Cadu Tenório, fundador do projeto, hoje uma dupla completada por Sávio de Queiroz, apresenta o disco de apenas duas faixas, gravado ao vivo no dia 11 de janeiro desse ano:
“Após ter lançado ‘Lua’, disco que marca a transformação do projeto em um duo, fizemos a nossa estréia nos palcos com dois shows que consideramos importantíssimos para nós (um no festival Antimatéria e outro em parceria com o Chelpa Ferra no Circo Voador). Durante esse processo, começamos a sentir necessidade de gravar um novo registro que trouxesse alguns elementos que imergiram nesse período pós-disco.
“‘Branco’ é ao mesmo tempo um fim e um começo. Nesse registro, trocamos o amplo espectro de cores brilhantes utilizado no ‘Lua’ por uma atmosfera de texturas desgastadas, uma atmosfera onde os espaços não preenchidos são ainda mais decisivos. ‘Branco’ foi Inspirado na estranha porém sedutora sensação de insegurança que parece comunicar que tudo está prestes a ruir, mas você quer ver isso de perto.
“O EP estará disponível apenas nos nossos shows, em tiragem limitada de 20 cópias numeradas à mão, cada uma com sua capa exclusiva.”
Música retirada do próximo disco do Ceticências (mais um!), “Branco”, um EP de apenas duas faixas e que será lançado de maneira limitada: apenas 20 CD-Rs, vendidos em dois shows, no Rio e em SP, em fevereiro. O clipe foi dirigido pelo próprio Cadu Tenório, fundador do projeto.
Transitando pela Gamboa, do avesso há anos com tanta obra, você fica na dúvida se o Estado está muito ausente ou muito presente (mentira, basta olhar o abandona dos casarios e a falta de condições de quem mora lá para saber a resposta).
As redondezas andaram agitadas nesse final de semana por conta da movimentação trazida pelo Art Rio e o Art Rua (ouvi que extenderam a programação) e domingo estive lá pra conferir o Antimatéria, evento com o melhor da música experimental carioca realizado na sede da Super Uber.
De lá fui parar sétima edicão da festa Bota na Roda, num lugar inusitado que por si só valeu a visita.
Ceticências
No Antimatéria consegui chegar a tempo apenas de três shows: Dorgas, Ceticências e Epicentro do Bloquinho – perdi o Bemônio, sobre o qual quem viu falou muito bem. Vi apenas parte do Dorgas, o suficiente para comprovar que ao vivo soam tremendamente melhor do que no disco homônimo recém lançado, ainda que as viagens as vezes tornem a experiência um tanto hermética.
Para apresentar as experiências eletrônicas, glitch industriais do seu Ceticências, Cadu Tenório juntou-se a Sávio de Queiroz. Apesar de contar muito com a improvisação e a reação em tempo real a sons inesperados, é tudo bem controlado e resolvido, há uma direção compreensível dentro do caos. O resultado é uma narrativa que não aliena o ouvinte, pelo contrário, hipnotiza.
O mesmo não se pode dizer ainda do Epicentro do Bloquinho. Vítimas do próprio talento, o excesso de ideias – Lucas de Paiva (People I Know, Opala, Mahmundi, SILVA), Gabriel Guerra (DJ Guerrinha, Dorgas) e Sávio de Queiroz – polui a audição e a coisa toda fica com pinta de ensaio ou composição ao vivo. Coisa que não acontece nas produções gravadas do trio.
Esse espírito free jazz é parte da proposta, sem dúvida, porém essa seria uma justificativa fácil demais para a falta de uma ordenação mínima nos sons. Fica difícil acompanhar ou mesmo dançar – e é som pra pista, 4×4 boa parte do tempo – quando as programações estão sendo constantemente ajustadas na metade dos compassos.
Um “problema” dessa nova geração é uma certa aversão aso graves. Ah, como uma linha de baixo iria bem naquilo… O Epicentro do Bloquinho ainda é novo, boto fé que vai encontrar seu caminho. Pode ficar de olho.
De lá fui parar na Bota na Roda, festa que começou na Comuna e encontrou num galpão abandonado, as vésperas de ser demolido, um bom motivo para fazer uma edição especial. A quantidade de desvios, ruas fechadas e desencontros tornavam chegar no local uma vitória por si só.
O lugar (e a produção feita pela festa) era de fato a grande atração. Caindo aos pedaços, com partes ao ar livre devido a simples ausência de telhas, a atmosfera rústica dava o tom de rave dos anos 90 – é, eles estão voltando.
Entre o bar, pistas de dança, a bancada servindo caldinhos vegan de feijão e ervilha, havia também instalações, projeções e obras de arte interativas (a com quatro ventiladores montados acima de um canhão de luz estroboscópica apontando para o alto, em que era possível controlar a velocidade e direção das pás, assim como o bpm da luz, era divertida demais). O público que não parecia mto empolgado.
Saturada por festa temáticas, a noite alternativa do Rio borbulha novamente. Ótima notícia.
Cultura digital, música, urbanidades, documentários e jornalismo.
Não foi exatamente assim que começou, lá em 2003, e ainda deve mudar muito. A graça é essa.