Nove novas músicas do M.Takara, distribuídas em dois EPs, “Fantasma” e “Baladas”, um lo-fi flertando com o chillwave em SP (só faltou agrupar todas as músicas num só tocador).
Vi no Soma, que entrevistou o Maurício sobre a decisão de jogar essas músicas na rede sem muito alarde e ainda adiantou algo sobre o novo disco do Hurtmold (do qual Taraka é baterista), o primeiro desde 2007 e que sai em dezembro e se chamará “Mil Crianças”.
O show começa com Marcelo Camelo sozinho no palco, dedilhando um tema ao violão, sem nenhum outro acompanhamento. A intimidade revela um violão sujo, com mais vontade do que técnica. Mais rock do que samba.
Esse deve ser o maior defeito de “Sou”, primeiro trabalho solo do ex-Los Hermanos: ao se levar a sério demais, Camelo perde um pouco da leveza que marca suas composições (mesmo quando letras sérias mascaram isso), atraindo análises mais críticas de suas virtudes como cantor e músico.
Ao vivo, sua banda de apoio (os paulistanos do Hurtmold) ganha espaço e o show cresce. Misturado aos outros músicos, o talento de compositor conta mais que as limitações técnicas de Camelo, transformadas em um elemento — como acontece (acontecia?) no Los Hermanos.
Solto no palco, Camelo interagiu com a platéia (a pedido do seu pai, como explicou), mesmo sem saber exatamente como fazer isso.
Com um sorriso no canto da boca, Marcelo cantou “Janta” e sua letra escancarada (composta com a atual namorada, a cantora Mallu Magalhães, de 16 anos, uma das relações mais patrulhadas da atualidade), falando de um amor que é um “eterno não dá”.
Durante a introdução da música seguinte, “Doce solidão” e após gritos da platéia, Marcelo comentou que “o melhor é que pode tudo, pode tudo”. Herança dos tempos de LH, o coro de roda de violão que se segue é desafinado que só, dificultado por músicas de letras e melodias difíceis de cantar.
As coisas melhoram quando o coral é abafado pela guitarra de Camelo. Aliás, o som todo melhora com a guitarra, quando apenas um dos pés está na MPB e tanto as composições soam mais criativas e a interação com o Hurtmold sobe bastante.
O septeto paulistano quase rouba o show quando, por uma música, Camelo se arrisca e deixa o grupo tocando sozinho. Marcelo é fã e faz questão que o resto do público tenha esse gostinho, espalhado por outras canções, como a versão reggae de “Morena”.
Para recuperar seu público, Camelo abre o bis com “Casa pré-fabricada” e enfileira algumas outras músicas do Los Hermanos. É infalível.
Ainda que sem dúvidas esteja acima do disco, para um show solo fica faltando mais constância e volume. Com um punhado de ótimas canções, uma coisa é inegável: o Camelo dá seu primeiro passo.
Sábado o TIM Fest tirou o a virilha da lama (porque o pé já tinha sumido lá dentro).
O grande show, em uma noite repleta de grandes shows (Gogol Bordello, Dan Deacon, Sany Pitbull, Neon Neon), foi o de Marcelo Camelo.
Sua estréia, “Sou”, tem sido duramente criticada e ninguém dava nada pela apresentação, mas Camelo cercou-se bem. E saber escalar uma banda é uma grande virtude musical.
Ao contrário do disco, onde a banda de apoio, o Hurtmold, parece andar com o freio de mão puxado, no show eles aceleram sem obstáculos. Ao vivo, as música decolam, ganham peso, nuances e uma pressão que falta nas gravações.
Bom exemplo disso é o momento em que, em vez de apresentar os integrantes individualmente, Marcelo simplesmente senta-se no chão próximo aos pedais de sua guitarra e é engolido pela catarse do septeto paulistano. Não há melhor cartão de visitas para eles.
Os problemas de som, embora suavizados, persistiram. O liberou geral dos ingressos (distribuídos aos montes) e a abertura das tendas mesmo para quem não tinha ingresso para o show, lotando o espaço com um público artificial, tumultuaram shows como o do Camelo.
Criou-se um precedente arriscado. Periga ano que vem ninguém comprar ingresso, apostando em uma nova distribuição de entradas quando bater o desespero na produção de ver as tendas vazias. É mais seguro pensar em um formato de festival de verdade (um ingresso para ver tudo) e preços mais em conta.
Nesse final de semana, o Los Hermanos comemorou as 50 mil cópias vendidas do seu disco mais recente, “4”, com uma mini-temporada no Canecão. Porém, o número que se destacou foi outro, um pouco menor, mas nem um pouco inferior: o três.
Foi esse o número de shows da temporada e , mostrando que não esqueceram suas origens, foi exatamente esse o número de bandas independentes escolhidas pelos Hermanos para abrir as apresentações: Nervoso e os Calmantes, Hurtmold e Cidadão Instigado. Uma por noite.
Na estréia, com a casa cheia de imprensa e convidados, coube ao ex-Acabou la Tequila/Autoramas/Beach Lizards, Nervoso. Pela penca de referências em comum, sonoridade e temática das letras, Nervoso têm potencial para acertar em cheio os fãs do Los Hermanos, principalmente a parcela insatisfeita com o “4” e saudosos da agitação das turnês do “Bloco do Eu Sozinho” e “Ventura”. Por tudo isso, era um show importante.
Apesar do PA novinho do Canecão, o som embolado que se ouvia (problema que persistiu e prejudicou também o show do Los Hermanos) não ajudou. Os Calmantes, talvez apreensivos com a situação, ficaram meio paradões, deixando Nervoso sozinho no palco e dificultando ainda mais as coisas.
Mesmo assim, a garra da banda, calejada do underground, aliada a boas músicas, superou esses problemas e conquistou aqueles de ouvidos atentos e abertos as novidades. Se dos 2 mil presentes, 100 resolverem ir atrás do que ouviram já valeu a pena. A idéia é essa, de pouquinho em pouquinho, conquistar seu espaço.
Na segunda noite, foi a vez dos paulistas do Hurtmold esquentarem o público. Embora o (vá lá) post-rock instrumental, emulando nomes como Fugazi e Tortoise, pudesse representar um risco diante de um público de características messiânicas, afeito a cantar junto e pular o tempo todo, a banda foi muito bem recebida. E chapou o Canecão por preciosos 30 minutos.
Formado, em 1998, por Maurício Takara (bateria, trompete, vibrafone), Fernando Cappi (bateria, guitarra), Mário Cappi (guitarra), Guilherme Granado (teclado, percussão), Rogério Martins (percussão) e Marcos Gerez (baixo), os integrantes do Hurtmold e os do Los Hermanos se conheceram na gravação do instinto programa de televisão Musikaos, em que bandas tocavam ao vivo. O respeito mútuo virou amizade e desembocou no convite para banda fazer esse show de abertura.
No seu terceiro show para um público tão grande (antes disso, abriram dois shows da Nação Zumbi e tocaram no Sónar Barcelona), o sexteto fez bonito, hipnotizando os presentes com músicas repletas de texturas e referências. O Hurtmold é caso raro, daquelas poucas bandas que se saem melhor ao vivo do que em disco.
As percussões crescem, acentuando a latinidade das músicas, os improvisos rolam soltos e o groove explode entre sacudidas de caxixi, noises de guitarra, programações eletrônicas, linhas de baixo, solos de trompete, melodias de vibrafone e quebradeiras na bateria. É uma alegria ver uma banda dessas tocando num lugar com a estrutura e quantidade de público que merece.
No dia seguinte, domingo, o Hurtmold tocou outra vez, na Audio Rebel, em Botafogo. Misto de loja de discos, estúdio de ensaio e local para shows, é um lugar novo e surge como boa opção para shows de pequeno porte. Nem tanto pela qualidade, é verdade, mas pelo clima.
Apesar do cheiro de argamassa das obras e do calor beirando o insuportável (precisa de, no mínimo, mais três ar-condicionados ali), o cafofo onde acontece os shows acaba sendo aconchegante, deixando o público (de até 100 pessoas) bem perto da banda. É o clima perfeito para “shows históricos” (leia-se: quanto menos pessoas, mais histórico).
Dessa vez com 50 minutos de duração (e filmado na íntegra), o do Hurtmold, com certeza, entrou pra essa lista.
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/URBe
por Bruno Natal
Cultura digital, música, urbanidades, documentários e jornalismo.
Não foi exatamente assim que começou, lá em 2003, e ainda deve mudar muito. A graça é essa.