sociedade Archive

sexta-feira

19

dezembro 2008

10

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Perigo

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foto:Daniela Dacorso

“Seria o cúmulo da vergonha considerar um tipo de música tão vulgar e ridícula como forma de manifestação popular. É forma de manifestação do mau gosto. Isso sem falar que os bailes funk servem para ajudar a financiar o tráfico de drogas, coisa que todos sabem, com letras que fazem apologia à violência, ao crime e à prostituição” (grifo meu)

Como previsto, o projeto de lei do deputado Chico Alencar que define o funk como “forma de manifestação cultural popular” vai indignando a classe média, ao menos a parcela que vibra lendo colunas sobre gatos no Segundo Caderno — e sabe de tudo.

Violenta são essas generalizações, coisas que “todo mundo sabe”.

Não sei o que é pior, a necessidade de um canetaço para estabelecer algo óbvio ou gente esperneando, resistindo a lógica.

sexta-feira

5

dezembro 2008

24

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"Santa Marta e o túnel escuro" (web)

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URBeTV: o curta-documentário “Santa Marta, o túnel escuro”,
filmado com uma câmera fotográfica digital

doc e fotos: Bruno Natal

A notícia de que o tráfico havia sido expulso da comunidade pela polícia era tão boa que só vendo para crer. Aos pés do Santa Marta, o plano inicial sofreu uma pequena modificação.

A idéia era simplesmente chegar e subir as ladeiras, sem pedir autorização a ninguém, exatamente como se faz transitando entre bairros no asfalto da cidade.


Santa Marta

Dado o tamanho da novidade, não custava nada avaliar a situação falando com os policiais na viatura estacionada na subida da ladeira:

– E aí, é só meter o pé mesmo?

– Pode subir, tá na boa. Acabou de subir um monte de jornalistas com o comandante do 2o Batalhão, pelo bondinho.

– Então não tem bandido na área mesmo?

– Olha, subindo pelo bondinho tá tranquilo. Mas deve ter vagabundo escondido na mata ainda.


As iniciais do Comando Vermelho num muro: cicatrizes recentes

O bondinho é um plano inclinado que funciona como um elevador para os moradores da favela mais íngrime do Rio, onde vários repórteres aguardavam para ser levados ao topo do morro pela secretária de educação e pelo comandante da polícia.

A perspectiva de uma visita guiada oficial era desanimadora. Nada podia estar mais distante do objetivo original de simplesmente visitar a favela como quem vai a qualquer outro bairro da cidade. Sem falar na fila de mais de meia-hora pra subir no bondinho.

A grande revolução que pode ser promovida por uma comunidade sem tráfico é justamente possibilitar o encontro de duas realidades cada vez mais distantes.

O Rio de Janeiro precisa se tornar uma cidade só, sem separações, para se reerguer e reestruturar. O que isso pode trazer de bom é a livre circulação de pessoas e idéias.


Pierre Azevedo e dois de seus alunos de percussão

Decidi subir a pé e logo conheci o Pierre Azevedo, diretor da ONG Atitude Social. Baixista e ex-morador da comunidade, ele dá aulas de percussão para criançada na Casa de Cultura Dedé.

Tendo Pierre como guia (mas não uma escolta, pois realmente o morro estava calmo) para não me perder pelas vielas e chegar até o topo, rapidamente comecei a conversar com alguns moradores.

Por ingenuidade, não esperava o tipo de reação e as resposta que ouvi quando comecei a perguntar sobre as primeiras impressões da ocupação policial e a saída do tráfico.

Não ouvi ninguém reclamar da partida dos traficantes, porém a maior parte das pessoas, além da incredulidade, não acredita muito que isso irá durar. Mais do que isso, estão realmente incomodadas com o choque de regras.


Eletricidade no ar

Durante o passeio, ouvi diversas reclamações: que haverá horários para as coisas funcionarem e regras a serem seguidas, as bebedeiras agora vão ser vigiadas, que estouraram a central clandestina de tv a cabo, de que as novas casas e a urbanização impedem as criações de animais e hortas em chácaras… E de como tudo isso altera o ambiente da comunidade como eles a conhecem.

É natural que seja assim. A experiência dessas pessoas com a presença do Estado é, em grande parte, negativa. Além disso, por mais paradoxal que possa soar, existe uma liberdade proporcionada pela ausência do Estado que é difícil de perder.

A frase de um morador, em resposta ao meu argumento de que as melhorias sociais e urbanísticas certamente viram acompanhadas de responsabilidades e deveres, resume bem a questão: “eu não fui criado assim”.

Esse é o ponto central de qualquer projeto que pretenda integrar as favelas ao resto da cidade. Coisa que parecem lógicas e normais no asfalto, são totalmente alienígenas na favela.

Assim como a noção de comunidade desses lugares dá um banho no resto da sociedade, onde vizinhos de porta num mesmo prédio mal se cumprimentam, o que dirá se ajudarem.


A meninada faz pose

Há, claro, também muita desconfiança em relação as reais intenções de um projeto desses.

Da maneira que são hoje, as favelas são em maior parte ocupações ilegais, sem escrituras. Portanto, mesmo algumas delas (as da Zona Sul) estando situadas em áreas nobres, a área não pode ser negociada.

Numa região sem mais um palmo de área livre pra construir, pode ser que estejam preparando o terreno para especulação imobiliária.

Estrutura-se o local e entrega-se as escrituras de posse, para depois deixar o poder aquisitivo falar mais alto, comprar essas propriedades e transformá-las em grandes (e caros) condomínios.

Não é nem um pouco improvável, o condomínio Selva de Pedra, no Leblon, surgiu de maneira até mais agressiva, através de incêndios.

O trabalho nessas comunidades é muito mais difícil do que parece e levanta discussões complexas. Expulsar o tráfico é só o início.

Como disse José Mário, presidente da Associação de Moradores do Santa Marta, estamos entrando num túnel escuro, sem saber o que está do outro lado. Tomara que seja a luz.

sexta-feira

5

dezembro 2008

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Santa Marta e o túnel escuro (vídeo)

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URBeTV: o curta-documentário “Santa Marta, o túnel escuro”
doc e fotos: Bruno Natal

Devido aos problemas para subir o vídeo no YouTube e publicar junto com o texto, resolvi fazer um post separado só com o mini-doc “Santa Marta e o túnel escuro”, para os assinantes do RSS receberem o aviso.

quinta-feira

4

dezembro 2008

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Pequeno

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Quartel de Bombeiros da Gávea

Quando uma tragédia como as enchentes em Santa Catarina acontece, todos nós nos sentimos pequenos, impotentes para reverter um quadro desses.

Essa semana, um grupo de amigos, como tantos outros, arrecadou doações para serem entregues num quartel de bombeiros, onde a Defesa Civil está passando para recolher e distribuir o que está sendo recebido. Chegando lá, novamente você se sente pequeno.

Pequeno porque os alimentos, água e roupas que lotavam o carro somem em meio a tantas outras doações. É emocionante ver de perto que tantas pessoas, pequenas como eu e você, estão fazendo a sua parte. Bom ver que existe tanta gente preocupada e solidária, disposta a fazer a sua parte.

Não se deixe levar pela idéia de que já tem bastante gente doando. Além de Santa Catarina, agora Vitória e Campos estão enfrentando enchentes violentas e as doações que estão chegando estão sendo divididas. É preciso mais.

Não fique sentado, esperando alguém resolver os problemas. Você é parte da sociedade, participe.

Sinta-se pequeno.

terça-feira

25

novembro 2008

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Vai ser bom para você

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A prática é comum e qualquer um envolvido na indústria criativa — sejam cineastas, designers, músicos, jornalistas, artistas plásticos, o que seja — já recebeu (ou vai receber, pode apostar) uma proposta para trabalhar de graça em troca de uma “boa exposição do seu nome/trabalho”.

O argumento normalmente é utilizado para convencer profissionais em início de carreira (mas não apenas a eles, a cara-de-pau está se alastrando) a fazer de graça um trabalho pelo qual deveriam estar sendo pagos.

Geralmente, envolve alguma grande marca e todas as pessoas envolvidas no projeto — inclusive aquela que te convida — estão recebendo, mas mesmo assim esperam que você aceite trabalhar sem cobrar, para “abrir portas”.

É a maior conversa pra boi dormir do mercado de trabalho. Até hoje não conheci ninguém que tenha atravessado as tais portas que supostamente se abririam — mesmo porque, o que de bom pode vir de uma relação profissional que começa dessa maneira?

O que isso costuma trazer como resultado para a carreira de alguém é essa pessoa passar a ser vista como alguém que trabalha de graça. Isso não é bom.

A situação se torna ainda mais absurda quando envolve a internet. Num mundo virtual, onde digitar nomedagrandeempresa.com e o endereço do seu saite levam o mesmo tempo, faz mais sentido você criar seu próprio espaço e firmar seu nome no mercado do esperar que façam isso por você.

Quando há uma marca envolvida, qualquer ação trata-se de publicidade ou estratégia de marketing (mesmo que disfarçada de um blogue bacana, concurso de banda ou qualquer outra coisa). E propaganda é o setor para o qual não se deve fazer nada sem pagamento. Pelo contrário, deve-se sempre ser muito bem pago.

Existem excessões, claro, situações em que vale a pena trabalhar de graça, principalmente para os iniciantes. As vezes também pode envolver uma viagem ou acesso a algo ou alguém que você julgue importante para o seu futuro.

A grande diferença é que, na maior parte dos casos em que esse tipo de coisa vale a pena, é o profissional que identifica essa chance e oferece seu trabalho. Quando é o contrário, pode apostar: é roubada.

Enquanto isso, se quiser uma boa exposição, procure um museu bacana.

Os que quiserem, deixem suas histórias mais cabeludas nos comentários. É no mínimo divertido ouvir os argumentos malucos que disparam por aí.