Nesse sábado não havia “mascarados” ocupando a Câmara Municipal do Rio. Tampouco havia “vândalos” ou “baderneiros”. Eram PROFESSORES, que entraram na borracha e no gás como se fossem bandidos.
Obviamente também não havia o circo midiático que nos acostumamos a assistir. “Professores não rendem imagens chocantes”, devem ter pensado.
Grande engano. O que pode ser mais chocante do que professores sendo agredidos? Só mesmo o salário que recebem, motivo da tal ocupação da qual foram expulsos a base de porrada.
Um protesto contra a obsolescência programada, o utópico Phonebloks é um telefone celular conceitual, feito de módulos intercambiáveis que podem ser substituídos de forma independente, prolongando a vida útil do aparelho.
Por enquanto é apenas um projeto, porém se depender do sucesso da campanha no Thunderclap (plataforma interessante que agrega pessoas e gerencia a publicação de conteúdo em torno de um assunto específico, criada pela De-De, estúdio saído da Droga5), em breve pode se tornar realidade.
Muita gente criticou o silêncio dos artistas durante as manifestações das últimas semanas, como se eles tivessem obrigação de compreender tudo que estava acontecendo instantaneamente – mesmo que ninguém mais estivesse conseguindo.
Outros, fizeram ou requentaram músicas. No espírito das reinvicações, tanto se pediu que alguns atenderam. Se isso foi bom ou ruim, tire você mesmo suas próprias conclusões.
Abaixo, as contribuições musicais de Tom Zé; Seu Jorge, Pretinho da Serrinha e Gabriel Moura; Latino; e Edu Krieger.
Tom Zé, “Povo Novo”:
A minha dor está na rua
Ainda crua
Em ato um tanto beato, mas
Calar a boca, nunca mais!
O povo novo quer muito mais
Do que desfile pela paz
Mas Quero muito mais Quero gritar na Próxima esquina Olha a menina O que gritar ah, o Olha menino, que a direita Já se azeita, Querendo entrar na receita, mas De gororoba, nunca mais
Já me deu azia, me deu gastura Essa politicaradura Dura, Que rapa-dura!
Seu Jorge, Pretinho da Serrinha e Gabriel Moura, “Chega (Não é pelos 20 centavos)”:
Chega! De impunidade
Chega! De desigualdade
Todo mundo tá chegando
Não é pelos 20 centavos que estamos lutando
Chega! De não ter casa pra morar
Chega! De não ter grana pra pagar
O povo não está brincando
Não é só pelos 20 centavos que estamos lutando
Chega! Todo mundo vai pra rua
Chega! Você vai ficar na sua
É uma falta de respeito, canta forte por seus direitos
Brasil! Tá na tua hora
Brasil! Tem que ser agora
Não é só pelos 20 centavos que estamos lutando
Brasil! Pinta a sua cara
Brasil! É uma chance rara
Não é só pelos 20 centavos que estamos lutando
Chega! Todo mundo que saúde
Chega! Vamos mudar de atitude
Chega! Não estamos aguentando
Não é só pelos 20 centavos que estamos lutando
Chega! Diga não a violência
Chega! Diga não ao vandalismo
Chega! Não estamos aprovando
É pela paz no país que estamos marchando
Chega! Precisamos de escola
Chega! Não se vive só de bola
É o povo brasileiro que sustenta o país inteiro
Não é só pelos 20 centavos que estamos lutando
Você está muito enganado se é isso que está pensando
Latino, “O Gigante” (reciclada de 2012):
Esse é meu país,
Esse é meu Brasil!
É hora de vencer,
É hora de jogar
Quem nasce pra vencer
Não pode recuar
Amarra, amarra,
Amarra que é tudo nosso
Cruze os braços lá em cima
Que a sorte está lançada
Quem não sabe brincar
Não desce pro play e volta pra casa
O gigante acordou
Está disposto à lutar
Com fome de vencer
Com sede de querer
Vem nossos (?) enfim se revelar
Salve o hino da vitória
Salve o povo lutador
Verás que o filho teu
Não foge a luta não
Tem gabarito pra ser campeão: Brasil!
Amarra, amarra,
Amarra que é tudo nosso
(Ôôôôôôôôôô…)
Brasil!
É ordem e progresso!
Edu Krieger, “Gol da Vitória”
Vou narrar um tremendo gol de placa
Que marcou a virada da partida
Já cansada de ser tão iludida
Nossa equipe reage e contra-ataca
Decidiu que não sabe ser panaca
E depois de viver decepções
A coragem brotou nos corações
Que não têm mais pudor em ser feliz
Foi o gol da vitória de um país
Com duzentos milhões de campeões
Há quem diga que não vai dar em nada
Pois o jogo é de fato bem difícil
Mas à beira de um grande precipício
Quem é forte começa uma virada
Feito ponta de lança em arrancada
Pelas ruas vieram multidões
Entre gritos de guerra e palavrões
De quem sabe o que faz e o que diz
Foi o gol da vitória de um país
Com duzentos milhões de campeões
Tem bandido que finge ser do time
Faz gol contra e caminha pro abismo
Pois quem joga fazendo vandalismo
É tão vândalo quanto quem reprime
Mas a paz é a tática sublime
Dando fim a conflitos e explosões
Coroando centenas de milhões
Que já estavam vivendo por um triz
Foi o gol da vitória de um país
Com duzentos milhões de campeões
Finalmente depois desse golaço
O gigante acordou mostrando força
Nas esquinas escuras há quem torça
Pra que não se prossiga nesse passo
Mas a gente não deixa que o cansaço
Tome conta das boas intenções
Quero ver despertar nas eleições
Um Brasil bem maior que mil Brasis
Foi o gol da vitória de um país
Com duzentos milhões de campeões
As coisas não andam fáceis desde que “o gigante acordou” (essa frase dá calafrios, quase tanto quanto gente com a cara pintada, enrolada em bandeira e cantando o hino). Enquanto o asfalto esfria, a chapa esquenta nas favelas.
As imagens geradas durantes as manifestações ainda servirão de ótimo material bruto para um documentário sobre o que aconteceu nesses dias. Os vídeos abaixo são algumas das melhores registros das manifestações, principalmente da violência e despreparo da polícia militar, no dia 20 de junho, no Rio.
Os três se destacam por terem se mantido neutros (até onde isso é possível uma vez que se decide pegar uma câmera e filmar), do ponto de vista de participantes das ações que se desenrolam.
O antes: Matias Maxx estava em frente a Prefeitura quando o caldo entornou:
O durante: uma vez iniciada, a repressão policial varreu a Av. Presidente Vargas e Rio Branco, encurralando os manifestantes que queriam fugir das bombas e se abrigar:
E o depois: honrando a máxima de que no Rio tudo acaba em funk, no Estácio manifestantes dão uma pausa na construção de barricadas após um vizinho soltar o batidão. Como diz o diretor, “um musical”:
Cultura digital, música, urbanidades, documentários e jornalismo.
Não foi exatamente assim que começou, lá em 2003, e ainda deve mudar muito. A graça é essa.