terça-feira

30

janeiro 2007

7

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Gran finale

Written by , Posted in Resenhas

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HPP 2007
fotos: Joca Vidal

E lá se foi o Humaitá pra Peixe 2007. Numa edição que sofreu os reflexos da fraca safra de novidades de 2006, o HPP mais mapeou a cena do que apresentou novos talentos, dando espaço para algumas das diversas vertentes culturais que se espalham pela cidade.

No novo formato, com shows nos finais de semana, o festival recebeu um público diferente do habitual. Não que antes, quando os shows eram às terças e quartas, fosse muito diferente, mas a ausência de gente das ditas grandes gravadoras e veículos de imprensa ficou ainda mais óbiva dessa vez. O desinteresse pelo novo chega a ser engraçado, não fosse trágico.

Quem pensava que o Brasov seria imbatível e levaria fácil o título de melhor show do HPP 2007, se enganou. O Móveis Coloniais de Acaju chegou atropelando — o que era até previsível — no final de semana de encerramento, com uma programação mais próxima da cara do festival.

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Duplexx

Na sexta, o Duplexx criou um clima de ficção científica, prejudicado por problemas técnicos no próprio equipamento. Alguns curiosos ficaram pra conferir as estranhezas eletrônicas da dupla, mas grande parte preferiu esperar do lado de fora.

Difícil dizer se foi falta de ensaio ou de proposta, mas tudo soou um tanto frouxo. A guitarra e bateria ao vivo não acrescentaram muito, ao contrário dos metais, notadamente o trombone, que ajudou a amarrar os ruídos gerados pelos sintetizadores. Timbres e programações legais apontam para um caminho que pode ser interessante, principalmente quando se souber que caminho é esse.

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Vulgue Tostoi

Ultimamente parece que toda banda extinta está voltando à ativa, por um show apenas ou para retomar a carreira. São tantas que chega a confundir. Afinal, quanto tempo uma banda precisa ficar afastada para se caracterizar uma reunião? Nessa verdadeira volta dos que não foram, o Vulgue Tostoi se apresentou no festival onde havia estado em 2000.

Jr. Tostoi tem se destacado como guitarristas de apoio de Lenine, assim como Guila, também baixista do Vulgue. Tecnicamente muito boa, a banda se perde em referências pouco disfarçadas. Dá pra ouvir um Jane’s Addicition e seu “Ritual de lo habitual” numa introdução em espanhol, AC/DC em riffs que lembram “Thunderstruck” e Mogwai, no clima soturno presente em quase todas as músicas, mesmo na pegada reggae de uma delas.

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Turbo Trio

Apesar da presença de BNegão nos vocal, o Turbo Trio, que conta também com Tejo Damasceno (Instituto) e Alexandre Basa (ex-Mamelo Sound System e produtor do disco do Black Alien), é presença rara no Rio.

Abrindo a última noite do HPP 2007, o combo provou que o lugar deles é mesmo por aqui. Misturando Miami bass, baile funk, ragga e muita pressão nos graves, por vezes lembrando o Apavoramento Sound System, o Turbo Trio começou com “Terremoto”, cuja letra dá um passo além de “Rio 40 graus”, de Fernanda Abreu: “Riô 50 graus / quem não aguenta passa mal”.

Entre as participações virtuais de Deise Tigrona e trechos de Tim Maia (“Energia racional”), o vocal agressivo de BNegão deixa pouco espaço para as excelentes bases, o que pode dificultar o sucesso do projeto nas pistas, ao mesmo tempo que pode fortalecer o trio num baile. Já passa da hora, aliás, desse intercâmbio deixar de ser de mão única e artistas influenciados pelo funk se apresentarem nos bailes, devolvendo algumas referências para o batidão.

BNegão cantou a sua “Dança do patinho”, enquanto o telão mostrava trechos de “Rize”, documentário sobre uma dança, o krump, dirigido pelo fotógrafo David Lachapelle. Um remix de “Do robô”, outra do repertório do Seletores de Frequência, teve sample de “Big in Japan”, do Alphavile. Tomara que não demore mais um ano para o Turbo Trio retornar ao Rio.

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Móveis Coloniais de Acaju

Móveis Coloniais de Acaju. Isso lá é nome de banda? Pra esse ter sido aprovado, imagina o que não ficou de fora. A falta de preocupação em soar moderninho e bacanudo, desde a decisão pelo nome da banda, é justamente o motivo do Móveis soar… bacanudo, moderninho e, sobretudo, relevante.

A desprentensão com que o Móveis Coloniais de Acaju mistura ska, samba, rock, samba-rock, sonoridades de big band dos anos 50, sem soar referencial ou respeitoso demais, é o segredo da banda. O clima de encontro de amigos (nada menos que 10!) pra tocar parece sincero, resultando num som com o frescor que se espera de todas as bandas novas.

Não foi a primeira vez dos brasilenses por aqui, ainda assim a recepção quase histérica do público foi além da melhores previsões. Sem se espantar com nada disso, os integrantes continuaram tranquilos, literalmente desviando dos confetes e serpentinas jogados pelos fãs para fazer um show histórico.

O Móveis é uma banda de palco. Embora sejam as músicas tocadas sejam as mesmas presentes no único disco gravado até hoje, “Idem”, a bolacha não consegue captar a catarse que são os shows do grupo. Será necessário um produtor muito competente pra fazer essa transposição.

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A banda toca no meio do público

Além das músicas do disco de estréia e de algumas inéditas, o Móveis ainda encontrou espaço para versões de “Glory box” (Portishead), e de “Um, dois, três, quatro” (Little Quail and the Mad Birds), crássico alternativo dos anos 90, que contou com a participação do autor, o também brasiliense Gabriel Thomaz, hoje no Autoramas.

Gabriel aproveitou para anunciar que lançará pelo seu selo, Gravadora Discos — além de um compacto do Bnegão e os Seletores de Frequência e do novo disco do Autoramas — um EP intitulado “Vai Thomaz no Acaju”, como integrante da banda.

Por falar em BNegão, o MC deve ter batido o recorde de canjas em um só HPP. Depois de subir ao palco com A Filial, Curumim e com o próprio Turbo Trio, o rapper participou da versão de “Se essa rua fosse minha”, subvertendo o refrão e cantando”Se essa rádio, se essa rádio fosse minha / Eu botava o Acaju pra tocar / Se essa rádio, se essa rádio fosse minha / Não ia ter, não ia ter nenhum jabá“.

Ainda deu tempo de tocar “Copacabana”, que era pra ter sido a última. Porém, atendendo aos pedidos não só da platéia, assim como da própria banda, a produção liberou a saideira, com “E agora, Gregório?”.

Nem precisa perguntar pro tal Gregório. O futuro do Móveis Coloniais de Acaju está bem claro.

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  1. Felipe Continentino
  2. felipe Continentino

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