Diretor do clipe, Daniel Ferro falou um pouco da experiência de gravar com Elza Soares:
“Foi uma experiência surreal. A música é um soco no estômago. A responsabilidade que eu senti ao montar esse clipe, que ao mesmo tempo revisita um passado e celebra o presente de Elza, mexeu comigo de uma forma intensa. Fiquei com a adrenalina alta, sem dormir, um nó na garganta que ficou lá mesmo depois de terminar e receber os parabéns de Pitty e Elza. É, sem dúvidas, o meu clipe mais poderoso”
Os registros são a parte mais visível, até aqui, de um projeto muito maior. No início do ano fui convidado pelo Multishow para reformular o formato do prêmio e, como a missão era grande, formei um grupo para realizarmos a tarefa, convidando o Alexandre Matias (co-fundador e um dos meus sócios n’OEsquema, além de meu guru digital), Pedro Garcia (um dos meus sócios no Queremos! e meu dupla favorito de criação) e o Dudu Fraga (sócio da agência de pesquisas Talk e meu consultor de estratégias profissionais).
Foram meses de muitas reuniões e ideias e ficamos bastante satisfeitos com os conceitos que conseguimos desenvolver com a equipe do Multishow. Categorias atualizadas, formato de juri especializado inédito e outras surpresas (não sei o quanto posso falar até aqui, mas muita gente já deve ter recebido um convite para votar). As mudança são drásticas, mas não serão implementadas de maneira radical. Esse é o primeiro ano, cozinhando em fogo baixo, nos próximos tem mais novidades.
Abaixo está o depoimento do Cícero, na página Música Importa já dá pra assistir outros vídeos da Pitty, Martin e Felipe Cordeiro. A produção foi da Marcela Sá, fotografia do Tiago Lins (complementada pelo Rodrigo Braga em São Paulo e Paulo Blasifera no Rio) e edição do Bruno Vouzella. Logo aparecem os outros do Arnaldo Antunes, Erasmo Carlos, O Terno, Thiaguinho, Ivete, Paula Fernandes, Nando Reis, Gaby Amarantos e vários outros.
Citando o Arnaldo Branco, a Pitty escreveu isso aqui hoje no FB, uma análise sobre arte enquanto trabalho. Fala, Pitty:
“‘As pessoas gostam de falar mal das bandas que cedem às pressões do mercado, mas fazem a mesma coisa todo dia de 9 às 6.’
“Arnaldo Branco, em seu novo livro, sintetizando um pensamento que volta e meia me ocorre.
“Mas aí me ocorreu um outro: por quê sentimos isso em relação a arte e não a um emprego, entre aspas, comum? Talvez porque intuimos (ou nos condicionamos, ou aprendemos) que a arte é sagrada, e partindo desse suposto caráter “divino” não pode ser maculada ou influenciada por quaisquer questões demasiado terrenas tais como ter que pagar o aluguel no final do mês. E talvez não sintamos isso em relação a empregos “comuns” por uma culpinha cristã: se você exerce uma atividade que não gosta e é extenuante, sua compensação, se não emocional e intelectual, deve ser financeira. Se escolheu fazer o que gosta- privilégio de desaforados pois “estamos aqui para sofrer”, nada mais justo que seja punido por esta insolência com a miséria.
“Romantizamos os artistas falidos, os que sofreram, passaram perrengues em nome da arte porque aos nossos olhos tornam-se mártires: penaram e pagaram com sua própria existência para que outros artistas, num futuro mais brilhante pudessem exercer o ofício dignamente. É um quase se “jesusificar”; eu me sacrifico para que um dia possa ser melhor. É como uma promessa de pureza, pueril e idealista; idealizada e nobre, porquanto bela.
“Gosta-se de heróis, precisa-se deles.. mas confesso maior simpatia pelo anti-herói, aquele que não é necessariamente o antônimo, mas que apenas se permite ser humano e fazer suas cagadinhas pelo meio do caminho. Que se desvela do tal suposto caráter divino, que abdica de ser santo e mártir e assume que pagar as contas é algo bem legal. E mais ainda, que é mágico: constrói com maestria a ilusão de que está jogando o jogo e dá a volta em todos os mecanismos, e os usa a seu favor.
“No final, o mais legal e o mais difícil é aquele que consegue abarcar o melhor dos dois mundos; o divino e o terreno. Que consegue manter sua arte imaculada no sentido de liberdade criativa, mas que não se sente culpado de ser remunerado por ela. E que entende que certas concessões se justificam lá na frente, que tudo tem peso e medida, e que recuar no campo de batalha é só estratégia para se posicionar melhor e mais forte.
“Voltando a Arnaldo: talvez por conveniência, talvez por covardia, ou quem sabe por justiça; a sentença me vestiu como o mais bem cortado terno.”
Pra refletir.
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/URBe
por Bruno Natal
Cultura digital, música, urbanidades, documentários e jornalismo.
Não foi exatamente assim que começou, lá em 2003, e ainda deve mudar muito. A graça é essa.