the congos Archive

segunda-feira

2

julho 2012

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Transcultura #85: Sun Araw & The Congos // Kitty Pride

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Meu texto da semana passada da coluna “Transcultura”, que publico todas as sextas no jornal O Globo:

Flutuando nas nuvens do dub
Nono lançamento da série Frkwys, o disco ‘Icon give thank’ é o resultado da gravação do Sun Araw e M. Geddes com o The Congos
por Bruno Natal

Nono lançamento da série Frkwys, do selo Rvng Int, juntando influenciados com seus influenciadores, o disco “Icon give thank” é o resultado de sessões de gravação do Sun Araw e M. Geddes com o The Congos (juntos, na capa do CD e ao vivo) realizadas na Jamaica e registradas por Tony Lowe no documentário “Icon Eye”. Trata-se de um respiro de revitalização no dub, longe de um retrô modorrento que busca inutilmente repetir o passado.

Como diz o programa infantil, senta que lá vem a história. Em 1977 foi lançado “Heart of the Congos”, do The Congos, disco que é tido por muitos como o melhor a sair do Black Ark, lendário estúdio do produtor jamaicano Lee “Scratch” Perry (incendiado pelo próprio como maneira de purificar o ambiente). A afirmação é forte, pois foi da arca de Perry que saíram outras tantas faixas fundamentais, como “Police and thieves” (Junior Murvin), “War inna Babylon” e “Chase the devil” (Max Romeo) e “Vibrate on” (Augustus Pablo) — todas parte da coletânea “Arkology”. Não é pouca coisa. A estreia com uma obra-prima aprisionou o The Congos, que nunca mais conseguiram repetir o feito, ainda mais sem Perry. Mesmo assim, por conta do disco, o grupo continuou cultuado.
Corta para 2012. Num tempo em que o dub se tornou pastiche de si próprio, poucos artistas conseguiram dar sequência às experimentações sônicas dos engenheiros de som jamaicano. A tarefa não é fácil, claro, mas também não é impossível. Do trip-hop do Massive Attack ao dubtronic do Mad Professor, dos lançamentos do selo alemão Rhythm and Sound até parte respeitável do dubstep produzido por Kode 9 e Burial no selo Hyperdub, caminhos existem. E um dos mais promissores passa por Sun Araw, de Los Angeles.

Combinando mantras lo-fi, afrobeat e krautrock, imersos em uma ambiência densa e psicodélica, encharcada de efeitos, o Sun Araw faz um som transcendental que tem os dois pés, as duas mãos e, principalmente, a cabeça flutuando nas nuvens do dub. Sem exatamente se propor a evoluir o gênero, em muitos níveis foi o que acabou fazendo, levando o dub para um passeio bem longe. Por isso, a colaboração entre Sun Araw, M. Geddes e The Congos tornou-se um dos lançamentos mais aguardados para os amantes dos sons viajantes.

Tchequirau

Uma menina da Flórida começa a ganhar o mundo após colocar suas músicas confessionais no Tumblr. Kitty Pryde já vê sua “Ok Cupid” tomar proporções que ela não imaginava e anda levando pedrada dos puristas do rap.

sexta-feira

29

junho 2012

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terça-feira

14

fevereiro 2012

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Transcultura #070: Bass // Sun Araw

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Meu texto de sexta passada da coluna “Transcultura”, que publico todas as sextas no jornal O Globo:

A coisa tá grave, viva o grave!
por Bruno Natal

A explosão comercial do dubstep foi um dos fatos mais inesperados da história da música eletrônica. Poucos previram que os graves cavernosos e a atmosfera sombria das batidas quebradas de bpm lento, tocado em festas soturnas no sul e leste de Londres, poderiam chegar ao grande público.

Vampirando o estilo com seu pastiche, ressaltando o que há de pior (como as torrentes de wobble bass, um grave modulado, distorcido e oscilante), Skrillex atingiu o status de super DJ, saiu na capa da Billboard e passou a régua no dubstep. Skrillex, no entanto, apenas cristaliza o fim de um processo longo de pasteurização do gênero, uma metamorfose que se deu aos poucos, com elemento do dubstep sendo emprestados e misturado a outras correntes musicais.

O fato da produção de seus elementos “essenciais” serem ensinados em tutoriais no YouTube era um indicativo de que havia virado uma fórmula, o que é o fim para relevância de qualquer gênero. Era preciso fazer uma curva. O que poderia ser uma má notícia se gerando algo positivo, incentivando mudanças de direção por produtores mais preocupados com os sons que saem das caixas do que o tilintar das caixas registradoras.

http://youtu.be/uDblKjCIRjI

Desde os idos de 2007 produtores fiéis aos conceitos independentes do dubstep, como Burial e Kode 9 (dono do essencial selo Hyperdub), buscaram fugir da mesmice para qual tudo sem encaminhou, inaugurando o que que ficou conhecido como pós-dubstep, re-aproximando o estilo do clima experimental de onde surgiu. Essa fase 2 criou o ambiente para nomes como James Blake ou sua versão mais radifônica, Jamie Woon, despontarem, trazendo outros elementos para equação, notoriamente o R&B, outro gênero que sofreu com a comercialização, esse nos anos 90.

O principal legado do dubstep e, principalmente, sua viabilidade comercial, foi bem além dos novos gêneros que surgiram a partir dessa problemática (UK Funky, o próprio pós-dubstep): sua ascensão deu coragem para produtores colocarem o grave novamente no centro das atenções. No atual estado de DavidGuetização da música eletrônica, com sirenes por toda parte e o agudo tomando conta até onde menos se espera (o show de horrores proporcionado pelo Major Lazer é um exemplo), isso por si só é um alento. Mais grave é sempre um alegria, mesmo em música ruim. O grave é o alho sônico, deixa qualquer coisa melhor.

Conversando com o pesquisador Chico Dub, curador do festival Novas Frequências, ele observou: o grave se tornou o denominador comum da música urbana contemporânea. Seja em artistas tendendo ao r&b (The Weeknd), hip hop (A$AP Rocky), ao house (Lone), techno (Martyn), breakbeat (Mosca), drum n bass (Joy Orbison), 2-Step e Garage (Redinho, Julio Bashmore) ou até mesmo a um pós-pós-dubstep de olho no grande público (SBTRKT).

A impossibilidade de rotular cada um dessas misturas (uma prateleira para cada artista iria ficar complicado…) fez surgir mais um gênero, a bass music, um guarda chuva pra lá de bobo, por ser demasiadamente abrangente. Atendendo essa demanda, dois selos despontam: o escocês Numbers (por onde até Kieran “Four Tet” Hebden e o Modeselektor andam ciscando), nascido a partir de uma festa, e o inglês Night Slugs.

A coisa tá grave. E isso é ótimo.

Tchequirau

http://vimeo.com/34926849

Muito influenciado pelo dub, ano passado o Sun Araw (que recentemente esteve no Rio para participar do festival Novas Frequências) foi a Jamaica atrás do The Congos, do clássico “Heart of the Congos”, produzido por Lee Perry e tido em algumas listas como o melhor disco da história do reggae, para produzirem material juntos. Enquanto o disco não vem, tem um vídeo mostrando um pouco da viagem.