Rapaz, que discão esse “Pushin’ Against a Stone”. Passou batido ano passado, quando foi lançado, acabei chegando nele graças a uma recomendação do Spotify (por ter escutado o Matthew E. White).
Produzido por Dan Auerbach (do Black Keys, que também toca guitarra) e Kevin Augunas, Valerie June visita e recombina country, gospel, soul, r&b e blues. O disco tem ainda a participação de Booker T. Jones.
E essa voz vinda dos anos 60, carregando marcas de todas as décadas que atravessou (mesmo Valerie tendo apenas 32 anos)? Eitaporra.
2010 deve ter sido o ano mais complicado de se elaborar uma lista de melhores do ano (a de melhores discos nacionais de 2010 nem se fala…). Olhando em retrospecto, mudaria a colocação de alguns, descartaria outros que não sobreviveram nem até 2011 e, principalmente, incluiria essa maravilha abaixo no topo da lista:
A estreia dos australianos do Tame Impala (após dois EPs) não apenas deveria ter encabeçado a lista de 2010, como entrou na lista de discos favoritos da vida, pra levar pra ilha deserta, essa besteirada toda. “Innerspeaker” é um clássico contemporâneo, uma jóia de disco, onde guitarras, teclados e efeitos fluem em psicodelia, um mergulho numa realidade paralela e profunda, como sugere a capa do disco, uma imagem lisérgica do Leif Podhajsk (que também fez a capa do disco de remixes do Peaking Lights, do Sun Araw, da Lykke Li…).
Estou enrolando pra escrever essa resenha e fazer esse adendo desde abril, depois de assistir o Tame Impala no Coachella e realmente ter escutado as músicas com atenção (nada supera o ao vivo).
Do chuvisco que abre o disco em “It’s Not Meant To Be” e suas mudanças de andamento chapados ao fade out de “I Don’t Really Mind”; do tecladinho que abre a derreteção de “Alter Ego”, “Solitude Is Bliss” (o mais próximo de um hit no disco) ao avanço ininterrupto de “Why Won’t You Make Up Your Mind?” (explicitado no remix do Erol Alkan); da viagem instrumental “Jeremy’s Storm” as guitarras arrastadas de “Desire Be Go”, o Tame Impala passa influências setentistas (Led Zeppellin, Floyd, Beatles, Cream, King Crimson) por um filtro stoner noventista.
A sonoridade, propositalmente lo-fi, tem também bastante influência da música eletrônica (a banda remixa e é remixada bastante) na construção dos arranjos, no uso dos efeitos, na pegada da bateria. Poderia ser apenas retrô, poderia ser apenas indie ou experimental. É tudo isso junto.
E tem as letras:
Well it’s true, yes but you wont’t get far telling me that you are all you’re meant to be when the one from my dream is sitting right next to me and I don’t know what to do
Oh, alter ego
Som, letras, capa, é um pacote completo. Disco nota 10 pra ouvir por muito e muito tempo.
O título do documentário “L.A.P.A.”, de Cavi Borges e Emílio Domingos, pode fazer pensar que o filme é sobre a Lapa. Os personagens, levam a crer que é sobre hip hop.
Só que esses são apenas os verniz de um filme que fala sobre muito mais: sobre jovens lidando com a arte, numa época em que é cada vez mais fácil ser escutado, o poder de transformação e a dor de deixar seu talento para trás.
O mais interessante são as histórias dos personagens e suas vidas fora do bairro e da cena hip hop. Nesse sentido, o MC Chapadão é o protagonista. É através dele que se vislumbra a realidade da grande maioria dos rappers.
Esqueça a onda vampiresca impulsionada pela “Twilight” mania. Em sua terceira temporada, o seriado “True Blood”, produzido pela HBO, passa longe das aflições e fantasias adolescentes encontradas na saga de Bela e Edward.
“True Blood” é muito mais sombria, da abertura realizada pela Digital Kitchen a fotografia repleta de sombras, comprovando a boa fase técnica que atravessam os seriados americanos. Os volumes 1 e 2 da trilha sonora são bem bons.
Acompanhando os dilemas de Sookie Stackhouse no sul dos EUA, interpretada por Anna Paquin, o seriado é ambientado numa sociedade em que vampiros passaram a conviver abertamente com seres humanos desde o lançamento de uma bebida substituta do sangue, a Tru Blood.
O papo é muito menos sobre vampiros do que sobre relacionamentos. É tudo pano de fundo para tramas pelas quais “True Blood” ficou conhecida, repletas de palavrões cenas de sexo e nudez beirando o soft porn.
Não é toda programa que ganha um trilha de Snoop Dogg, feita em homenagem a Sookie especialmente para o lançamento da terceira temporada.
Esses dias fui apresentado pelo Kassin aos psicodélicos anúncios do Kewpie Tarako. A trilha é um hit, a coreografia virou moda em 2006 e as duas protagonistas tornaram-se celebridades no Japão.
Os filmes tem um pouco de construtivismo russo, ficção científica, Stanley Kubrick, macarena e a “Fantástica Fábica de Chocolates”. Foram feitos para vender o tempero de macarrão tarako,ovas de bacalhau em japonês, da marca Kewpie. Tornaram-se clássicos.
Cultura digital, música, urbanidades, documentários e jornalismo.
Não foi exatamente assim que começou, lá em 2003, e ainda deve mudar muito. A graça é essa.