bass Archive

segunda-feira

17

fevereiro 2014

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Mala na Wobble: o grave venceu

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Mala_Wobble_Rio_2014

Trap: pelo menos é grave”. Esse poderia ser um slogan cínico para uma festa do estilo musical (hip hop com dubstep da 2a geração, numa super simplificação) que domina as caixas de som de boa parte das festas do udigrudi.

O fato é que após alguns anos com agudos sufocando as pistas de dança, principalmente as mais comercialmente orientadas, se tem uma coisa que a onipresença do trap atesta é que o grave venceu. Se não em larga escala, ao menos com bastante folga na cena alternativa.

Ver, em festas como a Wobble o I Hate Mondays, uma penca de moleques sacudindo e urrando no balanço dos sub-graves é uma alegria, concretização do que parecia uma meta inalcançável há nem tantos anos. Mesmo que grande parte dos traps sejam de qualidade duvidosa, mesmo que o lance seja apenas se jogar, mesmo que boa parte do público não vá atrás das origens da cultura bass, ao menos estão imersos em graves. Então, como diz o poeta, “tá ruim, mas tá bom”.

Em uma edição especial da festa, gratuita e cedo, as 20h o londrino Mala, uma das metades do Digital Mystikz e um dos fundadores da DMZ, festa fundamental na propagação do dubstep de Londres para o mundo, assumiu os toca-discos do Fosfobox.

Durante três minutos Mala tocou frequências que iam descendo, descendo até transformarem-se em pancadas de graves e iniciar sua seleção. Como um selectah jamaicano, tocou dubplates e não mixou, passando de uma música para outra com paradas bruscas, desaceleradas e rewinds, também repetidos para repetir os momentos mais catárticos do set.

Já se vai muito tempo desde que o dubstep era um gênero obscuro até mesmo na Inglaterra até a dominação mundia. via EUA exectuada pelo Skrillex e sua releitura da névoa ambiente londrina. Mala – e o dubstep original – não ficaram parados. As produções atuais tem tanto peso e esporro quanto as que passaram a dominar o imaginário global a cerca do gênero, numa relação próxima a retroalimentação.

Mala demostrou isso, lançando toneladas de grave e batidas quebradas com uma elegância de arrepiar os pelos das canelas. Fez isso, porém, alheio as preocupações comercias ou de alguma disputa com o “efeito Skrillex”. É apenas mais um passo da cultura do bass, movendo-se e amassando o que vem pela frente, com o simples poder de meditação provocado pelo peso do grave.

(mais…)

quarta-feira

5

fevereiro 2014

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Axé bass

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axebass
foto tungada do perfil do Som Peba

Salvador está sendo dominada pela ditadura do trap, mais um dos reinos do império da 808 – claro, com seu tempero particular (putz, foi mal, foi ruim essa). O Omulu me apresentou o que chamou de Axé Bass, feito pelo Amassa, Som Peba e Rafa Dias, entre outros.

Juntei alguns nessa mixtape curtinha abaixo:

segunda-feira

20

maio 2013

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Transcultura #113: Sants // ET

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Versão extendida do meu texto na da semana passada da “Transcultura”, coluna que publico todas as sextas no jornal O Globo:

Um DJ na linha de frente da cultura bass
Festa Kick Boom comemora o primeiro aniversário no Fosfobox com a presença do produtor paulista Sants
por Bruno Natal

Completando um ano de existência, a festa Kick Boom, dos residentes Cybass e SkullB, traz o DJ Sants direto de Jundiaí pra tocar na comemoração, no próximo dia 23 de maio, no Fosfobox. Com apenas 20 anos, Sants é apontado como um dos novos nomes da cena bass brasileira.

— Comecei a produzir por volta de 2007, tocando em festas de garagem, na zona leste de São Paulo e na Bahia também, onde rolava drum and bass — conta Diego Augusto dos Santos, nome verdadeiro do DJ Sants. — Logo comecei a produzir e pessoas como o Chico Correa foram essenciais no processo de reflexão de como queria me apresentar. Ele foi um dos primeiros caras quue vi usando um computador com mesa de efeito e sequenciadores numa apresentação ao vivo.

Suas produções refletem a fase de drum and bass, o período em que caiu dentro do ghettotech e a atual, em que está ouvindo coisas mais introspectivas, com menos sintetizadores e mais groove e melodia. Seu EP de estreia, “Soundies”, foi difundido por blogues e aproximou Sants de nomes estabelecidos na cena, como Apavoramento e Wobble no Rio e a Metanol.FM em São Paulo.

— Esse tipo de retorno é o mais prazeroso porque em nenhum momento eu fiz isso buscando agradar ou ser hype. A parada rolou muito na brincadeira, no meu quarto, regurgitando aquilo que ouvia o dia inteiro, misturado com as minhas referências de adolescência. E as pessoas enxergaram o que eu quero dizer, então é significativo.

Seu som tem se espalhado também pelas músicas dos outros, através de convites par produzir faixas com outros artistas, como o misterioso rapper carioca Reverendo e o Bonde do Rolê.

— Não produzi com muitas pessoas que não sejam próximas ou com as quais não tenha ao menos referências e gostos em comum. Tenho curiosidade de sair dessa gama por um tempo, trampar com gente que não faz idéia do que é bpm, loop, sidechain. Muitas vezes a gente acaba colocando esses termos técnicos na frente do groove sem nem perceber.

Fã do hardcore continuum ao ponto de dizer ter ouvido o catálogo da Hyperdub inteiro, ghettotech, kuduro, moombahton, zouk, Sants diz que hoje está em busca do groove. nos lançamentos da Soulection e da HW&W. Ao vivo ele se apresenta com laptop e uma controladora.

— Já sampleei Deodato, Hugh Maseketa, Hiroshi & Claudia, Darondo, Oddisee, Lonnie Liston Smith, Novos Crioulos, Red Hot Chili Peppers, Mercury Program, Cassiano, Sadakazu Tabata & Avantgarde10, Yma Sumac, Eddie Harris, a lista é longa. O que mais importa no sample para mim é a minha ligação com ele, sempre. Normalmente está ligado aos momentos que a gente passa ouvindo essas músicas e ao que acontece durante esse período, seu cérebro acaba fazendo essa bendita ligação cognitiva entre o sample e aquela época.

É justamente esse aspecto pessoal, acredita Sants, que tem chamado atenção nas suas músicas.

—Minhas composições brincam, não são expressões muito sérias ou fanfarronas, são apenas momentos, fotografias, reflexo daquilo que eu entendo sobre mundo até agora. Não sou culto, erudito. Nunca fui o cara que lia Bukowski ou curtia Tecnotic quando ninguém nem sabia o que era. Peguei a fase média desses gêneros: o dubstep na época do Burial, o drum and bass do Marky. A mesma coisa se aplica aos meus gostos pessoais: não curto coisas muito indigeríveis ou subjetivas, por mais belas que elas sejam, vai soar redundante na minha visão. Tem que existir um apelo de imagem, algo que você consiga criar um laço, uma identificação forte.

Sants enquadra suas referências pessoais como algo geracional, parte de uma espécie de consciente coletivo.

—Minha geração não cresceu convivendo entre grupos sociais. Até os 16 anos a gente só sabia ver TV, jogar videogame e usar a internet. Isso acabou sendo o nosso maior espelho cultural. Saímos dessa esfera e começamos a lidar com o mundo extra-cibernético. Quando o caminho inverso ocorre, não há deslumbre ou supresa. Todos viveram as mesmas coisas na internet. Todo mundo jogou Tony Hawk Pro Skater quando tinha entre 10 e 14 anos e na mesma época pegou gosto por coisas muito similares as minhas, musicalmente falando. Você vai percebendo parâmetros se repetindo, até chegar ao que a gente tem hoje.

Tchequirau

O ex-ministro da defesa do Canadá mandou a letra: existe ao menos quatro tipos diferentes de extra-terrestres vivendo entre nós, ao menos dois trabalhando com o governo dos EUA. Eis que todos filmes de ET hollywoodianos possam na realidade se tratar de documentários.

terça-feira

14

fevereiro 2012

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Transcultura #070: Bass // Sun Araw

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Meu texto de sexta passada da coluna “Transcultura”, que publico todas as sextas no jornal O Globo:

A coisa tá grave, viva o grave!
por Bruno Natal

A explosão comercial do dubstep foi um dos fatos mais inesperados da história da música eletrônica. Poucos previram que os graves cavernosos e a atmosfera sombria das batidas quebradas de bpm lento, tocado em festas soturnas no sul e leste de Londres, poderiam chegar ao grande público.

Vampirando o estilo com seu pastiche, ressaltando o que há de pior (como as torrentes de wobble bass, um grave modulado, distorcido e oscilante), Skrillex atingiu o status de super DJ, saiu na capa da Billboard e passou a régua no dubstep. Skrillex, no entanto, apenas cristaliza o fim de um processo longo de pasteurização do gênero, uma metamorfose que se deu aos poucos, com elemento do dubstep sendo emprestados e misturado a outras correntes musicais.

O fato da produção de seus elementos “essenciais” serem ensinados em tutoriais no YouTube era um indicativo de que havia virado uma fórmula, o que é o fim para relevância de qualquer gênero. Era preciso fazer uma curva. O que poderia ser uma má notícia se gerando algo positivo, incentivando mudanças de direção por produtores mais preocupados com os sons que saem das caixas do que o tilintar das caixas registradoras.

http://youtu.be/uDblKjCIRjI

Desde os idos de 2007 produtores fiéis aos conceitos independentes do dubstep, como Burial e Kode 9 (dono do essencial selo Hyperdub), buscaram fugir da mesmice para qual tudo sem encaminhou, inaugurando o que que ficou conhecido como pós-dubstep, re-aproximando o estilo do clima experimental de onde surgiu. Essa fase 2 criou o ambiente para nomes como James Blake ou sua versão mais radifônica, Jamie Woon, despontarem, trazendo outros elementos para equação, notoriamente o R&B, outro gênero que sofreu com a comercialização, esse nos anos 90.

O principal legado do dubstep e, principalmente, sua viabilidade comercial, foi bem além dos novos gêneros que surgiram a partir dessa problemática (UK Funky, o próprio pós-dubstep): sua ascensão deu coragem para produtores colocarem o grave novamente no centro das atenções. No atual estado de DavidGuetização da música eletrônica, com sirenes por toda parte e o agudo tomando conta até onde menos se espera (o show de horrores proporcionado pelo Major Lazer é um exemplo), isso por si só é um alento. Mais grave é sempre um alegria, mesmo em música ruim. O grave é o alho sônico, deixa qualquer coisa melhor.

Conversando com o pesquisador Chico Dub, curador do festival Novas Frequências, ele observou: o grave se tornou o denominador comum da música urbana contemporânea. Seja em artistas tendendo ao r&b (The Weeknd), hip hop (A$AP Rocky), ao house (Lone), techno (Martyn), breakbeat (Mosca), drum n bass (Joy Orbison), 2-Step e Garage (Redinho, Julio Bashmore) ou até mesmo a um pós-pós-dubstep de olho no grande público (SBTRKT).

A impossibilidade de rotular cada um dessas misturas (uma prateleira para cada artista iria ficar complicado…) fez surgir mais um gênero, a bass music, um guarda chuva pra lá de bobo, por ser demasiadamente abrangente. Atendendo essa demanda, dois selos despontam: o escocês Numbers (por onde até Kieran “Four Tet” Hebden e o Modeselektor andam ciscando), nascido a partir de uma festa, e o inglês Night Slugs.

A coisa tá grave. E isso é ótimo.

Tchequirau

http://vimeo.com/34926849

Muito influenciado pelo dub, ano passado o Sun Araw (que recentemente esteve no Rio para participar do festival Novas Frequências) foi a Jamaica atrás do The Congos, do clássico “Heart of the Congos”, produzido por Lee Perry e tido em algumas listas como o melhor disco da história do reggae, para produzirem material juntos. Enquanto o disco não vem, tem um vídeo mostrando um pouco da viagem.

sexta-feira

15

outubro 2010

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