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segunda-feira

6

outubro 2014

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Trancultura #148: Kode9 // GOAT

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foto: divulgação / Maximilian Montgomery

Texto na da semana passada da “Transcultura”, coluna que publico todas as sextas no jornal O Globo.

Kode 9, o acadêmico dos sons avançados
Filósofo, DJ e produtor, ele celebra os 10 anos do Hyperdub, selo que projetou o dubstep, e lança um EP em parceria com o MC Spaceape, morto esta semana
por Bruno Natal (colaborou Carlos Albuquerque)

O DJ e produtor escocês Kode9 é um dos principais articuladores da música eletrônica contemporânea e fundador do renomado selo Hyperdub, que está completando 10 anos. Seus sets são sempre uma aula de pista, passando longe de clichês e “cabecismos”. São pancadas de graves e batidas empenadas que fazem chacoalhar até o mais tímido dos esqueletos.

— Tento integrar house, hip-hop, techno, dubstep, grime e footwork nos meus sets, começando devagar e acelerando aos poucos. Costuma ser bem divertido trabalhar assim — afirma ele, que tocaria neste sábado na Wobble, mas teve que voltar a Londres, onde mora, e cancelar sua participação na festa por conta da morte do parceiro, o MC The Spaceape, ontem.

Por meio das próprias produções, Kode9 estabeleceu-se como um dos principais nomes da cena garage britânica e todas as suas ramificações, como 2-step, grime e dubstep. Por dubstep, entenda-se a matriz “original” — surgida no início dos anos 2000 em festas em Londres, influenciadas pelos subgraves produzidos pelos sound systems jamaicanos (assim como foram as cenas que o antecederam, como jungle e o drum and bass) —, e não o som criado por produtores dos EUA, de onde Kode9 acabou de voltar de turnê, praticamente sepultando o estilo.

— Mas não tive problema algum nessa turnê americana, até porque eram eventos do Hyperdub, então todos sabiam o que esperar — diz Kode9. — Gosto muito da chamada cena beat de Los Angeles e também temos uma boa ligação com a turma do footwork, de Chicago.

Neste mês, Kode9 retomou a parceria com o The Spaceape, com quem já havia feito o sensacional “Memories of the future”, de 2006, e também “Black Sun”, de 2011, com o EP “Killing Season”.

Nele, a dupla explora temas como a brutalidade e o peso de lidar com uma doença (Spaceape vinha lutando contra um câncer). Por se tratar de um projeto particular, essas músicas dificilmente fazem parte dos seus sets como DJ.

— De fato, Spaceape lutou contra a doença por cinco anos, então as letras são sobre essa batalha entre vida e morte e todas as coisas envolvidas — explica. — É um trabalho bastante intenso, mas que está ligado a esse contexto.

Tchequirau

Os suecos do GOAT chegam ao segundo disco e em “Commune”, lançado pela Sub Pop, mantém as fusões de estilos (do afrobeat ao krautrock) amarradas pela psicodelia. Ouça “Hide from the Sun”.

terça-feira

10

março 2009

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Introdução ao dubstep

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Dia desses um amigo — não lembro quem — me perguntou o que diabos exatamente era dubstep. Mandei um e-mail (pra pessoa errada!) cheio de links e apontando alguns dos principais nomes. O Chicodub também estava na troca de mensagens e botou pilha pra jogar aqui. Então aqui está.


Kode9 & Spaceape, “9 Samurai”

Kode9 – O pensador do movimento, dono do selo Hyperdub e agitador da rapaziada e está sempre na escalação das principais festas, seja tocando na Dublime, na FWD>> ou DMZ (mais sobre essa última abaixo). Ele é um dos entrevistados do meu doc Dub Echoes, falando de dubstep em 2004, quando isso sequer existia direito. Só o Chico pra ter achado isso. Hoje o cara é uma estrela na Inglaterra. Foi colocado pela gravadora em destaque na capa do DVD do doc, pra se ter uma idéia. Já tocou no Brasil e encerrou o festival Love Music Hate Racism.


Skream, “Midnight Request Live”

Skream – O hitmaker, até onde se pode considerar que o dubstep produz hits. Foi dele o primeiro sucesso a furar a barreira do nicho, “Midnight Request Live”. São dele os remixes “Not over yet” (Skream remix) (Klaxons) e “In for the kill” (Skream’s Let’s get ravey remix) (da queridinha da vez, La Roux). Ouça a original antes pra sacar o que o cara faz, remix é sempre bom pra dar essa dimensão, né. Tocou numa festinha da minha facul em Londres, eu e mais 20 doidos na platéia e só. Até lá o troço é underground!

Burial – O menino prodígio. Teve seu segundo disco indicado (e quase levou) ao Mercury Prize, o Grammy inglês. É visto como quem empurrou as fronteiras do gênero, falando com mais gente e divulgando o estilo para além do gueto a que estava restrito. Os dois discos, “Burial” e “Untrue”, realmente são muito bons.

Até pouco tempo ninguem sabia quem ele era, permanecia incógnito, gerando comparações com o Banksy. Não havia nenhum motivo especial para isso além de não querer tirar atenção do som (muitos pensavam que era o Kode9, já que os discos saem pela Hyberdub).

Na época da indicação ao Mercury, o cerco arrochou tanto que ele achou que o próprio anonimato estava tirando atenção das músicas e ele mesmo revelou sua identidade. Pode ter sido também pra poder lucrar com a fama, podendo se apresentar ao vivo, coisa que não fazia antes.


DMZ

DMZ – É a principal festa do gênero, que acontece numa antiga igreja, em Brixton, no breu total. Escrevi sobre a festa depois que lá estive.


Tranquera, ao vivo

Tranquera – Dubstep brasileiro, capitaneado por Bruno Belluomi, conhecido e respeitado no exterior.


Rusko, “Jahova” fez um adendo:

Chicodub fez um adendo:

“De cada 10 dubsteps, uns dois, talvez três, sejam bons. Mas quando é bom… Meu amigo, vou te contar: porrada! Os mais puxados pra Jamaica (tem de tudo, até mesmo coisas que nem parecem com dub – a maioria) são atualizações urbanóide-apocalípticas do King Tubby dos anos 70. Lindos, lindos… Porradas, claro. O resto é mais porrada ainda. É cru, esparso, ogro, psicopata, raivoso. Ainda assim, pode ser espacial e climático às vezes. E nessas vezes, mesmo dopado, a tensãozinha tá sempre lá.”

quinta-feira

29

maio 2008

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Ecos-ecos-cos-cos-sssss

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A primeira edição da festa Dublime na Fabric trouxe uma escalação em sintonia com um certo documentário.

De Lee Perry a Pole, passando por Don Letts, Congo Natty, Kode 9 e alguns dos principais nomes do dubstep, do jungle e do UK Roots, o evento foi um passeio pela linha evolutiva do dub, do berço jamaicano a improvável vertente alemã.

Com três pistas rolando simultaneamente, o esquema era cruel: escolhia-se um nome pra conferir, perdia-se, no mínimo, outras duas coisas muito boas.

Embora não seja uma presença rara em Londres, sendo de Leeds, o Iration Steppas teve prioridade. Tocando na menor pista, com MCs exaltando o time e um grave de amassar o peito, a versão de “Welcome to Jamrock” já valeu o set.

Don Letts fez um set pesado pacas, misturando digidubs com roots, transformando num presente o atraso para o início da apresentação do Lee Perry.

Em sua passsagem pelo Brasil, em 2007, acompanhado por uma banda que não era a sua usual, Lee Perry já fez mágica num pé só (o outro estava engessado), imagina acompanhado por Adrian Sherwood.

Além das bases e efeitos caprichados de Adrian, o grande barato da apresentação é que ela dura exatamente o tempo que Lee Perry leva para pintar um de seus quadros, no palco.

Misturando grafite com as pinceladas naïf, características da decoração do seu chamuscado estúdio, a Black Ark, Perry fala sem parar, entre improvisações e trechos de clássicos como “War inna Babylon”, “Curly locks”.

Perry é primeiramente um produtor, não um artista (embora tenha gravado várias músicas), então o ideal seria vê-lo mixando, coisa que ele já não faz mais.

O show é sim morno, mas isso pouco importa quando se está cara a cara com uma lenda da dimensão (dimensões?) de Lee Perry, com um pincel na mão, pintando os braços de quem os esticasse em sua direção.

Na outra pista, logo na sequência, o Pole tocou com um laptop, mixando e aplicando os efeitos ao vivo, através de uma mesa.

Resvalando no minimal house e mais dançante do que se poderia imaginar pelos discos, o alemão tem mesmo os dois pés no dub, por mais que diga em seu saite que é apenas uma influência.

Com os ouvidos zunindo de tanto grave, a parcela dubstep ficou pra depois.

A escalação completa da festa:

Pista 1 – ROOTS
Lee Perry Soundsystem & Adrian Sherwood (LIVE)
Dillinja (Valve Recordings)
Congo Natty aka Rebel MC (LIVE)
Caspa & Rusko (Dub Police), Loefah (DMZ/ Deep Medi)
Don Letts (Dub Cartel Sound System)
Souljazz Soundsystem
MCs Pokes, Warrior Queen & Rod Azlan

Pista 2: TEC
Pole (LIVE) (Scape/Mute)
Sleeparchive (LIVE)
Kode 9 (Hyperdub)
Scuba (Hotflush)
Pinch (Tectonic/Planet Mu)
Appleblim vs Peverlist (Skull Disco/Punch Drunk)
Downshifter (Skud/Hyponik)
MCs Flow Dan & Rogue Star

Pista 3 – POOM
Iration Steppas (Sub Dub)
Moody Boyz (Studio Rockers)
Antisocial (Deep Medi)
Blackdown & Dusk
Earl Gateshead (Trojan Sound System)
Jonny Trunk (Trunk Records)

sexta-feira

2

maio 2008

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Saída pela esquerda

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Video do evento, feito com uma câmera fotográfica digital.
A tosqueira desse formato cada vez fica mais divertida.
Daqui uns anos vira estética.

vídeo: URBeTV

No sábado passado aconteceu, no Victoria Park, o festival gratuito Love Music Hate Racism Carnival, com a presença de Hard-Fi, The View, Get Cape.Wear Cape.Fly, Dennis Bovell, Don Letts, entre outros, coma presença de mais de 100 mil pessoas, segundo os organizadores.

O encerramento ficou com The Good, The Bad and The Queen. Foi uma escolha simbólica, pelo fato do baixista da banda, Paul Simonon, ter sido um dos integrantes do The Clash, atração principal do Rock Against Racism, no mesmo parque, 30 anos antes.

No RAR, o alvo das manifestações era a escalada ao poder do partido nazi-fascista National Front, que perseguia principalmente imigrantes e irlandeses. Passados 30 anos, a situação é parecida, mudam apenas os nomes.

Os atores principais agora são a British National Party (BNP) e os imigrantes dos países árabes (chamados, numa generalização, simplesmente de muçulmanos) e do leste europeu, principalmente os poloneses, recém-integrados a União Européia.

Num clima muito politizado, as atrações transcorreram, sem sustos, entre muitos discursos. O evento é uma maneira de sinalizar, tanto para sociedade, quanto para os imigrantes, que, apesar da forte propaganda, a maior parte dos britânicos não concorda com o pensamento da BNP.

Um pouco estranho, tem-se que dizer, um evento que prega a tolerância, trazer a palavra “odiar” em seu nome. Mesmo que seja odiar o racismo, porque odiar não pode ser bom. A palavra foi repetida diversas vezes durante o dia, nos discursos inflamados.

A recessão batendo a porta é o cenário perfeito para ascenção de partidos de extrema-direita. Os empregos começam a faltar e fica muito fácil convencer a populaçnao de que os imigrantes estão roubando o seu emprego, utilizando isso como de votos.

Por isso, apesar da aparente tranquilidade, foi um evento importante. Basta uma olhada na lavada que os Trabalhistas tomaram nas eleições locais britânicas dessa quinta.

A pior derrota eleitoral em 60 anos, fortaleceu os Conservadores (lembra da Tatcher?), sinaliza que, assustado (e infeliz com o Primeiro Ministro, Gordon Brown), o povo já está.

O encerramento foi com a versão dubstep do clássico do The Specials, “Ghost town”, com base do Kode 9 e vocais do Space ape. O tom perfeito.

terça-feira

27

março 2007

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Kode9 e os sub-graves

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Kode 9
foto: MauVal

Apesar da recente atenção que vem atraindo (a BBC produziu um mini-documentário, filmado no primeiro aniversário da DMZ, principal festa dedicada ao estilo), o dubstep não é exatamente uma novidade. Sua linha evolutiva é confusa, com raízes que abraçam o UK garage, o grime e o drum n bass, além da interseção desses gêneros, o dub.

É difícill, portanto, definir um ponto inicial duma história que vem se desenvolvendo, pelo menos, desde 2001. Um dos principais nomes da cena, o escocês Kode 9 veio ao Rio, como atração do festival Hipersônica, mostrar um pouco do que se ouve na DMZ.

As experiências eletrônicas do canadense Ray XXXX e do inglês Scanner, que vieram antes da apresentação do Kode 9, espantaram boa parte do público. Talvez, algumas cadeiras e pufes tivessem ajudado as pessoas a apreciar aquele som que, certamente, não era voltado para a pista.

Quem esperava que Kode 9 fizesse um set de “hits” do dubstep, como “Midnight request line”, do Skream, foi surpreendido por um live pa sem batidas, feito inteiramente com frequências graves e sub-graves.

Foi apenas a terceira vez que Kode 9 se apresentou nesse formato, sem a presença do MC Spaceape (a não ser pelas imagens no telão), operando um Laptop (rodando o Live) e uma mesa de efeitos.

As frequências de grave eram picotadas, recortadas e sobrepostas, até formar uma base dançante, complementada por alguns ruídos, em alguns momentos resvalando no pancadão e amassando o peito dos presentes.

E falaram que o Daedelus, depois, foi ainda melhor…

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