sexta-feira

28

agosto 2009

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The book is on the table

Written by , Posted in Música, Resenhas


Moptop/Delux

Semana passada o Moptop decidiu reviver os tempos de início da banda, quando se chamava Delux e cantava em inglês e a semelhança com o Strokes era ainda maior (acredite). Desde a mudança para sua língua nativa, além de letras muito melhores, veio também algum distanciamento da sonoridade dos nova-iorquinos.

O ápice dessa primeira fase foi a confusão no fórum de discussão do saite dos americanos, quando músicas dos brasileiros foram tidas como um vazamento do segundo disco do Strokes, o que quase levou o Delux a se mudar para os EUA. Ele resolveram ficar, cantar em português, assinaram com uma multinacional e continuam na correria por aqui.

Na primeira metade dos anos 90, depois diversas bandas de rock tentarem escrever em inglês mesmo sem vislumbrar uma carreira no exterior, a coisa se inverteu. Culminando com o cabalístico ano de 1994 — e a ascensão de Chico Science, O Rappa, Planet Hemp, Raimundos e outros — cantar em português passou a ser regra.

Em saraus de colégio ou no circuito independente, o inglês foi perdendo espaço. Reorganizando-se politica e economicamente, a mudança era também sinal da brasilidade em alta, tanto aqui quanto lá fora.

O troço tomou uma proporção tão grande que mesmo o Sepultura, das poucas bandas brasileiras que conseguiu construir uma carreira internacional cantando em inglês, olhou para o próprio país em busca de novas referências, resultando em seu principal disco, o clássico “Roots”.

Veio a internet, o acesso facilitado a mercados internacionais (acompanhada de uma certa pasteurização global em certos estilos, da eletrônica ao rock a moda) e o sucesso do Cansei de Ser Sexy. O estouro na Inglaterra, conquistando a imprensa do velho mundo, coroou um novo momento. Cantar em inglês passou novamente a ser uma possibilidade.

Hoje uma penca de bandas não tem vergonha nenhuma de não escrever em português. E diferente da geração 80, a empreitada vem dando resultado, vide os casos do Mickey Gang, Copacabana Club e Boss in Drama, para ficar em exemplos bem recentes.

Nesse contexto, o retorno do Moptop ao formato Delux poderia até ser vista como uma aposta séria. As músicas no idioma da rainha estão inclusive disponíveis no saite da banda. A questão é saber se os integrantes terão energia pra começar tudo outra vez. Entre esquizofrenia e dupla personalidade, o mais fácil é ser tudo pura curtição.

Atualmente, aliás, quem pegar uma guitarra por qualquer outro motivo que não seja diversão está indo em direção a uma quase certeira frustração. Uma banda hoje em dia é uma roda de violão amplificada, é pra tocar para os amigos, como se cada galera tivessa sua própria trilha sonora original.

Na dificuldade de se (alargar a barreira dos amigos ainda é possível). Por mais que se chegue em mais gente, o núcleo da brincadeira tende ao nível pessoal e os eventuais fãs.

Assistindo os amigos pra lá e pra cá no Cinemateque, tomando cervejas e dançando, vendo o Cabelo Veludo (o maior fã do Moptop, autor da sensacional “Azaração”) se esgoelando na primeira fila, dá a certeza de que furar esse círculo e chegar a grande massa é uma missão cada vez mais ingrata.

Fico curioso em saber como será a longo prazo. Se esse raciocínio se confirmar, as gerações vindouras não terão grandes ídolos (uma necessidade humana histórica, como nos mostra religiões milenares), nem denominadores comuns. Não morrerá outro Michael Jackson.

Pior que isso é que daqui há um tempo, talvez seja como grande parte das bandas não tivessem sequer existido (e não tem lista de 500 maiores músicas da década que dê jeito nisso). Vão sumir na poeira, ninguém vai lembrar.

Em algum ponto desse futuro, mesmo que ninguém esteja ouvindo, o refrão de uma das músicas do Moptop soará profético não apenas para própria banda: “Sem ninguém pra te esquecer”.

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  1. Anderson Segall
  2. lettuce
  3. Peter Potamus

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