Em “Abaixo de Zero: Hello Hell”, seu terceiro disco solo, o Mr. Niterói retorna com rimas afiadas e novamente elaboradas, mais uma vez repletas de referências cinematográficas e musicais.
Black Alien desafia-se em beats de andamentos mais rápidos – e com o flow mais ligeiro também. Produzidas por Papatinho, do ConeCrewDiretoria, as batidas remetem demais ao trabalho de sua própria banda, embora sejam aqui muito melhor aproveitadas por um rapper do calibre do Black Alien.
E a verdade é que em seu trabalho, os beats vem em segundo plano, Black Alien pode transformar qualquer base em ouro.
Sendo bem mais direto sobre tudo que passou em relação a sua luta pra se livrar da dependência das drogas nesses últimos 15 anos, fazendo auto crítica, dessa vez Black Alien já abriu mais o escopo e encaixou também outros assuntos.
Enquanto o inegável aspecto catártico de falar da sua experiência é claramente importante para Black Alien, o ressurgimento da sua faceta mais aguda, do cronista urbano, é o fato a se comemorar.
As letras trazem de volta também o Black Alien mais sacana, divertido e anárquico. Se os tempos de doideira ficaram para trás, as loucuras de suas letras ainda são muito bem vindas.
Seria um desafio interessante pra ele próprio se num próximo disco não focasse mais nesse assunto, deixando finalmente seus bichos no passado e focando no agora e em tudo que está a seu redor.
Que o próximo não demore tanto. A capa, criada pelo rapper e designer Parteum, mostra um Black Alien reconstruído, inserido num mosaico finalmente colorido – e de cabeça pra baixo.
Gustavo acelerou, engatar a quinta marcha parece questão de tempo.
É chegada a hora de fechar a tampa de 2015, começando pelos discos nacionais. Ao contrário do quem muita gente falou por aí, não me empolguei muito com a safra não. Na realidade, minha lista de melhores do ano é quase uma coleção do discos que ouvi com mais atenção. Abaixo, a classe Brasil de 2015, como sempre em nenhuma ordem especial, afora o primeiro colocado.
“Não sei porque o Chico Buarque ainda lança disco. Se é pra ser essa mesma pasmaceira de sempre, melhor parar”. “Quem o Caetano acha que é? O cara tem mais de 70 anos e lança disco de rock como se tivesse 20? Ele tem que fazer o que sabe fazer bem”. Realmente a vida de medalhão não deve ser fácil, é difícil agradar a moçada. Gal, no entanto, desde o disco anterior, “Recanto”, vem conseguindo rejuvenescer sua obra sem olhar demais para o passado ou para o futuro. Juntou-se a uma turma mais nova e absorve modernidades o mesmo tanto que enxarca a molecada de experiência. Uma aula de como não se perder nos próprios caminhos.
A saga foi longa e tortuosa (amplamente documentada aqui no URBe através da tag /black-alien, inclusive a frustrada primeira tentativa de voltar aos palcos), por isso, mesmo antes de ouvir, é uma alegria poder dizer: “Babylon by Gus Vol II: No Princípio Era o Verbo”, segundo disco do Black Alien, finalmente foi lançado.
Trata-se apenas do maior rapper do Brasil – e mesmo parado por 11 anos, ninguém alcançou. Só isso já faz a audição do disco obrigatória. Dá pra baixar ou escutar via YouTube abaixo. Salve o Mr. Niterói!
Contrato com a Sony, campanha de lançamento da primeira música com depoimentos em vídeo de Baby do Brasil, Vik Muniz e Fernanda Torres e abertura de show do Jota Quest. Pouco comuns para um grupo de rock de moleques entre 17 e 18 anos, esses são alguns dos fatos que acompanham a Dônica, banda carioca que fatalmente carregará por algum tempo o subtítulo “banda do filho caçula do Caetano”.
Formada por José Ibarra (vocal e piano), Miguel “Miguima” Guimarães (baixo), André “Deco” Almeida (bateria), Lucas Nunes (guitarra) e Tom Veloso (composições), a Dônica segue um caminho pouco usual para uma banda alternativa. Indo direto para uma gravadora multinacional, pulando o circuito independente, aposta num modelo tradicional e não na internet, como é natural para grande parte das bandas pós-2000.
— Não hesitamos em assinar com a Sony porque queremos que nossa música não fique restrita. Teremos muita mais visibilidade tanto no Brasil quanto no exterior. Apesar disso, não acreditamos que pulamos o caminho alternativo. Sempre que podemos tocamos em lugares mais underground, como foi o caso do nosso show na Cena Cultural do Baixo Gávea — explica Miguima.
Berço não é mérito, e também não é problema. O EP homônimo, produzido por Daniel Carvalho e Berna Ceppas no estúdio Maravilha8 e lançado nesta semana em formato digital, transpõe para o disco a energia que a Dônica mostra no palco. O teclado, a boa performance vocal e a presença de Ibarra são centrais, e o visual anos 1970 e a inquietude mostrada ao vivo unem-se às matrizes setentistas e oitentistas mais introspectivas escolhidas pela banda. É música pra se cantar junto, mesmo que as letras sobre um macaco extraterrestre que chega à Terra agarrado na cauda de um cometa (“Macaco no caiaque”) ou viagens a Caraíva (“Casa 180”) não soem exatamente pop num primeiro momento.
— Nós nos conhecemos na escola e a partir de encontros musicais na casa do Deco, o baterista, a banda tomou forma com o tempo. Vimos o Miguima tocando em um sarau e nos apaixonamos, chamamos pra tocar, e ele aceitou — recorda Ibarra, falando sobre o baixista talentoso, que parece um adolescente com mão de adulto, tamanha é sua técnica.
Em seu perfil no Facebook, a Dônica anuncia suas influências: o rock progressivo do Pink Floyd, Supertramp, Yes, Emerson Lake & Palmer, mais Caetano, Mutantes, Lenine, Queen, jazz, clássico e, talvez a referência mais gritante, Clube da Esquina.
— Nossos pais foram os maiores responsáveis por essas referências antigas, nos educando musicalmente. Compor é nada mais que tirar de dentro alguma coisa que já estava lá e botar para fora, por isso soamos antigos. É natural, não proposital. Gostamos também de Milton, Gil, Chico, Toninho Horta, Take 6, Alt-J. Artistas nos influenciam tanto por sua música como por sua identidade visual — lista Ibarra.
Entre seus contemporâneos, a Dônica lista alguns nomes do Rio como Baleia e Castello Branco.
— Baleia é a banda da nossa geração de que mais gostamos. Também gostamos de Nitú, Mara Rúbia e Sinara. Conhecemos faz pouco tempo o trabalho do Castello Branco, e nos pareceu interessante a combinação da voz com o violão, nos lembrou um pouco Jeff Buckley — conta Miguima.
Nas fotos sempre constam cinco integrantes. Em cima do palco, no entanto, são apenas quatro. A participação de Tom Veloso é curiosa, exclusivamente como compositor. Recentemente ele compôs com seu pai e Cézar Mendes a canção “O Sol, eu e tu”, que está no novo disco da fadista portuguesa Carminho.
— O Tom é como qualquer outro membro da banda: vai aos ensaios, dá suas opiniões em arranjos e composições. Somente não sobe no palco por não conseguirmos encaixar um violão nos arranjos e por sua timidez. Ele não é maior nem menor que os outros por não tocar nos shows. Dentro da banda, somos todos iguais — esclarece Miguima.
Essa semana os financiadores do disco finalmente receberam o link para ouvir a primeira música do “BBGII” – obviamente já upada no YouTube. Produzida por Alexandre Basa, que produziu o BBGI”, “Terra” ainda está abaixo do muito que se espera desse disco. Lutando contra tanta coisa nos últimos anos, Black Alien soa ainda travado. O timbre da voz está lá, o flow também, mas “Terra” é reta, não tem as pirações criativas características de tudo que o niteroiense encosta a mão.
Cultura digital, música, urbanidades, documentários e jornalismo.
Não foi exatamente assim que começou, lá em 2003, e ainda deve mudar muito. A graça é essa.