Motorista de ônibus, o vilão da vez
Written by urbe, Posted in Urbanidades
Um trecho de “Escute do Motorista ao Menos o Indispensável”:
“O vilão da vez é o motorista de ônibus. “Sem punição, ônibus não param de matar no Rio”, lê-se na capa do jornal O Globo de 1o de maio. Dado que ônibus não dão a partida por conta própria e saem por aí atropelando pessoas a esmo, resta evidente que quem não “para de matar” são seus motoristas. Em tom apelativo, a manchete estabelece uma relação de causa e efeito cujo efeito é obscurecer o entendimento das diversas causas que contribuem para dar forma à violência no trânsito. Não se fala em traços culturais, como o individualismo predatório, a falta de educação generalizada, inclusive de ciclistas, ou o desprezo arraigado pelas leis. Não se fala em aspectos estruturais, como o trânsito cada vez mais caótico, resultado de um projeto de cidade pensado para atender ao interesse de grandes empresas, ou o pouco investimento em ciclovias, ou ainda o relacionamento promíscuo entre a Fetranspor e o poder público carioca. Nada disso: as fronteiras que definem o terreno em que deverá ser debatida a questão da violência no trânsito são demarcadas exclusivamente por duas noções, vigiar e punir.”
Siga lendo o texto do Antonio Engelke na Pittacos.
O clima entre motoristas e passageiros está cada vez pior aqui no Rio. Em Santa Teresa é guerra cotidiana. Os passageiros, cansados dos atrasos e ônibus superlotados, atacam os motoristas com raiva. Os motoristas, sem preparo e estressados com os ataques constantes, revidam e dirigem descontrolados. E as empresas o que fazem para melhorar o serviço? Nada. Não adianta dizer que fazem porque todo mundo que anda de ônibus sabe que não fazem. A questão passa pela bomba relógio que é o cotidiano opressor da metrópole embolado ao total descaso da dupla Prefeitura e Fetranspor. Todo dia é um pouco pior.
Ótimo texto e, realmente, tenho que concordar com o Manoel, que escreve acima. Santa Teresa talvez seja um dos piores lugares nessa questão. Não há qualquer respeito no trânsito. Um bairro com curvas fechadas e ruas estreitas e escorregadias não pode ter ônibus a mais de 60 km/h! É uma loucura. E na verdade, o motorista é um mero joguete das empresas de ônibus. Para a Fetranspor e o governo, a vida dos motoristas é tão insignificante como a dos passageiros. Somos tratados como carga, não gente. E pagamos caro por isso.
Excelente texto. Que a Fetranspor manda na cidade isso todo mundo já sabe e o que ninguém explica é porquê perpetuamos o modelo de transporte baseado pricipalmente em onibus. Será que é para a Petrobras ter sempre um lucro absurdo ou porque o investimento é bem menor ?
realmente, há poucas chances de nos solidarizarmos com os motoristas, e nisso o texto é bastante útil para conhecermos a realidade do outro.
é gritante o perigo de ter um motorista dirigindo e manuseando dinheiro, às vezes (quase sempre, se formos realistas), ao mesmo tempo.
como não tenho carro, uso ônibus e vejo absurdos diariamente, e não consigo entender a questão da cota dos 300 passageiros por dia que eles têm que alcançar. como se explica o fato dos motoristas passarem por fora da fila dos ônibus, deixando vários passageiros à espera do coletivo seguinte? – coisa corriqueira. parece que não estão nem aí para quem vai pagar pelo serviço.
do mesmo modo, fico imaginando que existe uma cota negativa para gratuidades, tamanho o número de idosos, estudantes e deficientes que acenam e não são recolhidos nos pontos.