sexta-feira

21

janeiro 2011

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O Rock Juvenil ontem e hoje

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Veterano dos palcos, Daniel Ferro, tirou a camisa preta e foi conferir um show dos coloridos Motion City Soundtrack e All Time Low, no Vivo Rio.

O Rock Juvenil ontem e hoje
por Daniel Ferro

Eu lembro bem de quando eu tinha 14 anos. Colocava minha camiseta preta do Nirvana, pegava o 179 até a Alvorada, depois o 755 e descia no Via Parque. Antes de sair de casa, minha mãe sempre falava “Meu filho, toma cuidado nesse lugar que você vai. Só gente de preto, sei lá… Reza muito, tá?”. “Ta mãe, fica tranquila.” Mãe é mãe né? Bonitinha.

Pronto. Lá estava eu. Dentro do Metropolitan, todo suado, neguinho se aquecendo ouvindo “Smells Like Teen Spirit” e “Fear of the Dark”. Black out geral. Galera grita. Raimundos entra no palco e a rodinha estancava. Tinha que ficar ligado com a rapaziada do jiu-jitsu. Adrenalina bombando, a molecada juntava as palmas das mãos abertas no ar e gritava “Buceta! Buceta!”.

Pausa. Já volto pra esse pensamento. Acompanha o raciocínio.

Hoje, com 31, ainda ouço Raimundos, mas também dei espaço pras bandas da nova geração. Uma das últimas que eu curti dessa safra “pós 2000” foi o Motion City Soundtrack. Pegou o punk rock, somou o pop e jogou uns synths, além de tacar dois quilos de açúcar em cima. Gostei.

Me animei pra ver o show dos caras, mesmo não sendo o principal nome da noite, já que eles ficaram na função de “abrir” pro All Time Low, banda que até então tinha pouca opinião pra poder falar algo sobre.

Cheguei no Vivo Rio, dessa vez de carro (chega de pegar busão nessa vida, né). Show de Rock? Talvez. Galera de preto? Não mesmo. O colorido tá no auge. As calças apertadas, os tênis Nike coloridos tão bombando. Nem vou te dizer a porcentagem de público feminino, mas passou de 80%, mole.

O Motion City foi legal, mas perdi metade das músicas já que não esperava que esse show fosse tão cedo. Matinêzona. Mulecada de férias chega cedo, deveria saber. E olha que achei que cheguei cedo, às 19h45. Aham, Cláudia, senta lá! Do pouco que vi da banda de abertura, notei que o público não se importou muito. Talvez por eles serem gordos, feios e não usar roupinhas descoladas não causou muita empatia com a garotada. Tudo bem, eu curti do pouco que vi.

Restou ver a principal atração da noite.

Me posicionei no fundão da casa, longe das meninas que gritaram os shows inteiros. Até agora me pergunto se elas conseguiram ouvir o que saía do PA. Legal ver que de onde eu estava, a média de idade era outra, bem mais elevada. Fãs das bandas também? Pode ser, mas tava mais pros pais da criançada que ficou esperando seus filhos gritarem pra depois os levarem pra casa com segurança. Mãe é mãe né? Bonitinha. Quem agradece são os contratantes. Vai filho, vai pai pra levar também.

Antes de começar a atracão principal, fui no banheiro e me deparei com uma cena esquisita, no mínimo: dois jovens, super arrumadinhos, calça colando no corpinho franzino, camiseta apertada, cabelinho lambido colado na testa, que escorria até metade da bochecha. Aí, um deles tira da mochila uma máquina de fazer chapinha e outro uma câmera fotográfica. Enquanto termina de se “produzir” o outro fica posando em frente ao espelho do banheiro e bate algumas fotos. Deve ser pro fotolog deles. Fofo.

Entrou o All Time Low. O que era gritaria se transformou numa histeria coletiva que deixaria o Menudo com inveja. Era uma explosão de colorido. A cada música eles mandam um “”We love you Rio. You’re amazing!”. Parei de contar depois da 5a vez. Era muito amor. Sério. Tanto amor que não parava de chover soutiens no palco. Em vários deles, com recadinhos do tipo “Me come” ou “Fuck Me”, com o número de celular das meninas animadinhas (tá duvidando? Assiste o vídeo). Sorte que as mamães e papais lá no fundão não viram isso. De onde eles estavam, só viam as meninas fazendo os inocentes S2 com as mãos. Fofo.

Vi o show todo. OK, mentira. Foi quase todo. Não aguentei muito. Não sou o público alvo, então é sacanagem eu ficar metendo o malho. Mas fiquei pensando cá com meus botões: até que ponto um show “de rock” desses tem espontaneidade, tem atitude, tem a tal “rebeldia”? Me parece tudo ensaiadinho, penteadinho, bonitinho. Complica um pouco, visto que a molecada não pode se soltar já que papai e mamãe estão ali também, monitorando cada movimento. Imagina fazer um sinalzinho com a mão e gritar “Buceta!”?. É um mês sem mesada, com certeza.

Essa bajulação excessiva do público pra banda e, especialmente, vinda da banda pro público me incomoda. Até lembrei do Lobão numa entrevista recente: “o artista se põe a frente do tempo do público, ele desafia o público. Ele não lambe o saco do público.”

Por outro lado, o Restart, banda diretamente influenciada pelo All Time Low, argumentou: “ser rebelde também é fazer rock e poder tomar um suco de laranja”. Sem erro. Mas se jogar uma Grey Goose ou Absolut aí talvez o lance fique mais solto, não? Sei lá. Cada um na sua. O próprio integrante do All Time Low se defendeu também “O rock sempre foi jovem, os Beatles viraram fenômeno ainda jovens, os Stones e todas as grandes bandas começaram a pegar suas guitarras e a fazer musica ainda jovens. Nós temos todos mais de 20 anos e estamos na estrada desde 2003. O rock nunca deixará de ser feito por jovens e para jovens”.

Então talvez seja isso. De repente, eu fiquei velho, cínico, saudosista e cabeça dura. Talvez essa seja a evolução do rock. Vai saber. Só sei que voltei pra casa me sentindo muito mais velho. E com uma saudade daqueles shows do Raimundos, da adrenalina, da rebeldia, da bagunça, das camisetas pretas. Menos de pegar o busão no final, lógico.

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