Os critérios de escolha dos bons discos de 2014 continuam praticamente idênticos ao ano passado. Outra vez, acho que faltou inspiração nas bandas brasileiras, está tudo muito igual – tanto entre si quanto nas próprias bandas se repetindo. Isso acaba afetando mais o volume do que a qualidade, resultando em poucos bons disco.
Discorda? Problema nenhum. Em vez de pedradas e xingamentos, deixe dicas nos comentários.
A molecada do O Terno tem a seu favor justamente ser uma molecada. Sem muito compromisso ou pretensão, fizeram um disco que critica justamente a cena em que estão inseridos, entortando os clichês pra gerar algo novo. Isso é o mais interessante: não é exatamente um disco que aponte algo novo, porém ao simplesmente dar um passo pro lado e ousar ir numa direção um pouco (mas nem tão) diferente das bandas da sua geração, O Terno conseguiu se destacar. Vamos ver o que encontram nesse caminho mais adiante.
E eu achando que em 2013 tinha visto pouco show… 2014, também conhecido como dois mil e catarse, passou como um relâmpago. A lista abaixo segue sem nenhuma ordem específica, tirando o primeiro lugar, dos melhores shows assistidos esse ano. Lembrando sempre, claro, que lista de shows é ainda mais pessoal do que de discos, pois dificilmente duas pessoas viram todos os mesmos shows no ano.
Já era a terceira vez dos australianos no Rio – a segunda só na turnê desse disco. Pensa que diminui o ímpeto? Nada disso. A cada nova passagem pela cidade o Tame Impala mostra evolução técnica e de palco, o show cresce, assim como os discos. As músicas chapadas desabrocham, as letras herméticas/ambíguas/cifradas se abrem, a viagem decola. Ano que vem deve sair o terceiro disco do projeto de Kevin Parker. É certo de que vindo novamente ao Brasil, o Tame Impala se credencia para mais uma vaga nas listas de shows do ano.
Sozinho no palco, com dois teclados, laptop e controladoras, o australiano Nicholas James Murphy expande suas gravações, surpreendendo pela pressão e vocação pra pista de algumas faixas. Tão surpreendente quanto isso foi a quantidade de “curtir” e comentários que a foto postada no Instagram recebeu. Pelas beiradas, Chet Faker, que tocou num show fechado em SP, parece já ter construído um público por esses lados. Em 2015 há boas chances dele tocar por aqui, dessa vez pro seu público. Na torcida.
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Tom Petty & The Heartbreakers (The Forum, Los Angeles)
Há 20 anos vi Tom Petty ao vivo pela primeira e única vez, quando ele participou do Bridge School Benefit, em São Francisco, junto com o Pearl Jam, maior motivo da minha ida. Era um show curto, apenas algumas músicas, ficou faltando tudo. dessa vez era um show completo, e no lugar que a banda chama de casa por ter hospedado alguns das suas principais apresentações (o recém reinaugurado The Forum, em Los Angeles). O disco lançzdo ano, “Hypnotic Eye”, é bem bom, mas confesso que fui ao show mais pelo passado do que pelo presente, pelo programa mesmo. Foi uma grande surpresa ver a banda afiadíssima, desfilando hits e mais hits.
O Metronomy é daquelas bandas que é sempre legal ver o show novo. Não foi diferente nessa turnê de “Love Letters”, quarto disco da banda (ou terceiro, de certa forma, já que o primeiro passou praticamente batido por todos). Apesar de muito bom, “Love Letters” é inferior ao anterior, “English Riviera”, o que puxou o show um pouco pra baixo. Porém, com o repertório que tem e a qualidade dos músicos, até com alguma coisa jogando contra é difícil o Metronomy fazer um show ruim.
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De La Soul (Circo Voador)
Clássico é clássico e vice-versa. Show obrigatório, mesmo não sendo novidade. A noite foi uma verdadeira celebração da cultura hip hop.
Já perdi as contas de quantos shows do BBNG vi. Antes do primeiro disco, depois, em lugares pequenos, outros maiores, tocando com Frank Ocean… Fato é que toda vez é surpreendente, muito porque a banda não se aquieta, tanto por estar ainda buscando a própria identidade, quanto por estar sempre em transformação. O show de lançamento do terceiro disco cheio (fora a tonelada de EPs, participações e versões soltas por aí), “III”, no XOYO, em Londres, foi especial também para banda. Era a primeira vez tocando sozinhos na cidade e num lugar de tamanho decente, com ingressos esgotados. Uma noite mágica.
Conhecido pelas produções detalhadas (ouça o remix de “Do You…”, do Miguel), o set do Cashmere Cat não decepciona, equilibrando as facetas farofentas de agradador de pista com produções mais elaboradas. É tudo que um bom set farofa deveria ser.
Poucos cenários seriam tão perfeitos para um show show do Forrest Swords do que uma igreja. E foi exatamente nesse ambiente que se deu uma meditação profunda, em Austin, no Texas, durante o frenesi que é o SXSW. Um show difícil de acontecer por conta da dificuldade de público para encher um lugar minimamente grande, foi uma sorte ter esbarrado com o Forrest Swords ao vivo. Talvez não tenha outra chance.
“BOOM! BOOM! BOOM! BOOM!”, na cabeça, na barriga, no meio dos peitos. Uma verdadeira surra de graves, num pub xexelento, cujo equipamento dava um verdadeiro baile nos melhores clubes do Rio. É de se pensar até quando vai se perpetuar a mentalidade de que a qualidade do som não é fundamental numa casa. Um dia muda.
Quer grave? Mais grave? Então marca dois encontros com o Mala. Um dos sobreviventes da primeira leva do dubstep, conseguindo dar sequência na carreira mesmo após o cataclisma Skrillex, Mala tem patente alta, dá aula e é bigode grosso na cena bass.
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Jagwar Ma (Miranda)
Ninguém dava nada pro show dos australianos (mais um!), tanto foi que não conseguiram chegar nem perto de esgotar ingressos para o diminuto Miranda. Azar de quem não foi. Com forte influência da Madchester, o Jagwar Ma oferecer uma viagem dançante psicodélica para os que estiveram presente. Tomara que voltem pra se apresentar pra mais gente.
Antes de qualquer coisa, devo começar dizendo que desisti da corrida. Simplesmente não dá mais tempo MESMO de acompanhar todos os lançamentos, nem por trabalho (não que já não venha sendo assim nos últimos anos).
Com o Queremos! e WeDemand tomando cada vez mais tempo, ironicamente sobra menos para ouvir música da maneira que ouvia (e quem tem esse tempo?). E ainda tem um molecote, que é prioridade no pouco tempo que resta, e ele gosta mesmo é de Yo Gabba Gabba.
Não ouvi o novo do Arcade Fire (mas vou ouvir), não escutei ainda o Run The Jewels (mas vou escutar – e quem sabe esses discos não pintam no Chegando Atrasado). E quer saber? Está ótimo assim.
Nada impede que volte a querer ouvir tudo na hora que sai, mas por enquanto tá bom assim. É muito legal ver as listas de melhores do ano de outras pessoas e descobrir discos que passaram batido. É bom ser leitor um pouco.
Exatamente por isso, como em 2012, a palavra “melhores” foi abolida do título das listas. O que você encontra aqui são os bons discos que escutei em 2013, alguns muitas vezes, outras apenas uma. A lista não está em nenhuma ordem específica, tirando o primeiro lugar.
Se você ouviu algo muito bom e não viu aqui, deixe suas dicas nos comentários.
O Mount Kimbie já havia feito uma curva importante, quando se embrenhou pelo post-dubstep. Provando que estão atentos a estrada, a dupla mais uma vez fugiu dos atalhos, chegou mais pro meio da pista adicionando percurssões mais presentes evocais (próprios e do King Krule) as suas camadas espaciais e conseguiram, novamente, apontar novos caminhos (não é coincidência que tenham feito parte da banda do prodígio James Blake no início). É música de pista pra quem quer dançar, dançando.
Como já disse algumas vezes, não gosto muito de fazer listas muito por não acreditar em hieraquizar música, principalmente entre sons distintos. No fim acaba prevalecendo o gosto pessoal e isso não me parece exatamente um critério objetivo. Prefiro falar em bons discos.
Dito isso e falando agora especificamente da música brasileira, que ano seco, hein, Brasil? Essa lista acabou nem dando trabalho pra fazer porque foram muito poucas opções (e alguma delas foram lançadas digitalmente aqui no URBe).
E mesmo entre esses, nada de arrebatador, nenhum disco para entrar numa lista de melhores da década daqui uns anos. Se tivesse tido acesso a essa lista no início de 2013 teria tido um ano desanimado sabendo que isso é tudo que se ouviria. Podia ter tido mais, bem mais.
Ouvi pouca coisa? Ouvi os discos errados? Pode ser que sim. Sendo esse o caso, ficarei agradecido se você puder deixar suas dicas nos comentários e me ajude a mudar de ideia. Que 2014 venha mais forte!
Esse foi um azarão e ainda não entendi como ele veio parar no topo da lista. Um disco que cresce com repetidas audições, bem produzido, gravado e tocado, talvez o grande diferencial para boa parte do que circula por aí seja a sinceridade. Quando foi lançado cheguei a comentar que o disco tinha algo que não sabia dizer o que. Continuo sem saber e continuo ouvindo.
Ironicamente, trabalhando cada vez mais de perto com show por conta do Queremos!, esse deve ter sido o ano que menos vi bandas ao vivo. Ainda assim, 2013 rendeu alguns momentos inesquecíveis. Em nenhuma ordem específica, fora o primeiro lugar.
O show de 2013: James Blake (Hollywood Cemetery, Los Angeles)
Desde que vi o show pela primeira vez, no Circo Voador via Queremos!, fiquei com vontade de ver de novo. Demorou e valeu a pena, pois dessa vez ele já tinha um segundo disco. Como tantos outros artistas contemporâneos, o sucesso do disco de estreia do James Blake poderia ter parado por ali mesmo. Em vez de se repetir, ele foi além e, mais importante, conseguiu avançar sua obra. O show também mudou um pouco. Com um cenário de luzes, além das passagens introspectivas e dubsteps tímidos, há agora também uma parte mais pista. Soa mal, eu sei, mas é bem bom. Tudo isso num cemitério cinematográfico (quase literalmente, pois é utilizado como locação e abriga túmulos de diversos figurões de Hollywood), com a noite de pano de fundo. Ainda vi um terceiro show dele nessa mesma viagem, no Terminal 5, em NY, só que ceguei atrasado e perdi metade. Mesmo que tivesse conseguido ver inteiro, o de LA foi especial.
Passar um mês em LA não é nada mal. Porém, perder o Tame Impala no Circo Voador estava sendo doloroso. Por sorte, do Brasil os australianos foram para a Califórnia a tempo de conseguir vê-los numa das casas de show mais clássicas da cidade, o The Greek Theater. Cercado de árvores e com as músicas do segundo disco o show melhorou ainda mais e o telão – um osciloscópio – dá o toque psicodélico final. Fica faltando só um pouco de pressão e volume. Dá muita vontade de ouvir mais alto.
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Atoms for Peace (Hollywood Bowl, Los Angeles)
Não é a toa que o Hollywood Bowl é um um palco cultuado. No alto de Los Angeles, no meio das montanhas, a arena ao ar livre e cercada de árvores é um espetáculo por si só. Assistir qualquer coisa ali deve ser legal, só pelo programa. Pra melhorar, cadeiras. Isso mesmo, um bom lugar pra assistir um show largado numa cadeira confortável, sem nenhuma cabeça na sua frente. O Atoms for Peace pode não ser o show mais indicado para se assistir sentado, ainda que a dinâmica constante do show faça qualquer um querer dar uma descansada. Encarando como uma instalação visual com uma trilha pesada faz mais sentido. E, como disse, sentado é melhor ainda nesse caso.
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Não foi exatamente assim que começou, lá em 2003, e ainda deve mudar muito. A graça é essa.