sexta-feira

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setembro 2010

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Rio Fanzine, 1986-2010

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O último RF

Hoje foi publicada a última edição do Rio Fanzine. Agora, RF só no blogue do Globo On. Ainda não tive a moral de abrir o Rio Show e encarar a derradeira página.

Após 24 anos ininterruptos, a histórica coluna publicada por Carlos Albuquerque e Tom Leão no jornal o Globo (primeiro no Segundo Caderno, fundada sob supervisão de Ana Maria Bahiana, e nos últimos anos no caderno Rio Show) chega ao fim.

Foram nas páginas do RF que saíram as primeiras linhas sobre bandas que viriam a despontar, tanto no exterior quanto no Brasil. Los Hermanos, O Rappa, Planet Hemp (pra citar alguns nomes atuais) e tantos outros artistas tão importantes quanto, apenas sem o mesmo sucesso, tiveram na coluna uma janela para grande imprensa.

Quando o RF foi criado a internet era um sonho e conseguir uma revista estrangeira era algo a se comemorar. A coluna foi por muito tempo uma das principais fontes de informação sobre o que se passava abaixo do radar pelo mundo, tendo sido fundamental para sedimentação da cultura alternativa não apenas no Rio, como no resto do país.

A decisão foi tomada de comum acordo pela dupla, por diversos motivos, o principal deles sendo “os novos tempos”. Hoje a realidade é outra. Fanzines tornaram-se blogues e a informação corre solta online, obrigando os grandes veículos, como o próprio Globo, a dar espaço em seus espaços nobres para o que antes era visto como “estranho”, “esquisito” ou “nichado”. A cultura alternativa cresceu e se estabeleceu. Isso é uma grande notícia.

É um final digno, sem melancolia. Acabou porque era hora. 24 anos é tempo pra chuchu. No país em que as bandas mais irrelevantes jamais terminam, essa postura por si só é admirável. Saber a hora de parar, como já mostraram Pelé ou Michael Jordan, é também sabedoria.


a capa da antologia de 18 anos

Pessoalmente, mesmo entendendo a decisão, a recebo com tristeza, amplificada por minhas tendências nostálgicas e saudosistas. Passei boa parte da adolescência esperando o jornal pra conhecer alguma coisa nova, que não poderia ler a respeito em outro lugar.

Apesar de ter publicado textos em veículos como Folha e Placar antes, foi ali que escrevi com mais frequência, de 2002 a 2010, para ser mais preciso. Sempre assinando acompanhado do link do URBe, essas participações abriram muitas portas. Em boa parte das viagens que fiz sempre procurava trazer uma pauta para o Rio Fanzine, que aos poucos virou também minha casa. É estranho ver fechar.

Como nunca trabalhei em redação, posso falar que o Rio Fanzine foi minha escola de jornalismo. Com o Tom e Calbuque aprendi muita coisa: a prestar atenção no que ninguém está prestando; que mais vale gastar meu tempo falando de coisas legais do que criticando porcarias; que textos sobre música não precisam ser cabeçudos ou enciclopédicos; a não cair em papinhos de assessorias de imprensa; a admirar e tratar com o mesmo respeito artistas em começo de carreira ou consagrados; a não se levar a sério demais; que deixar credencial de imprensa a mostra desnecessariamente é coisa de prego.

Hoje estou fazendo a coluna Transcultura, também no Segundo Caderno, editada pela dupla. É óbvia a influência do Rio Fanzine nesse caminho e disso eu tenho muito orgulho.

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