segunda-feira

10

dezembro 2012

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O Hype, o Williams, a aspereza e o Cadu

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E lá se foi a segunda edição do Novas Frequências. Diferente do ano passado, quando a curadoria foi mais eclética, esse ano as atrações seguiam todas uma linha minimamente parecida de se utilizar os erros e acasos como parte central de suas composições – e quase todas de maneira bem etérea.

Por um lado isso fez com que tenha se perdido amplitude de idéias. Por outro, deu uma linha central e uma abordagem contemporânea por onde se analisar produções distintas. Em sua última noite, porém, o leque esteve aberto, iniciando com a anarquia ruidosa de Cadu Tenório e fechando com a combinação de graves e glitchs friamente calculada do Hype Williams.

Os primeiros minutos do Cadu Tenório no palco pareciam o clichê de um show experimental em algum filme sobre jovens na faculdade. Enquanto operava um ventilador microfonado e organizava loops, uma fotógrafa filmava os movimentos enquanto esfregava um pano na lente para criar algum efeito visual.

Foi curioso o pedido de silêncio vindo da plateia quando se ouviu algum cochicho. Numa apresentação pautada pela ambiência – e com samples de diálogos – conversas paralelas, mesmo que indesejadas, poderiam ser facilmente incorporadas a massa sonora.

As coisas melhoraram quando outros músicos foram entrando em cena – um guitarrista, um baterista e um saxofonista, integrantes do Sobre a Máquina, uma das muitas bandas da qual Cadu faz parte, e do Chinese Cookie Poets – mas não imediatamente. Iniciou-se uma viagem free jazz ruidosa, com cada um indo pra um lado, soando um tanto gratuito.

Os quatro somente encontram-se de fato nas duas últimas músicas, quando a execução – ou, melhor, a percepção dela – melhorou sensivelmente. Parte disso se deveu ao papel mais marcado da bateria, ajudando a consolidar o tempo. Com isso, todo o grupo se viu obrigado a, ao menos, seguir pela mesma trilha, sem perder os espaço para os improvisos e ruídos.

O clima estava, literal e figurativamente falando, tenso para entrada do Hype Williams. Nos corredores, uma pessoa reclamava com o seguranças por ter sido respondida aos palavrões ao pedir para uma pessoa que se plantou a sua frente chegar para o lado durante a apresentação do Cadu. O irritado era uma das metades do Hype Williams.

Com o palco coberto de fumaça e com luzes piscando sem parar em direção a plateia, era possível distinguir os integrantes do grupo e uma moto. A neblina ajudava a manter o anonimato buscado pelo Hype Williams, assim como a moto e a mulher nela sentada, ambas sem nenhuma função técnica além de cenografia, também contribuiam para desviar a atenção do olhar.

Aos chamados de “louder!” (mais alto!) no microfone, a camada de sintetizadores ia crescendo. Só que o pedido era real e não parte do roteiro, para resolver um problema em um dos microfones. Logo o clima atmosférico deu lugar a espasmos conjuntos de bateria e saxofone (ó o free jazz aí de novo), destoando bastante das expectativas lo-fi do que se conhece do Hype Williams gravados.

Em mais uma curva, batidas quebradas e o vocal feminino (fraco) começaram a escancarar as referências noventistas, via Bristol, do Hype Williams. Graves pesados caíam como pedradas e sub-graves faziam a barriga vibrar, algumas vezes até com a testada e aprovada combinação com os sons de uma melódica/escaleta e toda herança jamaicana típica dos sons vindos a Inglaterra.

Em diversos momentos o jungle e o garage eram lembrados, enquanto sons sobre os quais ninguém conversa a respeito, mas todos conhecem, como a intereferência provocada por um celular tocando perto das caixas de som de um computador, eram adicionados a equação. A alusão ao Massive Attack chega a ser óbvia, porém um dos méritor do Hype Williams é justamente ter conseguido atualizar e recontextualizar uma sonoridade tão característica quanto datas, sobretudo pelos timbres.

O som de fita cassete gasta, as batidas sujas, até uma certa calma presente das gravações, deram vez a uma interpretação mais agressiva, alternando momentos agradáveis com outros meramente calcados no choque. Contrapostos, esses dois momentos se complementam, servindo de parâmetro um para o outro. Ao contrário dos outros artistas do festival, o caos do Hype Williams é ordenado e aponta para intenções de expansão, exacerbado pelo cuidado com a faceta performática.

Um belo encerramento para semana em que a cidade foi energizada pelos graves, da precisão germânica do Pole ao rastafarianismo do Aba Shanti I.

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