Seu Jorge sem Jorge, as Almaz da Nação e o pop
Written by urbe, Posted in Música, Resenhas, Uncategorized
Bater pênalti parece mole, mas além de também ser gol, precisa de técnica. Com o projeto de versões Almaz, Seu Jorge dá mostras (mais uma vez) do quanto ele domina o que faz, não apenas nos aspectos artísticos. Sabe identificar os desejos do seu público antes mesmo dele próprio e não tem pudor nenhum em entregar o que a galera quer. O Circo Voador com 3 mil pessoas no sábado comprova.
Ruim seria um resultado impossível. Além da presença do próprio Seu Jorge, ao se fazer acompanhar por Lucio Maia, Dengue, Pupillo e Da Lua – a Nação Zumbi quase inteira, com direito a um salve a Du Peixe pelo empréstimo – até “Atirei O Pau No Gato” soaria sensacional. Ao vivo, a banda dá um banho no disco.
Como um Mark Ronson da Zona Sul carioca, o repertório cuidadosamente escolhido equilibra o cool e o popular, canções manjadas ou alternativas, dependendo a quem se pergunta: Kraftwerk (“The Model”), Tim Maia (“Cristina”), Michael Jackson (“Rock With You”), Roy Ayers (“Everybody Loves The Sunshine”), Jorge Ben (“Errare Humanus Est”), etc.
A grande sacada é justamente oferecer sons que fazem a “massa” se sentir “por dentro” ao reconhecê-las, ao mesmo tempo que são aprovadas pelos “entendidos”. O sucesso da Orquestra Imperial ou do Los Sebosos Postizos passa pelo mesmo caminho. A tal “cultura do DJ” também é isso aí.
A seleção eclética do Almaz é espelho de um artista que fagocita tudo que o interessa – a pose do Fela, a pegada do Gil, o apelo do Michael, o suinge do Ben – e devolve um resultado essencialmente pop. O objetivo é tão claro, desde os tempos do Farofa Carioca, que espanta a patrulha em cima do Seu Jorge.
A constante cobrança para que tome caminhos mais “cabeça” (e tomes aspas hoje, hein) muitas vezes vem de pessoas que reverenciam os mesmos ídolos pop de quem Seu Jorge pega emprestado. Esperar qualquer outra coisa é ignorar a trajetória do artista que promete lançar um disco de “Músicas Para Churrasco Vol. 1” ao mesmo tempo que diz que vai tocar com Roy Ayers no próximo festival Back2Black, ficou conhecido mundialmente no cinema, põe o Akon pra sambar no Jools Holland, o Alexandre Pires para sambalançar ou arrasa, com Ana Carolina, a música de Damien Rice (essa também não era difícil).
As críticas vem mesmo quando Seu Jorge busca o tal cabecismo, a sua maneira, tentando “educar” o “grande público” com um projeto como Almaz. Perto do final do show, após introduzir a banda e antes de emendar em “Mas Que Nada” (Jorge Ben), ele se apresenta: “eu sou Jorge Mario da Silva, de Belford Roxo para todo o planeta, geral!”.
Seu Jorge está pouco se importando com quem o critica. Faz bem ele. Ninguém é obrigado a ouvir o que ele toca.
Um porem que deve ser destacado, como pode em um show de uma banda só, o atraso chegar a 1h e 30 minutos??? Fiquei sabendo que nos show do Queremos, a organização funciona como deve ser… parabens para voces por isso, porque a noite de sabado seria memoravel se não fosse essa falta de respeito com quem quer prestigiar os eventos no Rio. Abçs
eu sou Jorge Mario da Silva, de Belford Roxo, Rio de Janeiro.
só tiraria o repeteco de Pai Joao no bis e colocaria outra do nação…
Isso! Consertei, gabi, valeu!
“…a pose do Fela, a pegada do Gil, o apelo do Michael, o suinge do Ben – e devolve um resultado essencialmente pop. O objetivo é tão claro, desde os tempos do Farofa Carioca, que espanta a patrulha em cima do Seu Jorge.”
Acho um exagero dizer isso de Seu Jorge, falta carisma nele. Vejo no palco um personagem e não uma artista de corpo e alma, como podemos ver nos vídeos do saudoso Fela e nos shows de Gil. Ele pode ser um bom cantor, um artista que passeia por diversos estilos, mas o sucesso subiu à cabeça, como aconteceu com alguns jogadores de futebol que, assim como ele, conquistaram a fama depois de passar por muitos perrengues. E isso também ficou claro no show. Me decepcionei.
Oi Elis, disse que o Seu Jorge pega emprestado elementos de todos esses ícones, e pega mesmo. Se o resultado é comparável ou não com os originais, é oooooutra história. Não acho nem que a preocupação dele seja essa, É fazer o produto pop mesmo.
Fui ao show e concordo com quem comentou que faltou mais Nação no repertório. Fora isso, desempenho irretocável que sacudiu o circo durante o show.
Seu Jorge acertou até quando incluiu seus mega-hits da carreira-solo entre músicas menos conhecidas e/ou com menos suíngue, mais lentas. Assim deu dinâmica e não deixou o show esfriar.
A mesclagem de estilos que o Almaz busca é o meio do caminho entre a “erudição cool” e o “pop vazio”, gerando – no fim – sucesso de público e crítica (expressão clichê, porém necessária).