sexta-feira

2

junho 2006

4

COMMENTS

Entrevista – Mombojó

Written by , Posted in Música

mombojo2006.jpg

A maldição do segundo disco é um fantasma conhecido de bandas que chamam atenção logo na estréia. Como fazer um disco tão bom quanto o primeiro, quando se teve toda a vida pra pensar, em um espaço curto de tempo, geralmente dois anos?

A resposta exata continua uma incógnita. Seja como for, o Mombojó conseguiu. Com folga. “Homem-espuma”, sucessor de “Nadadenovo”, é melhor que o primeiro.

As quebras de andamento estão lá, as mudanças de estilo na mesma música, as influências de jovem-guarda, rock dos anos 60, psicodelia, eletrônica e todo o resto também. A diferença é que estão mais bem equilibradas, misturadas de uma maneira que mostram o Mombojó evoluindo em direção a um caminho cada vez mais próprio, em que essas referências deixam de ser tão claras e passam a ser uma coisa só.

Eles tocam hoje (2 de junho) no Circo Voador, junto com a Nação Zumbi. Como na época do lançamento do primeiro disco, em 2004, o URBe conversou, por e-mail, com alguns integrantes da banda.

Chiquinho (teclado, sampler), Marcelo Campello (violão, escaleta) e Marcelo Machado (guitarra) falaram sobre o processo de produção de “Homem-espuma“.

——-

O que mudou de do primeiro disco (“Nadadenovo”, de 2004) para esse “Homem-espuma”? Dá pra traçar paralelos e fazer comparações?

Marcelo Campello – Dá. O primeiro disco hoje me soa um pouco como uma coletânea de referências explícitas, quase uma busca juvenil por identidade. Agora, as referências estão mais diluídas, abandonamos trabalhar “gêneros musicais”, desaguando num trabalho mais autoral dentro da perspectiva da MPB.

Chiquinho – A gravação teve bem menos participação do computador como meio de edição, o que deixou mais à mostra um Mombojó ao natural, com nossos erros e acertos.

Marcelo Machado – O que mudou foi o acesso aos equipamentos que nós tivemos. Por exemplo, enquanto no primeiro disco nós usávamos um programa de computador que simulava o som de tal equipamento, no segundo nós tivemos acesso ao equipamento original, o que foi muito bom para a sonoridade do disco.

Algumas das músicas novas já vinham aparecendo em shows há um tempo. Em algum momento vocês pararam pra compor o disco ou as músicas foram surgindo aos poucos? Como foi a elaboração do disco?

Chiquinho – Tem uma música muito antiga, “Realismo convincente”, uma das primeiras músicas que a gente fez, bem antes do “Nadadenovo”, mas que só veio ser gravada agora. O resto foram algumas músicas não tão novas e outras mais recentes, arranjadas já com a cabeça no segundo disco.

Marcelo Machado – Algumas músicas nós já tínhamos feito e tocávamos em shows como forma de testar como elas funcionariam ao vivo. Outras foram compostas em ensaio, pouco antes de gravar o disco. “Saborosa”, “Pára-quedas” e “Minar” são exemplos destas.

Marcelo Campello – Em um [dado] momento paramos para arranjar as idéias que surgiram nesse meio-tempo. Temos o costume de tocar os trechos em loop até que cada integrante sinta-se confortável com seu encaixe. As músicas chegaram bem encaminhadas ao estúdio, os timbres já direcionados e os arranjos fechados. O que fizemos então foi um lapidar sutil.

Tiveram sobras de estúdio? Qual foi o critério de escolha, tem algum “tema” condutor?

Chiquinho – A gente tinha 15 musicas e três vinhetas antes de começar a gravar.

Marcelo Machado – Não tivemos sobras de estúdio. Na verdade deixamos de gravar uma música que tínhamos no repertório por ser mais acessível gravar 14 músicas ao invés de 15.

Marcelo Campello – De estúdio não, pois o tempo foi bem coordenado. Mas de repertório sim, sempre sobram muitas músicas. Não houve um tema condutor consciente, mas dá pra traçar uma fixação na idéia de “outro ar ao acordar” e “o bem está comigo enfim”.

O primeiro disco foi muito bem recebido. Vocês sentiram alguma pressão ou ansiedade pra fazer esse segundo?

Chiquinho – Outro dia eu li uma coisa no jornal falando que tava pra sair o esperado segundo disco do Mombojó. Confesso que também fiquei ansioso.

Marcelo Machado – Não sentimos a pressão por considerarmos o segundo disco uma continuação do que começamos a fazer no primeiro, ou seja, música confortável para ouvir.

Marcelo Campello – Eu não. Não acredito em expectativas.

Dessa vez vocês gravaram em São Paulo em vez do Recife. Qual a diferença? Estar longe de casa interfere em alguma coisa?

Chiquinho – Acho que esse lance da geografia não interfere muito não… Se bem que São Paulo é bem mais frio que Recife, a gente acaba ficando mais tranqüilo com isso. Foi bacana poder trabalhar com gente nova que a gente não tinha tanto contato, são outras cabeças a nosso favor.

Marcelo Machado – Nós fizemos o segundo disco em São Paulo, mas em um clima muito família, pois toda a equipe do estúdio começou a conviver o dia a dia de uma forma muito boa. O entrosamento dentro de estúdio foi muito bom e importante para o desenrolar das gravações.

Marcelo Campello – A diferença foi ter acesso a equipamentos de ponta, dispensar simuladores e trabalhar com originais. Para mim, estar longe de casa não interferiu. Minha casa é meu corpo.

Lançado de forma independente, “Nadadenovo” foi bem, vendendo cerca de 10 mil cópias (o número é esse mesmo?). A tiragem de “Homem-espuma” não mudou muito, foram 5 mil cópias. O que mudou com a ida pra Trama?

Chiquinho – A grande diferença é que em São Paulo a gente pode contar com uma estrutura de apoio da Trama que a gente não tinha, o que acabou facilitando um pouco a vida da gente. Agora a gente tem um monte de profissionais que trabalham com a gente nas mais variadas atuações: marketing, imprensa, TV e rádio, etc.

Marcelo Campello – Esses números não sei te confirmar. Mudou que agora contamos com uma estrutura para lidar com os assuntos que antes tínhamos que fazer por nós mesmos, sem um conhecimento para tal.
Eles traçam uma estratégia de imprensa de forma que demos muitas entrevistas para veículos de todo o país num curto prazo; esse tipo de articulação nós não tínhamos. Também contaremos com uma distribuição melhor do disco.

Pelo currículo mais focado no hip hop, o nome de Ganjaman (Instituto) como produtor causou surpresa. Chegou a falar-se em Kassin e Arto Linday para produzir algumas músicas, mas acabou não acontecendo. Como foi essa escolha?

Chiquinho – Ganja sempre foi uma referencia muito boa pelas suas produções no Instituto, além de ser um musico incrível. A gente precisava de alguém que nos fosse accessível e que já estivesse familiarizado com o tipo de som que a gente queria tirar.

Marcelo Campello – Foi prática. Ganja mora em SP e mostrou-se dinâmico no estúdio, precisávamos disso pelo curto prazo que tínhamos para gravar o disco.

E como foi trabalhar com Lúcio Maia (que produziu três faixas)? É uma interação de gerações do mangue interessante.

Chiquinho – A gente gosta muita dessa idéia de não concentrar a produção de um disco nas mãos de uma única pessoa. Lucio já tinha gravado dois discos lá no estúdio da Trama e tá começando a trabalhar com outras coisas extra Nação Zumbi, o que nos alertou pra mais essa possibilidade.

Marcelo Campello – Ele tem uma visão muito boa de processar efeitos ao vivo interagindo com a interpretação dos músicos. Também acho que ele soube valorizar bem a parte mais acústica do grupo.

O som do Mombojó parece tão bem resolvido e pensado que não deixa muito espaço pra mão do produtor. Qual foi o papel deles efetivamente no disco?

Chiquinho – É sempre muito difícil resolver as coisas quando se têm sete cabeças pensando juntas. É muito importante ter uma visão de fora pra dar uma organizada na casa.
Somos todos muito novos, temos muita idéia na cabeça, mas precisamos de gente mais entendida que nos mostre os melhores caminhos pra chegar onde a gente quer. Ganjaman é muito bom nisso.

Marcelo Campello – Foi de um lapidar sutil. Se chegamos com um timbre a 80%, eles captavam a idéia e sugeriam o mais exato.

O disco está cheio de participações, tem Tom Zé (“Realismo convincente”), Fernando Catatau (“Swinga”) e Céu (“Tempo de carne e osso”). Como surgem esses convites? As músicas são feitas com isso em mente ou a idéia vem depois?

Chiquinho – Isso é o tipo da coisa que sempre aparece muito ao acaso.

Marcelo Campello – Tom Zé é artista da Trama e estava lá no dia em que gravávamos uma música durante a qual fazíamos uma citação à “Tô”, nos shows. Pela coincidência, tomamos coragem e o convidamos. E ele topou na hora.

A internet teve um papel importante na divulgação do primeiro disco do Mombojó. Coisa que, aliás, não é mais novidade pra banda nenhuma. Ao contrário do primeiro disco, “Homem-espuma” até agora não está no saite de vocês. Dessa vez vai ser diferente?

Chiquinho – Não, muito pelo contrario, queremos e temos apoio da Trama pra usar muito mais da Internet. Só não estamos disponibilizando ainda porque tivemos um problema na atualização do novo site. Mas em breve vai estar lá. Pra que tá muito na pilha, outro dia eu vi um link no Orkut que já tinha o disco todo disponível. Tá valendo também.

Marcelo Campello – Será igual. Em junho teremos esse site no ar com todos os MP3 para download grátis, registrados em copyleft, e algumas faixas abertas para remix para quem
quiser.

Deixe uma resposta

4 Comments

  1. baiano
  2. Carlos Lacerda

Deixe uma resposta