segunda-feira

30

outubro 2006

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TIM Fest 2006

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Cobertura encerrada. Confira abaixo textos, fotos e vídeos dos três dias do festival.

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Dia 1 (27/10)

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DAFT PUNK: não teve pra ninguém
foto: Joca Vidal

A apreensão se provou desnecessária. A mudança de local, até agora, só fez bem para o TIM Fest. Ao contrário do MAM, onde o ambiente entre as tendas era espremido e um tanto claustrofóbico na área dos bares, a Marina da Glória é espaçosa e deu um ar realmente de festival para evento.

Como numa cidade do interior, tudo acontece ao redor de uma praça central, na verdade um pufe gigante. As tendas estão mais próximas uma das outras, facilitando o acesso. Dizem que o palco de jazz, finalmente, não sofreu com interferências de ruídos externos. Entretanto, a dificuldade para comprar bebidas e comidas, com filas gigantescas e confusão nos balcões, persiste.

Principal atração do festival, os franceses do Daft Punk arrastaram uma pequena multidão. A vontade era tanta que muita gente foi pra lá mesmo sem ingresso, na esperança de conseguir dar um jeito de entrar.

Com uma hora de atraso, a dupla iniciou o show e provou que toda a espera era justificada. Do momento em que Thomas Bangalter e Guy Manuel Homem-Christo, vestidos de robôs e ao som do tema de “Contatos imediatos do terceiro grau”, subiram na pirâmide e tocaram “Robot rock” até a hora que desceram, o que se viu foi uma catarse coletiva.

O repertório foi idêntico ao que tem sido tocado no resto da turnê, com as mesmas colagens e na mesma ordem. Músicas dos três discos são divididas de maneira igual pelo set, na maior parte das vezes aparecendo misturadas uma as outras, como mash ups (“One more time” + “Aerodynamic”, “Face to face” + “Harder, better, faster, stronger”) e indo e voltando ao longo da apresentação (“Too long”, “Technologic”).

Logicamente, sucessos como “One more time”, “Around the world” e “Da funk” tiveram recepção mais calorosa, mas o que chapou a tenda mesmo foi a psicodelia luminosa do cenário. Cada virada de luz, cada mudança de padrão ou pisco da pirâmide era saudada com urros. Pessoas gritando para luzes, presta atenção nisso.

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Bright side of the moon?
fotos: Sergio Valle

Depois de discos perfeitos, como “Homework”, o Daft Punk conseguiu atingir a perfeição também no quesito “música eletrônica ao vivo”. Apesar das justas comparações com o Kraftwerk, o que está sendo feito nessa turnê nunca foi visto antes. Daqui a muitos anos, esses shows serão lembrados como um marco. O “Dark side of the moon” dessa geração.

Teve gente desconfiando de playback, algo dito em relações a outros nomes da eletrônica ao longo do tempo. O que essa acusação pode ter de verdadeira, tem também de equivocada. Shows de música eletrônica geralmente são feitos utilizando bases pré-gravadas, não é nenhum segredo. O bacana é ouvir essas bases serem manipuladas ao vivo, criando algo novo. Interpretar um estilo (eletrônica) seguindo parâmetros de outro (rock) é que não faz o menor sentido.

A dupla passeia por todos os estilos, do house ao rock, passando pelo techno, breaks e electro. Na sequência de “Television rules the nation”, antes de emendar em “Too long”, rola uma dubzeira, no melhor estilo Leftfield, utilizando elementos desacelerados de “Harder, better, faster, stronger”. Classe.

Com a providencial utilização do “método resistro de invasão de camarins”, os robôs receberam uma carta-convite para participar do “Dub Echoes” e parece que, após dois anos tentando, agora vai. Mais um.

No encerramento, com “Human after all”, os telões que cobrem as faces da pirâmide exibiram, pela primeira vez na apresentação, imagens reais, de rostos humanos. Os robôs, derretidos, se despediram mandando beijos pra platéia.

Nas rodas de conversa pós-show, um consenso: uma hora e quinze minutos de Daft Punk é muito pouco. E é mesmo.

Perdeu? Só se foi pelo salgadíssimo preço do ingresso, não por falta de aviso. Contente-se com a íntegra do show do Coachella 2006, editado por um psicopata que catou trechos da apresentação pela internet até juntar os 75 minutos em um só vídeo.

Dia 2 (28/10)

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YYY
foto: Mariana Vitarelli

A segunda noite do TIM Fest começou pontualmente as 23h no palco principal. O Mombojó foi a primeira banda da noite, tocando para uma platéia ansiosa para assistir Patti Smith e Yeah Yeah Yeahs, o que não era exatamente uma tarefa simples.

Recifolia

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MOMBOJÓ
foto: Mariana Vitarelli

Nesse contexto, as quebras de andamento, balanço e sutilezas de músicas como “Merda”, “Fatalmente” ou “Pára-quedas” não despertava maiores reações, ainda que o público da tenda (que foi ficando mais cheia ao longo do show) estivesse acompanhando com atenção.

O tamanho do palco, grande, não foi obstáculo, mesmo que a formação de cena, com alguns integrantes permanecendo sentados o tempo todo, dê uma atravancada e isole o vocalista Felipe S no centro das atenções.

Demonstrando o amadurecimento que só a estrada traz, o Mombojó foi dominando a platéia aos poucos e, mais importante, sem afobação. Quando chegaram as guitarras pesadas de “Realismo convincente” e da infalível “Deixe-se acreditar”, no final do show, o trabalho estava feito.

TV no palco

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TVOTR
foto: resistro

No palco Lab, logo depois, o TV on the Radio induziu o público a um transe coletivo, com camadas de guitarra viajandonas e muita simpatia. Falando em português, o saxofonista e flautista Martin Perna, vestindo uma blusa onde se lia “Eu coração Iraque”, conquistou a platéia com suas muitas explicações sobre tudo que acontecia no palco.

A companhia aérea extraviou a bagagem da banda e o TVOTR teve que tocar com equipamentos emprestados pelo Thievery Corporation. Isso certamente atrapalhou um bocado, vide algumas panes na guitarra da de David Andrew Sitek, mas não comprometeu o show.

Despretenciosos, o carismático vocalista Tunde Adebimpe, o guitarrista Kyp Malone (com uma impagável camiseta rosa-choque, apertada), o baixista Gerard Smith e o baterista Jaleel Bunton seguiram em frente e enfileiraram favoritas da casa como “Starring at the sun”, “Wolf like me” e Ambulance”.

Sim, sim, sim

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YYY: Karen O
foto: Mariana Vitarelli

De volta ao palco principal, o show do Yeah Yeah Yeahs, como já se sabia, pode ser resumido em um nome: Karen O.

A voz rasgada, os berros estridentes e o gestual exagerado cantora (maquiada e vestida com roupas coloridas, além de máscara e capa) deixa para o baterista com pinta de nerd Brian Chase e pro guitarrista Nick Zinner apenas o papel de meros coadjuvantes, responsáveis por sonorizar as loucuras da moça.

A entrada da banda no palco, sem frescuras, indicava o que estava por vir. Ao vivo, o som cru do YYY sai mais sujo, áspero. Antes de tocar músicas dos seus dois discos oficiais, o trio — que conta com um quarto integrante como músico de apoio se alternando entre o baixo e um sintetizador — foi esquentando devagar, com músicas de seus EPs e algumas improvisações.

Uma vez quentes, o YYY disparou “Phenomena”, “Black tongue”, “Gold lion”, “Honey bear”, as excelentes” Cheated hearts” (em versão bem diferente do disco, com um teclado pontuando a música inteira e Karen O ameaçando um strip), “Maps” e “Turn into”.

A platéia, repleta de meninas com figurinos inspirados em Karen, entrou na onda, jogando calcinha no palco e respondendo a qualquer provocação da cantora, que se jogava no chão e fazia poses. Faltou apenas “Way out”, que inexplicavelmente ficou de fora.

Trapaceando?

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THIEVERY CORPORATION
foto: Mariana Vitarelli

Encerrando o palco Lab, os americanos do Thievery Corporation finalmente fizeram seu show por essas terras. Fãs de música brasileira, influenciados pela própria e com uma legião de seguidores por aqui, Rob Garza e Eric Hilton estavam devendo a visita faz tempo.

A primeira parte do show foi dedicada ao que dupla sabe fazer melhor, que é misturar batidas e blips eletrônicos com a pressão dos graves da música jamaicana, o tal do downtempo.

Acompanhados por dois bons MCs jamaicanos, Roots e Zee, Rob pilotou teclados e samplers enquanto Eric ficou responsável pelos toca-discos. Os graves saiam com força do PA, apertando a garganta de quem estava perto do palco.

O lance ficava esquisito quando o BPM subia. Nessa hora, o Thievery Corporation abandonava o minimalismo do dub e pecava justamente pelo excesso. O exagero de elementos no palco (metais, dois sets de percussão, guitarra, baixo, cítara…) congestionava o som, em alguns momentos beirando a fanfarronice.

Nesse quesito, a cantora brasileira Karina Zeviani foi responsável por momentos constrangedores. Fazendo os vocais em português (originalmente gravados por Bebel Gilberto em algumas faixas), a ex-modelo convocava o público com frases do naipe de “vamos fazer barulho” ou “vamos tomar whisky”.

Sem se incomodar com nada disso, a tenda chacoalhou sem parar. Faixas com a outra vocalista cantando em francês, “Lebanese blonde” e “Le mond” caíram bem.

Pra sorte de quem acompanha o Thievery Corporation desde o começo, a presença constante dos rastas MCs puxava o som pro lado certo, garantindo momentos memoráveis nas crássicas “.38.45 (A Thievery Number)” e “The richest man in Babylon”.

Dia 3 (29/10)

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SHADOW E LATEEF: em direção à luz
fotos: Joca Vidal

Convidado de última hora, Caetano Veloso teve que se contentar com o apagar das luzes do palco Lab. As principais atrações da última noite do TIM Fest estavam na tenda ao lado, com escalação dedicada ao hip hop branco do Instituto, DJ Shadow e Beastie Boys.

A exemplo do ano passado, encerrar o festival num domingo, com shows começando tarde — 23h no caso do TIM Stage — não funciona muito bem. A perspectiva da segunda-feira vindoura traz uma certa melancolia de final de festa. Nos tempos em que a largada era numa quinta, a estréia também precedia um dia de trabalho, porém a o final de semana estava logo ali.

Brazucas

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INSTITUTO

Fugindo do tradicional (e normalmente monótono) formato DJ + MC, o Instituto abriu e foi muito bem recebido. A parte instrumental dos paulistas continua excelente. A groovezeira formada por teclado rhodes, guitarras, bateria, percussão, DJ e linhas de baixo com forte influência do bom reggae acerta o tempo todo.

Apesar de um “iô iô” aqui e acolá, o grupo sabe misturar hip hop, música jamaicana e elementos da música brasileira. Some a isso a presença dos MCs Kamal e Funk Buia e o Instituto confirma o título de melhor apresentação de hip hop do Brasil.

Fugindo das sombras

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SHADOW

Responsável por um dos mais cultuados discos da história do hip hop, o fundamental “Endtroducing” (primeiro disco feito totalmente apenas com samples), o californiano Josh Davis é mais conhecido como DJ Shadow.

Suas produções sombrias e atmosféricas, majoritariamente instrumentais, sempre justificaram o nome, assim como a fama de fazer som cabeçudo. Após seu segundo disco, “The private press”, Shadow deve ter se cansado de ser visto como “difícil” e das muitas cópias que vieram no seu encalço. Seu terceiro disco, “The Outsider”, com uma sonoridade mais comercial, mudou o rumo das coisas.

Em sua primeira apresentação no Brasil, Shadow, exatamente como faz no DVD “In tune and on time”, começou falando com a platéia e contando o que pretendia fazer. Conhecido por suas performances bombásticas de turntablism, mesmo utilizando dois toca-discos, CD-J, MPC e laptop, o DJ chamou a atenção foi com outro aparelho, seu DVJ.

A vitrola de imagens comandava as ações no telão caprichado, colocado atrás de Shadow. O áudio e vídeo perfeitamente sincronizados pela maquininha (possivelmente usando bases pré-gravadas para isso) geraram momentos que impressionaram, mesmo após a avalanche visual promovida pelo Daft Punk dois dias antes.

Enquanto a calminha “Six days” era acompanhada por projeções de bombardeios, “Enuff” e seu sample de violão contou com a participação do rapper Lateef (Quannun, Solesides) ao vivo e também no telão, em poses bem presepeiras.

Com o clipe da música ao fundo, uma animação, Lateef cantou “Mashin’ on the motorway” e interagiu com a platéia em “The number song”, pedindo gritos de “break it down”.

As levadas mais comerciais das músicas do terceiro disco, com uma pegada dirty south e mais próximas do que está fazendo sucesso nos EUA hoje em dia, podem até servir para levantar o público, no entanto soam como contra-senso na trajetória de Shadow.

Obviamente, ele tem o direito de fazer o que quiser, mas é no mínimo estranho notar Shadow, que sempre nadou contra-corrente, com essa preoucapação. Muito melhor é ouvir “Organ donor” e seu pianinho frenético.

Essa nova fase de Shadow tem o lado positivo de ter tornado o DJ mais eclético. Indo além do hip hop, ele solta alguns pancadões estilo Miami bass (o novo samba dos DJs que querem agradar a rapaziada carioca) e brinca de rock, com guitarras nas alturas.

Pra garantir, o final com “Midnight in a perfect world” veio pra consolar os saudosistas que não se convenceram com o bom set.

BB

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BEASTIES: Três MC e um DJ

Depois de passar a tarde fantasiados de “Men in Black” filmando em Super 8 pelo Rio para um projeto que não se sabe qual é, os Beastie Boys entraram em cena vestindo os mesmos ternos pretos e óculos escuros com o qual desfilaram a tarde.

Após a introdução avassaladora do DJ Mix Master Mike , definindo o nível da performance que iria se repetir ao longo do show, os três nova-iorquinos invadiram o palco ao som de “Root down” e “Sure shot”, ambas difíceis de ouvir tamanha era a gritaria.

Mike D, Ad Rock e MCA tem história o suficiente para se apresentar como quiserem e ainda assim fazer sentido, seja como banda, como rappers ou o que for. Mesmo assim, a opção pela formação tradicional de DJ + MCs privilegia os fãs de carteirinha (como tem que ser), satisfeitos em simplesmente poder ver os ídolos colocando suas vozes sobre bases e cantar junto.

Para quem acompanha a banda com alguma distância, o formato pode tornar a experiência um pouco repetitiva. A questão é: quem naquela tenda não era fã? Provavelmente, os que não eram, se tornaram. E os que não se tornaram, ficaram até o fim, admirados com a recepção que os Beastie Boys tiveram, sem dúvida, a mais calorosa do festival.

Entre elogios ao Rio e perguntas sobre quem tinha vindo de São Paulo (arrancando um urro estrondoso de quase metade do público, formado por paulistas), o grupo citou o obrigatório BB Lanches e seu suco predileto, o abacaxi com hortelã, confundindo o nome das frutas e chamando de abacate.

No melhor estilo hip hop de samplear, as iniciais do letreiro, que são uma homenagem a Brigitte Bardot rapidamente se tornaram Beastie Boys nas fotos que o produtor Mario Caldato tirou do trio, vestido com os mesmos ternos do show, para uma capa não se sabe do que.

Ao longo do set, Mix Master Mike introduziu alguns elementos de banghra e samples de “Move your body” (Nina Sky) nas bases. Na reta final, “Intergalactic”, “Brass monkey” (em estilo pancadão), “Body moving” e “No sleep ‘till Brooklyn” sacudiram, literalmente, o chão.

Aquele admirador que ficou até o fim não deve ter se decepcionado quando os panos pretos que (mal) escondiam os instrumentos foram retirados. Sem direito a bis, uma “Sabotage” esporrenta fechou a tampa e as atividades do palco principal.

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