Pitty e a encruzilhada entre arte e trabalho
Written by urbe, Posted in Destaque, Música
Citando o Arnaldo Branco, a Pitty escreveu isso aqui hoje no FB, uma análise sobre arte enquanto trabalho. Fala, Pitty:
“‘As pessoas gostam de falar mal das bandas que cedem às pressões do mercado, mas fazem a mesma coisa todo dia de 9 às 6.’
“Arnaldo Branco, em seu novo livro, sintetizando um pensamento que volta e meia me ocorre.
“Mas aí me ocorreu um outro: por quê sentimos isso em relação a arte e não a um emprego, entre aspas, comum? Talvez porque intuimos (ou nos condicionamos, ou aprendemos) que a arte é sagrada, e partindo desse suposto caráter “divino” não pode ser maculada ou influenciada por quaisquer questões demasiado terrenas tais como ter que pagar o aluguel no final do mês. E talvez não sintamos isso em relação a empregos “comuns” por uma culpinha cristã: se você exerce uma atividade que não gosta e é extenuante, sua compensação, se não emocional e intelectual, deve ser financeira. Se escolheu fazer o que gosta- privilégio de desaforados pois “estamos aqui para sofrer”, nada mais justo que seja punido por esta insolência com a miséria.
“Romantizamos os artistas falidos, os que sofreram, passaram perrengues em nome da arte porque aos nossos olhos tornam-se mártires: penaram e pagaram com sua própria existência para que outros artistas, num futuro mais brilhante pudessem exercer o ofício dignamente. É um quase se “jesusificar”; eu me sacrifico para que um dia possa ser melhor. É como uma promessa de pureza, pueril e idealista; idealizada e nobre, porquanto bela.
“Gosta-se de heróis, precisa-se deles.. mas confesso maior simpatia pelo anti-herói, aquele que não é necessariamente o antônimo, mas que apenas se permite ser humano e fazer suas cagadinhas pelo meio do caminho. Que se desvela do tal suposto caráter divino, que abdica de ser santo e mártir e assume que pagar as contas é algo bem legal. E mais ainda, que é mágico: constrói com maestria a ilusão de que está jogando o jogo e dá a volta em todos os mecanismos, e os usa a seu favor.
“No final, o mais legal e o mais difícil é aquele que consegue abarcar o melhor dos dois mundos; o divino e o terreno. Que consegue manter sua arte imaculada no sentido de liberdade criativa, mas que não se sente culpado de ser remunerado por ela. E que entende que certas concessões se justificam lá na frente, que tudo tem peso e medida, e que recuar no campo de batalha é só estratégia para se posicionar melhor e mais forte.
“Voltando a Arnaldo: talvez por conveniência, talvez por covardia, ou quem sabe por justiça; a sentença me vestiu como o mais bem cortado terno.”
Pra refletir.
É comovente essa eterna busca da Pitty por relevância artística. Como tava difícil com a música – por mais que faça citações, reivindique autenticidade e tente posar de outsider, nunca conseguiu deixar de ser óbvia -, tenta a mão publicando uma pensata pretensiosa, constrangedora em seu maldisfarçado propósito de autojustificação. Se ela conseguisse lançar um disco bom, aposto que as pessoas saberiam reconhecer, e, assim, talvez ela não precisasse ficar elaborando explicações rocambolescas pro fato de ser quase impossível encontrar alguém com mais de 16 anos em seus shows.
O público da Pitty hoje em dia quase todo tem 18 anos no mínimo.
É comovente essa eterna busca da Pitty por relevância artística. Como tava difícil com a música – por mais que faça citações, reivindique autenticidade e tente posar de outsider, nunca conseguiu deixar de ser óbvia -, tenta a mão publicando uma pensata pretensiosa, constrangedora em seu maldisfarçado propósito de autojustificação. Se ela conseguisse lançar um disco bom, aposto que as pessoas saberiam reconhecer, e, assim, talvez ela não precisasse ficar elaborando explicações rocambolescas pro fato de ser quase impossível encontrar alguém com mais de 16 anos em seus shows.
“Ao ver uma galinha e uma águia, você vai ver mais que uma galinha e uma águia …”