Ao montar o musical “The harder they come”, baseado no filme homônimo de 1972, dirigido por Perry Henzell, a companhia Theatre Royal Stratford East se lançou numa tarefa arriscada.
Além de ser celebrado como o primeiro filme a retratar fielmente a dura vida nos guetos jamaicanos, “The harder they come” não apenas catapultou a carreira de seu protagonista, Jimmy Cliff, como a trilha sonora é considerada a responsável por apresentar o reggae para o mundo de forma massiva — até o lançamento da coletânea “Legend”, do Bob Marley, em 1984, era o disco mais vendido das história do gênero.
Portanto, transpor para o palco em todos os detalhes a história de Ivanhoe Martin, saído do interior para Kingston, em busca de uma carreira no disputada indústria musical jamaicana, não podia ser fácil.
Com um excelente elenco de atores-cantores-dançarinos, uma banda cravada no meio do palco, um cenário minimalista red-gold-green e a boa escolha do protagonista, a transformação do ingênuo Ivanhoe no rude bwoy Rhyging em cena funciona perfeitamente.
Naturalmente, com uma enorme comunidade na Inglaterra, jamaicanos e descendentes ocupam cerca de metade dos lugares do teatro, rindo sem parar das histórias de casa, provavelmente lembrando de suas dificuldades pessoais, quando trocaram seu país pela Inglaterra.
No entanto, a saga de Ivanhoe é uma história universal. Fala diretamente a quem precisa ou já precisou correr muito atrás pra fazer as coisas acontecerem (ou seja, todo mundo), embora o final nem sempre seja feliz.
Não é o caso da própria peça ou da própria colônia jamaicana na Inglaterra. Em sua segunda temporada, agora no cultuado Barbican Centre, o musical é um sucesso de crítica e público.
A platéia inteira de pé e dançando ao final do espetáculo — num lugar onde é proibido se levantar durante um espetáculo, mesmo os de música — é um espelho disso.
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/URBe
por Bruno Natal
Cultura digital, música, urbanidades, documentários e jornalismo.
Não foi exatamente assim que começou, lá em 2003, e ainda deve mudar muito. A graça é essa.