quinta-feira

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dezembro 2004

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"Mó mancada"

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Os shows de ontem do SuperDemo Digital, no Teatro Rival, não rolaram bem. A escalação estava muito grande e a produção não calculou o tempo da troca de equipamentos no palco, gerando muito atraso. Pra completar, o público estava magro.

O resultado disso foram apresentações apressadas e um tanto atrapalhadas. Tirando o Quinto Andar (soltinho, soltinho) e o Digital Dubs (em uma de suas melhores performances) os shows foram abaixo da média.

Nesse cenário nada animador, as coisas ainda deram um jeito de piorar. Mr. Catra, acompanhado apenas do DJ Sandrinho, subiu ao palco pouco antes de 1h. Rezou o Pai Nosso, cantou três músicas e, como a platéia insistiu, voltou pra mais uma. Então os problemas começaram.

Já eram 1h da manhã quando o bis começou. O aluguel da casa ia até 0h30 e ainda faltava o Apavoramento e o Lunnatackz tocarem. Pra encerrar sua entrada, Catra escolheu “Bonde dos maconheiros”, clássico do seu repertório. No meio da música o som foi desligado e teve início um jogo de empurra entre a produção do evento e a da casa.

Pessoas que estavam bebendo do lado de fora do Rival disseram que desde meia-noite acontecia uma discussão sobre a hora do encerramento. Quem queria entrar era avisado que a noite estava acabando. Lá dentro, o papo era outro.

O motivo do corte do som, conforme um técnico de som se esforçava em explicar para Mr. Catra, teria sido o fato da letra da música falar de maconha. O mesmo funcionário disse ainda que segundo a direção do Rival, a casa conta com o apoio da Petrobrás, uma empresa pública, e não podia infrigir a lei ao deixar um artista fazer apologia no palco.

“Não é a primeira vez”, repetia Catra, “se eu fosse ministro seria diferente”, em clara referência à versão do ministro Gilberto Gil para a música “Kaya now”, de Bob Marley (“Maconha agora”, no dialeto jamaicano).

Se não foi a primeira, bem poderia ser a última. Não bastasse o discurso ultrapassado, as leis obtusas e uma política de repressão ineficaz, mais uma vez tentam cercear o direito de se falar sobre o assunto. Questionar e discutir é bem diferente de fazer apologia. Já passou da hora da sociedade enxergar isso. Hoje não pode falar disso, amanhã, vai saber.

É bem provável que o motivo do corte tenha sido mesmo o fato do evento ter estourado o tempo previsto. A questão da maconha teria sido então apenas a desculpa pra encerrar o assunto. Seja como for, é desculpa esfarrapada. E hipócrita.

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[N.A.] Esse texto foi escrito com base somente no que vi, ouvi e presenciei no evento. Ninguém foi oficialmente entrevistado. O URBe está aberto para futuras explicações ou direitos de resposta.

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