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quarta-feira

2

dezembro 2015

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Invasão Novas Frequências: entrevista com Auntie Flo & Esa

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auntiefloesa_novasfrequencias2016

Quinto post da série Invasão Novas Frequências, organizados pelo idealizador do festival Novas Frequências, Chico Dub.

Toquei muito Auntie Flo na saudosa festa Dancing Cheetah e nos meus DJs sets (cada vez mais raros hoje em dia) pós-2013. É um dos artistas de eletrônica de pista com influências africanas e latinas que mais gosto. O bônus é a presença do sul-africano Esa, um parceiro de longa data que o ajudará num live.

Chico Dub – Qual a principal proposta da festa Highlife e da Highlife World Series?

Auntie Flo – A principal função da Highlife é primeiro ser uma festa – queremos que as pessoas se divirtam na pista de dança.  A segunda é explorar música que nos interessam, do mundo todo, música que sentimos que não tem a exposição que merece e música que nós realmente gostamos, apresentando-as de maneira original e que funciona na pista de dança. Queríamos expandir o espectro musical que estava sendo tocado, focando em sons fora da cultura ocidental de música de pista.

A Highlife World Series é uma extensão da festa e foca mais em projetos colaborativos entre músicos que conhecemos em nossas viagens pelo mundo. Queremos explorar novas formas de trabalhar com instrumentos tradicionais e músicos treinados para tocá-los e desenvolver com eles um caminho novo que respeite suas tradições.

Chico Dub – Como as experiências de imersões em Cuba, Uganda e Kenya aconteceram?

Auntie Flo – O processo tem sido bem orgânico, como colaborações surgindo de forma bem determinada. Fazemos contatos durante nossas visitas e então passamos tempo em algum estúdio que consigamos encontrar naquele país, trabalhando de maneira bem próxima com os músicos. Trabalhamos de maneira bem equilibrada com eles, o que esperamos beneficie a música e todos envolvidos.

Chico Dub – O que você conhece de música brasileira e o que pretende fazer com ela? 

Auntie Flo – Não sou um expert em música brasileira, mas já ouvi de maneira não regular por alguns anos. Gosto muito do estilo de tocar bateria como batucada! Não tenho ideia do que irei criar, mas estou ansioso pra ver o que vai sair. 

Chico Dub – Você pensa que a hibridização e pluralização de culturas e influências é o futuro da música?

Auntie Flo –

I have a very romantic view that music can make the world a smaller place, breaking down language and cultural barriers. I’m not sure if it’s the future of music, but in my opinion some of the best music comes from a fusion of styles and with the internet and cheaper travel this is more and more likely to happen. Having said that, it’s important not to water down the sound too much, some of the freshest music comes from a very narrow ‘ghettoised’ perspective so it’s clear there isn’t a correct answer to the question!

Chico Dub – O que o público pode esperar da sua apresentação no Novas Frequências?

Auntie Flo – Sinceramente, não faço ideia! Planejamos criar algo na próxima semana, como resultado das colaborações e conexões que fizermos enquanto estivermos no Rio. Isso pode significar que faremos dois show diferentes, colaborações ou outra coisa qualquer. Vamos ver o que vai acontecer.

terça-feira

1

dezembro 2015

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Invasão Novas Frequências: entrevista com Juçara Marçal & Cadu Tenório

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jucaramarcal_cadutenorio_novasfrequencias2016

Quarto post da série Invasão Novas Frequências, organizados pelo idealizador do festival Novas Frequências, Chico Dub.

Juçara Marçal é a compositora e criadora de Encarnado, provavelmente o melhor álbum brasileiro de 2013. Cadu Tenório é um prolífico compositor da cena carioca de noise/improv, lançando uma média de aproximadamente três álbuns por ano desde 2012. Que dupla! Já vem rolando nos últimos, talvez, dois anos, uma aproximação da canção com estéticas e procedimentos comuns dentro do guarda chuva da música experimental. “Anganga”, um trabalho que atualiza os cantos dos Anganga é baseada nos congados e vissungos – cantos ancestrais dos negros benguelas (Angola) de São João da Chapada, Diamantina, Minas Gerais.

Chico Dub – De onde surgiu a ideia de fazer essa parceria?

Juçara – A parceria surgiu de um convite do Márcio Bulk, que havia acabado de fazer o disco Banquete com o Cadu e teve a idéia de nos juntar. topamos a parada. Eu sugeri de usarmos algumas das cantigas do “canto dos escravos”. o Cadu adorou a ideia e fomos adiante. devagarinho, até firmar o repertório. coisa que só aconteceu em meados deste ano.

Cadu–  O inicio do processo foi bastante lento, até acharmos o tom exato que seria dado ao disco. Conseguimos quando finalizei o arranjo para Canto II, que foi o primeiro que pegamos pra fazer, demorei uns 6 meses do ano passado só nele. Depois disso achamos o ponto de forma tão coesa, na nossa cabeça, que mesmo as músicas inéditas presentes no disco(Eká e Taio), de minha autoria com participação da Ju, absorveram todo o clima e a energia dos Cantos.

Chico Dub – O que do “Anganga” é mais Juçara e o que é mais Cadu? Ou os dois perfis se tornam inseparáveis?

Juçara – Se formos pelo óbvio, as sugestões de canções são minhas, as construções de arranjo são do cadu. mas ouvindo Anganga, o que virou, não dá pra dizer o que é meu, o que é do cadu. Anganga é uma outra coisa, maior que nós.

Cadu – Assino embaixo, a química que bateu entre a gente é tão forte, e acredito que isso fique nítido no palco, que estamos numa relação de simbiose. Durante o processo de composição dos discos, das peças que abrigam os cantos, foi impossível não ser influenciado pela interpretação forte da Ju, assim como quando mandava pra ela os instrumentais já construídos, ela logo sentia a vontade de acrescentar mais ali e regravar os takes de uma nova maneira. E é dança é mais ou menos essa, um influenciando no próximo passo do outro.

Chico Dub – Qual a história por trás da língua das letras que dão corpo à voz de Juçara?

Juçara – Os vissungos, assim como os congados do disco são cantados em dialeto bantu. os vissungos são cantos de trabalho, os congados, cantos de devoção.

Chico Dub – Como exatamente os ruídos de Cadu trazem mais dessa mística afro-brasileira para as canções?

Juçara – Como exatamente? Impossível responder. Só sei que traz.

Chico Dub – A música tem mais ou tem menos função social num mundo hiper-estimulante e hiper-interativo?

Juçara – A música, qualquer forma de arte, é imprescindível pra qualquer agrupamento humano hiper, super, mega qualquer coisa. se há música, ela tem sua função.

segunda-feira

30

novembro 2015

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Invasão Novas Frequências: entrevista com Timespine

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Terceiro post da série Invasão Novas Frequências, organizados pelo idealizador do festival Novas Frequências, Chico Dub.

De Portugal, o Timespine, que também é um trio, toca canções folk em fluxo de consciência, em uma torrente hipnótica de dedilhados suaves e não convencionais, eruditos e improvisados. Os instrumentos são o baixo, o dobro (que é aquele instrumento tradicional do blues) e um zither (que é tipo uma sitar). Belíssima abertura pro Dawn of Midi, mostrando que o espectro sonoro do Novas Frequências pode ser bem amplo, inclusive abrançando propostas mais ligadas ao folk e ao jazz.

timespine from raquel castro on Vimeo.

Chico Dub – Como fazer música de vanguarda com instrumentos de corda tradicionais?

Timespine – Antes do mais talvez seja bom sublinhar que há muitas tradições vanguarda, também. Nós não nos esforçamos por ir contra tradições, acontece-nos naturalmente não podermos ser rotulados; talvez precisamente porque a nossa música evoca muitas outras, filtrando-as, evitando desenvolvimentos fáceis. Para além disso, temos uma afinação própria, à volta de B, F#, A, mas não exactamente. E também, a zither vienense foi um instrumento tradicional, mas a Adriana modificou-o. Usa cordas de baixo, guitarra acústica e guitarra Portuguesa; algumas cordas tem brilho no timbre, e outras tem o timbre seco da antiguidade.

Chico Dub – Vindos de círculos artísticos variados, o que cada um de vocês traz, pessoalmente, para o conjunto da obra?

Timespine – Os timespine tem utilizado uma mesma partitura gráfica feita pela Adriana, que indica estrutura sequencial, vocabulário sonoro, densidade e texturas, sem tempos-relógio ou notas. Essa partitura permite que cada um vá explorando o que quer, de modo que a que o espaço de criação tem sido inesgotável. O baixo do John tem uma herança de rock, mas curiosamente, é extremamente melódico. O dobro do Tó tem alma de música portuguesa. A zither da Adriana pode por vezes fazer lembrar outros instrumentos como violino ou cello, ou guitarra, ou instrumentos de sopro. Os “papéis” de cada um na dramaturgia da música talvez fossem mais distintos quando começámos a tocar juntos do que agora, após vários anos: o Tó romantizava, o John fornecia base e a Adriana evitava que houvesse desenvolvimentos fáceis. Talvez ainda assim seja, mas agora por vezes também trocamos de papéis…

Chico Dub – Como está a cena portuguesa de música experimental/avançada? Há espaço e infra-estrutura para que a maioria dos artistas consiga viver de música?

Timespine – A cena portuguesa é extremamente activa, com muitos músicos fantásticos. Não há falta de espaços para tocar. E o John dirige um estúdio de gravação (“ScratchBuilt”) que tem andado muito agitado. Mas agora, quanto à maioria dos artistas poder viver da música, talvez não. Pelo menos não com financiamento público…

Chico Dub – Qual o sentido do tempo na obra do Timespine?

Timespine – Unem-nos ritmos biofísicos, comuns às mais diversas lógicas musicais. São uma verdade profunda, muito anterior às nossas vidas.

Chico Dub – Qual o clima que vocês pretendem criar nos shows de vocês, e particularmente no show do Novas Frequências?

Timespine – O clima variável de uma viagem de balão, através do tempo, por vezes com vento…

segunda-feira

30

novembro 2015

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Invasão Novas Frequências: entrevista com Dawn of Midi

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dawnofmidi_novasfrequencias2016

Segundo post da série Invasão Novas Frequências, organizados pelo idealizador do festival Novas Frequências, Chico Dub.

Com seu jeito esquisito de tocar, o Dawn of Midi consegue fazer música acústica – baixo acústico, piano e bateria – soar como música eletrônica. Tentei trazê-los no ano passado, não rolou, só que agora, ainda bem, deu certo. Os três membros do grupo, baseado no Brooklyn, tem origem paquistanesa, marroquina e indiana. Fazem música minimalista muito mais via influências africanas do que via escola norte-americana (Steve Reich, Philip Glass, Terry Riley e co.) Ouçam o álbum “Dysnomia”. É absurdo de bom.

Chico Dub – Quais são suas maiores influências musicais? Jazz ou música instrumental no geral? Minimalismo eletrônico,  talvez?

Dawn of Midi – A maior influência em “Dysnomia” é a música popular do oeste e norte da África. Muito do que se conhece como “minimalista” no ocidente tem suas raízes nas idéias rítmicas africanas. A conexão com a música eletrônica provavelmente tem mais a ver com o tipo de som que produzimos do que com o conteúdo.

 

Chico Dub – Você acha que a sua música tem apelo para o ouvinte de jazz tradicional ou é uma cultura que continua fechada em si mesma?

Dawn of Midi – Tenho certeza que há ouvintes de jazz que apreciam o que fazemos, mas de maneira geral a comunidade jazzística não tem sido a mais empolgada com o nosso disco.

 

Chico Dub – Como suas heranças culturais e naturais indianas, marroquinas e paquistanesas surgem na sua música?

Dawn of Midi – Como dito anteriormente, esse disco é inteiramente inspirado pela música africana, e portanto há referências rítmicas do Marrocos além das do oeste da África, graças ao nosso pianista marroquino.

Chico Dub – Qual a parte mais difícil de se tentar emular loops mecânicos de computador?

Dawn of Midi – Não acho que jamais tenhamos pensado que o que fazemos seja emular loops de computador, muito embora o nome da banda (por coincidência) e estilo de música possam dar essa impressão. Estamos essencialmente tocando um tipo de música percussiva, e muitas das culturas percurssivas são baseadas em loops, alguns utilizando sistemas muito elaborados de loops e esses particularmente uma grande influência para nós.

Chico Dub – Para onde vocês podem ir em termos sonoros após “Dysnomia”? Há algo planejado para 2016?

Dawn of Midi – Será uma surpresa!

sexta-feira

27

novembro 2015

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Invasão Novas Frequências: entrevista com Chico Dub

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Semana que vem, dia 1º de dezembro, começa a quinta edição do Novas Frequências, festival de música avançada realizado anualmente no Rio. Em parceria com o idealizador e curador do festival, Chico Dub, vai rolar uma sequência de posts nos próximos dias, com entrevistas com algumas das atrações, feitas pelo próprio Chico e Romulo Moraes. É a Invasão Novas Frequências no URBe.

Para abrir os trabalhos, Chico, grande influência, meu parceiro de “Dub Echoes” e tantas outras aventuras musicais, falar do que aprendeu nesses anos a frente do festival.

URBe – Qual é a maior dificuldade em se investir esforço pela música experimental no Brasil?

Chico Dub – É tudo um grande ciclo, sabe? O jornalista não quer escrever sobre algo que ele acha que o público não quer ler. O poder público e a iniciativa privada pensam primeiramente em números. “Quantas pessoas iremos atingir”, eles perguntam. Então, a grosso modo os investimentos, são feitos para aquilo que é mais popular; para aquilo que vai alcançar mais público. Quantidade > Qualidade. Quantidade > Inovação. Eu defendo a ideia de que todo o guarda chuva da arte experimental deveria ter algum tipo de cota nos editais de patrocínio. Sem poder ouvir nada diferente (o que são as rádios brasileiras?!), sem poder ler nada a respeito, como vamos conseguir fazer o experimental e o inovador sair do nicho?

URBe E qual é a maior recompensa, qual o objetivo a ser alcançado a longo prazo?

Chico Dub – O objetivo é criar uma alternativa viável para músicos, produtores, promotores, jornalistas… Fazer com que se crie um circuito nacional, uma rede que trabalhe com os mesmos objetivos. Mesmo que pequeno, precisamos ter mais revistas, mais programas de rádio, mais patrocínio nos editais, mais festivais, mais selos, mais apoio para viagens internacionais, mais espaço e mais infra-estrutura de uma maneira geral.

URBe Em que direção, artisticamente falando, o festival tende a se flexionar nas próximas edições?

Chico Dub – A ideia é adotarmos sempre um tema central daqui para a frente, um conceito chave que irá nortear toda a programação e a curadoria. Não sei se consigo dizer mais alguma coisa, mas em ano de Olimpíadas, talvez seja interessante fazer um movimento contrário e olhar mais para dentro, para as nossas raízes.

URBe Que artistas você sempre quis trazer, mas nunca conseguiu? Tem algum sonho de consumo?

Chico Dub – Earth, Moritz Von Oswald Trio, The Caretaker, Arca, Holly Herndon…

URBe Quais são seus cinco destaques da música avançada em 2015, aqueles que você acompanhará com atenção nos próximos anos?

Chico Dub – Rabit, M.E.S.H., Marginal Men, J.G. Biberkopf, Hiele.