quinta-feira

1

novembro 2007

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Fora da ordem

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vídeo e fotos: eumemo

Um dobradinha de respeito, é o mínimo que se pode falar quando se tem a chance de testemunhar Justice e Chemical Brothers tocando num lugar um pouco menor que o Circo Voador.

Koko

Não é todo dias que se pode ver um dos mais importantes e interessantes nomes dos anos 90 e o mais comentado nome da música eletrônica atual, tocando juntos num lugar como o Koko, casa de shows com clima de boate construída em um cinema antigo.

Mais uma vez, o evento foi parte da programação do BBC Electric Proms, que tem como meta exatamente produzir momentos musicais únicos.

Presentinhos

A ocasião era tão especial, que ambas as duplas preparam presentinhos para distribuir para o público antes da festa começar. O Chemical Brothers distribui chicletes “Do it again”, numa brincadeira com a letra da música que fala “gotta brain like bubblegum“. O Justice distribui cruzes de neon, fechadas numa embalagem promocional do single “D.A.N.C.E.”, além de jogar camisetas com o mesmo logo para platéia.

Apesar de estarem em casa, de toda a bagagem e fãs conquistados ao longo dos anos, era impossível não pensar que era o Chemical Brothers que deveria estar abrindo para o Justice (que aliás, parecem só fazer abrir shows em Londres, em dezembro é pro Klaxons, na Brixton Academy).

O tempo passou, as coisas mudaram bastante e, apesar de, muito respeitosamente, o Justice ter inserido trechos de “Hey boy, hey girl” no seu set, ao final das duas apresentações, a sensação de que alguma coisas estava fora da ordem só ficou mais forte.

Justice

Até visualmente o Justice é mais atual e atrativo. Com a cruz iluminada a sua frente, como num show de rock a dupla toca ladeada por pilhas dos clássicos amplificadores Marshall. As mistura entre rock e eletrônica que tem pipocado em toda parte há algum tempo, no Justice encontra a fusão perfeita.

Em vez de simplesmente intercalar e mixar as duas coisas, os franceses transformaram tudo em uma coisa só. As distorcões esporrentas que saem das caixas de som, somadas a visão da parede de amplificadores, podem fazer alguém jurar que há uma guitarra no palco, embora não tenha nenhuma. Não é a toa que a versão de “D.A.N.C.E.” escolhida pelo duo é o nada suave remix do MSTRKRFT.

A sonoridade suja e esporrenta da dupla incorpora ruídos eletrônicos até bem pouco tempo relacionados a bugs digitais. O barulho de um CD travado no ínicio de uma música pode virar uma batida; os estalos de uma transferência de arquivo mal feita, sequenciados; as interfências sonoras, uma linha de baixo.

É a estética digital tomando forma. O Justice é um dos melhores representates na música nessa área, mas esse processo inclui também vídeo, fotografia, celulares e internet. Estamos assistindo a formação de novos parâmetros, que definirão essa época em termos visuais, sonoros e artísticos.

Gaspard Augé e Xavier de Rosnay

No pub ao lado do Koko, antes do show começar, o simpático Gaspar Augé disse que ainda não havia uma data marcada para se apresentar no Brasil, mas fez questão de lembrar que já tocaram no país em 2005, no Rio e em São Paulo (uma novidade para mim).

Chemical Brothers

Depois do estrago causado pelo Justice, o Chemical Brothers jogou para platéia e agradou a maior parte das pessoas, que estava lá mesmo para vê-los. Acostumados a tocar em festivais e arenas, foi uma situação inusitada ver o Chemical Brothers levar toda sua parafernália para um palco tão pequeno.

O grande problema foi terem tocado após o Justice. A distância de apenas 40 minutos entre os dois sets pareceu muito maior quando os ingleses surgiram com seus raio lasers, toneladas de equipamentos, telão e sonoridade anos 90.

Abrindo com o disco mais recente, a dupla emendou “Do it again” em “Get yourself high”, “Hey boy, hey girl” e começava a esquentar quando o som pifou justamente em “Star guitar”, uma de suas melhores músicas.

Dez minutos depois, voltaram com “Golden path” e, daí pra frente, só catando no YouTube, pois já eram quase meia-noite e o horário do metrô fez a diversão acabar antes do fim.

Não é que o Chemical Brothers tenha parado no tempo (não mesmo, continuam fazendo boa música) mas passado alguns anos, sua essência remete a uma década específica — como, inevitavelmente, acontecerá também com o Justice.

É apenas o fato de que, colocando 1996 e 2007 lado a lado, o presente soa mais atraente.

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