kiko dinucci Archive

quarta-feira

22

fevereiro 2017

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Kiko Dinucci, “Fear of Pop”

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kikodinucci_cortescurtos

Em seu novo disco, “Cortes Curtos” (disponível para baixar em seu site), Kiko Dinucci apresenta a faixa “Fear of Pop”.

Impossível não lembrar do debate com o compositor, iniciado a partir do texto “Kiko Dinucci e o medo do pop”, publicado aqui mesmo no URBe e respondido por Kiko em outro texto, “Meu medo do pop”, publicado na revista Zagaia.

Essa conversa se deu em 2014, nem tanto tempo atrás assim. Mas o suficiente para já sentir saudades dos bons tempos que textos e opiniões em espaços como blogs geravam debates, discussões e trocas ricas, fosse nas caixas de comentários ou em réplicas. Em três anos, tanta coisa mudou.

terça-feira

9

setembro 2014

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O medo do medo do pop (pensamentos sobre a repercussão de um texto)

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O medo do medo do pop

A partir do texto “Kiko Dinucci e o medo do pop”, publicado aqui semana passada, um debate foi iniciado e só isso já fez valer ter escrito. Porque ao contrário de algumas interpretações apaixonadas (como cabe ao assunto), o objetivo não era estar certo, provar um ponto ou impor algo. Era sim abrir uma discussão sobre um assunto pouco falado: até que ponto os artistas independentes podem fazer concessões para serem comercialmente viáveis, ao mesmo tempo sem se descaracterizar?

Pausa para um pedido: antes de continuar lendo esse texto, peço que leia na ordem o texto “Kiko Dinucci e o medo do pop” e a resposta do Kiko, “Meu medo do pop”.

Como está escrito, era uma provocação. Quando o Kiko resolveu responder publicamente a essa provocação, o diálogo se abriu e o que veio daí ampliou os horizontes da conversa, revelou a importância do assunto – mesmo pra quem diz não se importar – e o tabu que o cerca.

À resposta do Kiko, muito educada e objetiva, não cabe tréplica. É a opinião dele. O texto está repleto de pontos com o qual concordo (que esses artistas e cena precisam de tempo – apesar de achar que alguns já tiveram bastante), uns que entendo (não era minha intenção apontar uma encruzilhada ou alguma dicotomia), alguns que discordo (a vitimização do artista “abortado pela indústria”) e outros que me parecem entendimento errado da parte dele do que quis dizer (desprezo pela música cabeçuda ou o que chamei de maneira bastante genérica de indie – culpa minha de ter me expressado mal, certamente).

Dos comentários que chegaram até mim a maior parte das manifestações das pessoas do meio se deu no espaço privado, através de emails, inbox, DM, chat, SMS. Foi interessante notar que entre artistas, produtores e jornalistas, de maneira geral os mais novos (menos de 25 anos) entenderam o texto como algo a se pensar, os da geração acima, com mais de 35 anos, como cobrança.

Foi dito que o interessado nesse assunto são os próprios artistas e que a “alfinetada carinhosa” era pra mostrar que dá pra querer muito mais. Um falou que a resposta do Kiko foi uma aula (para mim, especificamente), outra que ele chorou pitanga e fugiu do assunto. Teve um disse que meu texto inteiro era um eufemismo para questionar porque músicos não fazem coisas exatamente do meu gosto (mas, pro meu gosto pessoal, está ótimo como está).

O título do texto foi chamado de caça-clique (mesmo que Kiko não tenha tantos caçadores assim). Lembraram e questionaram o fato do Metá Metá não ter agradecido a um prêmio no Multishow, esnobando o espaço (“bem feito!”, falou um artista, “o canal nunca colocou uma música dessa galera no TVZ”).

Cravaram que não é questão de ser pop, é questão de talento. Que “esses artistas” são herméticos e pseudo elitistas, se colocam acima do público pra esconder o fato que não conseguem se comunicar. Que não é medo, e sim nojo do pop.

Tudo, como disse, conversado de maneira privada. Há muito receio em opinar.

O entendimento do que é pop ou o julgamento de valor imbuído ao termo foi o maior fator de discordância. Interpretaram “fazer concessões” como algo necessariamente negativo, “se adequar para soar aceitável, comercial, palatável”. Uma visão bastante estreita do que é pop (ou popular, como bem diferenciado pelo Kiko), o que ajuda a explicar até mesmo o citado medo.

Um dos aspectos mais problemáticos da cena brasileira é justamente essa incapacidade de se conviver com a crítica negativa. Ou se fala bem ou está fora de alguma espécie de grupo de camaradas; ou se joga a favor ou se está obrigatoriamente jogando contra.

Discordo por me parecer faltar justamente mais… sinceridade para as coisas evoluírem como um todo. Menos camaradagem, por assim dizer. E não falo aqui apenas dos músicos, falo sobretudo do público. A discussão vira certo x errado, não tem área de contato, o debate vira um embate, descambando para perda de tempo no lugar de troca de ideias.

Comparado ao espelho de idéias que vão se transformando as redes sociais (em que algoritmos digitais – e filtros pessoais – nos põe em contato com quem pensa igualzinho a nós mesmos), faz falta o tempo em que comentários de blogs eram fóruns de debate mais ativos, onde, sem filtros digitais, as pessoas eram confrontadas com ideias opostas.

Esses artistas são talentosos e bem sucedidos no seu público, por isso merecem algo maior. E se conseguirem esse algo maior, será melhor para eles e para o público, principalmente os que sequer os conhece ainda, colaborando para mudar um panorama tão criticado. Mesmo que o artista não queira nada disso, o que é uma escolha pessoal, a proposta da discussão continua vinda através de um viés positivo.

O próximo texto sobre como, em determinados casos, ceder uma música para a publicidade de uma corporação, de graça até, pode ser bom para o próprio artista. Assunto velho até, mas é sempre bom atualizar o debate.

segunda-feira

1

setembro 2014

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Kiko Dinucci e o medo do pop

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Kiko Dinucci_AudioRebel_2014

No espírito do @savedyouaclick, já quebro o suspense: essa resenha não é sobre o medo do Kiko Dinucci do pop (nunca o entrevistei pra saber sua posição a respeito), mas sim uma análise sobre o medo do pop na música brasileira com ideias que foram surgindo durante o show do Kiko Dinucci na Audio Rebel. É um chamado à reflexão, uma provocação se preferir.

Surpreendido pelo humor do líder do Metá Metá, umas das bandas mais cultuadas da leva atual (por aqui não bateu), as questões borbulhavam. A verve de stand-up comedy do Kiko é uma bela solução de como levar o que, em resumo, é um recital de guitarra.

Sozinho no palco, Kiko conta piadas entre e durante as músicas. Compõe sobre encontros ao vivo com a morena do Facebook e sobre o cara que diz que “já pegou e converteu” a gata na rua, canta sobre como o inferno tem sede, diverte-se contando o causo da vinheta supostamente encomendada pela Globo que terminou negada – o refrão dizia “todo homem na hora da morte vira um cão”. Kiko questiona: “não sei porque não gostaram…”.

Ouvindo as risadas, é de se pensar se público sofisticado dos shows da Audio Rebel acharia graça das mesmas piadas se feitas por um outro artistas sem o respeito do Kiko. Prefiro acreditar que há lugar para o humor no cabecismo, que esses dois “mundos” podem co-existir, como demonstrou o próprio compositor.

Reggae, metal, rock, samba, da guitarra do Kiko sai todo tipo de som, muitos pérolas pop escondidas na crueza do arranjo isolado. São possíveis hits, que se lapidados poderiam estourar na sua mão ou na de outros.

Pipocam então as tais perguntas: por que essas músicas ficam limitadas a voz e guitarra? Seria preguiça de terminar arranjos mais complexos, necessários para estourarem? Ou medo de se expor ao tentar fazer um hit e falhar? E se estourarem, o que isso faria com sua credibilidade indie? Estaríamos diante, como na anedota da vinheta da Globo, de uma auto-sabotagem?

São perguntas hipotéticas, porque não foram feitas. E também não importa, porque como disse, o medo do pop em questão aqui não diz respeito (ou está limitado) ao Kiko. Esse receio – por alguns dos motivos listados acima e outros – paira sobre a música brasileira e impede alguns mergulhos pops que fariam bem a todo ecossistema (abertura de mercados, oportunidades, cenas maiores que ajudariam a custear menores, etc.)

É uma equação difícil de ser resolvida. Se um artista independente tenta fazer pop, encontra dificuldades primeiro porque seu público original geralmente não é afeito a essas sonoridades. Depois porque não tem acesso a fatia de público que teria. Além, claro, do fato de não se ter acesso aos canais de massa – rádio e TV – para propagação desse material sem pagar jabá. Não há mesmo muito estímulo para sequer tentar.

E assim um segmento do pop não se renova (enquanto outros se renovam, reinventam e se inventam, vide funk, tecnobrega, ostentação, sertanejo, arrocha…). Isso é ruim comercialmente, pois sufoca as bandas independentes num circuito pequeno e pouco lucrativo, e conceitualmente pois previne o público de ampliar seu conhecimento.

Não falo aqui de pop no sentido de um desses artistas tentarem caminhos rasteiros. Muitos deles já tem os tais hits e não tem como chegar no grande público, por mais que possam escoar o material pela internet.

Gabriel Thomaz, do Autoramas, um dos mais bem sucedidos artistas independentes do Brasil, conseguiu unir essas duas pontas por muito tempo, dando vazão a essa veia através do Raimundos, então contando com o apoio financeiro de um gravadora multinacional (leia-se: balha na agulha pra pagar jabá).

Tem muito artista que simplesmente não quer isso para sua carreira, óbvio. É uma opção e não me refiro a eles (embora muitos deles tivessem muito a contribuir). Porém há muitos que nem tentam por medo da patrulha, por medo de falhar e ficar sem público nenhum e, assim, escondem-se na segurança de desculpas esfarrapadas como “meu som é pra poucos”, “as pessoas não entendem” e outras indiezices.

Foi nesse último grupo que pensei quando vi a tabela publicada pelo Brain Pickings esses dias. Ainda que um tanto superficial e simplista, a tabela ajuda a ilustrar duas posturas comumente encontráveis no meio. Existe uma grande diferença de mentalidade, muito mais do que de sonoridade, entre os artistas “famintos” e os “prósperos”.

A relação que se tem com o pop, no sentido amplo, é parte disso.

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