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quarta-feira

4

fevereiro 2004

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"Dez anos, não é brincadeira não"

Written by , Posted in Música, Resenhas


foto: Jocasan

Depois de quase três anos afastados dos palcos, o Planet Hemp encerrou em grande estilo a décima edição do Humaitá pra Peixe com um show de mais de 1h30, no maior clima de ensaio entre amigos. Antes deles, tocaram ainda China, Jimi James e Bangalafumenga.

Repetindo a excelente apresentação do Sergio Porto — na verdade um pouco mais curta — China segurou a onda no palco do Canecão. Para ele, o primeiro show foi melhor, “senti a galera mais perto, mais interessada”, disse. Besteira. Apesar de boa parte do público estar lá mesmo para ver o Planet, quem chegou cedo estava a fim de assistir e curtiu bastante

O pernambucano se confirmou como a grande revelação do HPP esse ano. Seu som climático, equilibrando bem peso e melodia, está alguns passos a frente do que está sendo feito por aí e só encontra paralelo nos parceiros do Mombojó. Não é coincidência, China assina cinco músicas do disco de estréia dos “Mombojovens”, como a banda foi apelidada em Recife, todos fãs do Sheik Tosado. Dois deles, o baixista Pirulito e o tecladista Chiquinho, tocaram no primeiro show do China no festival.

Abre parênteses

(A molecada do Mombojó — o mais velho tem 21 — mal deu as caras e já chama a atenção. Foram matéria na Folha, saem na próxima Trip e devem ser a próxima aposta da OutraCoisa, a revista do Lobão, que lançou o disco solo do BNegão. Além disso, Mombojó e China tem uma terceira banda juntos, a Del Rey, só de covers do Roberto Carlos. Em março deve ter tudo isso aqui no Rio.)

Fecha parênteses

Tarde pra caramba, mais de 1h da manhã, o Planet Hemp finalmente pisou no palco. Ao gosto do freguês, abriram pedindo pro público levantar os isqueiros e cantar “Bonde dos maconheiros”, emendando direto em “Quem tem seda”. Daí em diante foram só clássicos: “Legalize já”, “Stab”, “Ex-quadrilha da fumaça”, “Mantenha o respeito”, “Queimando tudo”, “Zerovinteum” e “A culpa é de quem”, anunciada por B Negão como “Fu Manchu style”. Até a polêmica (e qual dessas não é?) “Não compre, plante”, depois de nove anos fora do repertório da banda, apareceu. Foi tanto tempo sem tocar essa música que os MCs precisaram de uma cola.

Comemorando uma década de banda, Marcelo D2 estava feliz com a reunião do grupo. Ele não parava de elogiar os companheiros, dedicou praticamente todas as músicas do show aos “velhos tempos” e não cansou de repetir que “dez anos não é brincadeira”. Aproveitou e agradeceu o “padrinho” Bruno Levinson pela batalha à frente do festival, de onde o Planet saiu para conquistar o Brasil.

O hardcore, muito presente nos primeiros discos da banda, também teve vez em “Raprocknrollpsicodeliahardcoreragga” e outras. Nessa hora deu pra notar que os dez anos de estrada cobram pedágio; faltou fôlego tanto para Marcelo D2 quanto para B Negão. Eles até brincaram com a situação, rindo sem graça, principalmente depois que D2 esqueceu a letra de “Bala perdida”.

Em homeangem a Chico Science, eles tocaram “Samba Makossa”, do disco “Da lama ao caos” e regravada pelo Planet no primeiro trabalho lançado pela Nação Zumbi após a morte do seu líder. D2 chamou o China, que assistia tudo da lateral do palco, para participar.

Antes de “Dig dig dig”, no final do show, que acabou com uma jam porrada, D2 resolveu falar. Aparentemente fazendo alusão aos seus contantes problemas com a justiça, disse que estava “em guerra, porque quando o lado de lá começa a latir você tem que morder”. Quando um fã pediu para ele tocar uma música da carreira solo, Marcelo respondeu: “Não vim aqui pra falar de rap nem de samba, eu vim aqui pra falar de maconha”. Mal terminou de falar a frase, se deu conta da bobagem e continuou, “Ih, não podia falar isso! Retiro o que eu disse. Será que isso ajuda no tribunal?”.

Vai saber, tomara que sim. O lugar do Planet é subvertendo a ordem em cima do palco, não atrás das grades.