E eu achando que em 2013 tinha visto pouco show… 2014, também conhecido como dois mil e catarse, passou como um relâmpago. A lista abaixo segue sem nenhuma ordem específica, tirando o primeiro lugar, dos melhores shows assistidos esse ano. Lembrando sempre, claro, que lista de shows é ainda mais pessoal do que de discos, pois dificilmente duas pessoas viram todos os mesmos shows no ano.
Já era a terceira vez dos australianos no Rio – a segunda só na turnê desse disco. Pensa que diminui o ímpeto? Nada disso. A cada nova passagem pela cidade o Tame Impala mostra evolução técnica e de palco, o show cresce, assim como os discos. As músicas chapadas desabrocham, as letras herméticas/ambíguas/cifradas se abrem, a viagem decola. Ano que vem deve sair o terceiro disco do projeto de Kevin Parker. É certo de que vindo novamente ao Brasil, o Tame Impala se credencia para mais uma vaga nas listas de shows do ano.
Sozinho no palco, com dois teclados, laptop e controladoras, o australiano Nicholas James Murphy expande suas gravações, surpreendendo pela pressão e vocação pra pista de algumas faixas. Tão surpreendente quanto isso foi a quantidade de “curtir” e comentários que a foto postada no Instagram recebeu. Pelas beiradas, Chet Faker, que tocou num show fechado em SP, parece já ter construído um público por esses lados. Em 2015 há boas chances dele tocar por aqui, dessa vez pro seu público. Na torcida.
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Tom Petty & The Heartbreakers (The Forum, Los Angeles)
Há 20 anos vi Tom Petty ao vivo pela primeira e única vez, quando ele participou do Bridge School Benefit, em São Francisco, junto com o Pearl Jam, maior motivo da minha ida. Era um show curto, apenas algumas músicas, ficou faltando tudo. dessa vez era um show completo, e no lugar que a banda chama de casa por ter hospedado alguns das suas principais apresentações (o recém reinaugurado The Forum, em Los Angeles). O disco lançzdo ano, “Hypnotic Eye”, é bem bom, mas confesso que fui ao show mais pelo passado do que pelo presente, pelo programa mesmo. Foi uma grande surpresa ver a banda afiadíssima, desfilando hits e mais hits.
O Metronomy é daquelas bandas que é sempre legal ver o show novo. Não foi diferente nessa turnê de “Love Letters”, quarto disco da banda (ou terceiro, de certa forma, já que o primeiro passou praticamente batido por todos). Apesar de muito bom, “Love Letters” é inferior ao anterior, “English Riviera”, o que puxou o show um pouco pra baixo. Porém, com o repertório que tem e a qualidade dos músicos, até com alguma coisa jogando contra é difícil o Metronomy fazer um show ruim.
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De La Soul (Circo Voador)
Clássico é clássico e vice-versa. Show obrigatório, mesmo não sendo novidade. A noite foi uma verdadeira celebração da cultura hip hop.
Já perdi as contas de quantos shows do BBNG vi. Antes do primeiro disco, depois, em lugares pequenos, outros maiores, tocando com Frank Ocean… Fato é que toda vez é surpreendente, muito porque a banda não se aquieta, tanto por estar ainda buscando a própria identidade, quanto por estar sempre em transformação. O show de lançamento do terceiro disco cheio (fora a tonelada de EPs, participações e versões soltas por aí), “III”, no XOYO, em Londres, foi especial também para banda. Era a primeira vez tocando sozinhos na cidade e num lugar de tamanho decente, com ingressos esgotados. Uma noite mágica.
Conhecido pelas produções detalhadas (ouça o remix de “Do You…”, do Miguel), o set do Cashmere Cat não decepciona, equilibrando as facetas farofentas de agradador de pista com produções mais elaboradas. É tudo que um bom set farofa deveria ser.
Poucos cenários seriam tão perfeitos para um show show do Forrest Swords do que uma igreja. E foi exatamente nesse ambiente que se deu uma meditação profunda, em Austin, no Texas, durante o frenesi que é o SXSW. Um show difícil de acontecer por conta da dificuldade de público para encher um lugar minimamente grande, foi uma sorte ter esbarrado com o Forrest Swords ao vivo. Talvez não tenha outra chance.
“BOOM! BOOM! BOOM! BOOM!”, na cabeça, na barriga, no meio dos peitos. Uma verdadeira surra de graves, num pub xexelento, cujo equipamento dava um verdadeiro baile nos melhores clubes do Rio. É de se pensar até quando vai se perpetuar a mentalidade de que a qualidade do som não é fundamental numa casa. Um dia muda.
Quer grave? Mais grave? Então marca dois encontros com o Mala. Um dos sobreviventes da primeira leva do dubstep, conseguindo dar sequência na carreira mesmo após o cataclisma Skrillex, Mala tem patente alta, dá aula e é bigode grosso na cena bass.
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Jagwar Ma (Miranda)
Ninguém dava nada pro show dos australianos (mais um!), tanto foi que não conseguiram chegar nem perto de esgotar ingressos para o diminuto Miranda. Azar de quem não foi. Com forte influência da Madchester, o Jagwar Ma oferecer uma viagem dançante psicodélica para os que estiveram presente. Tomara que voltem pra se apresentar pra mais gente.
Na virada do ano, enquanto você se espreguiçava em praias paradisíacas, curtia um ar da montanha ou simplesmente aturava um bom caos urbano em sua cidade, além do Hernane fazer mais um gol, o mundo pop também não deixou de trabalhar. Com apenas 10 dias nesse iluminado 2014, já há diversos lançamentos para iniciar o ano com novidades. E nas próximas semanas de janeiro ainda veremos os novos do Broken Bells, Mogwai, Bruce Springsteen, Warpaint…
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Chromeo – Sem botar um disco na rua desde 2010, a dupla canadense vem fazendo uma lenta campanha de pré-lançamento de “White Women”. Logo nos primeiros dias do ano o Chromeo ivulgou “Come Alive”, com participação do Toro Y Moi, terceira música do seu quarto disco a dar as caras (as outras duas foram “Over Your Shoulder” e “Sexy Socialite”).
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Sharon Jones – Ano passado Sharon Jones cancelou o lançamento do seu sexto disco e subsequente turnê após ter sido diagnosticada. Portanto, foi com grande surpresa que no dia 05 de janeiro a cantora de soul ressurgiu, a bordo do aguardado “Give People What They Want”, via NPR.
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Gabriel Muzak – O disco, “Quero “Ver Dançar Agora”, é do ano passado, mas o clipe de “In The Sky”, dirigido por Cavi Borges, saiu nos primeiros minutos de 2014.
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SILVA – Buscando uma música num baú ainda mais antigo, SILVA lançou o clipe de “Imergir”, dirigido por Julio Secchin. A música faz parte do seu primeiro EP, de 2011, e também do seu primeiro disco, de 2013.
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Peter Gabriel – O ex-cantor do Genesis caprichou na lista de participações de “And I’ll scratch yours”, seu primeiro disco desde 2010: o saudoso Lou Reed, Arcade Fire, Feist, David Byrne e Regina Spektor são alguns deles.
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St. Vincent – A ex-integrante do Polyphonic Spree e da banda de Sufjan Stevens, parceria de David Byrne, Bon Iver e Kid Kudi, St. Vincent é um bocado cultuada. Por isso, a notícia de que seu quinto disco será lançado ainda em janeiro causou alegria em seus fãs. Mal o mês iniciou e ela soltou a segunda música do disco.
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Omulu – Continuando seus experimentos com o funk, em “Aquecimento Terror MonsterShock (2015)” o carioca Omulu cruza os caminhos com o trap. Como de costume, coisa fina.
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Lee Bannon – Lançado pela cultuada Ninja Tunes, “Altenate/Endings” é a estreia do produtor de hip hop Lee Bannon. Após diversos EPs e produções para artistas como Joey Bada$$, disco marca a viagem de Bannon pelas profundezas graves do jungle e drum n bass (renovado em 2013 por Machinedrum e Congo Natty), sem ingorar as influências de glitch, witchhouse e dubstep . Escute o disco na íntegra.
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Stephen Malkmus – Fãs do Pavement, tremei. , Stephen Malkmus foi mais um a lançar disco na primeira semana de 2014. Outra vez acompanhado pelo the Jicks, “Wig Out at Jagbags” já está na rua. O clipe de “Lariat” foi lançado ainda em 2013.
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Tchequirau
Equacione esse paradoxo: Buddhify, uma app de… meditação.
2013 foi um ano ruim para Sharon Jones. Diagnosticada com câncer, a cantora suspendeu o lançamento do seu sexto disco e cancelou a turnê mundial. Eis que mal 2014 se inicia e Sharon não apenas está recuperada, como já botou o “Give People What They Want” na roda, pra ouvir inteiro via NPR. Ano começando bem.
Por conta do meu desconhecimento da carreira da Sharon Jones além das músicasmaisóbvias, passei quase uma hora tentando encontrar o título da que filmei no show de ontem, no Casa Grande, parte do BMW Jazz Festival. Googlei vários pedaços da letra + “Sharon Jones” e nada. Desisti e upei sem nome mesmo.
A música parece mesmo inédita, até agora ninguém cravou o nome. O exercício serviu pra comprovar uma constatação óbvia durante a apresentação: conhecer previamente o repertório de Sharon Jones é indiferente para aproveitar o show. Honrando a tradição do soul, é um hit atrás do outro. Não tem música ruim.
Acompanhada pelo Dap-Kings e pelas Dap-ettes, a mulher é um foguete no palco. Um James Brown de saias (faço ideia de quantas vezes essa comparação já deve ter sido feita), tira a galera pra dançar, olha no olho do público, dança, se sacode, conta histórias e canta demais.
Tradicionalistas, os Dap-Kings restringem os instrumentos e métodos de gravação aqueles disponíveis até a metade dos anos 70. Não por acaso, a sonoridade retrô da banda é a favorita do produtor Mark Ronson, que utilizou o grupo em diversas faixas do disco “Back To Black” da Amy Winehouse.
O som tradicionalmente muito baixo do teatro Casa Grande atrapalhou, mas não chegou a comprometer. Principalmente porque logo no início a marcação dos assentos foi para o espaço e quem quisesse podia sentar nas escadas, bem próximo do palco, ouvindo os sopros e a voz da Sharon Jones praticamente sem microfonação.
No bis, uma justa homenagem a James Brown, tocando “It’s A Man’s World”. Sempre bom relembrar o Godfather. Pra quem viu os dois shows, fica a certeza de que Amy tem muito chão pela frente ainda.
Antes da cantora, o baixista Marcus Miller comandou uma formação de teclado, bateria, clarinete e sax na execução de temas de “Tutu”, disco de Miles Davis que compôs e produziu.
Tenho uma certa preguiça para virutoses inacabáveis. É como assistir um cara bom de embaixadinha, é legal mas aquilo não é jogar bola. Mesmo moendo o instrumento, os melhores momentos são quando Marcus joga pro time. Ainda que a timbragem Seinfeld do baixo e oitentistas do sintetizador ameaçassem botar tudo a perder.
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/URBe
por Bruno Natal
Cultura digital, música, urbanidades, documentários e jornalismo.
Não foi exatamente assim que começou, lá em 2003, e ainda deve mudar muito. A graça é essa.