Sério, isso tá a um passo de se tornar o próximo Rickroll.
Feche os olhos e é como se o Daft Punk tivesse encarnado num daqueles músicos de barzinho da Rua das Pedras, em Búzios. Mesmo assim, cabe dizer que o som do Igor tem mais onda que o Whitest Boy Alive, que mira na mesma sonoridade.
Ou a estrutura da música é mesmo muito previsível como tem sido criticada, ou há uma outra explicação.
Surge a possibilidade dessas edições serem “oficiais”, não terem sido feitas por fãs, mas pelo próprio Daft Punk e/ou sua equipe, para dar ideia pro público e iniciar artificialmente um processo de viralidade. Não seria a primeira vez que alguém tentou algo assim em relação a divulgação de um produto.
Não falei na hora e agora me arrependo, porque fazia sentido: um trecho daquele vídeo do Coachella mostrando a propaganda de “Get Lucky” no telão – no qual quem filmou não perdeu nem um segundo sequer do início, como se soubesse que tinha que estar filmando naquele exato momento – aparece no vídeo com a entrevista do Pharrell que foi lançado no dia seguinte (frames acima).
Os frames estão filmados do mesmo ângulo, com a mesma distorção de paralax. A diferença é que o vídeo do fã está numa qualidade medonha, 140p, e o trecho sampleado no vídeo oficial está em qualidade muito melhor, o que comprovaria que quem editou o oficial teve acesso a filmagem original do telão.
Vi e pensei: “hmmm… será que foram eles mesmos que filmaram e soltaram isso como se um fã tivesse feito, pra garantir o registro?”. Pensando agora parece até óbvio. Não por mau caratismo, mas pra não arriscar ninguém filmar e perder o investimento de marketing por conta disso.
No final, pode tudo ter sido orquestrado. Inclusive as versões de fã.
Com poucas células, repetidas e arranjadas de uma maneira bem simples – verso, pré-refrão, refrão e começa tudo de novo – a música é boa, mas falta um estouro. A embrulhada no final com os vocoders não entorta essa estrutura careta (mesmo que seja essa a proposta) o suficiente. Fica meio banho maria direto, o que pode até ser bom pra cozinhar uma pista.
O pior é que a tal versão que vazou que começava com Pharrell cantando “Like the legend of the Phoenix” era mesmo verdadeira. Torcer para versão estendida (a lançada foi um radio edit) ousar mais um pouquinho ou o resto do disco empurrar os limites de alguma maneira.
Porque, apesar de boa, qualquerumadoChic ou doMichaelJackson (parâmetros altos pra quem estabelece parâmetros altos, é justo) põe essa “Get Lucky” no bolso de trás e senta em cima.
Daft Punk tem mais 12 chances de arrebatar.
E pra quem está achando a comoção pelo lançamento exagerada, NÃO assista o vídeo ou asváriasfotos com as reações dos fãs ouvindo a música pela primeira vez que estão pipocando no Tumblr (a não ser que estejam chorando de decepção).
Cultura digital, música, urbanidades, documentários e jornalismo.
Não foi exatamente assim que começou, lá em 2003, e ainda deve mudar muito. A graça é essa.