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segunda-feira

30

setembro 2013

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A fuga do Cícero

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Transpor “Sábado” para o palco não é tarefa fácil e no sábado Cícero teve certeza disso no show de lançamento no Rio. O caminho escolhido, uma banda nas expectativas dos fãs, o levou para mais longe da MPB que estranhamente categoriza os arquivos digitais distribuídos gratuitamente.

Num Teatro Rival cheio de fãs dispostos a ouvir as músicas do novo disco, a reação ao repertório variava de acordo com a origem da música: urros e coros no primeiro disco, atenção e letras cochichadas nas do segundo. O show precisará encontrar arranjos que consigam equilibrar momentos tão distintos. Para isso, as músicas de “Sábado” precisarão se adaptar ao palco, as micro explosões que acontecem nos fones tem que se ampliar para bater no peito e ouvido de quem está de frente pro som.

Esse momento pode ser de transição e primeiro passo para o resto da carreira de Cícero. Músicas “Fuga nº 4” e seu título sugestivo, cheia de paisagens e vazios, exclamam “calma!” em toda parte. Estranho dizer que é um disco pra ouvir, não pra gerar memes.Tal qual fez o Los Hermanos em seu “Bloco do Eu Sozinho”, o compositor alienou parte dos fãs para encontrar o próprio caminho. Um deles é o do formato ao vivo.

Goste ou não disco (gostei bastante), não se deveria esperar outra coisa de um artista e isso por si só é bom.

segunda-feira

2

setembro 2013

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Transcultura #121: Cícero // Darkside

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Texto na da semana passada da “Transcultura”, coluna que publico todas as sextas no jornal O Globo:

Um outro dia para Cícero
Após o elogiado “Canções de Apartamento”, cantor enfrenta os dilemas do segundo disco com “Sábado”
por Bruno Natal

Com a pressão de meio milhão de discos baixados (segundo as contas do próprio artista), shows lotados e muitas críticas positivas recebidas por seu disco de estreia, “Canções de Apartamento”, chegou a hora de Cícero encarar os fantasmas que assombram o segundo disco de tantos artistas mesmo antes dele existir. Amanhã, sábado 31, é o lançamento oficial de “Sábado”, produzido de maneira independente e novamente liberado para baixar de graça na página cicero.net.br. CD e vinil terão distribuição da Deck na semana seguinte.

Se antes do primeiro disco um compositor tem toda vida para vasculhar suas próprias experiências e se inspirar, no segundo, além de menos tempo, há também a expectativa, principalmente após um sucesso. Cícero sentiu a cobrança desde antes de pensar no tal disco. Tendo, como disse, “que rosnar para me defender”, ele diz que lutou para conseguir fincar o pé no chão e não se deixar levar pelas muitas ofertas e mimos que vem a reboque de se estar sob os holofotes. Sua decisão foi se fechar para avaliar o que de fato queria fazer.

– Parei tudo no auge do “Canções”, não marquei mais shows, pra poder pensar nos rumos que queria pra minha vida e nos rumos que ela estava tomando com o sucesso do disco. Quis frear a coisa mesmo. Sair de evidência pra dar os passos com mais calma e menos cobrança – explica Cícero.

O resultado é um disco de quem não está mesmo preocupado em atender as tais expectativas. Solto, em vez de buscar a solução fácil de uma sequência lógica repetindo a fórmula intimista de “Canções”,”Sábado” traz arranjos mais sofisticados e ousados.

Por ser menos cru que o anterior perdeu um pouco do calor e da proximidade, ainda que haja elementos e timbres o suficiente para remeter e sugerir uma continuidade. No entanto, a mão direita do violão formandoloops analógicos dedilhados, sintetizadores, oitentismos 8-bit, bumbos eletrônicos fazendo a transição entre faixas, as explosões substituídas por implosões auditivas, tudo envolto em camadas de efeitos e ruídos, levam “Sábado” por caminhos bem diferentes.São muitas mudanças ao mesmo tempo sutis, nuances por vezes escondidas numa mixagem melhor explorada de fones de ouvido.

– “Sábado” não tem clímax, refrões, pratos de ataque, agudos, médios. É um disco de 29 minutos que fiz pensando naquela momento de final de tarde, entre 17h30 e 18h, que não é nem barro nem tijolo, nem alegre nem triste, nem começo nem fim de nada. É um estado de espírito que me acompanha desde sempre.

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No encarte as letras surgem como poesia concreta

As letras estão menos literais confessionais e mais abertas. Como haikais, as músicas tem duas, três estrofes – há uma com apenas uma. Até pelas divisões menos usuais, não há tantos versos que se destaquem numa primeira audição. São letras pra descer devagar, frases que serão encontradas por momentos, não o contrário.

– Esse disco é menos afável que o “Canções de Apartamento”. Tem menos frases de efeito, a poesia, é mais rarefeita. É um posicionamento mesmo, estou querendo ir sair da coisa do meme. Vamos ver se comunica, né.

Por meme, Cícero se refere a viralidade de seu primeiro disco que nem ele mesmo acredita ser sinal concreto de alguma coisa. Um sucesso na rede, mesmo com números expressivos de downloads, não se traduz necessariamente em reconhecimento no mundo físico. Os número na rede são difusos, agregam pessoas de diversos lugares, não são uma medida que garanta, por exemplo, turnês lotadas por diversas cidades (porque, afinal, se o disco é de graça, os shows tem que pagar a conta).

– Entrei num espiral de glamur em cima do meu nome, de interesse, de euforia, que eu mesmo não tenho. Resolvi dar uma esfriada no lance pra pular logo a fase do “oba oba” e entrar na fase de “sou um artista fazendo o meu” e criar uma relação de amizade com o tempo. Não quero que os anos sejam ruins pra mim, quero que sejam bons. E o frenesi em cima da novidade é um falso amigo. Um falso carinho.

Por não ser um disco tão dado e mais elaborado, exigindo um pouco mais do ouvinte, por isso é possível que aliene parte dos fãs iniciais, o que não preocupa Cícero.

– Não tenho medo de perder público. Ainda estou formando o meu e esse processo vai levar mais alguns discos, mais alguns anos, mais algumas escolhas. A primeira impressão que tiveram de mim foi bem forte, me lançou com força no páreo, mas eu acho precipitado falar de “meu público”. Isso é construção de uma vida.

Como no primeiro disco, Cícero compôs e tocou todos instrumentos em “Sábado”, gravado na casa de amigos e produzido pelo próprio Cícero, Bruno Schulz e, dessa vez, Bruno Giorgi (filho de Lenine que recentemente ganhou um Grammy pelo disco do pai e que também fez a mixagem). As exceções ficam para as teclas de Schulz e as participações especiais bastante discretas de Marcelo Camelo tocando bateria, baixo e guitarra em duas músicas; Silva, contribuindo com seu piano em uma; os vocais de Mahmundi e Luiza Mayall em outra, e Uirá Bueno, do Canastr, na bateria e percussão em mais duas.

Entre referências tão anacrônicas como Villa lobos, Metronomy, Cartola e Pixies, que disse estar ouvindo na época das gravações, ele Cícero prefere destacar as influências não-musicais. O “azul-final-de-tarde”, por exemplo, foi a cor que o inspirou na hora de fazer os arranjos e letras. Seu canto também pode dizer muito de suas intenções.

— Meu canto é minha opinião sobre canto. Não sou um cantor, mas gosto de ouvir gente que canta assim, pra dentro, cuidando das intenções mais do que da afinação, da fragilidade mais do que da força. Isso me emociona mais, me puxa mais pro coração e menos pra razão — explica ele. — Tirar as explosões dos arranjos foi mais uma forma que achei de tentar falar com as pessoas de uma forma íntima, sem convenções, sem jogar pra cima. Falar francamente de coisas que sinto e penso, sem empostação, sem firulas, é ser mais real ainda. “Canções” é mais alegórico, mais fantasioso em cima da vida. “Sábado” é um disco bem mais áspero. Quis cantar assim, áspero.

Sem fazer apostas, Cícero deixa para o público a tarefa de determinar qual música pode ter força para impulsionar a carreira de “Sábado”.

– Logo nas primeiras semanas do disco online já dá pra sacar os hits pelas postagens da galera. “Porta, Retrato” (porque já conhecem dos shows), “Ela e a Lata” (pela batida pop) e “Por Botafogo” (por ser a que mais lembra o” Canções”) são candidatas. Mas a minha favorita é a esquisitíssima “Fuga nº4” – ri.

O novo disco faz parte de um diálogo da vida urbana com questões pessoais. Para fugir dos fantasmas do segundo disco, Cícero partiu do mesmo lugar, dessa vez porém chegou mais longe.

– Com “Sábado” quis voltar para onde saí com o “Canções de apartamento”: do tédio da cidade em busca de algum conforto existencial.

Tchequirau

Projeto do menino prodígio Nicolas Jaar e Dave Harrington, há alguns meses o Darkside remixou “Random Access Memories”, do Daft Punk, “Daftside”. Essa semana eles liberaram os primeiros 11 minutos do seu primeiro disco próprio, uma chapação de downtempo funkeado e psicodélico. Vem coisa muito boa por aí.

quinta-feira

22

agosto 2013

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