segunda-feira

27

abril 2009

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Coachella 2009, formatura no deserto (parte 4/4)

Written by , Posted in Música, Resenhas

3o dia, domingo
Mexican Institute of Sound, Friendly Fires, Sebastien Tellier, Lykke Li, Peter, Bjorn and John, Yeah Yeah Yeahs, Late of the Pier, My Bloody Valentine, Groove Armada (DJ set), The Orb e Etienne de Crecy

Nunca deixa de surpreender enorme o descompasso entre um dos maiores festivais de música do mundo e as grande mídia local. Ligar o rádio (mesmo a por satélite que pega até no carro) é ter a certeza de que o Coachella (e a interenet por extensão) ainda é um mundo paralelo.

Tirando obviedades como The Killers, não toca nenhuma das bandas do festival. Não que isso seja surpresa, claro. O que toca é hip hop comercial, atochado de auto-tuneKanye West não está mesmo sozinho nessa.

Basta uma ida ao supermercado ou dirigir uns 20 minutos pra se ouvir Soulja Boy Tell`em e o chiclete “Kiss Me Thru The Phone” (falando nele, já viu a hilária troca de gentilezas do rapper mirim com Ice T?), a irritante “Blame it” (Jamie Foxx com participação do T-Pain) e a bizarra “I Know You Want Me (Calle Ocho)” (Pitbull, uma versão da medonha “75, Brazil Street”, do Nicola Fasano, sampleando Chicago ), ao menos duas vezes cada.

Ainda bem que o último dia trazia algumas das atrações mais esperadas por esse escriba. Era o dia de matar saudades de Londres com alguns shows vistos repetidas vezes por lá.


Mexican Institute of Sound

Pra entrar no clima caliente do deserto, nada melhor do que uma banda latina, no caso o Mexican Institute of Sound, conhecidos em casa como Instituto Mexicano del Sonido, um nome muito mais legal.

Os mexicanos presentes lotaram o segundo palco ao ar livre pra balançar ao som de cumbia digital, tirações de onda com “Macarena” e hip hop temperado com tequila.

Os gringos também entraram na dança e ao final da apresentação a platéia se transformou num grande trenzinho, daqueles dignos de festa de casamento. Energéticos no palco e uniformizados, o MIS fez bonito com as misturas a metaleira, bases eletrônicas e letras divertidas. Mais um pra lista de boas bandas do México.


Friendly Fires, “Paris”

Uma dos nomes mais elogiados em 2008, o Friendly Fires inexplicavelmente tocou num horário terrível (muito cedo) e na menor das tendas.

Mesmo torrando de calor, os ingleses justificaram a fama e fizeram a alegria dos que lotaram o local e de colegas da indústria que se espremiam na lateral do palco, como o dono da Ed Banger Busy P.

Era o tipo de apresentação que cairia melhor a noite, quando a batida disco e rock de pegada eletrônica faria mais sentido. Mesmo assim, o vocalista Ed MacFarlane dançava como se estivesse escutando um som sozinho no seu quarto, rebolando como um Mick Jagger nerd enquanto batia com o microfone na cabeça.

É um show que poderia vir pro Brasil. Difícil dar errado. Pelo que li, quem não tinha visto ao vivo gostou.


Lykke Li, “Knocked up” (KoL)

Sebasiten Tellier logo depois e, dessa vez, não agradou. Demorou um tempão pra começar, acertando o som e, quando entrou, estava tudo embolado. Vestindo uma roupa sem graça, faltou o deboche que marca seus shows. Menos pior, porque não iria dar pra ver inteiro, já que Lykke Li começava antes do fim do francês.

Novamente no palco aberto menor, a loirinha sentou a puia na galera que tostava sob o sol. Toda de preto e pulando sem parar, Lykke Li mostrou um show ainda melhor do que o usual, utilizando suas mil traquitanas e sem se preocupar em posar de gatinha.

Com o público na mão, se arriscou até a tocar balada, o que poderia ser um perigo, uma vez que sob aquele sol qualquer motivo era motivo pra debandar para alguma sombra. Que nada. O pessoal ficou onde estava até o final. A sueca surpreendeu ainda com sua versão de “Knocked up”, do Kings of Leon.

Enquanto isso, aviões passavam deixando mensagens publicitárias escritas com fumaça no céu. Embora tecnicamente executadas a perfeição, era a certeza de que não há mais limite para interrupções consumistas. Mesmo assim, com boa vontade e reenquadramento, ao menos rendeu uma boa foto.

Na caminhada para o show do Yeah Yeah Yeahs, uma passagem estratégica pelo espaço secundário Do Lab onde a água não parava de cair.

Ao som de um hip hop com batidas quase trance (não é o caso do vídeo acima), o cenário do lugar era daqueles que só se encontra nos EUA. A MC iCatching até que não era ruim não.

O palco era decorado com motivos tribais, em cima tinha uns caras fantasiados de sei lá o que, jogando água no povo, numa breguice digna da Disney.

Nessa escalação enigmática do Coachella 2009, pois não dá pra saber exatamente o que ela signfica até saírem os horários dos palcos (o que esse ano demorou muito, sendo divulgado a dias do evento), deu pra perceber desde o começo que haveria bastante repeteco.

Engraçado como isso parece algo ruim. Acostumados a ver as bandas uma vez na vida (ou então 800, quando os artistas adotam o país como segunda casa), nós aqui no Brasil estamos sempre atrás da novidade, do inédito.

Em tempos de internet esse sentimento é potencializado, tornando a perspectiva de ver uma banda pela segunda ou terceira vez em algo menor. Está longe de ser verdade.

Editada pelo criador de “Lost”, J.J. Abrams, a revista Wired desse mês (se você não leu, deveria) tem como tema o mistério. Em seu ensaio , Abrams fala de como, devido a pressa no consumo de informação, estamos perdendo o gosto por descobrir as coisas ao longo de um processo.

Isso pode se enquadrar a música de duas maneiras. No caso das novidades, poucas bandas são escutadas duas vezes. Abrams fala de como hoje se baixa discos que nunca são ouvidos, algo impensável quando se comprava os mesmos.

No caso das bandas repetidas, pode-se pensar no quanto se perde ao trocar uma audição do segundo disco daquela boa banda (ou show) que você já conhece pela pressa de ouvir algo novo, tentando se manter atualizado. Tarefa ingrata essa, se manter atualizado hoje em dia.

Nesse sentido, é legal notar que um festival que tem dez anos como o Coachella tem apenas um DVD lançado. Em vez de todo ano sair um, a organização esperar para ver quais bandas novas realmente vingaram antes de compilar os melhores momentos. O tempo é mesmo o melhor filtro.


Yeah Yeah Yeahs

Guardando energias e atrás de água, o show do Peter, Bjorn & John foi ouvido de longe. Mais um graduando, dessa vez tocando no palco principal, os suecos não decepcionaram e mantiveram a impressão de 2007, quando tocaram numa tenda: são chatos mesmo. Chega a ser inacreditável que um deles tenha produzido o disco da Lykke Li e que juntos tenham composto “Young Folks”.

No final de tarde, o YYY fez um show bom, sem empolgar o suficiente para valer uma caminhada até mais perto do palco. A boa era mesmo ficar sentado curtindo o som e dando uma espiada no telão. A essa altura, no terceiro dia, o julgamento começa a ficar nublado.


Late of the Pier, “The Enemy Are The Future”

Após jantar um taco ao som da massaroca de guitarras do My Bloody Valentine (o show todo soou como uma música só), a noite chegava perto do seu grand finale, que viria antes do final da noite propriamente dita.

As chances do Late of the Pier não emplacar eram grandes, afinal foram escalados pra tocar a noite na maior das tendas, a Sahara, quase exclusivamente dedicada a música eletrônica e derivados.

Os meninos nem ligaram. Como se estivessem tocando num pub em Londres, fizeram o mesmo show de sempre, com as danças e roupas esquisitas, a gritaria, a quebra de andamento, as camadas de sintetizador e a programações esquisítissimas.

O LOTP tem um lance bacana. É uma banda que você olha e imediatamente saca que tem um clima deles. E esse clima se espalha para o resto do que eles fazem, do som ao vestuário a postura no palco, e não o contrário. Numa época com tanta banda tentando se embalar pra parecer o que não é, isso por si só é um grande diferencial.


The Orb

Chumbado e fazendo hora pra conferir o Etienne de Crecy, passei pelo The Orb fugindo do farofento DJ set do Groove Armada (só de “Superstylin” foram umas três versões). No começo tava legal, bem dub, até descambar pra algo bem genérico entre o lounge e o house, tirando totalmente a vontade de continuar ali.


Etienne de Crecy

Botando a tampa, Etienne de Crecy e seu cubo luminoso. O electro do francês é muito bom não é de hoje e os vídeos do tal cubo no YouTube eram animadores. A verdade é que ao vivo o cenário perde um pouco do impacto, as duas dimensões das projeções ficam mais aparentes do que se pode perceber numa tela, vai entender.

Falta também um pouco de personalidade aquilo lá. Por algum motivo, tem mais cara de cenário de uma boate, onde todo DJ toca dentro daquele cubo, do que de um projeto visual feito sob encomenda para alguém.

Exausto, caminhando em direção ao carro, o primeiro assunto começou com a pergunta “e aí, voltamos ano que vem?”. Se tudo der certo, tomara que sim.

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