Do lado de lá
Written by urbe, Posted in Uncategorized
Um fuzil AK-47, pousado sobre um objeto que se assemelha a uma tampa de caixão com os dizeres “Please, do touch” (“Por favor, toque”), colocado em cima de uma bandeira dos EUA, em frente a um espelho preso na parede.
Aparentemente simples, a instalação de Andy Link, exposta na na AA-Galleries, em Londres, vem causando controvérsia.
Mais do que a questão legal de o autor não possuir porte de arma (apesar do fuzil estar bloqueado para disparos), o desconforto maior é pelo fato da exposição gratuita possibiltar a oportunidade de qualquer um manusear um AK-47 justamente numa das regiões mais violentas da cidade.
Área favorita dos artistas e próxima da zona onde acontecerão os Jogos Olímpicos de 2012, Hackney está passando por um acelerado processo de valorização. Porém, é sempre lembrado nos noticiários pelos índices criminais, onde o grande vilão não são fuzis, e sim as facas.
Numa cidade onde a possibilidade de ser abordado por um assaltante com um fuzil em plena luz do dia tende a zero, o AK-47 ficou famoso mesmo através dos noticiários de guerras no Oriente Médio. Uma realidade distante.
Para os brasileiros — e sobretudo, os cariocas — o fuzil é um ícone. É a solidificação do pânico, o símbolo de uma cidade tão apavorada quanto perdida, sem solucão em vista para seus problemas sociais mais básicos.
Olhar-se no espelho com o fuzil em punho, é desconcertante. Desperta uma sensação oposta ao suposto poder que a arma deveria trazer. Encarando o avesso da imagem, o sentimento é um só: medo.