Se tem uma coisa que tenho preguiça de fazer é lista, ainda mais de música, simplesmente por ter total preguiça de hierarquizar trabalhos tão diferentes, muitas vezes complementares e quase nunca melhores uns que os outros. Portanto, indo além do que fiz ano passado, quando baseei a ordem no número de audições de cada disco, dessa vez nem ordem vai ter.
E mais: aboli o nome “melhores discos”, substituindo por “bons discos”. Nesse mundaréu de discos, facilmente encontráveis, lançados a cada semana, não há como dizer que nenhuma lista reúna os melhores, pois isso implicaria em ouvir todos (tarefa impossível).
“Bons discos” dá uma noção mais real do que se trata esse tipo de lista. Um corte, uma seleção, dicas. Alguns ouvidos diversas vezes, outros bem pouco. Uns são memoráveis, outros se destacam mais por serem propostas interessantes. Uns foram resenhados aqui, outros apenas escutados.
Começando pelos nacionais, amanhã seguimos com os gringos. Aproveite e diga também nos comentários quais foram os seus discos favoritos de 2012.
Radicado na Macedônia há um ano, Rodrigo Miravalles tem um programa de rádio Kanal 103, em Skopje, dedicado apenas a nova música brasileira. Não satisfeito, ele entrou numa de divulgar a música de lá aqui no Brasil e mandou um email falando um pouco da cena local. Como a ideia do URBe é sempre ampliar horizontes, reproduzo a mensagem:
“A Macedônia é um país muito pequeno, de apenas 2 milhões de habitantes. Está na periferia da Europa e não recebe muita atenção do resto do mundo. Fazia parte da antiga Iugoslávia e mesmo naquela época, mesmo fazendo parte da grande potência, não recebia muita atenção. É um lugar um pouco incomum porque não há brasileiros. Já imaginou um lugar sem brasileiros? Hehehehe. Tá, logicamente não sou o único aqui, mas não há mais do que 10 em todo o país.
“Enfim, desde que cheguei aqui tento fazer uma conexão musical Brasil-Macedônia. Gostaria realmente que algo assim acontecesse, sabe. No momento, mantenho um programa dedicado à música brasileira numa rádio daqui de Skopje. A rádio é incrível, chama-se Kanal 103, 100% livre, 100% DIY e 100% indie, como poucas no mundo. No meu programa, fujo completamente do que o gringo esperaria de um programa de música brasileira. Tenho tocado muitas novidades, muitas coisas inclusive que você menciona no URBe. Artistas como Negro Leo, Doo Doo Doo, Gui Amabis, Metá Metá e por aí vai.
“Uso a página da rádio no Facebook pra divulgar os discos, disponibilizar os links pra download. O pessoal tem gostado bastante. Além disso, tenho feito contato com outras rádios daqui, que têm mostrado muito interesse em conhecer e tocar mais da música brasileira.
“Gostaria também de tentar fazer o caminho contrário. Mandar uns sons daqui pra aí pro Brasil. Já andei tentando fazer alguns contatos aí, mas tenho que te confessar que até agora praticamente nada de resposta. Não sei, talvez por ser um país tão desconhecido, não desperte um interesse, uma curiosidade. Muitas pessoas nem escutaram falar em Macedônia. Eu acho uma pena, porque aqui tem coisa realmente interessante. Não existe uma cena grande, mas existem pequeninos núcleos que são bem ativos e fazem um som muito bom. Os caras aqui ainda têm muito desse espírito “empreendedor” do punk, o que eu acho incrível.
“Queria então tentar começar esse trabalho de divulgação do novo som da Macedônia com uma banda, que eu considero uma das melhores. Eles se chamam Bernays Propaganda, têm 4 álbuns lançados e no fim desse ano sai um novo. Os caras são jovens, batalhadores, 100% DIY, punks 100% comprometidos. Correm atrás mesmo e fazem muita coisa com muito pouco. Embarcam num carrinho e rodam a Europa tocando em picos punk, festivais ilegais e praças. Em torno deles, gira o que eu considero o grupo de bandas mais interessantes daqui.
“Eles tocam em muitas delas, como Xaxaxa (lê-se Hahaha). Eles são meus camaradas e a gente sempre conversa sobre o Brasil. Resolvi tomar pra mim esse projeto, de tentar fazer uma promoção aí no Brasil. Uma aparição na imprensa, em blogs, rádio, um esquema de distribuição dos CDs, uma parceria com algum selo, quem sabe até umas gigs. Ia ser incrível.
“E se quiser conhecer outros sons locais, fico feliz de te enviar. Tem esse pessoal do rap cigano que eu acho do cacete. Vi os caras ao vivo uma vez e gostei pra caramba porque me senti muito em casa. Eles são praticamente brasileiros :)”
Quando que eu ia saber alguma coisa sobre bandas da Macedônia… Como sempre falo, edito esse blogue pra mim mesmo, sou leitor. E é assim que dá certo.
Um dos grandes entraves do mercado independente é a falta de interação entre os artistas. Poucos se escutam, menos ainda se frequentam, e a tal cena às vezes mais se assemelha a uma disputa por território, na qual perdem todos, fechados em panelas e nichos. Este mês, três bandas — duas cariocas e uma de Volta Redonda — lançaram seus discos de estreia, disponíveis para baixar de graça: Doo Doo Doo (“Casa das Macacas”), Amplexos (“A música da alma”) e Mohandas (“Etnopop”).
A pedido da Transcultura, integrantes das três bandas se entrevistaram. Nenhum conhecia o trabalho do outro, então só esse exercício já teria valido a pena. Eles conversaram sobre influências, sonoridades e métodos de trabalho. Sobretudo, se enxergaram. São três bandas bastante diferentes, e é exatamente desse atrito que pode sair algo de novo.
DOO DOO DOO (Alberto Kury) responde a MOHANDAS (Eduardo Lacerda)
Doo Doo Doo
O disco de vocês, assim como o nosso, foi literalmente “feito em casa”, no esquema independente. Além da divulgação on-line, com o download gratuito, sabemos que os shows são fundamentais para a banda seguir a jornada. Qual é o foco de vocês pra circular com o disco ao vivo? O que vier vocês “traçam”?
Traçamos o que vier! Costumamos fazer shows em lugares mais under, como Plano B, Audio Rebel e Tico Taco, na Lapa, lugares que frequentamos. Com o álbum disponível na rede, a ideia é aumentar esse leque, chegar em mais gente. E, como já disse o outro, a gente monta banda pra ser escalado em festival e ganhar vip.
O clipe “Carnaval no inferno” é bem interessante, com uma pegada de humor trash. Somos de uma geração que EStá pegando a transição da MTV para o YouTube, no qual produções mais caseiras, com boas ideias, podem “vingar”, gerar audiência. Que importância vocês dão para os clipes dentro do trabalho da banda?
Heheh, na verdade, o nome é “Carnaval no fogo”. Hoje em dia, fazer um videoclipe é um passo imprescindível na divulgação de qualquer banda. Tem gente que só ouve música pelo YouTube! E, assim como no caso da gravação do disco em casa, com os meios digitais hoje, fazer um clipe “na marra” é, além de viável, altamente recomendável. Nós gostamos muito, desde o início pensamos em fazer um vídeo pra cada faixa, talvez role, acaba acrescentando mais uma variante de significado às músicas.
Além das influências como o Animal Collective e o Tune Yards que vocês listaram no Myspace, pesquei também outras ascendências, como Kraftwerk, Nirvana. Os teclados e guitarras têm coisas de rock 1960 e às vezes de blues. Quais as referências nacionais no som que fazem?
Mutantes é sempre uma referência, mas crescemos ouvindo muita Legião Urbana também. Na verdade, o pessoal ouve de tudo, é impossível fugir do Caetano, do Tom Jobim, por exemplo, esses sons já meio que nascem dentro da gente.
O disco de vocês é todo autoral – mais uma convergência dos nossos trabalhos. Como é esse processo de criação coletiva? As bases vão abraçando as letras (que são todas em português), ou vocês criam essas texturas e camadas e as músicas vão vindo na esteira?
Normalmente, o Dudu mostra um rabisco da canção e o resto do pessoal vai acrescentando elementos e vamos arranjando em conjunto. Como agora estamos com um estúdio na Lapa, o Coletivo Machina, e temos mais tempo e espaço, temos caminhado para um processo mais coletivo de composição.
Uma pequena provocação agora. Qual ou quais artistas vocês acham que não gostariam do trabalho de vocês? E qual público rejeitaria seu som?
Temos uma certa dificuldade de nos encaixarmos em um gênero musical específico talvez porque enxerguemos a música por um prisma mais universal, então, à princípio, todos poderiam gostar do nosso som… mas acho que a Maria Bethânia é uma que ficaria nervosa de não entender as letras direito.
Vocês definem seu som como um “pop experimental”. Agora, de que pop vocês estão falando? Uma coisa ligada a determinados gêneros musicais ou o pop no sentido de uma música popular mais acessível ou convencional?
Pop no sentido de canção radiofônica, de utilizar estrofes e refrães grudentos, de falar de amor e de dor, de juntar elementos de cultura de massa. Mesmo que o resultado caminhe por um viés mais esquisito ou experimental, a estrutura das músicas é de canções pop.
AMPLEXOS (Eduardo Valiante) responde a DOO DOO DOO (Alberto Kury):
Amplexos
Como é o processo de composição? Vocês são filhos da linha evolutiva da MPB?
Temos um compositor, que faz as letras e melodias principais, e os arranjos são feitos em conjunto. Tocamos juntos há bastante tempo e sabemos pra onde ir. Muitas vezes a gente fica tocando uma levada até que ela “fixe o groove”, e aí já temos uma base. A composição dessas letras e melodias é que não tem regra. Pro disco, metade das músicas saiu sem a gente ter muita noção sobre o que tava falando… depois é que percebemos que havia algo ali em comum. Somos gratos pela inspiração e pela oportunidade que temos de fazer música. Nunca pensei nesse lance de linha evolutiva da MPB, não sei se a gente faz parte dessa linha evolutiva e, mais ainda, não sei o que é ser filho de uma linha evolutiva.
Vocês acham que a história sonora do planeta chegou ao seu limite de inovação estética ou ainda há muito o que explorar? Vocês são filhos do Fukuyama?
A gente acredita que há muito a ser criado. O ser humano ainda não evoluiu o suficiente para criar uma música nova. É só olhar pra dentro e ver o quanto a gente continua errando. Ao mesmo tempo, acreditamos que novo é o que se comunica com a época. A música tem o papel de mudar muita coisa na vida de uma pessoa. Se eu conseguir passar uma mensagem, minha música serve para essa pessoa, é nova. Ah, e não conhecemos Fukuyama.
A indústria fonográfica está em transição. Amplexos: como vivem, do que se alimentam? Vocês realmente acreditam no download livre? Vocês são filhos do Radiohead?
A eterna transição! Todos vivemos de música, temos projetos paralelos, trabalhamos em estúdio. A gente vive no perrengue, mas é o que escolhemos, fazemos música com muita alegria. E nos alimentamos bem dela e com ela, comemos frutas, fibras e verduras, praticamos esportes e cuidamos da saúde. O download livre é algo em que a gente acredita. Todos baixamos música grátis, e isso contribui na nossa formação. É claro que eu gostaria que todos comprassem nosso disco. Ao mesmo tempo, nossa música é para ser espalhada, E adoramos o Radiohead, mas definitivamente não somos filhos deles.
Vimos que vocês participaram do tributo ao Raça Negra. A experiência de arranjar, ensaiar e gravar essa música deixou alguma marca do som deles em vocês? Vocês são netos da Tropicália?
A gente adora o Raça Negra, desde sempre. Temos integrantes na banda que são fãs de verdade do grupo e a marca do som deles já estava no nosso som antes mesmo de a gente gravar uma música deles. Fazer a versão de “Quando te encontrei” foi algo muito natural. Tivemos um papo, escutamos algumas vezes, fizemos um ensaio e fomos para o estúdio. E adoramos a Tropicália, o Gil, Oiticica, Tom Zé… são artistas que nos influenciam até hoje de alguma forma. E, cara, a gente não pensa em música assim, em uma “árvore genealógica”. Estamos quase em 2013, a Tropicália é um movimento da década de 1960/1970, muito importante para a época e que tem reflexos até hoje, mas a gente não pensa neles na hora de fazer música.
Vocês tiveram a participação especialíssima de Oghene Kologbo, guitarrista nigeriano que gravou com Fela Kuti. Como foi essa experiência com ele no estúdio e no palco, já que ele também fez participações nos shows? Vocês são filhos do Fela?
Mais do que a experiência de música, foi uma experiência pessoal muito importante. Na primeira vez que ele veio ao Brasil, nós ainda não tínhamos lançado o disco e o Kologbo ter ido até Volta Redonda e passado esses dias com a gente foi muito simbólico e nos deu muita força. Ele trouxe o afrobeat genuíno e isso enriqueceu bastante a nossa música, os nossos shows, e nos deu mais liberdade na hora de fazer o nosso som. E, cara, essa parada de perguntar se somos filhos está meio chata, porque a gente não conseguiu responder isso direito até agora… não é bem assim que a gente pensa. Mas se tivéssemos que escolher um pai entre esses que vocês citaram, o Fela seria um bom pai. A gente adora a música dos filhos dele, do Seun Kuti, especialmente.
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MOHANDAS (Eduardo Lacerda) responde a AMPLEXOS (Eduardo Valiante):
Mohandas
“Etnopop” é uma espécie de conceito criado para definir o som do Mohandas. Qual foi e é a importância da música “étnica” e da música pop para vocês?
A música étnica foi um ponto de convergência entre nós. Muitos de nós passamos pela escola da percussão popular brasileira, do Maracatu de Baque Virado à formação de escola de samba e às muitas manifestações populares de nossa cultura. As tradições musicais africanas, indianas, latinas, caribenhas também nos fascinam. Já a música pop é importante pelo simples fato de ser uma cultura na qual estamos imersos. Sem falar que os gêneros musicais sob esse guarda-chuva do pop são parte fundamental de nossa cultura. O etnopop que criamos busca conciliar essas informações, fazer a aldeia dialogar com mundo e vice-versa.
A música do Mohandas dialoga com os tempos de hoje? E para quem é?
A música é uma expressão de quem a faz, e estamos sempre em movimento. Temos canções como “George Clooney” e “Monkey dance”, que são críticas diretas aos tempos atuais. E temos “Kite” e “Mohandas”, com mensagens sobre amor fraterno, luta pacífica, integração dos povos, que são valores atemporais. Musicalmente, dialogamos com as informações que nos chegam, e procuramos saber mais, por isso o carimbó misturado ao funk e à eletrônica, são todos atuais. Acho que quem vai dizer para quem é essa música é o próprio público, que se apropria destas mensagens e faz nossa música ter sentido.
Para nós, que estamos no interior do Rio, parece haver uma multiplicação de artistas “fofos”, com muita pose e pouca coisa relevante a dizer. O que vocês acham da cena carioca?
Vivemos um momento fértil. É claro que, aumentando a oferta, aumenta a disparidade. Mas, falando de cena, acho importante que os artistas se ajudem. Não dá pra confundir independente com isolado. Vejo com bons olhos bandas interessadas em ir pra rua mostrar o trabalho, como Biltre, Maracutaia, Feijão coletivo. Tem boas bandas (e más) em todos os estilos. Nos identificamos com Letuce, Cícero, Tono e outros.
O som do Mohandas tem um pouco de estilos bem populares (do “povão”). Os shows na Pedra do Leme, abertos ao público, são boas oportunidades de mostrarem a música de vocês para um público mais amplo, mas vocês já experimentaram levar (ou devolver) essa música para locais mais periféricos, que é de onde vem muitas referências que vocês usam?
Nós temos a intenção de tocar em espaços públicos sempre que possível. Obviamente adoraríamos levar nosso som ao Pará, aos países da América Latina e às cidades africanas cujas culturas musicais nos servem de inspiração, mas é um tanto complicado realizar esse desejo, não é? Queremos sim levar nossa música aos guetos e periferias, não para pagar alguma espécie de “dívida de gratidão” com eles, porque a cultura é um documento de atuação pública, está aí para ser devorada e reinventada, mas porque queremos nos comunicar e achamos que todos merecem acesso à diversidade cultural. Nós queremos fazer nossa arte dialogar com as pessoas, seja no Leme, no Alemão, em Madureira ou onde for.
A música do Mohandas é feita para mover as pessoas, mudar alguma coisa em suas vidas e causar alguma reflexão, ou é uma música somente para divertir, entreter?
Acho que a nossa música é feita para dar expressão ao que sentimos. Fazer música é nossa forma de estar no mundo, de dialogar com as pessoas à nossa volta. É um reflexo do que sentimos, pensamos, dos nossos gostos, alegrias e sofrimentos, indignações. E acreditamos que muitas pessoas possam compartilhar destes mesmos sentimentos e também terem as mesmas angústias e felicidades, então daí vem a comunicação. Não estamos preocupados em ser virtuosos ou eruditos, revoltados contra o sistema, tampouco condescendentes com ele. Por outro lado, não temos a pretensão e nem paciência para ser puro entretenimento, música-chiclete, de fácil digestão e mais fácil ainda perecimento.
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Tchequirau
Um dia todos humanos terão a oportunidade de visitar o espaço. Enquanto essa aguardada hora não chega, a página How many people are in space right now (Quantas pessoas estão no espaço nesse exato momento) mantém a contagem em dia. Hoje, há apenas três astronautas, todos a bordo da EEI.
A primeira edição do Rio Parada Funk, ano passado, reuniu mais de 150 DJ, MCs e dançarinos para celebrar a cultura funk. Espalhado em mais de 10 palcos no Largo da Carioca e adjacências, o evento se transformou no maior baile funk da história, com alguns jornais chegando a noticiar um público de 100 mil pessoas, incluindo turistas estrangeiros e gente que veio de outros estados só pra conferir a festa.
Os números grandiosos seriam impensáveis há nem tanto tempo atrás, quando o funk viveu seu pior período de perseguição pós-arrastão do Arpoador em 1992 (creditado aos “funkeiros”, termo tão sem sentido quanto “roqueiro”, corretamente banido no manual de redação do saudoso Rio Fanzine), com as pancadarias dos bailes de corredor, a violência dos proibidões e letras de explícitas.
– É sempre difícil trabalhar com cultura, principalmente as marginalizadas, como o funk. Na primeira edição tivemos dificuldades com o IPHAN, que entendeu que o evento não podia acontecer na Cinelândia porque abalaria as estruturas do Theatro Municipal – conta Mateus Aragão, fundador da festa Eu Amo Baile Funk e organizador do Rio Parada Funk.
O reconhecimento internacional de 2003 em diante ajudou a amolecer o preconceito local em relação ao funk, iluminando aspectos sócio-culturais importantes e dando chance ao gênero de se mostrar além das polêmicas. Porém, continua o funk continua sendo funk e nada vem fácil. Apesar do sucesso, contrariando prognósticos alarmistas, a segunda edição do Rio Parada Funk, no dia 09 de dezembro, na Lapa, enfrenta dificuldades.
– O maior desafio para este ano está sendo mesmo garantir os apoios para a infraestrutura do evento. Apesar de os artistas e equipes de som não estarem recebendo cachês, precisamos garantir a infra estrutura, como geradores, banheiros químicos, segurança, etc – continua Mateus.
O receio de marcas em relação ao funk também não ajuda. A mudança de local, saindo do Largo da Carioca, também trouxe transtornos. A produção não conseguiu datas no Sambódromo e, com isso, cervejarias e empresas de telefonia cancelaram o patrocínio. O novo endereço é a Lapa, acostumado a grandes públicos.
– Tivemos promessas de patrocínio que não foram cumpridas, alguns não completaram o pagamento prometido, o que me levou a investir tudo o que tínhamos juntado em sete anos de Eu Amo Baile Funk. E tivemos patrocinadores que pagaram, mas não deixaram a marca deles aparecer. Querem ajudar ,mas não se associar ao movimento funk – continua Mateus.
Segundo Mateus, a edição desse ano, veja só, acontece principalmente devido ao apoio da Prefeitura e da Secretaria de Cultura do Governo do Estado – parte do mesmo poder público que marginalizou a cultura funk até pouco tempo. Uma grande virada.
– Foi uma emoção muito grande para todos envolvidos na primeira edição. Muitos não acreditavam que conseguíriamos sequer autorização para que o Rio Parada Funk acontecesse. Todos nós tínhamos a sensação de estar fazendo história. E o sentimento maior foi para o fato de, pela primeira vez, o funk ser tratado como protagonista. Nos sentimos vitoriosos na luta contra o preconceito da mídia.
Por conta do sucesso da primeira edição, a disputa para ser uma das 10 equipes escaladas foi grande, todos de olho na exposição trazida pelo evento (confira a escalação no box). O principal critério de escolha é a contribuição do candidato para inovações e história do funk. Nesse quesito, ninguém merece mais homenagens do que o dançarino Gualter Damasceno, mais conhecido como Gambá, jovem criador do Passinho do Menor da Favela, febre da molecada da comunidades, registrada no documentário “Batalha do Passinho”, de Emílio Domingos (vencedor do Festival do Rio esse ano). Gambá foi brutalmente assassinado antes de ver a história da sua invenção ganhar as telas.
Filme, Parada, aos poucos o funk vai ampliando seu espaço na sociedade – dizer conquistando estaria totalmente errado, o funk é onipresente no Rio e faz parte ad cultura da cidade, mesmo que alguns continuem torcendo o nariz.
– O funk é um produto 100% carioca, movimenta milhões de reais e de jovens, é um produto direcionado principalmente para eles, gerando milhares de empregos, mesmo sendo informais. O mais interessante talvez seja o interesse que o funk desperta fora do estado e do país, cada vez mais o Rio é representado pelo funk carioca. Além disso, o funk promove o debate sobre juventude negra e favelada, apontando sugestões e perspectivas.
Então, não esqueça: da 09 de dezembro é dia de baile.
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Tchequirau
Uma das bandas mais originais no cenário carioca, o doo doo doo lançou clipe novo, “Carnaval no Fogo”. Antes teve “Maré Exquizita” e “Mais”. O disco de estreia sai dia 19 de novembro, é ver se confirma as expectativas.
“A ideia do clipe de ‘Carnaval no Fogo’ surgiu a partir de uma pesquisa em cima do Cemitério dos Pretos Novos, na Gamboa, zona portuária do Rio de Janeiro. Foi um processo lento, mas divertido, desde que ganhamos o edital de Promoção de Novos Artistas da Secretaria de Cultura do RJ até o upload da ultima versão no youtube.
“Vale lembrar que essa música estará presente no nosso álbum de estreia intitulado ‘Casa das Macacas’, que será lançado dia 19 de novembro no nosso site.”
Ainda não conferi ao vivo, falta isso pra confirmar minhas suspeitas de que se trata de uma banda inovadora e diferente do que tem se sido lançado. Vamos ver se seguram a onda num disco inteiro.
Cultura digital, música, urbanidades, documentários e jornalismo.
Não foi exatamente assim que começou, lá em 2003, e ainda deve mudar muito. A graça é essa.