Rolling Stone, Agosto/2007
Written by urbe, Posted in Imprensa
Matéria sobre bandas covers formadas por músicos conhecidos e resenha do Indie Rock Festival que escrevi para a Rolling Stone Brasil 12.
Com a edição fora das bancas, seguem os textos.
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Cover nation
Montar uma banda de covers é coisa pra músico iniciante. Embora essa seja a impressão geral, não é o que um fenômeno atual vem mostrando. Uma leva de grupos formados por artistas conhecidos tem se dedicado a tocar músicas dos outros. Por pura diversão ou para garantir um extra.
Em comum, além de grande parte homenagear ícones da música brasileira, quase todos os projetos começaram por acaso, montados para alguma temporada especial e acabaram se alongando.
Tendo entre seus componentes Gabriel Thomaz e Bacalhau (Autoramas), Renato Martins (Canastra, Acabou la Tequila), Nervoso e Lafayette, ex-tecladista do Roberto Carlos, o Lafayette e os Tremendões é dedicado aos sons da Jovem Guarda. Segundo Melvin (Carbona), o repertório não é por acaso. “A Jovem Guarda é o denominador comum quando você tenta procurar algum elo entre as bandas originais dos integrantes”.
Na mesma onda, o Del Rey, composto por alguns integrantes do Mombojó mais o vocalista China (ex-Sheik Tosado, atualmente em carreira solo), é ainda mais específico, dedicando-se somente os clássicos de Roberto Carlos. O tecladista Chiquinho enxerga o Del Rey como “uma grande diversão e um bom exercício musical, que nos ajuda no processo criativo dos nossos trabalhos autorais”.
O aspecto financeiro também é levado em conta. Afinal, misturar seu próprio público com o dos artistas originais pode ser lucrativo, mesmo que esse não seja o objetivo. “O Mombojó exige um pouco mais de paciência e investimento a longo prazo. O Del Rey é algo que agrada a todo tipo de gente e tem nos dado um bom suporte financeiro para conseguirmos manter isso”, continua Chiquinho.
O Recife parece mesmo terreno fértil para esses projetos. Além do Del Rey, de lá vem o Sir.Rossi (tributo de Silvério Pessoa à Reginaldo Rossi), o Ordinários (Volver cantando Renato e Seus Blue Caps) e Seu Chico (versões acústicas de Chico Buarque feitas pelo Mulamanca). Entretanto, não se trata de algo exclusivo do circuito alternativo.
Liderado pelo baixista Bi Ribeiro (Paralamas do Sucesso) e tendo Black Alien à frente, o Reggae B. A Orquestra Imperial, antes de lançar um disco autoral, dedicava-se exclusivamente a versões de músicas de baile. Alguns membros da Nação Zumbi e Mundo Livre S/A têm, desde 2000, o projeto Los Sobosos Postizos, dedicado a releituras de Jorge Ben (fase 60/70) e a clássicos do reggae, de Augustus Pablo à Horace Andy.
Na Europa, o inglês Mark Ronson, produtor de Lilly Allen e Amy Winehouse, tem feito sucesso em festivais com shows em clima de DJ set, apresentando releituras de músicas de nomes como The Smiths, Britney Spears, Maxïmo Park e Kasabian.
“É igual jogar uma pelada com os amigos. Você pega as músicas que sempre curtiu e que te inspiraram e dá a sua cara. É uma brincadeira e um desafio”, define Bi. “Cada um já se entrega tanto aos seus projetos autorais que quando se reúne na banda é simplesmente para se divertir”, continua Melvin.
O punk-brega gaúcho Wander Wildner, que tem, junto com o guitarrista Sergio Serra (Ultraje a Rigor), o projeto Sub Versões, em que interpreta canções de Sex Pistols, Iggy Pop, Ramones, filosofa.
“Minha carreira solo é marcada pelas versões, metade do repertório dos meus discos e shows sempre foram versões. Lucro sempre porque não faço por dinheiro, faço por prazer. O dinheiro é apenas uma moeda de troca.”
E viva a diversão.
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Festival Indie Rock 2007
Circo Voador
Rio de Janeiro
3 estrelas e meia
“Independentes”
A primeira noite carioca do Festival Indie Rock, com shows de Lucas Santtana & Seleção Natural, Hurtmold e Magic Numbers, levou um bom público ao Circo Voador. O preço dos ingressos (R$ 100, gerando reclamação de parte do público, mesmo entre quem pagou meia) colaborou para que a casa não ficasse lotada.
Ruim para produção do evento, melhor para o público, que teve mais conforto e tranqüilidade para assistir shows de um festival em que as bandas brasileiras foram colocadas em igualdade de condições com as estrangeiras e provaram — como se ainda fosse necessário — que não devem nada criativamente para os gringos que nos visitam.
Lucas Santtana abriu a noite com músicas do seu terceiro disco, o independente “3 sessions in a green house”. Acompanhado por metais, percussões e efeitos eletrônicos, o baiano empolgou com sua mistura de samba, dub, rock e baile funk.
Os paulistas do Hurtmold, preparando disco novo, vieram em seguida. O sexteto mostrou várias composições inéditas, todas com nomes esquisitos (“Hali vascar”, “Olvecio bica”, “Smootz da police”), algumas com influências afro. Como de costume, hipnotizaram o público com seu rock instrumental.
O Magic Numbers, motivo da ida de maior parte da platéia, encerrou a noite. Simpáticos e comunicativos, os gorduchos estavam visivelmente encantados com a recepção do público a suas músicas mais conhecidas, como “Forever lost”, “Love’s a game” e “I see you, you see me”.
O longo show, cerca de duas horas, exagerou nas baladas. No bis, uma verão de “Crazy in love”, da Beyoncé, desconcertou seu público indie. Sintomático, num mundo em que cada vez mais tudo se mistura.