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sexta-feira

21

julho 2006

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O Globo, 21/07/06

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TVOTR_Coachella 2006.jpg

Resenha do show do TV on the Radio no Coachella 2006, acompanhando matéria do Calbuque sobre o segundo disco da banda, que escrevi para o Rio Fanzine.

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TV e rádio ligados, ao mesmo tempo

Ser escalado para o festival Coachella, apesar da ótima visibilidade, não é garantia de público. Veja a tarefa ingrata do TV on the Radio, na edição desse ano, por exemplo.

Tocando na tenda Mojave, espremidos entre as apresentações do Clap Your Hands Say Yeah e do Ladytron, a banda ainda teve que disputar atenção com os shows do rapper Kanye West e do Sigur Rós, que arrastaram boa parte do público para o palco principal.

Além da concorrência, o TVOTR tinha outra barreira a vencer: o experimentalismo do seu próprio som. O resultado da mistura de rock, gospel, pós-punk e post rock, eletrônica, pop, blues e hip hop, às vezes na mesma música, não é o que se pode chamar exatamente de palatável.

Mesmo assim, puxados pelo sucesso (em pequena escala, é verdade) da climática ”Staring at the sun”, os nova-iorquinos provaram sua força e juntou bastante gente na tenda. Outras músicas do primeiro disco, “Desperate Youth, Blood Thirsty Babes”,, como “Ambulance” (faixa vocal que, ao vivo, ganha instrumentos de verdade), completaram o repertório.

Com data marcada pra tocar no Brasil no ano passado, o TVOTR acabou cancelando as datas. Uma pena. Agora que assinaram com a gigante Interscope para o lançamento de “Return to Cookie Mountain”, seu segundo disco — exatamente como também fez o Yeah Yeah Yeahs — a banda deve contar com uma distribuição e divulgação maior.

É torcer pra ser grande o suficiente pra trazer a banda até aqui.

sexta-feira

26

maio 2006

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O Globo, 26/05/2006

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Luke Jenner_MX.jpg
Luke Jenner
foto: URBe Fotos

Matéria que escrevi para o Rio Fanzine sobre os shows do Rapture e Kasabian no Nokia Trends, México.

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Além dos 15 downloads de fama

No último final de semana, dois dos mais festejados nomes do novo rock, The Rapture e Kasabian, se apresentaram na primeira edição do festival Nokia Trends no México. O novato Art Brut também tocou e o mexicano No Somos Machos fez as honras da casa. A edição brasileira está prevista para o segundo semestre, ainda sem escalação confirmada.

Ocupados com a gravação de seus novos discos, o segundo de ambos, The Rapture e Kasabian andavam sumidos dos palcos e aproveitaram pra testar músicas que só serão lançadas oficialmente em setembro. Na internet, claro, sempre chega antes. “W.A.Y.U.H”, do Rapture, já está lá.

O segundo disco é sempre um momento crucial na carreira de um artista, principalmente quando vem após uma boa estréia. É a hora de confirmar o quanto foi talento e o quanto foi sorte e mostrar se tem fôlego pra construir uma carreira. A pressão do público, da crítica e até da própria banda é grande.

Mais do que isso, nesses tempos de MP3, o passado chega rápido e poucos grupos têm conseguido se manter em evidência até o tal segundo disco. Pode parecer lógico que o sucesso logo de cara ajude a banda, mas com a voracidade que o público consome música atualmente, perder o posto de novidade pode ser fatal.

Seja pela ânsia dos ouvintes, sedentos pela nova revelação da semana, seja pela pressa das próprias bandas, que algumas vezes queimam etapas e divulgam seu material antes mesmo de estar pronto, o fato é que, hoje, para muitos artistas a fama não dura mais que 15 downloads.

Talvez com essa preocupação, o Rapture tenha aguardado três anos para preparar o sucessor de “Echoes”. Ainda sem título, o disco foi produzido por Paul Epworth (Bloc Party) e Ewan Pearson e conta com Danger Mouse no comando da mesa em duas músicas.

O Rapture acredita que a exposição da estréia ajude.

— É difícil colocar seu nome na consciência das pessoas, esse é o maior desafio. Quando você faz isso, é questão de você ser bom ou não. Acho que nós somos bons e as pessoas já ouviram falar da gente, então agora podem decidir — conta Luke Jenner, vocalista da banda.

Mas será que não ser mais novidade ajuda ou atrapalha?

— É a nossa primeira vez nessa posição. É bom porque não tem mais “você é a banda do momento e eu não sei o que pensar porque todas essas pessoas antenadas gostam e eu não tenho certeza se gosto disso” — continua Luke.

O Kasabian não esperou tanto tempo para gravar “Empire”, novo disco que chegará às lojas dois anos após seu bem sucedido disco homônimo. Eles estão confiantes que toda atenção conseguida no começo jogará a favor.

— Os fãs vão ficar felizes, excitados e orgulhosos que a banda que eles disseram pra todo mundo que é boa não os decepcionou — diz o guitarrista Sergio Pizzorno.

Parte das primeiras gerações de grupos que tanto devem à rede sua divulgação mundial, o The Rapture e o Kasabian enfrentam o segundo estágio. A julgar pelas novas músicas mostradas no show no México, ambas as bandas parecem ter conseguido manter o nível dos trabalhos anteriores. É dar tempo ao tempo e descobrir se o público ainda vai ter interesse nesse vovôs precoces do rock.

Bruno Natal edita o URBe e viajou a convite da Nokia.

quinta-feira

26

janeiro 2006

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O Globo, 27/01/2006

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iky_acme.jpg
Ilustração: Acme

Matéria sobre a Iky’x tape Vol. 1, 2004/2005, que escrevi para o Rio Fanzine (O Globo).

As 28 músicas estão estão pra jogo, de “Ralge daopacha”, com Chapadão cantando em TTK, dialeto originado no Catete (Tetecá, em que as sílabas das palavras são pronunciadas de trás pra frente) à “Cobra cega”, cantada por Gil.

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O hip hop carioca está bem na fita
Bruno Natal especial para o Rio Fanzine

Gravar uma mixtape é a forma mais prática de divulgação para um DJ. As fitinhas são praticamente uma instituição no universo hip hop. Com o passar dos anos, não foi só a mídia que mudou — hoje, lógico, são distribuídas em CD ou MP3 — o conceito também se transformou.

Se antes continham uma seleção musical mixada pelo DJ que assinasse a fita, atualmente as mixtapes têm sido utilizadas para expor trabalhos inéditos, funcionando como uma coletânea de novos talentos.

A “Iky’x tape vol. 1, 2004/2005”, lançada no final de 2005 pelo produtor e MC Iky Castilho, é assim. Com uma parte gráfica bem cuidada, traz pepitas quase perdidas do Campo de Concentração, mistura de estúdio e casa onde o MC Aori, o DJ Babão (Inumanos) e Iky moraram juntos.

As 28 músicas são inéditas e foram produzidas por Iky, que usou programações feitas em MPC e samples de Originais do Samba e Egberto Gismonti:

— Produzi 23 bases, algumas em parceria com Mahal (filho de Luiz Melodia), Mr. Brake e Babão, mais duas do francês Damian Seth e dois instrumentais gringos.

A lista de participações é um verdadeiro “quem é quem” do hip hop carioca. Estão lá desde nomes conhecidos, como Aori e o DJ Babão, Shawlin e Tapechu (Quinto Andar), Kamau (Instituto), Max B.O. e Marechal, a rappers em ascensão, como Jovem Cerebral, Funk, Menor do Chapa, Chapadão, Bacon, Gil e Papo Reto. Todos sempre presentes na Batalha do Real ou na Liga dos MCs, eventos organizados pela rapaziada da Brutal Crew.

— Escolhi os MCs pela galera que costumava ir lá em casa e tentei fazer uma representação de várias áreas. O Chapadão é do Irajá, o Menor é do Turano, o Jovem Cerebral é da Mineira, o B.O. é de São Paulo. Lembrei do cara exatamente com a batida — fala Iky.

A mixtape é só o começo. Este ano ainda devem vir os discos solos de Shawlin, Marechal e outro projeto de Iky, o VR Swings. Enquanto isso, Aori participa do novo disco de D2:

— Gravamos um som irado — conta ele. — O Marechal tá junto nessa. Ainda não sei o nome oficial da música, mas ela fala do meu bairro, a Lapa, da nossa história. Está muito legal.

Enquanto nada disso acontece, a melhor maneira de conferir o som dessa rapaziada é ao vivo. Na semana que vem, a Liga dos MCs invade o Sérgio Porto, encerrando a programação do Humaitá pra Peixe.

— Vão ser os melhores colocados da Liga no ano passado, incluindo o campeão, MC Beleza. Vai ser bem diferente, porque geralmente nas batalhas os MCs não cantam, só disputam rimas. Nesse a galera vai cantar — explica Aori.

O negócio é cantar junto.

sexta-feira

6

janeiro 2006

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O Globo, 06/01/2006

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Matéria sobre o Arctic Monkeys que escrevi para o Rio Fanzine, n’O Globo.

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O Ártico está com a macaca

O ano mal começou e a banda de 2006 já despontou. Pode anotar este nome: Arctic Monkeys. A histeria mundial começa oficialmente no dia 30 de janeiro, quando será lançado “Whatever people say I am, that’s what I’m not” (Domino Records), primeiro disco do grupo. Entretanto, o Arctic Monkeys está chamando a atenção desde o início de 2005, através da troca de arquivos de MP3 e do lançamento de dois compactos, esgotados e disputados em sites de leilão, como o eBay.

Nesses tempos pós-Napster, a história já está ficando até manjada: bandinha desconhecida faz shows incendiários, oferece suas músicas na internet e estoura mundo afora. Não faz muito tempo e uma história parecida, guardadas as devidas proporções, aconteceu por aqui, quando os pernambucanos do Mombojó surgiram na cena.

A macacada do Ártico não foge muito desse roteiro. Formado por Alex Turner (guitarra e vocal), Jamie Cook (guitarra), Andy Nicholson (baixo) e Matt Helders (bateria) em Sheffield, Inglaterra, o Arctic Monkeys é mais que um fenômeno da internet. O componente principal, como não poderia deixar de ser, é a música.

Com média de idade de 19 anos, o grupo conquistou os fãs misturando pós-punk, ska, riffs pesados, quebras de andamento, bateria pulsante, baixo estalando e dinâmicas interessantes. Sem falar nas letras espertas, que falam de relacionamentos, noitadas e angústias de maneira tão simples que podem até soar bobas a princípio (e não é sempre assim?).

O rock dançante do Arctic Monkeys soa sujo, diferente, por exemplo, de bandas como o Kaiser Chiefs, para citar a rivalidade que está sendo provocada pela imprensa inglesa, saudosa da disputa Blur x Oasis.

No meio de 2005, por conta própria, o Arctic Monkeys lançou o EP “Five minutes with the Arctic Monkeys” e o CD demo “Beneath the boardwalk”, produzido pela própria banda. As músicas chamaram tanta atenção que garantiram uma apresentação no prestigiado Reading Festival. E o contrato com a Domino.

“I bet you look good on the dance floor”, primeiro compacto lançado depois de assinarem com a gravadora, foi bem além das expectativas mais otimistas. O disco estreou em primeiro lugar na parada inglesa, coisa que Franz Ferdinand e o ultrapop Coldplay até hoje não conseguiram fazer. O compacto já vendeu 150 mil cópias, nada mal para uma banda que começou dando seus discos em shows.

O repertório de “Whatever people say…”, estréia oficial do Arctic Monkeys, é uma seleção das músicas presentes na demo e nos compactos. Algumas mudaram de nome, como o segundo single a ser lançado, “When the sun goes down”, antes conhecida como “Scummy”.

A banda, especialmente o vocalista Alex Turner, parece avessa ao sucesso, gerando comparações com o Nirvana e as complicações de Kurt Cobain. É bom irem se acostumando. Quando o disco sair, a tendência é piorar.

quinta-feira

29

dezembro 2005

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A batalha campal do reggae

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Digitaldubs tocando.jpg
Digitaldubs
fotos: Jaqueline Felicíssimo
* Esse texto foi republicado no Rio Fanzine, do jornal O Globo

Ao contrário do que a maior parte das bandas de reggae iô iô que dominam a cena no Brasil faz parecer, a música jamaicana não é (apenas) paz e amor ou aquele ritmo pra ouvir na queda de uma cachoeira, cercado de amigos numa roda de violão.

Prova disso é que o Bukowski e a Casa da Matriz se tornaram campos de batalha quando as principais equipes de som dedicadas ao gênero no Rio, o Digitaldubs Sound System e o Urcasonica Sound System, se enfrentaram, terça e quarta passadas.

Calma, calma. Não houve pancadaria nem nada parecido, a camaradagem imperou nas duas noites. O que aconteceu foi o primeiro sound clash do Rio – talvez do Brasil – um acontecimento histórico.

Sound clashes são disputas entre equipes de som (os sound systems), uma tradição jamaicana que se espalhou pelo mundo e que só agora desembarca por aqui. Como nas batalhas de MCs, tradição do hip hop em que rappers competem para ver quem rima melhor, as equipes de som ficam frente a frente com um objetivo simples: descobrir quem tem a melhor seleção musical pra sacudir a pista. A decisão, claro, é do público.

O que muda são as armas. Ao invés de palavras, cacetadas de grave. Quer dizer, as palavras também fazem parte da disputa, através de músicas feitas especialmente para a competição, conhecidas como specials. As equipes de som convidam ou contratam um cantor/MC (geralmente um nome conhecido) para gravar faixas exclusivas exaltando a própria equipe ou, no caso dos clashes, atacar os rivais.

Os dois principais clashes atualmente são o World Cup Clash, que acontece anualmente em Nova York, e o UK Cup Clash, em Londres. Desafiando a lógica, as grandes sensações desses eventos não são sound systems jamaicanos, mesmo com o bom desempenho do Black Kat ou do Bass Odissey nessas competições. Quem tem levado tudo são os japoneses do Mighty Crown e o atual campeão mundial, o Sentinel, da Alemanha.

Alinhados com as novas sonoridades de reggae, tanto o Digitaldubs quanto o Urcasônica passam longe de discos manjados de Bob Marley. Claro que clássicos de produtores como Bunny Lee, King Tubby e Lee Perry têm espaço – e muito. Mas Sizzla, Burro Banton e Buju Banton, Capleton e Morgan Heritage e outros destaques do reggae contemporâneo também tem vez.

Felipe DB e Ivan Cozac, Urcasonica.jpg
Felipe DB e Ivan Cozac

O primeiro round foi na casa do Urcasônica, no Bukowski, na terça. Após um aquecimento de 30 minutos, cada equipe teve 15 minutos pra mostrar seu repertório e o Urcasônica levou.

No dia seguinte, o Digitaldubs recebeu o adversário na Casa da Matriz para o segundo round e dessa vez eles ganharam. O 1×1 no placar forçou o desempate, disputado imediatamente.

Lencinho, DJ da equipe Solzales Dub, cumpriu bem o papel de apresentador e juiz, explicando as regras, domando as torcidas organizadas que lotaram a Casa da Matriz e apurando os votos entre muitos gritos e braços levantados. Apesar do ineditismo do evento, o público entrou no clima e participou bastante.

No desempate, cada equipe tinha direito a tocar uma música de até 3 minutos, alternadamente. Ambas equipes foram preparadas para o combate. O Urcasônica mostrou seus specials com a participação do Manu Chao (“Resistência”) e a dobradinha Don Negrone e Mario Z em “Campeão”.

Digitaldubs escolhe.jpg
Qual vai ser a próxima?

O Digitaldubs tocou praticamente apenas faixas exclusivas e specials do seu sound system, contando com participações de respeito. Teve BNegão (num remix dubwise de “Prioridades”), Mr. Catra (“Lucro”), M7 (“Pretinho babylon”) Pato Banton (uma versão de “No worries”), Stranjah (“Soundclash part 2”, sobre o riddim “Ali Baba”), Sylvia Tella (versão de “Brothers unite”) e Jeru Banto, exaltando a equipe sobre outro riddim clássico, o “Stalag”.

Na última música, o Urcasônica cometeu um erro fatal. Em dúvida sobre qual seria a melhor música pra encerrar sua apresentação, Ivan Cozac, Bruno LT, Javier Posada e Felipe DB deixaram a pista quase dois minutos em silêncio e passaram mais 30 segundos pedindo barulho, restando apenas outros 30 segundos pra soltar o som.

Não deu. Vitória do Digitaldubs de MPC, Nelson Meirelles e Cristiano Dubmaster, os campeões do primeiro sound clash carioca. Falta agora um evento que reúna outros sound systems, como DubVersão (SP), Bumba Beat (SP) e Echo Sound System (SP), Confronto (Brasília), Solzales (RJ), Calminho (RJ) e Sensorial Sistema de Som (RJ).

DigitalUrca2.jpg
Na amizade

Na comemoração, o Digital soltou um special que dizia que “o Urcasônica já era!”. Será? Literalmente batalhando por seu espaço, o Urcasônica pediu revanche, dessa vez em campo neutro, o Digital aceitou. O bicho vai pegar.