O Rock Juvenil ontem e hoje
Written by urbe, Posted in Música
Veterano dos palcos, Daniel Ferro, tirou a camisa preta e foi conferir um show dos coloridos Motion City Soundtrack e All Time Low, no Vivo Rio.
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O Rock Juvenil ontem e hoje
por Daniel Ferro
Eu lembro bem de quando eu tinha 14 anos. Colocava minha camiseta preta do Nirvana, pegava o 179 até a Alvorada, depois o 755 e descia no Via Parque. Antes de sair de casa, minha mãe sempre falava “Meu filho, toma cuidado nesse lugar que você vai. Só gente de preto, sei lá… Reza muito, tá?”. “Ta mãe, fica tranquila.” Mãe é mãe né? Bonitinha.
Pronto. Lá estava eu. Dentro do Metropolitan, todo suado, neguinho se aquecendo ouvindo “Smells Like Teen Spirit” e “Fear of the Dark”. Black out geral. Galera grita. Raimundos entra no palco e a rodinha estancava. Tinha que ficar ligado com a rapaziada do jiu-jitsu. Adrenalina bombando, a molecada juntava as palmas das mãos abertas no ar e gritava “Buceta! Buceta!”.
Pausa. Já volto pra esse pensamento. Acompanha o raciocínio.
Hoje, com 31, ainda ouço Raimundos, mas também dei espaço pras bandas da nova geração. Uma das últimas que eu curti dessa safra “pós 2000” foi o Motion City Soundtrack. Pegou o punk rock, somou o pop e jogou uns synths, além de tacar dois quilos de açúcar em cima. Gostei.
Me animei pra ver o show dos caras, mesmo não sendo o principal nome da noite, já que eles ficaram na função de “abrir” pro All Time Low, banda que até então tinha pouca opinião pra poder falar algo sobre.
Cheguei no Vivo Rio, dessa vez de carro (chega de pegar busão nessa vida, né). Show de Rock? Talvez. Galera de preto? Não mesmo. O colorido tá no auge. As calças apertadas, os tênis Nike coloridos tão bombando. Nem vou te dizer a porcentagem de público feminino, mas passou de 80%, mole.
O Motion City foi legal, mas perdi metade das músicas já que não esperava que esse show fosse tão cedo. Matinêzona. Mulecada de férias chega cedo, deveria saber. E olha que achei que cheguei cedo, às 19h45. Aham, Cláudia, senta lá! Do pouco que vi da banda de abertura, notei que o público não se importou muito. Talvez por eles serem gordos, feios e não usar roupinhas descoladas não causou muita empatia com a garotada. Tudo bem, eu curti do pouco que vi.
Restou ver a principal atração da noite.
Me posicionei no fundão da casa, longe das meninas que gritaram os shows inteiros. Até agora me pergunto se elas conseguiram ouvir o que saía do PA. Legal ver que de onde eu estava, a média de idade era outra, bem mais elevada. Fãs das bandas também? Pode ser, mas tava mais pros pais da criançada que ficou esperando seus filhos gritarem pra depois os levarem pra casa com segurança. Mãe é mãe né? Bonitinha. Quem agradece são os contratantes. Vai filho, vai pai pra levar também.
Antes de começar a atracão principal, fui no banheiro e me deparei com uma cena esquisita, no mínimo: dois jovens, super arrumadinhos, calça colando no corpinho franzino, camiseta apertada, cabelinho lambido colado na testa, que escorria até metade da bochecha. Aí, um deles tira da mochila uma máquina de fazer chapinha e outro uma câmera fotográfica. Enquanto termina de se “produzir” o outro fica posando em frente ao espelho do banheiro e bate algumas fotos. Deve ser pro fotolog deles. Fofo.
Entrou o All Time Low. O que era gritaria se transformou numa histeria coletiva que deixaria o Menudo com inveja. Era uma explosão de colorido. A cada música eles mandam um “”We love you Rio. You’re amazing!”. Parei de contar depois da 5a vez. Era muito amor. Sério. Tanto amor que não parava de chover soutiens no palco. Em vários deles, com recadinhos do tipo “Me come” ou “Fuck Me”, com o número de celular das meninas animadinhas (tá duvidando? Assiste o vídeo). Sorte que as mamães e papais lá no fundão não viram isso. De onde eles estavam, só viam as meninas fazendo os inocentes S2 com as mãos. Fofo.
Vi o show todo. OK, mentira. Foi quase todo. Não aguentei muito. Não sou o público alvo, então é sacanagem eu ficar metendo o malho. Mas fiquei pensando cá com meus botões: até que ponto um show “de rock” desses tem espontaneidade, tem atitude, tem a tal “rebeldia”? Me parece tudo ensaiadinho, penteadinho, bonitinho. Complica um pouco, visto que a molecada não pode se soltar já que papai e mamãe estão ali também, monitorando cada movimento. Imagina fazer um sinalzinho com a mão e gritar “Buceta!”?. É um mês sem mesada, com certeza.
Essa bajulação excessiva do público pra banda e, especialmente, vinda da banda pro público me incomoda. Até lembrei do Lobão numa entrevista recente: “o artista se põe a frente do tempo do público, ele desafia o público. Ele não lambe o saco do público.”
Por outro lado, o Restart, banda diretamente influenciada pelo All Time Low, argumentou: “ser rebelde também é fazer rock e poder tomar um suco de laranja”. Sem erro. Mas se jogar uma Grey Goose ou Absolut aí talvez o lance fique mais solto, não? Sei lá. Cada um na sua. O próprio integrante do All Time Low se defendeu também “O rock sempre foi jovem, os Beatles viraram fenômeno ainda jovens, os Stones e todas as grandes bandas começaram a pegar suas guitarras e a fazer musica ainda jovens. Nós temos todos mais de 20 anos e estamos na estrada desde 2003. O rock nunca deixará de ser feito por jovens e para jovens”.
Então talvez seja isso. De repente, eu fiquei velho, cínico, saudosista e cabeça dura. Talvez essa seja a evolução do rock. Vai saber. Só sei que voltei pra casa me sentindo muito mais velho. E com uma saudade daqueles shows do Raimundos, da adrenalina, da rebeldia, da bagunça, das camisetas pretas. Menos de pegar o busão no final, lógico.
O rock está morto, essa é a verdade.
o problema não é a chapinha, nem o colorido, nem a calça justa, nem a pintura… é que é muita “otarice” mesmo, bobos demais. Como Lobão disse falta arte…
essas bandas novas sao fodaaaassss!!!!! principalmente restart, cine, hevo 84, etc…. essas bandas coloridas sao as melhores do mundo, isso que é rock de verdade!!!!!!!!
Descrição melhor q esta não há! É exatamente assim q me sinto toda vez q vou a trabalho num show desses.
Hj vou a trabalho, mas anos atrás tb pega ônibus, vestia a camiseta preta e, bem, não entrava na rodinha por ser menina, mas…
Bons tempos aqueles.
Cara… numa boa?
O que você foi fazer nesse show?
Me espanta ver você surpreso com o “visual” dos fãs. O público(?) do emo. era daí pra pior. Chapinhas, calça colada, piercings… nada disso seria novo pra você se você tivesse olhado pra frente alguma vez que tocou com a sua banda. A diferença é que hoje em dia é tudo colorido, na época era preto e branco.
Pra que ficou pra ver o All Time Low? Poderia muito bem ter ido a um show do Raimundos. Imagino a diversão, todo mundo de preto, suando, gritando buceta e ainda tomando uns murros dos jiujiteros.
Eu não gosto de restart e nem me identifico com o visual dos fãs – por isso, não vou a um show deles e nem perco meu tempo criticando. Há quem goste.
Os seus tempos já foram. E do mesmo jeito que você acha estranho hoje em dia, na sua época o estranho era você.
Há coisas mais produtivas a se fazer do que críticas inúteis como esta.
Um abraço,
Essas pesudobandas de rock – boy bands, na verdade, vendidas sob um outro formato – nem me incomodam tanto a ponto de achar que o estilo está morto. Há bandas muito boas aqui e ali, basta procurar…
Rostinhos bonitinhos e acessórios, coloridos ou não, sempre fizeram parte do music business… Não dá pra culpar a bundamolice dos jovens, hoje em dia mais fúteis e superficiais do que em qualquer outra época, ou a inapetência das boas bandas nacionais em compor hits que captem o interesse dessa fatia de público que ouve porcarias como o Restart, por exemplo. São apenas targets de mercado. Vão passar rápido, como sempre… e outros virão.
Realmente, ois tempos mudaram, e não sou tão grata por ter mudado tão radicalmente.
Mais o que deixa tudo pior é que pessoas realmente acreditam que essas bandas tão coloridas São Rock’n Roll.
“O artista nunca se adequo a público, artista que é artista não é entretenedor. o artista desafia e provoca o público.”
Entrevista do Lobão.
http://www.youtube.com/watch?v=2WxQ3x0izV4&feature=player_embedded
Muito bom o seu pensamento, eu também acho que a fase do rock ta meio caida, mais o mais estranho que achei, que você toca numa banda, que gera a mesma sintonia, dos que você comentou? Já que você é o batera do NX Zero.
Contraditorio não?
Mais gostei do seu modo de pensar.
Eh, a época do emoponto era tosca e já proporcionava esse sentimento aí. Mas a nova geração vem pra provar aquela velha teoria de que tudo pode sempre ficar pior. Nego era feliz e não sabia!!!
Sou o batera do NxZero não.
Muito divertido o seu texto.
Mas comparar Raimundos com Restart é o mesmo que comparar Nirvana com New Kids On The Block. Tem nem como começar, são paradas muito diferentes. Essas bandas coloridas tem a sua importância com os adolescentes, principalmente as meninas. Todas passamos pela fase boyband. Mas rock é outra coisa… 🙂
Na verdade não comparei Raimundos com Restart. Mas o que a mulecada de 14 anos ouvia antes e o que eles ouvem hoje.
“Todas passamos pela fase boyband” hahahaha. Lembro que as meninas da minha época curtiam Roxette e achavam New Kids uma merda.
Mas gosto é gosto né? Não da pra discutir.
“O rock sempre foi jovem, os Beatles viraram fenômeno ainda jovens, os Stones e todas as grandes bandas começaram a pegar suas guitarras e a fazer musica ainda jovens. Nós temos todos mais de 20 anos e estamos na estrada desde 2003. O rock nunca deixará de ser feito por jovens e para jovens”.
Respeito o trab alho de todos,mas com essa frase aí a banda perdeu completamente o meu respeito.
Há um abismo entre ser um jovem como Renato Russo foi e ser um jovem como Pelanza e cia. são. Rock que é rock se destaca pela música, não pela roupa.
Adorei o texto!
/URBe
por Bruno Natal
Cultura digital, música, urbanidades, documentários e jornalismo.
Não foi exatamente assim que começou, lá em 2003, e ainda deve mudar muito. A graça é essa.
falaurbe [@] gmail.com
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