ECAD: uma outra visão
Written by urbe, Posted in Destaque, Digital
O ECAD anda sendo espancado pelas seguidas lambanças que faz, não injustamente. No entanto, não raro recebo emails de músicos reclamando da superficialidade desses ataques. O produtor Strausz escreveu a respeito disso no Facebook, reproduzo aqui por achar interessante dar outra visão do assunto.
“Em relação a esse tópico do ECAD que tanto tem se discutido, por causa da cobrança de vídeos encorporados em blogs queria levantar um ponto. Tenho tido a impressão de que as pessoas reclamam muito do órgão e do sistema de arrecadação, então gostaria lembrar como os direitos autorais começaram:
“Era muito comum, antes mesmo da invenção do fonógrafo, que compositores tivessem suas obras tocadas publicamente em casas de shows. O que acontecia era que os músicos executantes da obra recebiam, o dono da casa de espetáculos e todos os demais envolvidos lucravam, exceto pelo compositor da obra. Começa a luta pelos direitos autorais, para que os autores da obra recebessem a sua fatia do bolo.
“Hoje em dia, existe um escritório de arrecadação, sem fins lucrativos (na teoria), que fiscaliza a execução pública e repassa para as sociedades arrecadadoras, que repassam para o autor. Dessa forma aqueles que lucram com a execução pública de uma obra devem repassar uma parte desse lucro aos autores. Essa é uma explicação supérflua de como o sistema funciona.
“O que me parece ser o problema não é o sistema, mas a ganância, falta de fibra moral, falta de ética, falta de noção de alteridade (etc) das pessoas envolvidas na execução e adaptação desse sistema ao nosso contexto, que impede resultados justos.
“Resumindo, o que eu quero dizer é, parem de culpar tanto as entidades, isso é muito fácil, se querem reclamar, procurem quem são as pessoas dentro delas que estão impedindo que os resultados sejam bons e melhor do que criticar, contribuam com informações para que melhorem. E parem com essas imagens engraçadinhas, porque o que eu vejo é um bando de rebelde sem causa.
“Quem quiser me corrigir de alguma coisa, por favor o faça.”
E aê?
Não faço parte da categoria dos músicos apenas sou uma amante da boa música. Tenho um blog sem fins lucrativos e lá divulgo o que gosto de ouvir através de textos e incorporando vídeos do youtube ou vimeo. Alguns de meus leitores já declararam que já conheceram muitos bons artistas através do meu blog. Acho que estou praticando uma boa ação SEM FINS LUCRATIVOS, por isso acho que, pelo menos no que se refere a cobrança de taxa aos blogueiros, a revolta do “bando de rebelde sem causa” foi mais do que justificada!
Penso a mesma coisa que esse cidadão.
sem dúvida, me parece núcleo do problema em si não eh propriamente a existência do órgão arrecadador (embora a sua função possa ser questionada), mas sim o discurso e a ideologia q movem essas cobranças inusitadas e a postura conservadora de não se adaptar a novas modalidades de vivenciar a música q, necessariamente, geram novos modelos de negócios.
mais ainda, a partir do momento em q uma visão da cultura
sem dúvida, me parece núcleo do problema em si não eh propriamente a existência do órgão arrecadador (embora a sua função possa ser questionada), mas sim o discurso e a ideologia q movem essas cobranças inusitadas e a postura conservadora de não se adaptar a novas modalidades de vivenciar a música q, necessariamente, geram novos modelos de negócios.
mais ainda, a partir do momento em q uma visão do mundo cultural como mera reprodução de um sistema de produção anacrônico e tradicional põe a cara a tapa, não dá para reclamar de ser sacaneado. seria como aquele cara dono da bola q deseja ser respeitado simplesmente por ser …. o dono da bola, quando na verdade já existem inúmeras outras em campo. e meu tio já ensinava q só merece respeito que se dá ao respeito.
recomendo ao querido compositor richard strausz a leitura do texto: http://www.botequimdeideias.com.br/flogase/cinco-motivos-pra-realmente-se-odiar-o-ecad/ pra conhecer melhor os problemas estruturais, legais e sistêmicos do Ecad. E ainda aponto outros que nem sequer foram mencionados lá, pois são coisa pra muito depois de uma estruturação: baixa qualificação dos funcionários/fiscais, falta de regras pra estabelecimento de preços, demora em repasse de verbas, não-repasse de verbas, falta de qualidade e atualização dos arquivos, relação unilateral com autores, não considerar os novos tipos de licenciamento….
Na verdade é Diogo Strausz. 😉
O ECAD alega que paga em média uns 120 reais por ano a artistas por conta de arrecadação da internet. Transforme isso em mais de 2,6 milhões de Reais pra 21.000 pessoas envolvidas no processo produtivo e a piada ganha um verniz de seriedade.
Mas isso me lembra um pouco o que se falava de SOPA e PIPA. O problema não é o direito autoral, mas a exploração do lucro sobre ele até às últimas consequências num mundo onde isso não faz o mínimo sentido.
No século XX ganhar em cima da propriedade intelectual cedida por outros fazia sentido com o domínio do poder de divulgar e promover a produção do artista. Hoje em dia essa exploração em cima da propriedade intelectual é puro retrocesso.
Que fique claro, estou falando da exploração, não da remuneração justa em forma de reconhecimento pro artista.
Infelizmente nessas horas compreensão acaba parecendo compactuar com a situação e uma postura meio tacanha acaba sendo um meio de pressão para melhoras.
Nada justifica cobrar dos Blogs , é obvio que isso não faz sentido , mas pros autores a coisa está cada vez mais dificil , porque demonizar um orgao como o ECAD , que foi uma grande conquista . Ao contrario da ordem dos musicos que as pessoas as vezes poem no mesmo saco . O ECAD deve ser reestruturado , nao exterminado.
Até onde me lembro, e que me corrijam se estiver errado, o Ecad trabalha com um parâmetro para aferir que músicas estão sendo executadas no Brasil: rádio. E são três categorias para arrecação: rádio (que inclui tv e deve incluir youtube), show e ao vivo (que é diferente de show, é o cara que toca música alheia no barzinho, dj, o “artista da noite”, pra usar um lugar comum).
Pois bem, a pergunta: porque um parâmetro se são três formas de arrecadar? O que toca no rádio é espelhado no circuito de shows brasileiros? Nas apresentações ao vivo?
A justificativa é que o Ecad não pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo. A questão é: e arrecadar de todos os lugares ao mesmo tempo?
Porque uma casa de shows para bandas novas é obrigada a pagar taxa do Ecad se nenhum dos artistas que lá se apresentam vai receber nada? Porque uma cena inteira de música regional (tradicional ou moderna, tanto faz) precisa se manter na “clandestinidade” pra crescer sem a interferência do Ecad? Porque é tão fácil burlar os registros de composição?
O Ecad tem poder demais e presta contas de menos de como funciona. Hoje, ele é mais presente cerceando iniciativas do que distribuindo renda aos compositores.
/URBe
por Bruno Natal
Cultura digital, música, urbanidades, documentários e jornalismo.
Não foi exatamente assim que começou, lá em 2003, e ainda deve mudar muito. A graça é essa.
falaurbe [@] gmail.com
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