meio-ambiente Archive

terça-feira

31

maio 2011

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Doc trailer: "Belo Monte, Anúncio De Uma Guerra"

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“O filme que fizemos, fazemos e faremos expõe um problema ao público mas não propõe alternativas para soluciona-lo. Isso é tarefa de quem nos assiste. Para nós a mudança não é uma grande mudança, não é um grande trauma, não é nada revolucionário ou radical, não se trata nem de uma grande ideia. É na verdade algo muito simples, algo que já está no ar para quem quiser pegar; o açaí dos igarapés, o óleo de Piqui, Amdiroba, Copaíba, Noni (o antibiótico da Amazônia), madeira de manejo, ecoturismo e assim vai…”

Não é bem isso que se vê nesse trailer – ainda bem. Aliás, não há nenhuma informação sobre o filme completo na página do projeto. Belo Monte é assunto sério. Tão sério que não recebe cobertura decente pela imprensa.

quarta-feira

30

março 2011

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quarta-feira

9

março 2011

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Transcultura #039 (O Globo): Lykke Li, Belo Monte

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Texto da semana passada da coluna “Transcultura”, que publico todas as sextas no jornal O Globo:

O lado sombrio de Lykke Li
Musa sueca deixa de lado a imagem de boa moça e lança disco com letras tristes e sons pesados
por Bruno Natal

Cansada do frio sueco, Lykke Li se mudou para Los Angeles para gravar “Wounded Rhymes” (mesmo destino escolhido pelo LCD Soundsystem para registrar seu derradeiro trabalho, “This Is happening”). Aproveitando a riqueza de paisagens disponível nos arredores, aproveitou para filmar um curta, dirigido por Moses Berkson e lançado meses antes do disco ficar pronto.

“Solarium” indicava visualmente o que estava por vir sonoramente, e não apenas pela aridez do cenário. No filme experimental, preto & branco, a loirinha aparece enterrando espelhos no deserto californiano, como se tentasse esconder as diversas leituras feitas dela mesma por tantas pessoas, e se apresentar como de fato ela mesmo se vê.

Faz sentido. O sucesso da estreia, “Youth Novels”, trouxe junto um entendimento da sua personalidade que não batia muito com algumas das letras e, principalmente, com a atitude de Lykke Li no palco. Empurrada por arranjos delicados e a fofura do seu hit “Little Bit”, a cantora era constantemente classificada como “menininha”, mesmo que ao vivo mostrasse ser uma artista inquieta, quase agressiva, tanto nas postura quanto no gestual. Aos 24 anos (tinha apenas 19 quando compôs as músicas do primeiro disco), para acabar com essa esquizofrenia, Lykke Li tomou uma decisão firme sobre que caminho seguir.

Enquanto essa semana vimos trechos de 30 segundos de todas as músicas do novo disco do The Strokes e de uma das faixas do segundo disco solo do Marcelo Camelo circularem pela rede (quem quer ouvir 30 segundos de uma música? Pra que serve isso?), “Wounded Rhymes” esteve disponível, inteiro, para audição online dias antes do lançamento oficial, essa semana.

Produzido pelo conterrâneo Björn Yttling (do Peter, Björn and John), em “Wounded Rhymes” Lykke Li assume seu lado mais sombrio. Os arranjos fofos dão lugar a uma sonoridade mais seca, cheia de espaços, pesada, marcada por percussão, stacatos, camas de órgão, reverb e distorções, envoltas numa nuvem, mesmo que rala, de psicodelia sessentista. O motivo, claro, foi um coração quebrado. A menina que antes encarava o amor, mesmo que deslocada, agora passou por ele e fala da perda. “Wounded Rhymes” tem uma personalidade que não permite momentos de leve distração como o anterior. O ouvinte é sugado para o universo proposto.

Com técnica limitada, Lykke sabe trabalhar a textura da própria voz, criando climas e conquistando na interpretação. Os momentos coloridos são poucos na tensão de “Get Some”, na discreta influência do hip hop em “I Follow Rivers” e a inclinação surf music “Youth Knows No Pain” (até onde isso é possível para Lykke Li). Entre as outras tantas canções densas, Lykke Li se permite dois momentos intimistas, cantando a tristeza acompanhada por guitarra e um vocal de apoio na minimalista “Unrequited Love” (“Amor Não Correspondido”) e apenas por um violão em “I Know Places”, até o final em que entram bateria, guitarra, teclados fazendo efeitos.

Tivesse aceito os rótulos que tentaram impor após o primeiro disco, o caminho de Lykke Li poderia ter sido mais fácil. Mais fácil, porém, raramente está ligado a melhor. Ainda bem que ela não quis. Esse disco não teria saído de outra maneira.

Tchequirau

Acostumados com a arte de montar apresentações para influenciar marcas e clientes, um grupo de publicitários se organizou para criar um movimento contra a construção da Usina de Belo Monte, na Amazônia. Tudo bem explicado – claro! – num power point e em planners4good.posterous.com

sexta-feira

26

março 2010

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Entrevista – José Huerta (diretor do doc "Uma Semana Em Parajuru")

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“Uma Semana Em Parajuru”: disponível na íntegra para assistir, só clicar

No litoral do Ceará, a vila de pescadores de Parajuru vive um momento delicado, tentando descobrir como progredir e conseguir melhorias estruturais sem perder a sua própria cultura.

Tendo a cidade como pano de fundo, o documentário “Uma Semana Em Parajuru” fala do loteamento de praias e reservas ecológicas para construção de empreendimentos imobiliários estrangeiros, prática tão comum no norte e nordestedo Brasil. Mostra também brasileiros trabalhando em situações, no mínimo, questionáveis.

Sensibilizados pela mortandade de golfinhos japoneses, os principais jornais e revistas do Brasil falaram bastante do documentário vencedor do Oscar “The Cove”. Mesmo tendo sido exibido no maior festival de cinema do país, o Festival do Rio, em 2009 (com uma sinopse pouca sedutora), e no FAM (em Florianópolis), pouco se falou do documentário. Na grande mídia, nada.

Como isso foi acontecer, é incompreensível. Ninguém deve ter assistido, só isso explicaria o filme ter sido ignorado dessa forma. Fui saber do filme seguindo a dica do casal Felipe Schuery e Clarice Ramalho, direto da França.

Realizado por um espanhol, casado com uma brasileira que mora em Paris, “Uma Semana Em Parajuru” é revelador. Ao se conhecer melhor o caso da vila de pescadores, descobre-se que o aparente marasmo da vida praiana esconde bastante coisa.

A abordagem lembra a do sensacional “Pesadelo de Darwin” (“Darwin’s Nightmare”), filme que mostra os efeitos sociais e ambientais da introdução de um peixe da espécie “Perca do Nilo” no Lago Vitória, na Tanzânia, pertubando o sensível ecossistema com o objetivo de gerar lucro financeiro.

No caso de Parajuru, um grupo austríaco, liderado por uma mulher chamada simplesmente de Gesi, adquiriu terras no local para construir um complexo hoteleiro.

Com o propósito de gerar mão de obra para uso próprio, eles oferecem cursos de línguas e hotelaria, além de oferecerem terras para venda no exterior, colaborando ativamente com especulação imobiliária que descarteriza o local. Participantes do programa pagam pelo ensino com o próprio trabalho e, quando terminam, recebem muito pouco.

Entre delírios de um político deslumbrado que acredita que o brasileiro “não é colonizável” (mas deseja uma ópera e uma orquestra sinfônica), imagens de um pescador idoso em situação degradante, relegado a ser o “bêbado da praia” em Canoa Quebrada (exemplo de turismo sem planejamento), uma das cenas mais impressionates é a de um local matando uma cobra a pauladas — algo que ele provavelmente não faria — simplesmente para deixar a vontade estrangeiros tocando flauta e sanfona.

A força de pescadores locais, ainda bem, vem se fazendo valer. Organizados, esclarecidos e extremamente educados — certamente legado da mesma cultura e costumes locais que tentam agora defender — eles lutam para verem suas casas invadidas sem ter direito de opinar.

O que se vê no doc é uma violência cultural violenta. Uma forma de turismo agressiva que, apesar de se fazer preocupada com o bem estar da população, está interessado apenas em impor a suas regras e métodos.

É um filme importante, que qualquer documentarista gostaria de ter feito. Felizmente, alguém fez.

Muito mais intrigado com o fato desse filme não ter tido nenhuma repercussão no Brasil do que curioso sobre detalhes técnicos da produção, procurei o diretor José Huerta para uma entrevista por e-mail, em português.

URBe – Qual sua relação com o Brasil? Vive ou já viveu aqui? Quantas vezes esteve no país?

José Huerta – Minha história com o Brasil começa em 1987. Depois de meus estudos em educação, queria ter uma experiência fora da França. Uma ONG francesa (Enfants Réfugié du Monde) me propôs a coordenação de um projeto social numa favela em Fortaleza, o Buraco da Jia.

O projeto era o de construir uma creche comunitária para as crianças da favela, pois tinha uma fábrica de castanhas ao lado da comunidade e as mães que trabalhavam nesta fabrica não tinham uma solução para a guarda das crianças. A gente formou um grupo de mulheres nas áreas da saúde, educação e administração. A creche era totalmente autogerida.

Eu fiquei um ano. Essa experiência foi fundamental na minha vida. Conviver com a comunidade, foi essencial na minha formação intelectual. A humanidade das pessoas, a luta para a sobrevivência, a diversidade cultural do Brasil me ajudou muito para ver o mundo na sua complexidade. Até hoje essa experiência serve para meu trabalho de cinema. O respeito, a luta e a humildade.

URBe – Como surgiu esse documentário? Você estava vivendo em Parajuru?

José Huerta –Minha relação com o vilarejo de Parajuru remonta a 1996, por ocasião do casamento de uma amiga brasileira muito próxima, que praticamente cresceu em Parajuru, pois seus pais são proprietários de uma casa de veraneio. Fui padrinho deste casamento e, a partir de então, passei a freqüentar o vilarejo com uma certa regularidade. Após mais de 10 anos deste encontro com Parajuru, esta amiga me sugeriu que eu comprasse uma pequena casa ao lado da sua.

URBe – Quem financiou o filme?

José Huerta -O produtor é francês (Jour J Productions). O filme foi produzido pelo canal Images Plus,RFO (televisão publica) e o Ministério da Cultura francês.

URBe – O filme se chama “Uma semana em Parajuru”. Foi realmente filmado nesse tempo, durante uma mesma viagem? Quanto tempo você ficou na cidade?

José Huerta – Não, o filme foi rodado durante um mês. A estrutura da semana é uma estrutura narrativa.

URBe – Como você chegou `a história da especulação imobiliária e da exploração da força de trabalho?

José Huerta – Quando comprei a casa no vilarejo, muita gente comentava a presença da Gisi. Ninguém sabia exatamente o que era o projeto dela a longo prazo. Se dizia que nunca houve uma reunião para informar a população. A comunicação do projeto era direcionada unicamente sobre o lado social: escola para as crianças, capacitação do jovens na área da hotelaria. Escutava-se muitos comentários, mas havia pouca informação.

A idéia do filme surgiu em 2007, após um estada de um mês em Parajuru. Achei interessante fazer um retrato do vilarejo, que estava vivendo uma mutação econômica, social e cultural. Não tinha a menor idéia do que descobri depois com a fala dos entrevistados. Foi durante as rodagem, as pesquisa e as entrevistas do povo de Parajuru que percebi que tinha alguma coisa de errado ali.

Inclusive, comecei as rodagem com o projeto social da Gisi. Lembro que fiquei uma semana seduzido pelo projeto. Depois fiz outras entrevistas com o povo, com os jovens que se afastaram do projeto, com Chico Mariano (o presidente da associação dos produtores de Parajuru), e a história da barraca do kite surf. Isso revelou que o projeto era uma fachada que escondia algo maior, uma operação de especulação imobiliária.

URBe – Como você conseguiu ter acesso aos entrevistados? Eles sabiam qual era a sua intenção com o filme?

José Huerta –Minha idéia desde o inicio era de fazer um retrato completo: histórico, cultural, econômico e político. Sempre fui bem claro sobre isso e o filme aborda muita coisa sobre todos esses aspectos. Na época eram as eleições dos vereadores e acabei filmando a campanha do atual prefeito. Todo mundo sabia o que eu estava fazendo, porque ia por todos os lados filmar.

Era claro que queria filmar a mutação de Parajuru e que a presença dos austríacos era importante. No meu trabalho tento sempre deixar o entrevistado falar, nunca sou eu quem domina as falas, porque isso poderia influir nas resposta de um entrevistado por exemplo. Prefiro dizer o mínimo durante o trabalho.

Neste caso, a decisão de focalizar o projeto turístico foi decidido na sala de edição. Os fatos e os testemunhos eram tão fortes que não dava para fazer de outro jeito. Essa decisão foi tomada junto com o produtor e o canal de TV (RFO).

URBe – Quais as condições de trabalho dos habitantes de Parajuru que fazem parte do programa da Gisi? No filme não parece trabalho forçado, mas a idéia que passa é de que a Gisi oferece educação apenas para gerar mão de obra qualificada pra ela mesma. Os entrevistados falam que os salários pagos são muito baixos (150 euros) em relação ao faturamento do hotel. Alguns falam que não receberam salário durante muito tempo, tendo sido dito que os cursos oferecidos (línguas, hotelaria) custavam caro e que o trabalho deles custeava isso.

José Huerta -O que está colocado no filme é a experiência de cada um com o projeto. Pelos relatos, muitas pessoas trabalhavam a titulo de formação e esta formação consistia muitas vezes em trabalhar no hotel em troca do curso de hotelaria e do curso de língua. Quanto ao valor real dos salários pagos, só podemos saber o que as experiências puderam nos contar.

E o trabalho feito no Hotel da Áustria? [NE: Gisi também tem hotéis no país] Qual o estatuto desse trabalho? Não coloquei nada no filme sobre esse assunto porque não tenho documentos que atestem as condição exatas de viagem para a Áustria, mas sabemos que alguns jovens viajaram com vista de turismo e alguns foram barrados pela policia da imigração na Europa.

No comentário do filme, tive o cuidado de não afirmar coisas que não possuo provas ou que não tenham sido ditas em entrevistas. A finalidade do comentário é de servir de guia para facilitar a compreensão do espectador e, as vezes, o artifício de colocar questões serve como saída reflexiva para o filme. No meu comentário, acho que não tem nenhuma denúncia explícita. Isso faz parte de minha ética.

O filme foi feito para ajudar a preservar a beleza do vilarejo e sua cultura. Uma rejeição da população seria um desastre para mim. Não foi o caso, graça a Deus, foi o contrário. Acho que nunca tive tanta prova de afeição como ultimamente. Talvez porque eles saibam o que eu estou sofrendo. Não sei, mas fiquei com mais confiança para o futuro.

URBe – Muitos dos entrevistados falam abertamente sobre o assunto, mesmo trabalhando para o hotel. Isso me fez pensar que talvez eles tenham identificado você e sua equipe como “gringos”, parte da turma da Gisi, e não se preocuparam em esconder nada. Estou correto?

José Huerta – Como falei, pedi a autorizarão para filmar, disse que queria fazer um retrato de Parajuru e que era importante filmar o projeto deles. Eles aceitaram. Depois percebi que era estranho porque minha filmografia esta toda na internet com acesso aberto todos. Até dei uma copia de 2 filmes que fiz para um austríaco envolvido no projeto deles. Era sobre a questão da reforma agrária no brasil e outro sobre a luta das comunidades vitimas da poluição dos rios pelas barragens. Acho que ele não viu. Hoje ele não fala mais comigo.

URBe – A Gisi já assistiu ou sabe que o filme existe? Qual foi a reação dela?

José Huerta – Durante a filmagem, eu me comprometi a organizar uma projeção do filme no vilarejo. O que foi feito em abril de 2009, e que contou com a presença dos moradores que vieram em grande número, alguns turistas, a elite local, assim como com os representantes dos investidores austríacos. A Gisi não estava em Parajuru nessa época.

Após esta projeção, a reação dos investidores austríacos foi a de dar queixa na delegacia de polícia. Uma queixa que, na ocasião, foi julgada desmedida por sua ausência de motivo criminal. Não se contentando com o BO registrado, os empresários enviam a minha casa um tabelião responsável por me transmitir uma notificação extrajudicial, que pretendia interditar a difusão do filme; isso, mesmo reconhecendo haver consentido e dado autorização para a filmagem.

URBe – Por que A Gisi não fala no filme?

José Huerta -Ela nunca quis e não sei porque.

URBe – Já visitou os hotéis da Gisi na Áustria?

José Huerta -Não, nunca fui.

URBe Qual foi a reação da população de Parajuru?

José Huerta -As pessoas que assistiram a projeção do filme aplaudiram muito no final. Depois teve uma certa tensão pois a população ficou dividida. Uns pensavam que tive coragem de mostrar a realidade de Parajuru. Como uma pessoa falou: “você colocou o dedo na ferida”. Outros achavam que os investidores austríacos traziam emprego para o Parajuru e que isso era positivo.

Entendo esse tipo de argumento. A população precisa de trabalho. Hoje as opiniões estão mudando devido as noticias que vem da Áustria. Um dos principais investidores parece que esta implicado numaaffaire de corrupção. O povo esté vendo que o filme estava, infelizmente, ainda aquém da realidade.

URBe – Como os políticos locais receberam o filme?

José Huerta –Não teve relação com os políticos, fora um vereador de Parajuru que fala rapidamente no filme. Ele ficou um pouco chateado, porque pensou que o filme dava uma imagem negativa de Parajuru. Não teve agressividade local.

URBe – O Nordeste, principalmente as menores províncias, é conhecido por seus “coronéis”. Que tipo de problema você enfrentou em relação as pessoas que mandam na cidade ao fazer esse filme?

José Huerta –Realmente, não teve nenhuma dificuldade para fazer esse filme. Os problemas chegaram depois da projeção em Parajuru, em abril 2009.

URBe – Você já esteve de volta `a cidade após o filme?

José Huerta – Voltei em dezembro com um pouco de apreensão no início, pois o mais importante para mim era conservar a relação que tenho com a comunidade. Isso é sagrado. Tenho uma relação de amor com Parajuru. O filme é menos importante que tudo.

URBeO filme foi já foi exibido em algum canal de televisão?

José Huerta – Por enquanto, só na França, infelizmente. Passou no canal France Ô, em abril e agosto 2009, quatro vezes. No canal Images Plus duas vezes, acho, em Abril.

URBe Quais são os processos que você cita no final do filme?

José Huerta –No final de abril de 2009, oito processos foram impetrados contra mim, onde um deles seria mesmo de natureza criminal. De volta a Parajuru em janeiro 2010, recebi as notificações dos oito processos. Contratei então um advogado, já tendo o processo criminal uma audiência fixada para o mês de maio.

Os fatos de que sou acusado portam essencialmente sobre a acusação de que o filme teria um propósito difamatório. Eles se baseiam mesmo no termo “exploração de trabalho escravo”, expressão que sequer figura no filme. Segundo eles, eu teria feito esta afirmação em uma entrevista dada na ocasião do Festival do Mercosul, em Florianópolis.

Estes termos foram efetivamente reproduzidos num artigo publicado no site do festival, mas afirmo jamais tê-los proferido. Infelizmente, a entrevista não foi gravada, mas um professor da universidade que estava presente no momento da entrevista se comprometeu a testemunhar para confirmar minha versão dos fatos.

Os processos são movidos por algumas pessoas presentes no filme ligadas ao projeto dos investidores austríacos, por Fred (responsável econômico do projeto), Isaura (esposa de Fred, responsável pela escola), por alguns alunos que trabalham no hotel e pela Associação beneficente Gisele Wisniewski.

Por exemplo, o jardineiro do hotel, que aparece apenas alguns segundos no filme, sem sequer dizer uma palavra, demanda por calúnia e difamação, uma quantia equivalente a 6 mil reais. Ao total, o pedido de reparação da dita calúnia e difamação, chega a 150 mil reais aproximadamente. Acrescente-se a isso, os custos com meu advogado, algo em torno de 13 mil reais.

Fica claro para mim que todos esses processos são para fazer pressão para impedir a difusão do filme.

URBe As leis brasileiras de direitos autoral e cessão de imagem são bastante rígidas, inclusive para documentários, “fair use” é uma realidade distante. Como essas questões foram resolvidas?

José Huerta –Ainda não foram resolvidas.

URBe O filme é de que nacionalidade? Pergunto pelo seguinte motivo: ao não considerar esse um filme brasileiro, muda o tipo de questões legais envolvidas? Facilita?

José Huerta –O filme é Francês. Não sei como ficam as coisa no Brasil. De qualquer modo os processos existem e tenho que me defender. Uma linha de defesa vai ser a de pedir a ilegitimidade dos processos. São questão jurídicas que não domino infelizmente.

URBe Vi que o filme passou no Festival do Rio. Você estava na sessão?

José Huerta –Não, infelizmente.

URBe Qual foi a repercussão do filme, principalmente no Brasil? A não ser que o filme tenha um título em português completamente diferente do original, mesmo em buscas cruzadas não encontrei nenhuma resenha, crítica ou comentários sobre o filme.

José Huerta –Primeiro na França se produz mais de 2 mil documentários por ano. Tem muitos canais e na época da difusão na TV eu estava no Brasil e meu produtor não fez nada para a promoção do filme. Depois quando soube dos processos, não fiz nada e esperei ter mais informações jurídicas sobre os meus diretos…. Esperei as notificações dos processos também para ver do que se tratava. De uma certa maneira, conseguiram o que eles queriam, impedir a divulgação do filme.

Hoje, a situação é diferente. Com todos os elementos, sinto a legitimidade de me defender. Na área da justiça e na área social (para não dizer política). Os fatos recentes vem reforçar minha posição e demonstra que o filme estava ainda aquém da realidade.

A escola do kite surf está embargada pelo IBAMA. Em julho, o IBAMA além de uma multa de 15 mil reais, pediu a destruiçao da escola que está construída em uma área de preservação permanente. Paralelamente a isto, em setembro de 2009, um escândalo de desvio de dinheiro público veio à tona na Áustria, e a surpresa: este escândalo implicava um dos investidores do projeto de negócios instalado em Parajuru, Peter Hochegger, próximo a Gisele.

Segundo a justiça austríaca, ele estaria implicado no desvio de 9,5 milhões de euros em um affaire de venda de imóveis pertencentes ao governo austríaco: o Buwog-Affäre. O ex-ministro de finanças austríaco é um dos outros implicado segundo a impressa.

Um jornal austríaco Wirtschaftsblatt.at (em 15/02/2010), afirmou que 1,6 milhões de euros de Peter Hochegger foi investido em Parajuru, com a construção de um imenso condomínio, compra de terras (80 hectares) e com o controle de 25% do capital da empresa austríaca que gera os negócios em Parajuru.

Toda essa situação vai levar o filme a ser divulgado mais uma vez nas TV, com debate ao vivo. A campanha de apoio ao filme começou agora, mas já tem inúmeras ONGs que vão apoiar na França, assim como no Brasil. De uma certa forma, os processos impulsionaram a publicação do filme.

URBe Como você pretende distribuí-lo? Pensa em disponibilizar para download gratuito? Foi você mesmo quem o colocou no DailyMotion?

José Huerta – Sim, mas isso depende de acordo da produtora que é detentora dos direitos sobre o filme.

Colocamos na página do DailyMotion mas foi uma decisão junto com o produtor. Aqui na França, é o produtor que é responsável de tudo.

O filme foi enviado para a TV Cultura e para a TV Brasil, mas acho que o produtor não obteve resposta. Mesmo com a importância do filme, não tem sido fácil entrar no universo da difusão no Brasil. O filme também foi mandado para a TV na Áustria, mas não obtivemos resposta ainda.

URBe Quem é Vivi, para quem você dedica o filme no final? É alguém que você conheceu por lá e o motivo de você ter feito essas denúncias?

José Huerta –Não. é minha esposa brasileira que amo tanto e a gente espera um neném em breve.

terça-feira

23

fevereiro 2010

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Bloom box

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A empresa Bloom Energy desenvolveu um aparato, a Bloom Box, capaz de gerar energia diretamente no local onde vai ser utilizado, através de combustíveis fósseis, bio-combustível ou energia solar. Uma revolução. O programa “60 Minutes” fez uma reportagem sobre o produto, que já está sendo utilizado por gigantes como Google, FedEx e WalMart.

Via @fcontinentino.