apenas ok e mesmo assim já era bem bonito.
Foram três dias sem fazer absolutamente nada, pulando de praia em praia e matando o tempo na varandinha do quarto. Demais. A única “atividade” foi um passeio barco, passando pela ilha onde foi filmado “A Praia” e uma parada para mergulhar de máscara e snorkel, cercado de peixes, como se estivesse dentro de um aquário de água salgada. A água totalmente transparente.
Tava dando até preguiça de partir para o Camboja.
Cultura digital, música, urbanidades, documentários e jornalismo.
Não foi exatamente assim que começou, lá em 2003, e ainda deve mudar muito. A graça é essa.