segunda-feira

26

março 2012

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Transcultura #074: Grimes // Nossa alegria

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Meu texto de sexta passada da coluna “Transcultura”, que publico todas as sextas no jornal O Globo:

O pop nublado do Grimes
por Bruno Natal

Em fevereiro passado, uma das músicas do Grimes, “Vanessa”, foi um assunto bastante comentado na grande mídia dos EUA. O que poderia ser um fato desejável para uma artista em início de carreira, aconteceu de uma maneira torta. A menção a música na imprensa tinha um motivo sinistro: o clipe foi uma das últimas coisas publicadas no perfil do Facebook do adolescente de 16 anos que abriu fogo nos colegas de escola em Ohio, matando três deles e ferindo gravemente outros dois.

Definitivamente, não era o tipo de atenção que a canadense Claire Boucher, 24, esperava logo após lançar o seu terceiro disco, “Visions”, o primeiro por um selo relevante, o 4AD (casa do Bon Iver, Atlas Sound, Ariel Pink’s Haunted Graffiti, Tune-Yards e outros). Por sorte, apesar do som sombrio, as ligação não durou muito (vai ver porque muitas reportagens inverteram a ordem, referindo-se a música “Grimes”, da Vanessa).

Conterrânea do rapper Drake e do r&b do novo milênio do The Weeknd, o som do Grimes é repleto de referências bem embaralhadas; ao mesmo tempo identificáveis e diluídas. A atmosfera robótica do som sublinha a ligação com a ficção científica, desde o primeiro disco, “Geide Primes”, cujo títulos das músicas foram inspirados no clássico literário sci-fi “Duna”, de Frank Herbert. Apesar da relação estreita com a rede, no segundo disco, Halfaxa”, traz músicas com nomes gráficos difíceis de procurar no Google, como “∆∆∆∆Rasik∆∆∆∆”, “≈Ω≈Ω≈Ω≈Ω≈Ω≈Ω≈Ω≈Ω≈” ou “World ♡ Princess”.

As camadas de vozes sobrepostas com efeitos, as batidas ásperas lo-fi, sintetizadores oitentistas, desenham uma artista que está mais próxima da Suécia, via Lykke Li, Fever Ray, Little Dragon e Robyn, do que dos EUA de Zola Jesus e Nite Jewel ou a Inglaterra da La Roux, terras geralmente mais férteis para o synthpop. A página do Grimes no site da gravadora vai longe e lista “Enya, TLC e Aphex Twin, enquanto pega emprestado de gêneros como New Jack Swing, IDM, New Age, K-pop, Industrial e glitch”.

Some a isso a nostalgia embaçada do chillwave e witch house. Um som frio e introspectivo que ainda assim faz bater o pé. Não é exatamente surpreendente e inovador, só que tem onda. E isso as vezes é o bastante.

Tchequirau

Esses dias o vídeo da semana, quiça do ano, foi um daqueles que despretensiosos, que a primeira vista não parecem nada demais, até que conquista nossa mente, nosso coração, a noooossa alegriiiia.

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