quinta-feira

31

março 2005

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O Globo, 31/03/05

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Mauritsstadt dub.jpg

Matéria sobre o disco Mauritsstadt dub que escrevi para o Rio Fanzine (O Globo).

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Uns dubs arretados

Bruno Natal Especial para o Rio Fanzine

Diz a lenda que um disco bom raramente desce bem de primeira. Inspirado no conceito do disco “Imaginary Cuba” (releituras ambient de músicas cubanas, assinado pelo produtor Bill Laswell), “Mauritsstadt dub” (Candeeiro Records) cumpre esse ditado ao descolar o dub do reggae e aplicar a técnica em ritmos nordestinos.

Disco duplo, no primeiro, o roots, estão as gravações originais de importantes nomes da música nordestina como Lia de Itamaracá, Naná Vasconcelos, Dona Cila do Côco e Seu Bezerra. No dub, cocos, emboladas e cirandas aparecem em versões aditivadas feitas por Pupillo, Fabrica, Instituto e Fred 04, entre outros.

Mais uma técnica do que um estilo propriamente dito, o dub não precisa — nem deve — ficar restrito aos ritmos da ilha enfumaçada. A psicodelia dos efeitos, os ecos ou a força dos graves podem ser utilizados em outros gêneros musicais.

Assim, lentamente, o dub vai se infiltrando na música brasileira, transformando-se e ganhando cara própria. Dos dubs pioneiros do disco “Selvagem”, dos Paralamas do Sucesso, até hoje, a evolução foi grande. Prova disso são as produções de Bumba Beat, Digitaldubs e Echo SS, ou as incursões dos recifenses da Nação Zumbi e mundo livre S/A pela área.

Em recente entrevista ao “Vitrola Invisível”, programa on-line apresentado por Rodrigo Brandão (www.seloinstituto.com), Pupillo falou da ponte Pernambuco-Jamaica.

— Recife e Kingston, pelo menos no aspecto musical, têm situações parecidas. A luta para manter as heranças dos antepassados e ao mesmo tempo abraçar as novas oportunidades do universo da música pop. E a idéia do uso de baixa tecnologia, como ilustra a imagem da parabólica na lama.

Quem esperar dubs tradicionais, no estilo jamaicano, certamente irá se decepcionar. Algumas faixas têm mais pinta de remix do que de dub versions. De maneira geral, o disco tem muitos vocais e poucos ecos, delays ou mesmo linhas de baixo.

— No nosso caso, quisemos praticar o dubismo sobre a estrutura original, respeitando o roots do Mestre Salustiano — explica Brandão, que está presente no projeto com seu Mamelo Sound System. — O Pupillo pautou todos para fazerem dubs e cada um interpretou isso a seu modo, de acordo com seus repertórios e suas influências.

BRUNO NATAL é aquele que faz o zine URBe

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