O festival de música e artes Coachella anunciou no último dia 05 o line-up da sua 17a edição. O evento esse ano irá contar com o retorno aos palcos do LCD Soundsystem e do Guns N’ Roses com sua formação quase original, com Axl, Slash e Duffy.
Como sempre, o melhor do festival não são as atrações principais. Esse ano tem DJ Koze, Deerhunter, BadBadNotGood, Mr. Carmack, 2ManyDJs, Sufjan Stevens, Jack Ü, Grimes, Unknown Mortal Orchestra, Courtney Barnett, Disclosure, Beach House, Bob Moses, The Dead Ships, Rancid, Flume, Kamasi Washington e Melody’s Echo Chamber.
A Fader Magazine acaba de lançar um documentário sobre o “Art Angels”, mais novo disco da cantora e produtora canadense Grimes. No vídeo, a artista descreve sua relação com a cultura pop e os processos artísticos que foram determinantes para a criação do álbum, sendo considerado um trabalho mais coeso que o seu último lançamento, “Visions”, de 2012.
Finalizando a lista de bons discos, os internacionais. Interessante notar como muitas capas estão sendo pensadas sem o nome do disco ou do artista.
Como expliquei escrevendo sobre a lista de discos nacionais, aboli o termo “melhores discos” e adotei “bons discos” por acreditar que isso dá uma noção melhor do significado dessa lista. Não tem ordem, vale EP, até single tem vez. As regras são as mesmas utilizadas na lista brasileira.
O que vale são as dicas, portanto deixe suas dicas nos comentários.
Meu texto de sexta passada da coluna “Transcultura”, que publico todas as sextas no jornal O Globo:
O pop nublado do Grimes por Bruno Natal
Em fevereiro passado, uma das músicas do Grimes, “Vanessa”, foi um assunto bastante comentado na grande mídia dos EUA. O que poderia ser um fato desejável para uma artista em início de carreira, aconteceu de uma maneira torta. A menção a música na imprensa tinha um motivo sinistro: o clipe foi uma das últimas coisas publicadas no perfil do Facebook do adolescente de 16 anos que abriu fogo nos colegas de escola em Ohio, matando três deles e ferindo gravemente outros dois.
Definitivamente, não era o tipo de atenção que a canadense Claire Boucher, 24, esperava logo após lançar o seu terceiro disco, “Visions”, o primeiro por um selo relevante, o 4AD (casa do Bon Iver, Atlas Sound, Ariel Pink’s Haunted Graffiti, Tune-Yards e outros). Por sorte, apesar do som sombrio, as ligação não durou muito (vai ver porque muitas reportagens inverteram a ordem, referindo-se a música “Grimes”, da Vanessa).
Conterrânea do rapper Drake e do r&b do novo milênio do The Weeknd, o som do Grimes é repleto de referências bem embaralhadas; ao mesmo tempo identificáveis e diluídas. A atmosfera robótica do som sublinha a ligação com a ficção científica, desde o primeiro disco, “Geide Primes”, cujo títulos das músicas foram inspirados no clássico literário sci-fi “Duna”, de Frank Herbert. Apesar da relação estreita com a rede, no segundo disco, Halfaxa”, traz músicas com nomes gráficos difíceis de procurar no Google, como “∆∆∆∆Rasik∆∆∆∆”, “≈Ω≈Ω≈Ω≈Ω≈Ω≈Ω≈Ω≈Ω≈” ou “World ♡ Princess”.
As camadas de vozes sobrepostas com efeitos, as batidas ásperas lo-fi, sintetizadores oitentistas, desenham uma artista que está mais próxima da Suécia, via Lykke Li, Fever Ray, Little Dragon e Robyn, do que dos EUA de Zola Jesus e Nite Jewel ou a Inglaterra da La Roux, terras geralmente mais férteis para o synthpop. A página do Grimes no site da gravadora vai longe e lista “Enya, TLC e Aphex Twin, enquanto pega emprestado de gêneros como New Jack Swing, IDM, New Age, K-pop, Industrial e glitch”.
Some a isso a nostalgia embaçada do chillwave e witch house. Um som frio e introspectivo que ainda assim faz bater o pé. Não é exatamente surpreendente e inovador, só que tem onda. E isso as vezes é o bastante.
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Tchequirau
Esses dias o vídeo da semana, quiça do ano, foi um daqueles que despretensiosos, que a primeira vista não parecem nada demais, até que conquista nossa mente, nosso coração, a noooossa alegriiiia.
“São mais de 2 mil shows oficiais (e certamente outros 2 mil não oficiais) divididos entre 6 dias de total imersão na pacata cidade de Austin no Texas. Diferente de outros festivais de música, no South by Southwest não existe um único local onde os shows acontecem.
“Os mais diferentes lugares da cidade (bares, estacionamentos, lobby de hotel,….) viram palcos e a cidade toda respira o festival. É como se fosse o carnaval de rua do Rio (sem poder beber na rua e, consequentemente, sem pessoas fazendo xixi em qualquer lugar), todo mundo circulando atrás de um show.
“Essa atmosfera da cidade é uma das principais características do SXSW, é impossível não ser absorvido pela energia jovem, ousada e inconseqüente que a cidade é tomada, ainda mais em pleno Texas. Junta-se a isso artistas de variados estilos (da música latina, passando pelo reggae, hip hop, rock, folk, eletrônica) de variados tamanhos, porém sempre com uma pegada mais independente, e lugares pequenos (somente dois ou três lugares são para mais do que mil pessoas).
“Esse é o SXSW, um festival onde você assiste ao Gossip para não mais do que 50 pessoas e onde facilmente você esbarra e troca uma idéia com o artista que acabou de tocar.
Cultura digital, música, urbanidades, documentários e jornalismo.
Não foi exatamente assim que começou, lá em 2003, e ainda deve mudar muito. A graça é essa.