Imprensa Archive

segunda-feira

3

setembro 2012

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Transcultura #094: Clarice Falcão // TNGHT

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Meu texto da semana passada da coluna “Transcultura”, que publico todas as sextas no jornal O Globo:

As muitas faces de Clarice
por Bruno Natal

Atriz, roteirista, compositora e diretora. Para Clarice Falcão, a resposta para “o que você faz da vida?” pode se tornar complicada. Ultimamente, a filha do casal João e Adriana Falcão tem feito sucesso com músicas de pegada folk, em que se acompanha apenas por um violão ou ukelele. Para ela — que grava o seu primeiro disco, aos 22 anos —, o negócio é continuar fazendo de tudo um pouco.

— Relaciono-me de um jeito muito diferente com cada uma dessas funções, mas todas me fascinam de alguma forma — tenta explicar. — Acho que no roteiro é onde mais tenho a sensação de que sei o que eu estou fazendo. Atuar é o contrário. É um mistério. É desesperador. Nunca sei se fiz tudo errado, e, se fiz, nunca sei como é que poderia fazer certo, e se fizesse certo, nunca saberia o porquê. Compor e cantar é o que mais me diverte. Tem melodia, métrica e rima, mas também tem ideia, história, sentimento. E é tudo ao mesmo tempo. Direção, eu nunca fiz, na verdade. Já me arrisquei em um ou outro curta, mas foi tudo muito amador.

Mais de 1 milhão de “views”

Enquanto nos EUA é corriqueiro artistas terem essa formação mais ampla, por aqui isso ainda causa espanto. Para Clarice é um caminho natural.

— Nunca tive aula de música na escola, tive algumas de teatro e artes, até com alguns bons professores, mas elas eram sempre um pouco desprezadas no currículo. Sinto que isso influencia. As escolas dos EUA têm música, teatro, jornalismo, levados muito a sério, então por mais que no fim das contas a pessoa decida ser uma coisa só, ela sempre vai ter cartas na manga — diz.

A cartada mais certeira até aqui foi a música. Somadas, as duas versões de “Monomania” foram vistas 1,2 milhão de vezes no seu canal no YouTube. As composições se espalharam muito mais rápido do que a autora esperava.

— Deu um medo danado. Tinha várias músicas compostas, mas só conseguia tocar para a minha mãe. É claro que chegou a um ponto em que ela não aguentava mais ouvir. Então decidi mostrar as músicas pra outras pessoas.

A opção pelo folk foi uma consequência da escolha do instrumento e das histórias que queria contar.

— A maioria das minhas referências é de músicas “de letra”. O Chico Buarque, por exemplo, tem melodias lindíssimas, mas o que me faz chorar de verdade são as histórias que ele conta. De música estrangeira, a minha banda favorita se chama The Magnetic Fields, que tem as letras mais malucas que já ouvi. Na seção “vozes femininas”, gosto muito da Soko, da Kate Nash, da Ingrid Michaelson e da Kimya Dawson.

Fã de Tibério Azul e da mistura de eletrônica, violino e MPB do Silva, Clarice anda entusiasmada com as colaborações que vem realizando com fãs através da rede.

— Acho muito legal ver a quantidade de covers das minhas músicas, são mais de 400. Estou gravando esse disco, que é a coisa mais divertida do mundo de fazer e a mais apavorante também — conta ela sobre o trabalho que deve sair no começo de 2013.

Tchequirau

Formado por Hudson Mohawke e Lunice, o TNGHT está abrindo seu caminho nas pistas de dança através das batidas espacias de hip hop e dos graves. Coisa fina.

segunda-feira

27

agosto 2012

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Transcultura #093: Meu Rio // Internetes

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foto: Ana Branco/Agência O Globo

Meu texto da semana passada da coluna “Transcultura”, que publico todas as sextas no jornal O Globo:

Ativismo digital
Criado há cerca de dez meses, o movimento Meu Rio vira referência de mobilização na internet

por Bruno Natal

O botafoguense Miguel Lago, 24 anos, diz que aprendeu muito cedo que nunca alcançaria a felicidade pelo futebol (palavras dele) e foi obrigado a buscá-la no mundo real. Quase todo mundo já se pegou pensando em como melhorar sua cidade. Miguel não apenas foi lá e fez, como criou uma maneira de facilitar que todos os cariocas possam também agir. O Meu Rio é um movimento apartidário e sem fins lucrativos, com a missão de fazer com que o cidadão possa se envolver efetivamente na construção de políticas públicas.

Em cerca de dez meses, o site virou referência em ativismo digital. Com suas campanhas, conseguiu fazer barulho para que a Lei da Ficha Limpa fosse aprovada na Assembleia Legislativa do Rio e as lan houses fossem reconhecidas como atividade “de especial interesse para a universalização do acesso à internet”, e não mais como casas de jogo. Também fez com que a Barcas S/A revisse a decisão de cobrar taxa por bagagem.
Mudança cultural

Hoje, entre outras coisas, o movimento luta pelo respeito aos bailes funk e por saneamento básico em 100% da cidade. Além de submeter os candidatos à prefeitura do Rio a sabatinas, transmitidas on-line e com participação do público.
— Sempre tive vontade de ajudar a mudar o país. E o Meu Rio me dá as condições de contribuir para a causa pública com total independência. Não acredito mais em mudança a partir de sistema partidário ou pertencimento à administração pública — diz Miguel.

Após receber uma bolsa do governo francês, aos 18 anos ele foi estudar Ciências Políticas e cursar um mestrado em Administração Pública na Sciences Po Paris. Foi lá que conheceu Alessandra Orofino, com quem fundou o Meu Rio. Para assegurar sua independência, o projeto não aceita dinheiro publico, e nenhum doador pode ser responsável por mais de 20% do total arrecadado.

O site mobiliza pessoas em torno de temas específicos a partir de ferramentas como Assine Embaixo (abaixo-assinado on-line), Imagine (plataforma colaborativa de ideação de políticas públicas), Panela de Pressão (em que qualquer um pode criar sua campanha para gerar mudanças na sua comunidade) e Verdade ou Consequência (um jogo para aproximar o eleitor dos candidatos a vereador). Como se exige pouco para participar — basta um clique — uma crítica recorrente ao ativismo político on-line é sua pouca eficácia em termos práticos. Para Miguel, cabe às pessoas promover as mudanças.

— Só a tecnologia não muda nada. Mas as ferramentas são meios que, se usados com a devida estratégia, podem gerar grandes resultados. Quando falamos de participação é bonito, mas nem todos podem ir às ruas de tarde ou cabem num anfiteatro onde esteja rolando um fórum. O ativismo digital rompe com essas barreiras espaciais e físicas.

Agora, com a ApaFunk, o Meu Rio tenta derrubar a resolução 013, que dá poder à polícia de vetar eventos nas comunidades pacificadas.

— Isso tem afetado sistematicamente os bailes funk, que são uma manifestação própria dessas comunidades. O governo leva orquestra pra tocar em UPPs, mas não autoriza o funk. UPP não é colonização, é integração, o que implica saber respeitar a diferença.

Cultura é parte fundamental do trabalho do Meu Rio, em sentido amplo.
— Não podemos confundir cultura com arte: a cultura engloba política, tecnologia, arte. Ela é como concebemos a cidade, o país, o planeta. Precisamos de cidadãos proativos e governos que aceitem essa proatividade.

Tchequirau

Algumas coisas que aprendi essa semana: bar mitzvah bom é na baleia, não se deve restaurar pinturas do século XIX por conta própria, dub em português é dobragem, criança não deve comer pilha, modelo vivo sofre, Seu Madruga é um senhor professor e muito mais. Obrigado, internetes!

segunda-feira

13

agosto 2012

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Transcultura #091: Lucas Santtana // “Tropical Britannia”

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Meu texto da semana passada da coluna “Transcultura”, que publico todas as sextas no jornal O Globo:

Reconstruindo Lucas
Músicas do disco ‘Sem nostalgia’, de 2009, ganham versões remixadas em novo álbum

por Bruno Natal

Junto com a capa de “Remix nostalgia”, disco de reconstruções das músicas de “Sem nostalgia”, Lucas Santtana envia, orgulhoso, o link para tuitada do radialista e DJ franco-suíço Gilles Peterson, um dos principais divulgadores da música feita fora do eixo Inglaterra-EUA, classificando o trabalho como “acima da média”. Não é de hoje que Lucas chama mais atenção no exterior do que no Brasil, história comum a tantos bons artistas daqui.

— “Sem nostalgia”, de 2009, só saiu na Europa em 2011. Em abril fiz a turnê de lançamento por lá, 12 shows em sete países. Tínhamos que esperar isso passar para lançar o disco de remixes, que foi ideia do Lewis Robinson, dono do meu selo na Europa, Mais Um Discos. A intenção é sempre permitir que alguém conte a mesma história de outra maneira — diz Lucas.

Adepto do livre compartilhamento — o disco pode ser baixado gratuitamente —, Lucas não é estranho aos sons eletrônicos. Além de eventuais apresentações como DJ, ele costuma disponibilizar faixas abertas de suas músicas, que são os instrumentos usados em cada faixa isolados em canais de áudio independentes, para que possam ser sampleados e remixados por outros.

— O que me atrai na eletrônica são os timbres e a maneira de tocá-los nas máquinas. É bem diferente de tocar um instrumento. Isso faz com que exista o que chamo de cultura de pista, outra maneira de se fazer e pensar a música.

O time convidado para “entortar” as faixas inclui Tosca (projeto de metade da dupla Kruder & Dorfmeister), Deerhoof, Burnt Friedman, JD Twitch (metade do Optimo) e os brasileiros M. Takara e Rodrigo Brandão.

— Quem escolheu foi o Lewis, ele só me perguntava se eu aprovava as escolhas. O foco dele foi levar minha música para outros nichos. Os produtores curtiram muito o disco original. Na França ele foi eleito o disco estrangeiro de 2011 pelo jornal “Libération”. E ficou em sexto na lista da revista “Les Inrockuptibles”. E não estamos falando de categoria world music ou independente, era competindo com todos os lançamentos mundiais mesmo.

Sem nostalgia, Lucas mira na frente. Com lançamento marcado para setembro, seu disco mais recente, “O Deus que devasta mas também cura”, não deve demorar tanto para sair no exterior. A versão europeia virá com três músicas inéditas. Os remixes, espera-se, vêm na sequência.

Tchequirau

Finalmente se afastando dos mashups, João Brasil lançou um EP essa semana, como parte de sua participação no projeto Rio Occupation London. Em “Tropical Britannia” o produtor faz parcerias com Isa GT, Bumps, Moroka, Murlo e Rob Pollinate, experimentando com sonoridades do global ghettotech, post dubstep, UK funky, baile funk, tecnobrega, batidas quebradas.

segunda-feira

6

agosto 2012

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Transcultura #090: DJ JAK // 808

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foto: anendfor

Meu texto da semana passada da coluna “Transcultura”, que publico todas as sextas no jornal O Globo:

DJ gaúcho faz sucesso com mash-up de hit ‘Call me maybe’ com música do ExaltaSamba
por Bruno Natal

Hit do verão dos EUA, “Call me maybe”, de Carly Rae Jepsen, encontrou um par inusitado por aqui quando foi misturada com “Tá vendo aquela Lua”, do ExaltaSamba, no mash-up “Call me Lua maybe”. E virou sucesso. O autor da façanha é João Alberto Kolling, 28, de Novo Hamburgo.

Residente da edição porto alegrense da principal festa de mash-ups do mundo, a Bootie, JAK acredita que, mesmo sem o frescor de outrora, os mash-ups continuam relevantes.

— Misturando dá pra colocar na pista alguns sons que antigamente não combinavam muito com a noite, tipo AC-DC ou Trio Los Angeles. Sendo criativo, dá pra misturar aquela banda obscura dos vinis do seu pai com Lady Gaga.

Após conhecer os trabalhos de André Paste, João Brasil, FAROFF e Lúcio K, João Alberto foi atrás dos novos ídolos para saber como se tornar o DJ JAK.

— Consegui o MSN do André, e ele foi superbacana comigo, me ensinando a usar o programa Ableton Live e ouvindo minhas primeiras produções. Depois fui convidado a tocar na Bootie Rio, em 2010, o que acabou sendo o incentivo que faltava para incrementar minhas produções — diz.

Em seu repertório, JAK embola La Bionda com Talking Heads, Victor & Leo com Lady Gaga, Rage Against the Machine com É O Tchan!

— Os bons mash-ups nascem longe do computador, em papos com amigos ou viagens. É uma satisfação muito grande quando você canta uma música na sua cabeça, pensa no ritmo de outra, liga o computador, e a ideia se encaixa.

JAK publicou uma seleção on-line de seus maiores sucessos, a mixtape “Greatest hits”. Só que isso foi bem antes do lançamento de “Call me Lua maybe”.

Tchequirau

“Planet Rock and Other Tales of the 808” – Teaser 1 from You Know on Vimeo.

Dirigido por Arthur Baker, produtor do hino “Planet Rock”, do Africka Bambaataa, o documentário “Planet Rock and other tales of the 808″ conta a história da bateria eletrônica que mudou o rumo da música eletrônica, a Roland TR-808.

sexta-feira

27

julho 2012

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Transcultura #89: DJ Marky // Bicicletas

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Meu texto de hoje da coluna “Transcultura”, publicada todas as sextas no jornal O Globo:

O retorno do rei
Mestre do drum and bass, eleito várias vezes o melhor DJ do mundo, Marky toca nesta sexta na Wobble, no Rio

por Bruno Natal

No fim dos anos 1990, o drum and bass vivia seu auge. Tido como a vertente mais inovadora da música eletrônica, numa época pré-compartilhamento de arquivos e de infinitos subgêneros digitais, o d&b tinha um rei, e esse rei era brasileiro: DJ Marky.

Considerado várias vezes o melhor do mundo por diversas publicações (scratches em BPMs acima de 160 não são mesmo pra qualquer um).Um astro com residência fixa em boates de Londres (Bar Rumba), São Paulo (Lov.e), Rio (as saudosas quartas da Bunker), Tóquio (Womb) e onde mais quisesse, presença em festivais como Coachella e Glastonbury, anualmente Marky celebrava seu domínio no Skol Beats, como atração principal da tenda Movement, focada nas batidas quebradas e no grave.
O tempo seguiu, outros estilos tomaram a ponta e, de repente, ouvir Marky no Rio passou a ser menos recorrente, deixando desemparados fãs que o viram em festas como a Loud! e a pioneira Febre.

Mas nesta sexta Marky visita a cidade, capitaneando a edição da festa Wobble, no Fosfobox, dedicada aos sons graves e que vem atraindo uma galera mais nova atrás do dubstep, apresentado em suas diversas formas (pro bem e pro mal). Mesmo com o resgate dos anos 1990 se ensaiando, ele não acredita nessa anunciada “volta do drum and bass”. Para Marky, nada mudou. Ou melhor, mudou pra melhor.

— Não existe volta do d&b porque ele nunca foi embora. Não é por que a música saiu da mídia brasileira que ela morreu. O jazz morreu? Não, está mais vivo do que nunca! Minha carreira está melhor do que nunca! Continuo tocando nos principais festivais e clubes do mundo; sou residente do Fabric, em Londres, e do Womb, em Tóquio, dois dos melhores do planeta; minha gravadora, Innerground Records, está bombando — diz.

A Wobble vai além do dubstep que a fez conhecida, com espaço para o garage, house, até techno. Pelos toca-discos já passaram DJs como Roots Rock Revolution, Nedu Lopes e Tamenpi. Um dos responsáveis pela festa, Rodrigo S. é fã de Marky e acha sua presença algo natural.

– Ele é o preferido de quase todos os envolvidos na Wobble. Sua residência na Bunker foi uma escola. Drum and bass é um dos pilares da bass music e foi fundamental na construção do que é o dubstep hoje. O que o jungle é para o drum and bass, o drum and bass é para o dubstep.

Dia 10 de agosto, em SP, Marky toca no projeto Technostalgia, em que DJs fazem as vezes de maestro. Regendo duas bandas simultaneamente no palco, como se fossem dois toca-discos, clássicos da música eletrônica ganharão roupagem analógica. Sem deixar o estilo que o consagrou — e que ele revolucionou, ao trazer o sol para um som tradicionalmente sombrio — Marky também toca outras coisas.

— Continuo fazendo sets só de d&b, às vezes toco em festas de deep house, além de ter a minha noite, DJ Marky — Influences, em que toco as músicas que me influenciaram, do soul ao d&b, passando por funk, rock, jazz, disco, boogie, house, techno e por aí vai. Adoro as músicas de artistas como Boddika, Julio Bashmore e Breach, assim como Dramatic & DB Audio, Total Recall, T.I., Decimal Bass, que estão arrebentando no drum and bass. Na Wobble vou tocar drum and bass e algumas dessas coisas — conta Marky.

A onda do dubstep

Mesmo rodando o mundo, Marky continua ligado nos sons daqui. Da produção brasileira, ele destaca Level 2, Unreal, Critycal Dub e o carioca BTK, hoje morando na Suíça, “arrebentando”, segundo o DJ. Apesar da proximidade apontada por Rodrigo, Marky não vê tanta relação entre a atual ascensão do dubstep e o que aconteceu com o d&b no passado. Ele enxerga um exagero nessa percepção.

—- Os melhores artistas de dubstep, como Pearson Sound, Addison Groove e Joy Orbison, não fazem mais dubstep. Estão muito mais próximos do house e do techno. Devido à mídia em torno do Skrillex, parece que a música dele é gigante, mas, como estou lá fora direto e vejo com meus próprios olhos, as coisas não são o que parecem.
Mais do que matar saudades de uma das melhores fases da música eletrônica brasileira e da noite carioca, esta vai ser uma noite para celebrar o presente. Enquanto o disco gira, o tempo não para. Como diz o MC: “Reeeeeewind, my selectah!

Tchequirau

Com bicicletas começando a ser levadas a sério como meio de transporte – mais por parte dos usuários do que do poder público, ainda – comunidades para discutir o assunto começam a se formar. Sai da Ciclovia, Bike Anjo, Transporte Ativo e Eu Vou de Bike são algumas delas.