Rio Fanzine, 1986-2010
Written by urbe, Posted in Urbanidades
Hoje foi publicada a última edição do Rio Fanzine. Agora, RF só no blogue do Globo On. Ainda não tive a moral de abrir o Rio Show e encarar a derradeira página.
Após 24 anos ininterruptos, a histórica coluna publicada por Carlos Albuquerque e Tom Leão no jornal o Globo (primeiro no Segundo Caderno, fundada sob supervisão de Ana Maria Bahiana, e nos últimos anos no caderno Rio Show) chega ao fim.
Foram nas páginas do RF que saíram as primeiras linhas sobre bandas que viriam a despontar, tanto no exterior quanto no Brasil. Los Hermanos, O Rappa, Planet Hemp (pra citar alguns nomes atuais) e tantos outros artistas tão importantes quanto, apenas sem o mesmo sucesso, tiveram na coluna uma janela para grande imprensa.
Quando o RF foi criado a internet era um sonho e conseguir uma revista estrangeira era algo a se comemorar. A coluna foi por muito tempo uma das principais fontes de informação sobre o que se passava abaixo do radar pelo mundo, tendo sido fundamental para sedimentação da cultura alternativa não apenas no Rio, como no resto do país.
A decisão foi tomada de comum acordo pela dupla, por diversos motivos, o principal deles sendo “os novos tempos”. Hoje a realidade é outra. Fanzines tornaram-se blogues e a informação corre solta online, obrigando os grandes veículos, como o próprio Globo, a dar espaço em seus espaços nobres para o que antes era visto como “estranho”, “esquisito” ou “nichado”. A cultura alternativa cresceu e se estabeleceu. Isso é uma grande notícia.
É um final digno, sem melancolia. Acabou porque era hora. 24 anos é tempo pra chuchu. No país em que as bandas mais irrelevantes jamais terminam, essa postura por si só é admirável. Saber a hora de parar, como já mostraram Pelé ou Michael Jordan, é também sabedoria.
a capa da antologia de 18 anos
Pessoalmente, mesmo entendendo a decisão, a recebo com tristeza, amplificada por minhas tendências nostálgicas e saudosistas. Passei boa parte da adolescência esperando o jornal pra conhecer alguma coisa nova, que não poderia ler a respeito em outro lugar.
Apesar de ter publicado textos em veículos como Folha e Placar antes, foi ali que escrevi com mais frequência, de 2002 a 2010, para ser mais preciso. Sempre assinando acompanhado do link do URBe, essas participações abriram muitas portas. Em boa parte das viagens que fiz sempre procurava trazer uma pauta para o Rio Fanzine, que aos poucos virou também minha casa. É estranho ver fechar.
Como nunca trabalhei em redação, posso falar que o Rio Fanzine foi minha escola de jornalismo. Com o Tom e Calbuque aprendi muita coisa: a prestar atenção no que ninguém está prestando; que mais vale gastar meu tempo falando de coisas legais do que criticando porcarias; que textos sobre música não precisam ser cabeçudos ou enciclopédicos; a não cair em papinhos de assessorias de imprensa; a admirar e tratar com o mesmo respeito artistas em começo de carreira ou consagrados; a não se levar a sério demais; que deixar credencial de imprensa a mostra desnecessariamente é coisa de prego.
Hoje estou fazendo a coluna Transcultura, também no Segundo Caderno, editada pela dupla. É óbvia a influência do Rio Fanzine nesse caminho e disso eu tenho muito orgulho.
Caceta Bruninho, q texto foda.
Grande crônica de um fim e um começo.
valeu nego!
Como se fazia para saber novidades musicais no início dos anos 90? As única leituras nacionais que me recordo eram a edição mensal da Bizz e o Rio Fanzine toda semana. O formato não chegou a mudar muito ao longo dos anos e acho que continua válido, mesmo com toda a enxurrada de informações online em tempo real. Afinal de contas, num oceano de informações, uma boa peneirada como a do RF é cada vez mais valiosa!
Ótimo texto!!! Me sinto honrado de tambem ter contribuido com algumas poucas matérias no RF!
RF era minha referencia. 20 anos de leitura 🙁
uma bela homenagem, Bruno! Nada mais justo! RF vai deixar saudades.
Bruno, é aquela coisa: toda despedida de algo inteligente nos deixa com um vazio. A saída de cena do RF é um rombo. Por mais que eles que o espaço tivesse perdido o impacto da novidade para blogs como esse aqui, era bom ver que eles estavam lá toda a semana.
Gostei do seu post (também sou da turma daqueles que tiveram algumas das primeiras matérias publicadas por lá…back in 86′, época de diploma obrigatório) e acho que todos devemos prestar mais homenagens à dupla leonina/calbuquiana, assim como a Bahiana e o Zé Emílio.
O próprio jornal nunca deu o reconhecimento devido pelos anos de serviço. Eles fizeram muito, mas muito mais que a obrigação. Merecem os tributos dignos de um John Peel. No mínimo um obrigado, um ‘good job’, um valeu por não deixar a gente esquecer de manter as pedras rolando para não criar limo.
Nossa, que texto, me emocionei. parabéns!
eu cresci lendo o RF… é uma pena mas as coisas mudam, e pra melhor eu acho
Quem Morre vira santo.
Descordo energicamente da importância cultural do dito RF (que de fanzine só tinha o nome). O que não rezava pela cartilha do clientelismo hypero não chegava as páginas da citado espaço. Há muitos anos que era matérias incentivando o consumo desenfreado (como gostam de tirar dinheiro de pais de universitários), fotos eneromes e textos pífios terminados com blips e blops. O RF sempre cubriu o easy listen, já mastigado. Nunca penetrou no undeground de fato.. Sempre promoveu o discurso da autoridade (ao invés de auttoridade do discurso). Para estar atento ao que acontecia, bem tinha o Fanzine BRUJERIA, do Bruno Privatti, e logo depois o Excelente Pinneaple Popsicle, da dupla Ary e tsantaks, estes sem reamente revelaram o Los Hermanos.
Talvez a cena rock do Rio seja a cara do Rio fanzine: Conservador se dizendo de Vanguarda.
Mas, veja vocês, nada dura para smepre e a hegemonia do direito divino dos “Formadores de Opnião” cai a cada dia. Haja visto o Weakleaks,,,
Vai Rio Fanzine, vai se juntar a pilha de Cds dos Virgulóides…
Quanto rancor, Zé Colméia. E se o RF tivesse citado tudo que vc acha bom, certamente alguém reclamaria de outra coisa. Diversidade, meu caro. Se vc sente falta de espaço para o que vc gosta, cria um! É assim que a roda gira.
Abs,
/URBe
por Bruno Natal
Cultura digital, música, urbanidades, documentários e jornalismo.
Não foi exatamente assim que começou, lá em 2003, e ainda deve mudar muito. A graça é essa.
falaurbe [@] gmail.com
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