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segunda-feira

26

maio 2014

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Transcultura #138: BadBadNotGood // Silicon Valley

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Texto na da semana passada da “Transcultura”, coluna que publico todas as sextas no jornal O Globo:

Bons garotos maus
Depois de acompanhar os rappers do Odd Future e o cantor Frank Ocean, o grupo canadense BadBadNotGood lança seu terceiro disco, “III”, e avança nas misturas de jazz e hip hop
por Bruno Natal

Em 2011, quando decidiu tocar versões jazz de músicas do coletivo de hip-hop de Los Angeles Odd Future, escondido com máscaras de porco e acompanhado por leões de pelúcia, o grupo de estudantes da faculdade de Música Humber College, de Toronto, não poderia imaginar que estava dando início, ali, a uma carreira. O experimento acadêmico foi reprovado pelos professores, porém apresentou ao mundo o BadBadNotGood.

Três anos depois, seu terceiro disco, o recém-lançado “III”, o primeiro por uma gravadora (Innovative Leisure), mostra que nesse curto espaço de tempo o trio evoluiu bastante. Formado por Matty Tavares (teclados), Chester Hansen (baixo ) e Alex Sowinski (bateria e samplers), o BBNG não tem mérito só por se afastar das versões — porque suas reinterpretações soam como composições inéditas — mas, sobretudo, por ter conseguido cumprir a complicada tarefa de condensar suas influências em uma sonoridade própria.

Uma banda de palco

E não são poucas as referências, sobretudo as do hip-hop. A primeira leva de gravações, chamadas “The Odd Future Sessions”, conta com interpretações para “Bastard”, “Orange juice”, “AssMilk”, “Bastard” e “Goblin”, de diferentes artistas do coletivo. Dois meses depois de lançadas, Tyler, The Creator, principal nome do Odd Future, brotou no estúdio do grupo para gravar com eles uma versão de “Seven”. A reboque da crescente fama dos californianos, o encontro inesperado entre o jazz do trio e a crueza do Odd Future fez o som se espalhar rapidamente.

O primeiro disco, “BBNG”, distribuído por meio do Bandcamp, teve como base esse repertório e afirmava com orgulho: “Ninguém acima de 21 anos fez parte deste álbum”. Em “BBNG 2”, de 2012, o BadBadNotGood abriu o espectro e incluiu versões de James Blake (“CMYK”) e Feist (via James Blake, “A limit to your love”) Kanye West (“Flashing lights”) e My Bloody Valentine (“You made me realize”). No mesmo período, serviu de banda de apoio para Frank Ocean, no Coachella.

Os dois discos ganharam versões ao vivo. Não podia ser diferente. Mais do que fazer regravações cabeçudas, o BadBadNotGood é uma banda de palco. Algumas das pérolas do repertório, como o remix de “Pretty boy swag” (Soulja Boy), “Bugg’n” (TNGHT), “Putty boy strut” (Flying Lotus), “Electric relaxation” (A Tribe Called Quest) e “Lemonade” (Gucci Mane), sequer têm gravações de estúdio lançadas.

Disco com convidados na sequência

Em “III”, seu primeiro trabalho com material 100% próprio, o BadBadNotGood acelera na contramão proposta por sua sonoridade. Com integrantes crescidos escutando produtores de hip-hop como J Dilla e Madlib sampleando discos de jazz, o trio faz o caminho inverso. Compondo jazz com influências do hip-hop, eles conseguem o mais difícil, que é fazer isso soar natural.

São poucos os shows de jazz em que se vê tanta gente pulando. Ao vivo, o baterista Alex faz as vezes de MC e se comunica o tempo inteiro com plateia, apresentando as músicas e puxando pogos. O apelo é universal. Seja em shows em São Francisco, Austin, Brighton ou Londres, a reação tem sido sempre a mesma: um público extasiado em poder ouvir versões ao vivo de hits do rap e, uma vez anestesiado, pronto para embarcar nas improvisações do trio.

Mas a consagração do trio pode acontecer mais tarde. Um aguardado disco, repleto de participações dos muitos rappers que hoje fazem parte do círculo de amizade dos canadenses, é aguardado para o segundo semestre. Mover-se para além da música instrumental pode ser a próxima fronteira e, talvez, o fator que faça o BadBadNotGood chegar a mais pessoas.

Tchequirau

Por mais que a premissa possa não ser promissora, o seriado “Silicon Valley”, sobre as agruras de uma turminha de empreendedores se metendo em grandes confusões enquanto tentam a sorte em São Francisco, berço das empresas de tecnologia, é bem divertido.