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quarta-feira

4

dezembro 2013

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Transcultura #129: Novas Frequências // Tv/Av

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Novas-Frequências-3ª-edição_eflyer-completo

Versão integral e sem edição do texto na da semana passada da “Transcultura”, coluna que publico todas as sextas no jornal O Globo:

Shows, festa e palestras promovem o ‘barulhinho bom’ do Festival Novas Frequências
Evento chega à terceira edição neste sábado, com nomes fundamentais da música (ou da não música) do Brasil e do exterior
por Bruno Natal

Em sua terceira edição, de sábado até 8 de dezembro, o microfestival de sons experimentais Novas Frequências cresceu. Isso não significa um aumento de público; o Novas Frequências continua focado na experiência intimista sugerida pela própria escalação, em shows para pouco mais de cem pessoas. O que aumentou foi o número de eventos ligados ao festival. Além dos sete shows distribuídos por cinco noites no Oi Futuro Ipanema, haverá quatro palestras no Polo de Pensamento Contemporâneo e uma festa no La Paz, com um total de 14 artistas.

— Para ser completa, a experiência de um festival precisa desdobrar-se em atividades que percorrem as diversas áreas da expressão artística. Saímos do nosso formato original para ampliar interesses e atracões numa experiência expansiva, com discussões teóricas sobre questões ligadas à música, ao som e ao comportamento contemporâneo e uma noite de eletrônica experimental voltada para a pista de dança. A ideia é crescer aos poucos, ampliando o número de artistas, casas, cidades e fazer pontes com festivais internacionais — explica o idealizador e curador do Novas Frequências, Chico Dub.

Instalações sensoriais

A maior parte das atrações do Novas Frequências é instrumental — e mesmo quando cantam, esses artistas utilizam a voz mais como um instrumento do que como um elemento lírico ou retórico. Se na primeira edição os sons de Sun Araw e Murcof a tornaram mais transcendental e reflexiva, e na segunda as vozes femininas de Julianna Barwick, Prince Rama e Maria Minerva se fizeram ouvir, a escalação deste ano é a mais sonora e menos musical do festival até aqui. O foco está em paisagens sonoras, gravações de campo, found sound, noise, drone e trilhas, uma experiência mais próxima de instalações sensoriais do que de apresentações convencionais de música.

— Desde a primeira edição tento trazer o canadense Tim Hecker pro Novas Frequências, então essa apresentação tem um sabor especial pra mim. Sou apaixonado pelas paisagens sonoras do cara, é de uma beleza elegíaca sem igual. Estou bastante curioso para ouvir o Heatsick, que toca no La Paz, um britânico radicado em Berlim que já fez drone, noise e hoje toca house em um teclado Casiotone surrado. O encontro do David Toop com o Chelpa Ferro é imperdível, totalmente imprevisível. Também destacaria Stephen O’Malley, responsável por popularizar uma nova forma de se tocar heavy metal, deslocando o peso da guitarra para o clima e para a ambiência, e as desconstruções do r&b feitas por James Ferraro, artista dos mais excêntricos e prolíficos do EUA — detalha Chico.

Essa é também a edição com maior participação de brasileiros. Além do Chelpa Ferro, tocam Gimu, Fudisterik, São Paulo Underground, Babe, Terror e Paulo Dandrea. A herança musical brasileira não é uma preocupação do Novas Frequências.

— O foco internacional se dá porque que já existem bons festivais feitos no Brasil que mostram a nova música produzida aqui. Evidentemente sempre haverá espaço para artistas brasileiros que se encaixam no conceito do Novas Frequências. O festival olha para o futuro. Estamos tão interessados no Gimu, um artista sem qualquer identidade sonora ligada às raízes brasileiras, quanto no Fudisterik, um cara que pesquisa tradições folclóricas e que vez ou outra coloca isso na sua música.

Cena cresce no Brasil

Entre produtores culturais e coletivos se articulando e buscando soluções para a falta de palcos, eventos novos surgindo, um número maior de críticos musicais especializados e mesmo um maior interesse da mídia de massa, a cena experimental brasileira vem se desenvolvendo.

— De certa forma, foi a escalação nacional mais fácil de fazer, nunca fiquei tão animado com a música produzida no Brasil. E isso não só a relativo à música de vanguarda, eletrônica ou experimental. Tem coisas boas sendo feitas em todas as esferas. O Gimu se aproxima de uma série de artistas da cena do Rio e São Paulo que possuem uma pegada mais escura e sombria, explorando sonoridades próximas do drone, do noise, do dark ambient, do industrial e do techno, como Bemônio, Sobre a Máquina, Ceticências e Iridescent Life. O Babe Terror tem uma sonoridade bem particular, um lance super lo-fi, com texturas corrosivas, compressões baixas, som de fita cassete. Fudisterik e Paulo Dandrea são artistas que produzem música eletrônica de Minas Gerais e São Paulo, respectivamente, com uma produção bem instintiva, fora dos padrões e longe das referências clássicas. Lá fora rotulariam eles como “leftfield electronica”.

Ainda que as coisas estejam melhorando, é evidente que falta muita coisa.

— Precisamos de mais selos, discos, trocas com festivais internacionais, viagens desses artistas para outros estados e também para fora do país, de mais pesquisa embasada, de mais livros, de mais projetos comissionados, de mais rádios on-line. O Chelpa Ferro é sinônimo de arte sonora no Brasil. Por isso faz todo o sentido colocá-los juntos com o David Toop, o cara mais emblemático no assunto em toda a Grã-Bretanha. O São Paulo Underground, assim como o Chelpa, já possui uma longa estrada. Cada um dos seus membros tem uma porção de projetos, principalmente o Rob Mazurek, um cara superimportante da cena de free jazz de Chicago. São grupos acostumados a tocar no exterior. O mesmo não pode ser dito sobre o capixaba Gimu, que nunca se apresentou ao vivo, ou do Babe, Terror, um paulistano que se apresentou pouquíssimas vezes.

Tchequirau

Projeto de Julio Santa Cecilia, o EP “Unprepared Loops” do Tv/Av conta com participações de Gabriel Muzak, Mauricio Negão, Leo Israel e Gabriel Nigri para produzir sua chapação ambient.

sexta-feira

1

março 2013

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Trilhas alternativas

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Os saites Rock ‘n’ Beats e Ovo de Fantasma convidaram várias bandas alternativas brasileiras para criarem trilhas alternativas para filmes. Esse é o projeto Off The Tracks.

A premissa foi simplificada e o resultado final são músicas de cerca de 3 minutos, inspiradas pelos filmes, acompanhadas de um clipe com imagens ou cenas inteiras dos mesmos.

Tem Silva trilhado “Tarnation”, Sobre a Máquina musicando “Baixio das Bestas” e o Cambriana se aventurando no meu filme favorito de todos os tempos passados e vindouros, “2001, Uma Odisséia no Espaço”.

(mais…)

quinta-feira

20

dezembro 2012

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Os bons discos nacionais de 2012

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Se tem uma coisa que tenho preguiça de fazer é lista, ainda mais de música, simplesmente por ter total preguiça de hierarquizar trabalhos tão diferentes, muitas vezes complementares e quase nunca melhores uns que os outros. Portanto, indo além do que fiz ano passado, quando baseei a ordem no número de audições de cada disco, dessa vez nem ordem vai ter.

E mais: aboli o nome “melhores discos”, substituindo por “bons discos”. Nesse mundaréu de discos, facilmente encontráveis, lançados a cada semana, não há como dizer que nenhuma lista reúna os melhores, pois isso implicaria em ouvir todos (tarefa impossível).

“Bons discos” dá uma noção mais real do que se trata esse tipo de lista. Um corte, uma seleção, dicas. Alguns ouvidos diversas vezes, outros bem pouco. Uns são memoráveis, outros se destacam mais por serem propostas interessantes. Uns foram resenhados aqui, outros apenas escutados.

Começando pelos nacionais, amanhã seguimos com os gringos. Aproveite e diga também nos comentários quais foram os seus discos favoritos de 2012.


Lucas Santtana, “O Deus Que Devasta Mas Também Cura”


Curumin, “Arrocha”


Rodrigo Campos, “Bahia Fantástica”


Céu, “Caravana Sereia Bloom”


Maga Bo, “Quilombo do Futuro”


Taksi, “Taksi” (EP)


SILVA, “Claridão”


Doo Doo Doo, “Casa das Macacas”


Sobre a Máquina, “Sobre a Máquina”


Gui Amabis, “Trabalhos Carnívoros”


Mahmundi, “Mahmundi”


Tulipa, “Tudo Tanto”


Nina Becker & Marcelo Callado, “Gambito Budapeste”


Orquestra Imperial, “Fazendo as pazes com o swing”

segunda-feira

10

dezembro 2012

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O Hype, o Williams, a aspereza e o Cadu

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E lá se foi a segunda edição do Novas Frequências. Diferente do ano passado, quando a curadoria foi mais eclética, esse ano as atrações seguiam todas uma linha minimamente parecida de se utilizar os erros e acasos como parte central de suas composições – e quase todas de maneira bem etérea.

Por um lado isso fez com que tenha se perdido amplitude de idéias. Por outro, deu uma linha central e uma abordagem contemporânea por onde se analisar produções distintas. Em sua última noite, porém, o leque esteve aberto, iniciando com a anarquia ruidosa de Cadu Tenório e fechando com a combinação de graves e glitchs friamente calculada do Hype Williams.

Os primeiros minutos do Cadu Tenório no palco pareciam o clichê de um show experimental em algum filme sobre jovens na faculdade. Enquanto operava um ventilador microfonado e organizava loops, uma fotógrafa filmava os movimentos enquanto esfregava um pano na lente para criar algum efeito visual.

Foi curioso o pedido de silêncio vindo da plateia quando se ouviu algum cochicho. Numa apresentação pautada pela ambiência – e com samples de diálogos – conversas paralelas, mesmo que indesejadas, poderiam ser facilmente incorporadas a massa sonora.

As coisas melhoraram quando outros músicos foram entrando em cena – um guitarrista, um baterista e um saxofonista, integrantes do Sobre a Máquina, uma das muitas bandas da qual Cadu faz parte, e do Chinese Cookie Poets – mas não imediatamente. Iniciou-se uma viagem free jazz ruidosa, com cada um indo pra um lado, soando um tanto gratuito.

Os quatro somente encontram-se de fato nas duas últimas músicas, quando a execução – ou, melhor, a percepção dela – melhorou sensivelmente. Parte disso se deveu ao papel mais marcado da bateria, ajudando a consolidar o tempo. Com isso, todo o grupo se viu obrigado a, ao menos, seguir pela mesma trilha, sem perder os espaço para os improvisos e ruídos.

O clima estava, literal e figurativamente falando, tenso para entrada do Hype Williams. Nos corredores, uma pessoa reclamava com o seguranças por ter sido respondida aos palavrões ao pedir para uma pessoa que se plantou a sua frente chegar para o lado durante a apresentação do Cadu. O irritado era uma das metades do Hype Williams.

Com o palco coberto de fumaça e com luzes piscando sem parar em direção a plateia, era possível distinguir os integrantes do grupo e uma moto. A neblina ajudava a manter o anonimato buscado pelo Hype Williams, assim como a moto e a mulher nela sentada, ambas sem nenhuma função técnica além de cenografia, também contribuiam para desviar a atenção do olhar.

Aos chamados de “louder!” (mais alto!) no microfone, a camada de sintetizadores ia crescendo. Só que o pedido era real e não parte do roteiro, para resolver um problema em um dos microfones. Logo o clima atmosférico deu lugar a espasmos conjuntos de bateria e saxofone (ó o free jazz aí de novo), destoando bastante das expectativas lo-fi do que se conhece do Hype Williams gravados.

Em mais uma curva, batidas quebradas e o vocal feminino (fraco) começaram a escancarar as referências noventistas, via Bristol, do Hype Williams. Graves pesados caíam como pedradas e sub-graves faziam a barriga vibrar, algumas vezes até com a testada e aprovada combinação com os sons de uma melódica/escaleta e toda herança jamaicana típica dos sons vindos a Inglaterra.

Em diversos momentos o jungle e o garage eram lembrados, enquanto sons sobre os quais ninguém conversa a respeito, mas todos conhecem, como a intereferência provocada por um celular tocando perto das caixas de som de um computador, eram adicionados a equação. A alusão ao Massive Attack chega a ser óbvia, porém um dos méritor do Hype Williams é justamente ter conseguido atualizar e recontextualizar uma sonoridade tão característica quanto datas, sobretudo pelos timbres.

O som de fita cassete gasta, as batidas sujas, até uma certa calma presente das gravações, deram vez a uma interpretação mais agressiva, alternando momentos agradáveis com outros meramente calcados no choque. Contrapostos, esses dois momentos se complementam, servindo de parâmetro um para o outro. Ao contrário dos outros artistas do festival, o caos do Hype Williams é ordenado e aponta para intenções de expansão, exacerbado pelo cuidado com a faceta performática.

Um belo encerramento para semana em que a cidade foi energizada pelos graves, da precisão germânica do Pole ao rastafarianismo do Aba Shanti I.

segunda-feira

10

dezembro 2012

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Transcultura #101: Cadu Tenório // Hype Machine Zeitgeist 2012

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Meu texto da semana passada da coluna “Transcultura”, que publico todas as sextas no jornal O Globo:

Estranha paisagem
Cadu Tenório leva improvisos eletrônicos ao festival Novas Frequências
por Bruno Natal

O inquieto Cadu Tenório divide-se entre vários projetos: da sonoridade extrema do Sobre a Máquina, o mais conhecido, com influências de drone e dark ambient, aos “devaneios catárticos” (palavras dele) do VICTIM!, passando por Santa Rosa’s Family Tree, Ceticências e Gruta, no qual, sem a banda, Cadu tem controle total do resultado.

Escalado para tocar no domingo no festival Novas Frequências, dividindo a noite com Hype Williams (nesta sexta-feira o evento recebe a estoniana Maria Minerva e, no sábado, a norte-americana Julianna Barwick e o espanhol Lenticular Clouds), Cadu teve que criar mais um projeto para apresentar. Como o festival somente escala atrações inéditas na cidade, montou um combinado com integrantes do Sobre a Máquina e Chinese Cookie Poets para mostrar as diversas facetas dos seu vários trabalhos, desta vez com seu nome próprio.

— Não consigo parar, ou não tenho conseguido, porque funciona como escape. Chego do trabalho e quase sempre resolvo tocar, é o que me acalma e tal. Com o passar dos anos consegui uma pequena estrutura pra gravar algumas coisas em casa, e dá no que dá — explica.

Cadu diz que não planeja, os projetos simplesmente acontecem. É como se fossem gerações espontâneas.

— Não sento e digo “agora vou montar um projeto novo”. Vou gravando as músicas e agrupo onde acho que elas se encaixam melhor. Em termos de projeto solo, Ceticências foi o primeiro nome com o qual gravei algo, anos atrás, e continua presente em algo voltado pra música eletrônica climática, porém apoiado em melodias simples. O Santa Rosa’s Family Tree é mais sujo, tem uma coisa de soturno e melancólico e lida com beats bem mais presentes. Talvez no futuro esses dois projetos se tornem tão próximos que vou preferir utilizar apenas o nome Cadu Tenório para lidar com beats mais pulsantes.

A sonoridade é algo que Cadu tem tanta dificuldade de explicar que preferiu dar uma “resposta única”, utilizada em todas entrevistas, segundo ele.

— A matéria-prima tento extrair do dia a dia, da sonoridade das coisas do cotidiano que ainda fico fascinado escutando. Dos climas também. O conceito “paisagem sonora” de Schafer e as explorações de Cage abriram muito meus horizontes.

E por trás de todo ruído, bate um coração romântico (ainda dentro da resposta padrão enviada por Cadu).

— Acho romântica essa ideia do improviso por cima do cotidiano, tentar seguir de alguma forma o som das coisas, estou sempre com um gravador de fita na mochila. Gosto de gravar a ambiência de locais variados do dia a dia com ele, acho que o som da fita enriquece muito a minha proposta, não é high fidelity, mas talvez esse seja o ponto. O clima pra mim é o mais importante em qualquer manifestação artistica, talvez tenha sido o que me atraiu mais em filmes de Tarkovsky e Kubrick ou nos thrillers e filmes de terror de que mais gosto. — completa.

Com os ingressos do festival esgotados, resta assistir à transmissão na página oficial (novasfrequencias.com), tentar a sorte na porta ou torcer para outra apresentação do Cadu.

— Não saberia dizer se esse show vai se repetir, pelo menos dessa forma.

Tchequirau

Saiu o Music Blog Zeitgeist 2012 do Hype Machine, listando os mais artistas e música mais comentadas nos principais blogues indie em 2012. A mulherada lidera, com Grimes em 1° e Lana Del Rey em 2°, seguidas pelo Hot Chip fechando o pódio.

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