AgoraehQueSaoElas Archive

segunda-feira

9

novembro 2015

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#AgoraÉQueSãoElas, por Jô Hallack

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Pra fechar, o quinto post da série ‪#‎AgoraÉQueSãoElas, movimento convocado pela Manoela Miklos. Após a repercussão da série de posts femininos #MeuPrimeiroAssédio, Manoela propôs que homens cedessem seus espaços editoriais para que mulheres ocupassem e pudessem propagar o próprio discurso.

Com a palavra, a menina Defeito,  Jô Hallack:

O encontro da Mulher Sonsinha com Deus
por Jô Hallack

Não é fácil ser mulher e bancar os desejos num mundo feito para os homens. Eu (e meus ossinhos quebrados) ainda acho que vale a pena. Que talvez seja o único jeito de se sentir viva pra valer. Este texto – que não é inédito – é meio sobre isso e sobre as mil mulheres que moram dentro da gente.”

Ela queria muito aquele cara, muito mesmo, coisa de louco. Mas tinha como regra de vida sempre se fazer de difícil. Era seu artifício, dizia que só assim ele ia ficar na dela, o lance era prolongar o desejo ao máximo. O desejo dele, no caso. Os homens gostavam disso, garantia, e ainda citava um Freud de mentira (jamais tinha lido!). Sim, ela era uma sonsinha. Naquela noite, encontrou seu príncipe encantando, que chegou em um cavalo branco imaginário. Mas ela fez que não, fingiu que não, foi um tal de não prá cá e não pra lá, sobre amanhã ainda nem pensei. E quando estava indo embora atravessando a rua, veio o truque final: a olhadinha para trás. Vocês sabem, né? Aquela olhadinha “eu sei que você quer e eu também quero mas … me assista ir embora”. No que ela jogou o cabelo e foi virando o rosto cheio de BB cream, pronto. Um carro pegou a coitada. Uma tristeza, gente.

A Mulher Sonsinha acorda nas portas do céu. E é aí que vem a surpresa. Deus é mulher. E uma mulher e tanto, uma mulher fodona, sem paranoia besta, uma mulher cheia de desejos, a mulher que todas nós queremos ser um dia. Deus não fica pensando demais, Deus não faz a louca, não fica cheia das autocríticas. Porra, Deus, você é demais, mulher. Também, sendo Deus fica fácil. Além de ser uma espécie de Super-Heroína, Deus – que criou o mundo inteiro porque antes nada havia- não tem mãe, nunca teve, nem terá. Assim, até eu, né querida, quer dizer, me desculpe a intimidade, até eu, Deus. Quer dizer, Deusa.

E tem mais um detalhe: ao contrário da Mulher Sonsinha, que está vestida com um camisolão branco de filme espírita, Deus está pelada.
Absolutamente, totalmente, maravilhosamente nua.
Fim.

segunda-feira

9

novembro 2015

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#AgoraÉQueSãoElas, por Jade Monte Lima

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foto da Tatiana Ruediger
foto: Tatiana Ruediger

Quarto post da série ‪#‎AgoraÉQueSãoElas, movimento convocado pela Manoela Miklos. Após a repercussão da série de posts femininos #MeuPrimeiroAssédio, Manoela propôs que homens cedessem seus espaços editoriais para que mulheres ocupassem e pudessem propagar o próprio discurso.

Agora a Jade Monte Lima fala hoje:

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Não porque não, não
por Jade Monte Lima

Minha mãe me educou na base do diálogo, nunca da violência. “Não porque não” nunca fez parte do nosso dialeto. Quando eu fazia alguma coisa que ela julgava errado, me colocava para pensar na Poltrona do Pensamento. Lá eu ficava, o tempo que precisasse, refletindo sobre minhas ações. Quando chegava a alguma conclusão, seja lá qual fosse, levantava e ia contar a minha mãe, que me ouvia, e a partir dali, ou eu convencia ela de que estava certa e ela que ia refletir, ou eu reconhecia meu erro. Nas duas possíveis situações, alguma de nós duas mudava. Muito prático, muito eficiente.

Dito isso, venho aqui chamar atenção para esse movimento feminino lindo que esta gritando forte e colocando todo mundo de castigo, sentado na Poltrona do Pensamento, refletindo sobre o que estamos fazendo, sobre as nossas condutas na sociedade, sobre nossos posicionamentos e culturas. E como tem sido bom isso, porque o segundo passo desse castigo é o diálogo e a escuta.

Desde que começou a campanha do #primeiroassedio, não só a minha timeline do Facebook se encheu de vozes femininas, mas nas mesas de bares, dentro de casa, nos jantares de família, nas ruas e em todos os lugares o assunto era a igualdade de gênero. Diálogo. Homens e mulheres falando e escutando, de verdade, repensando, refletindo. Finalmente, mulheres falando, tendo mais espaço, tirando pesos. O #AgoraÉQueSãoElas veio pra dar microfone a esse grito feminino.

Chega de violência. Chega de aceitar que só os homens falem. Chega de assédio. Chega de alguém ditando o que pode e não pode no corpo da mulher. Chega de mulher ter menos espaço que homem. Chega de desigualdade. Chega de violência. Chega de violência. Precisamos de diálogo. Se a sociedade é machista e se a cultura que vivemos é essa violenta, tem muita coisa errada. Se a sociedade e a cultura são construídas e constituídas por nós, seres humanos, então tem alguma coisa errada conosco.

Essa força não pode acabar. Essa união feminina não pode se perder, ela é poderosíssima. mesmo que a poeira abaixe, mesmo que outro assunto tome conta das mídias, das mesas de bares e dos jantares de família. Que essa reflexão, diálogo e escuta resultem na parte mais fundamental do castigo: a mudança.

segunda-feira

9

novembro 2015

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#AgoraÉQueSãoElas, por Rafaela Rocha

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agoraquesaoelas_Dario Oliveira:Código 19:Estadão Conteúdo
foto: Dario Oliveira/Código 19/Estadão Conteúdo

Terceiro post da série ‪#‎AgoraÉQueSãoElas, movimento convocado pela Manoela Miklos. Após a repercussão da série de posts femininos #MeuPrimeiroAssédio, Manoela propôs que homens cedessem seus espaços editoriais para que mulheres ocupassem e pudessem propagar o próprio discurso.

Agora é a vez da Rafaela Rocha:

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(des)Construindo o macho alfa
por Rafaela Rocha

Hoje uma foto de um menino de 6 anos todo mijado me tocou profundamente. Na legenda, a mãe explica que o episódio se repete com frequência e é resultado da retaliação de uma professora da rede pública (alô estado laico!) que insiste em impor sua doutrina religiosa à criança. Depois que os pais, ateus, educadamente enviaram um bilhete pedindo que ela parasse, a “educadora” passou a perseguir o menino.

O relato da mãe é de cortar o coração. Ela está vendo todo o amor puro, a inocência e vitalidade de seu filho, ser transformada em medo e raiva. E eu fiquei aqui pensando: como é que esses episódios vão reverberar no futuro? Essa vergonha, essa humilhação, esse medo e essa raiva vão ser canalizados pra onde no subconsciente desse menino? Por que por mais que a notícia reverbere e a professora seja punida, os sentimentos do menino já foram sentidos e, portanto, já fazem parte dele. Por mais que a mãe explique que a professora é louca, que aquilo não é culpa dele, é dificil aplacar com a compreensão intelectual (ainda mais aos 6 nos de idade) algo que foi processado pelo emocional e pelo sensorial.

E aí fiquei me perguntando: será que esse menino vai ter ódio de mulheres e vai refletir isso nos seus relacionamentos? Será que vai ficar impotente? Ou adepto de golden shower? Será que vai culpar a mãe pela sua escolha religiosa ter causado a ele essa humilhação? Será que vai virar pastor? Será que vai bater em professoras? Será que vai virar educador? Ou abrir uma ONG para crianças vítimas de violência? Todos os caminhos são possíveis, tomara que o dele seja de luz, mas os monstros nascidos desse episódio com certeza estarão à espreita.

Convivendo com crianças (trabalho com elas quase todos os dias), fica mais fácil ver a fragilidade da nossa formação emocional. Antes de qualquer linguagem, nascemos puro prazer e dor. É só o que sabemos sentir, e todo o resto é decorrente desses pulsares primordiais. Aos pouquinhos vamos abrindo nosso leque emocional. O medo é a antecipação da dor (imaginada ou real) e pode gerar defesas precipitadas. A raiva as vezes é a válvula de escape para uma dor internalizada, que as vezes é derramada como agressividade sobre o outro pela pura incapacidade de se chegar à sua origem real. A carência, também derivada de alguma dor interna, pode vir na forma de excesso de carinho condicional ou agressividade (pelo medo da dor da rejeição). Os caminhos nesse caso, também são diversos e infinitos, e vão sendo moldados pelas experiências familiares, sociais, pelo meio ambiente, pela cultura dominante, etc

Somos todos bichos frágeis, mas no caso do masculino, a fragilidade parece que incomoda mais. A terceira lei de Newton afirma que “a toda ação há sempre uma reação oposta e de igual intensidade: ou as ações mútuas de dois corpos um sobre o outro são sempre iguais e dirigidas em sentidos opostos. Isso não difere muito do princípio Taoísta de Yin e Yang, “as duas forças fundamentais opostas e complementares que se encontram em todas as coisas”. o yin é o princípio feminino, a água, a passividade, escuridão e absorção. O yang é o princípio masculino, o fogo, a luz e atividade.

Lá atras, quando fugiamos de animais ferozes e precisavamos viver em constante estado de alerta porque a regra era matar ou morrer, o masculino, yang, ativo, dominador, precisava pulsar dentro de nós. Foi isso que nos permitiu dominar os elementos, adequar o nosso meio ambiente às nossas necessidades. Esse estado de alerta constante requer um tipo de atenção que o neurocientista e psicólogo Lester Fehmi (Universidade de Princeton, EUA) denomina de “estreita” e “objetiva”. Para operar nesse estado, o nosso cérebro e todo nosso corpo gastam muita energia e concentram muitos esforços, pois esse tipo de atenção, biologicamente falando, é ativado por situações de stress.

Foi esse tipo de atenção que nos manteve vivos, que nos permitiu perpetuar a espécie e, como toda característica bem sucedida do ponto de vista evolutivo, foi sendo passado adiante. E assim o pulsar Yang foi dominando o mundo. Só que aos poucos fomos desenvolvendo sistemas mais abstratos de pensamento que permitiram que nossas relações saissem do campo limitado do instinto e se desenvolvessem no campo “civilizado” das idéias, da linguagem. Aos poucos fomos entendendo que tinhamos escolha e, mais do que isso, tinhamos a danada da empatia. Mas de certa forma, muitos de nós continuamos viciados no cortisol que nos inunda pelo stress, e reféns desse tipo de atenção, que é apenas um dos vários possíveis. Mas vai mudar algo construído construído com tanto afinco há milhares de anos? Dá trabalho pra caceta! O patriarcado opressor é a zona de conforto, é o que conhecemos, e por mais que alguns já tenham acordado pro seu mal, pra sua desigualdade, a grande maioria ainda vibra nessa frequência Yang e acredita ser ela a única possível, porque é sempre mais fácil lidar com a dor que já conhecemos do que com o desconforto do desconhecido.

E aí, a moça que humilha a criança por conta de suas certezas religiosas que nada mais são do que construções que mente consciente dela desenvolveu para aplacarem uma dor interna subconsciente, não consegue enxergar a realidade daquela criança. E assim vai perpetuando um ciclo de medo e agressividade do qual todos fazemos parte, onde somos todos, simultaneamente, vítimas e opressores. Só que cuidar disso, encontrar a chave pra abrir os próprios porões escuros, aqueles que foram trancados lá na infância e cujos fantasmas continuam assombrando toda a casa onde vivemos, dá trabalho. Tem gente que já leva tanta porrada da vida, ou tem que correr tanto, que simplesmente não consegue ter o “luxo” do auto-conhecimento. Além disso, dá medo. “Sei lá o que tem lá dentro, melhor não mexer”. Cega ou, para usar o termo do Dr Fehmi, focada na sua dor, essa professora passa por cima do pulsar natural de um ser que ela deveria estar ajudando a moldar, e contribui para que os fantasmas que vão assombrar aquele porão sejam ainda mais assustadores e às respostas à eles, ainda mais violentas.

Epa, mas o tema do #AgoraÉQueSãoElas é machismo, é direito da mulher, é combate aos desmandos medievais de Eduardo Cunha e do seu PL 5.069/2013! Sim, e a meu ver, uma coisa está diretamente ligada a outra. Pode ter certeza, o porão interno do Eduardo Cunha (e de Bolsonaros, e de Felicianos da vida) deve ser lotado de monstros assustadores, barulhentos, violentos, e ele segue lá no último andar da sua mansão interna, construída em cima de certezas absolutas, gritando alto, fiscalizando pela janela a vida dos outros, em atitudes desesperadas pra manter o medo em segundo plano.

Acredito que a ÚNICA forma de eliminarmos esse pulsar opressor que faz parte de todos nós é olhar pra dentro. Não tem receita de bolo. Cabe a cada um tentar compreender e, se for o caso, desconstruir, aqueles hábitos e atitudes criadas pra mascarar essa dor, e não é fácil. Requer requer paciência, humildade, escuta, dedicação… coisas que andam muito fora de moda na nossa sociedade contemporânea. É comum ouvir “ah, não tenho paciência, não consigo ficar parado, não pensar em nada”. Mas o segredo está justamente aí: ninguém “consegue”, por isso mesmo a importância de pratica-la. Estamos tão acostumados a fugir de nós mesmos que esse encontro às vezes parece impossível. Nos tornamos mestres da distração, da invenção de prazeres externos para fugir da realidade interna. Quando esses falham (porque nunca vão dar conta de preencher aquele vazio que é só seu), ficamos nervosos, estressados, e buscando doses cada vez maiores de anestesia, mas a verdade amigx, é que não tem iphone novo, dólares na suíça ou ‘aleluia irmão’ que dê conta de faxinar esses seus quartos escuros trancados às 7 chaves.

Costumo comparar as práticas meditativas ao ato de fazer cocô. Se ficamos 2, 3, 4 dias sem ir ao banheiro, nosso corpo sente, entendemos que tem algo de errado. Pois bem, nossa mente produz merda todos os dias, só que diferente da matéria, a gente acha que essa merda mental / emocional pode ficar lá guardada pra sempre, que tá de boa. Não tá. Pode ter certeza que por algum canto essa merda tá escoando ou que, algum dia, essa barragem de lama tóxica vai estourar.

O escritor americano Norman Mailer disse a ansiedade é O estado do homem do século 20 (nesse caso homem = humanidade. ah os detalhes…) Já estamos no século 21 – que tal mudarmos de estado?

quinta-feira

5

novembro 2015

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#AgoraÉQueSãoElas, por Irina Neblina

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JornalistasLivresFotoIanMaenfeld
foto: Ian Maenfeld, via Jornalistas Livres

Segundo post da série ‪#‎AgoraÉQueSãoElas, movimento convocado pela Manoela Miklos. Após a repercussão da série de posts femininos #MeuPrimeiroAssédio, Manoela propôs que homens cedessem seus espaços editoriais para que mulheres ocupassem e pudessem propagar o próprio discurso.

Agora é a vez da Irina Neblina:

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Sobre sermos irmãs, não rivais
por Irina Neblina

Essa que segue é uma trama afetivo-sexual bastante banal, adolescente e burguesa. Na época, eu não conhecia a palavra “sororidade”, que eu até prefiro não usar, vou parar por aqui, pois não sou uma grande estudiosa do feminismo, e posso acabar falando merda. Mas acho que é sobre isso que eu tô falando. Vou falar da primeira vez que eu percebi que mulheres engrossavam o coro do machismo, na fala e nas ações. Lógico que não foi quando eu fui machista, mas quando vi o machismo em outra mulher, ou, no caso, menina. O que acabou abrindo meus olhos pra esse mato forte que é o machismo, que você arranca, arranca e depois vai achar crescendo noutro canto do jardim.

Uma vez comecei uma paquera com um rapaz, amigo de um amigo, e, pra encurtar a história, tivemos um lance, numas férias da faculdade, nos víamos com uma certa frequência, mas tudo muito libertário. Numa sumida que ele deu, me soltaram a bomba: namorada tinha voltado das férias. A namorada que nunca tinha existido, até ali. A indignação sobre a mentira ficou pequena perto do drama adolescente, e toca juntar os pedaços do coração. Até aí, nada de novo. Não vou falar do machismo contido na mentira e ações dele, porque não precisa, né migxs. Porque essa não é uma história sobre ele, é sobre nós.

Escuto que a garota tá fula que não pode nem ouvir falar meu nome. Até aí, tudo bem, pensei eu. Mas ele continuava com uma vida dupla, tentando fazer funcionar com ela, enquanto ficava, mentindo ou não, com outras tantas. E é daí que eu percebi, nos meses que se seguiram acompanhando-os de longe, que raiva era essa a dela, que só fez crescer com o tempo: ao invés de culpar o único culpado pelas traições que sofreu, ela escolheu culpar… todas as mulheres que ele ficou, e, por contiguidade, todas as mulheres do planeta. Essas putas, piranhas, vadias, vagabundas, piriguetes, etc que “dão em cima dele”… que é homem, logo não pode responder pelos próprios vacilos.

Só percebi que esse ódio era machismo, que a atitude dela protegia o machismo das ações dele, que esse constante slut-shaming entre mulheres reforçava a ideia de que tem mulher pra casar e pra pegar, que mulher tem que se dar o respeito, quando a piranha fui eu. (Hoje “ser a piranha” não me incomoda mais, como a Clara explicou bem). E como sempre com o machismo, quem se fode é a mulher. Com a naturalidade frente ao “boys will be boys”, fragilizamos ainda mais a soberania sobre as nossas escolhas, enfraquecemos sistematicamente o elo que nos une contra essa realidade de dois pesos e duas medidas que assola a independência feminina no mundo em que vivemos.

Mas ainda assim, muitas vezes depois dessa, engrossei o coro machista. E não há nada mais grotesco do que quando o machismo aparece na voz de uma mulher. E quando a gente acha que não tem… é aí que o perigo mora, porque deixamos de estar vigilantes.

Hora da revisão:

O gênero, a sexualidade ou o corpo da pessoa não podem ser usamos como ofensa. Não “xingue” a coleguinha de lésbica, puta, gorda, feia, velha. Xingue de ladra, babaca, canalha, calhorda.

Não “xingue” o coleguinha de viado, arrombado, bixa. Xingue de cretino, pilantra, imbecil, otário.

Não xingue nunca a mãe da pessoa xingada.

Não ria de piadas machistas, homofóbicas e racistas, e um dia elas desaparecerão!

Mande as pessoas irem caçar sapo no Egito, por exemplo, ao invés de irem tomar no cu.

Cada um faz o que quiser com o próprio cu, inclusive tomar no mesmo.

Não “ofenda” alguém mandando a criatura ir “chupar”. Chupar é uma coisa boa.

Não namore um homenzinho de merda.

Não seja um homenzinho de merda, ainda dá tempo.

Não se orgulhe de ser uma mulher que “não precisa do feminismo” (wtf?), reconheça seus privilégios e entre na dança.

Não julgue o relacionamento alheio baseado na aparência dos envolvidos.

Aprenda a elogiar uma mulher com outros adjetivos além de “linda”.

Não diga que uma mulher é o pivô de uma separação quando não foi ela que traiu.

Não fale que uma mulher é mal comida, que tal coisa é falta de rola ou que ela está de TPM.

Use a criatividade!

Hoje quando vejo alguma mulher culpando outra por alguma burrada masculina penso:

Sério miga? Sério mesmo? E quando uma mulher branca hétero cis (como eu) se cala quando o abuso é endereçado a uma mulher preta, pobre, trans ou feia, que não é como ela, virando cúmplice do seu próprio opressor. Quando vejo mães tratarem diferentemente filhas de filhos. Quando mulheres reforçam o coro homofóbico ou racista, onde gay, lésbica e negro é xingamento. Quando escutei da minha mãe (uma vez só, graças ao Unicórnio Cor-de-rosa Invisível) que era pra “ter cuidado com o que as pessoas podiam pensar de mim”. Sério mesmo?

Nos ensinaram que somos rivais. Nos ensinaram que mulher fica feliz quando uma outra leva um chifre ou é fotografada com celulite. Porque nada é pior do que ser gorda e feia ou “ficar pra titia”. Nos ensinaram que a nossa sexualidade é suja e antinatural. Que a nossa iberdade é devassa. Vamos desaprender.
Por fim, lembremos: o coletivo é masculino, defende o masculino. Não podemos ter nem ao menos uma mulher não feminista. porque nossa força de mudança está indo contra um agente muito estabelecido, enraizado, contra a maneira que as coisas sempre funcionaram. Se, ainda por cima, fomos umas contra as outras, perpetrando o machismo das pequenas coisas, criando rixas, separando eu e elas, vamos, enquanto isso, na nossa desunião, sendo empurradas pra trás, como podemos ver hoje em diversos lugares do mundo, e aqui.

Vamos expor o machismo até que ele seja — isso sim! — motivo de vergonha.

quinta-feira

5

novembro 2015

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#AgoraÉQueSãoElas, por Beta Mellin

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foto tungada no Kfouri

Primeiro post da série ‪#‎AgoraÉQueSãoElas, movimento convocado pela Manoela Miklos. Após a repercussão da série de posts femininos #MeuPrimeiroAssédio, Manoela propôs que homens cedessem seus espaços editoriais para que mulheres ocupassem e pudessem propagar o próprio discurso.

Com a palavra, Beta Mellin:

O poder da mulher
por Beta Mellin

Quando o Bruno Natal me propôs ceder um espaço para escrever, a primeira coisa que veio na minha cabeça foi: não vou gastar essa oportunidade com papo de mulherzinha. Vou escrever feito macho.

Mas a mulher dentro de mim gritou: Aproveita pra falar!!!! O meu homem interior ainda tentou argumentar, mas ela foi curta e grossa: “Cala a boca!” E ele se calou.

E o que eu gostaria mesmo de chamar a atenção é para o poder que nós mulheres temos por onde passamos, desde os tempos mais remotos. Ainda que, quase sempre, sem muito espaço para exercer toda a nossa capacidade.

No conto bíblico de Adão e Eva, foi Eva quem “influenciou” Adão a comer a maçã. Já éramos poderosas. Se Eva quisesse, também poderia ter feito o contrário, influenciado Adão a não comer a tal fruta do pecado.

Veja bem, não estou dizendo que as mulheres mandam nos homens (até conheço algumas que sim), mas sim, que temos um grande poder de influência em qualquer cultura ou sociedade em que estivermos metidas, por mais machista que sejam.

Você, mulher, já pensou no poder que tem dentro da sua família, do seu trabalho, independente da classe social?

Não precisa ser mãe, para ter esse poder, mas precisa ser mulher. E não se esquecer disso. Sim, porque acredito que temos que não só escutar, como exercitar nosso lado feminino.

E como é somente meu lado feminino que está falando hoje, é mais forte do que eu terminar o texto sem tocar no meu assunto preferido: a mulher mãe.
Não há quem entre num consultório de um analista e não fale da mãe. Pode nunca a ter conhecido, ter sido criado por pais adotivos, pela avó, mas a mãe que o gerou estará lá, presente em quase todas as consultas.

E sabe porquê? Porque a relação da mãe com o filho vem do útero. A mãe tem o dom de gerar uma criança. E isso não é apenas lindo, é muito mais, é um poder que muitas de nós ainda não nos damos conta do quão grande é.

Está comprovado que podemos influenciar a formação de um ser desde dentro da barriga. (!) Então, ainda que a mulher viva num ambiente/sociedade que a massacre, uma das opções de iluminar o mundo é que ainda que quase sem forças, possa juntar o amor do âmago e passar para aquele ser em formação, para que seja uma pessoa melhor e com isso, melhore o mundo.

Convido a quem ainda está lendo esse texto, que reflita no poder que sua avó, mãe, irmã, tia, prima, chefe ou funcionária tem em sua vida. Muitas mulheres já descobriram esse poder interior, e como consequência, vemos o avanço em várias sociedades e muitas conquistas. Mas ainda há MUITO a avançar.

E acho que é uma obrigação avisarmos as que não sabem ainda dessa força, que elas podem mudar, influenciar, capacitar com sabedoria e amor a outro ser humano (filho ou não) e isso é um poder interno, um poder nosso. E quando todas escutarmos nossa mulher interior, aí é que ‪#‎serãoelas‬.